O ser humano teima em não aprender com a própria
historia. Como se já não fossem absurdas todas as guerras que houve entre
religiões e todas chacinas racistas que procuraram dizimar outros povos, hoje
nos vemos, em contraste com níveis altíssimos de desenvolvimento da
civilização, no meio de mais uma explosão de cruéis perseguições religiosas.
É necessário que a sociedade seja bem informada e
que nós, cristãos, não ignoremos a dimensão deste horror. Mas não para “jogar
lenha na fogueira”, provocando reações que piorem o nível de violência, e sim
para responder como cristãos, com fortaleza, dignidade e exigência de soluções
de paz. Todos os cristãos atualmente perseguidos e martirizados devem ser, para
nós, um profundo incentivo contra a nossa comodidade e mediocridade.
É possível que o maior número absoluto de vítimas
da intolerância religiosa no mundo atual esteja entre os muçulmanos perseguidos
por outros muçulmanos, na sangrenta rixa entre xiitas e sunitas. Além disso, as
minorias muçulmanas na Rússia e na China sofrem acosso dos respectivos
governos, o que também acontece com os bahai por parte do xiismo iraniano, com
os tibetanos por parte do comunismo chinês e com os judeus nas sociedades em
que persiste o antissemitismo.
A lista de religiões perseguidas é longa e leva a
uma conclusão clara: a intolerância religiosa ainda condiciona o comportamento
de importantes setores governamentais e sociais de todo o planeta.
O que o Ocidente finge não ver é o quanto o
cristianismo também sofre essa intolerância. Javier Rupérez, membro da Real
Academia de Ciências Morais e Políticas da Espanha, levantou uma série de dados
assustadores sobre a perseguição religiosa mundial contra os cristãos.
Do total de 7 bilhões da habitantes do planeta,
quase um terço é cristão: 2,18 bilhões de pessoas, que, mais do que qualquer
outra comunidade religiosa, constituem um grupo sistematicamente perseguido e
urgentemente necessitado de ajuda. Grande parte da África subsaariana, toda a
costa mediterrânea do continente africano, o Oriente Médio, o Golfo Pérsico e
todo o continente asiático, incluindo as costas russa e chinesa do Pacífico,
são cenários em que o cristianismo sofre acosso habitual.
A International Society for Human Rights, uma ONG
de Frankfurt, na Alemanha, estima que 80% da discriminação religiosa que
acontece atualmente no mundo é voltada contra os cristãos.
De acordo com o Center for the Study of Global
Christianity, do Gordon Conwell Theological Seminary, uma instituição
evangélica de South Hamilton, no Estado norte-americano de Massachusetts, mais
de 100.000 cristãos foram assassinados por ano entre 2000 e 2011, ou seja, 11
cristãos por hora durante esse período.
Segundo a Open Doors, uma organização
norte-americana protestante que monitora as perseguições contra os cristãos no
mundo, 75% da população mundial estaria vivendo hoje em países com sérias
restrições ao exercício da liberdade religiosa. Cem milhões de cristãos, cerca
de 5% desse total, sofreriam perseguição em mais de sessenta países. Estes
dados coincidem com os publicados na detalhada pesquisa feita em 2011 pelo Pew
Research Center sobre restrições globais à religião.
A Open Doors também lista 50 países que, em 2012,
atentaram especificamente contra os cidadãos pertencentes a confissões cristãs.
A organização os separa em quatro categorias:
“Perseguição
extrema”: Coreia do Norte, Arábia Saudita, Afeganistão, Iraque, Somália,
Maldivas, Mali, Irã, Iêmen, Eritreia, Síria.
“Perseguição
severa”: Sudão, Nigéria, Paquistão, Etiópia, Uzbequistão, Líbia, Laos,
Turcomenistão, Catar, Vietnã, Omã, Mauritânia.
“Perseguição
moderada”: Uganda, Cazaquistão, Quirguistão, Níger, Tanzânia, Egito,
Emirados Árabes Unidos, Brunei, Butão, Argélia, Tunísia, Índia, Myanmar,
Kuwait, Jordânia, Bahrein, Territórios Palestinos, China, Azerbaijão, Marrocos,
Quênia, Comores, Malásia.
“Perseguição
escassa”: Djibuti, Tadjiquistão, Indonésia, Colômbia.
A Open Doors recomenda que as confissões religiosas
denunciem as perseguições conjuntamente, diante de organismos nacionais e
internacionais, pedindo com contundência a imediata solidariedade de todas as
demais confissões cristãs para fortalecer a mensagem comum. Essa renovação ecumênica
seria uma denúncia profética perante os que praticam a perseguição, os que a
alimentam, os que a permitem e os que fecham os olhos para ela.
Afinal, como refletiu o pastor protestante alemão
Martin Niemoller,
“Primeiro vieram buscar os comunistas; eu
não disse nada porque não era comunista.
Depois vieram buscar os judeus e eu não
disse nada porque não era judeu.
Depois vieram buscar os sindicalistas e
eu não disse nada porque não era sindicalista.
Depois vieram buscar os católicos e eu
não disse nada porque não era católico.
Depois vieram me buscar, mas já não
restava ninguém que dissesse nada”.
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Aleteia
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