Em tempos de terrorismo disseminado por todos os
continentes, não faltam afirmações gratuitas de todo tipo, seja para reduzir
todos os muçulmanos a farinha do mesmo saco dos terroristas, seja para tentar
livrá-los dessa generalização mediante mais generalizações
a respeito de outras religiões (de preferência, a católica).
Entre os chavões mais batidos, voltam à berlinda as indefectíveis acusações do
tipo “Não se esqueça dos atos bárbaros cometidos em nome de Cristo durante as Cruzadas e a Inquisição!", além de
reducionismos da ordem do dia, como a assim chamada “Guerra contra as Mulheres”,
expressão que está na moda aqui nos Estados Unidos e em boa parte da Europa
ocidental.
Mas há fatos históricos que são cuidadosamente deixados de lado a respeito desses três clichês. Vejamos alguns deles.
Será verdade que os cruzados não passavam de saqueadores e vândalos cruéis que distorciam o cristianismo, como afirma a visão popularizada desses episódios da história medieval?
Thomas F. Madden, historiador das Cruzadas e diretor do Centro de Estudos Medievais e Renascentistas da Universidade de Saint Louis, afirma que não. Ele vem travando a sua própria “cruzada de um homem só” para desmascarar os mitos populares sobre as supostas atrocidades patrocinadas pela Igreja católica entre os séculos XII e XVI.
Madden explica que os guerreiros do islã, com enorme energia, começaram a combater os cristãos logo depois da morte de Maomé. E os muçulmanos foram extremamente bem sucedidos nessa empreitada, a ponto de que a Palestina, a Síria e o Egito, que antes eram as regiões mais fortemente cristãs do mundo todo, sucumbiram rapidamente. Até o século VIII, os exércitos muçulmanos já tinham conquistado todo o Norte da África e a Espanha, que também eram, anteriormente, áreas cristãs. No século XI, os turcos seljúcidas conquistaram a Ásia Menor (atual Turquia), que tinha sido cristã desde os tempos do Apóstolo São Paulo. O antigo Império Romano do Oriente, que os historiadores modernos preferem chamar de Império Bizantino, foi reduzido a pouco mais que o território da Grécia atual. Desesperado, o imperador bizantino, cuja sede ficava em Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), enviou uma mensagem aos cristãos da Europa ocidental pedindo ajuda para defender os seus irmãos e irmãs no Oriente.
Foi este o contexto que deu à luz as Cruzadas. Elas não foram fruto da imaginação de um papa ambicioso ou de cavaleiros vorazes, mas uma resposta a mais de quatro séculos de conquistas muçulmanas que já tinham dominado dois terços do velho mundo cristão. O cristianismo, como fé e cultura, precisava tomar uma decisão: ou se defendia ou era engolido pelo islã. As Cruzadas foram a estratégia adotada para a reação em defesa própria.