Francisco considera que o massacre dos cristãos armênios foi o primeiro genocídio do século XX |
'Ferida que sangra'[1]
O papa
usou pela primeira vez a palavra genocídio para classificar as mortes há dois
anos, o que levou a um protesto da Turquia.
Na missa de domingo na Basílica de São Pedro, ele disse que a humanidade havia vivido
"três tragédias consistentes e sem precedentes" no século passado.
"A
primeira, que é amplamente considerada como 'o primeiro genocídio do século
20', atingiu o seu próprio povo armênio", disse ele, fazendo referência a
palavras usadas pelo papa João Paulo II em 2001.
O papa
Francisco também se referiu aos crimes "cometidos pelo nazismo e pelo
stalinismo" e disse que outros genocídios haviam se seguido no Camboja,
Ruanda, Burundi, Bósnia e massacres de hoje pelo Estado Islâmico.
Ele disse
que era seu dever honrar a memória daqueles que foram mortos.
"Ocultar
ou negar o mal é como permitir que uma ferida siga sangrando sem
enfaixá-la", acrescentou o papa.
Para o
correspondente da BBC em Roma, a fala é um lembrete das raízes da Igreja
Católica no Leste da Europa e no Oriente Médio.
O
presidente armênio, Serzh Sargsyan, estava presente na cerimônia. A polêmica
ainda hoje azeda as relações entre a Armênia e Turquia.
O papa
estava perfeitamente consciente de que ao usar a palavra "genocídio"
ele iria ofender a Turquia, que considera o número de mortes de armênios
durante a extinção do Império Otomano exagerado e continua a negar a extensão
do massacre.
O foco
hoje do papa Francisco sobre a Armênia, o primeiro país a adotar o cristianismo
como religião do Estado, mesmo antes da conversão do imperador romano
Constantino, serve como mais um lembrete de raízes amplamente difundidas da
Igreja Católica na Europa Oriental e do Oriente Médio.
Mais de
20 Igrejas orientais católicas locais, incluindo a de Armênia, permanecem em
comunhão com Roma.
Neste
domingo, o papa também homenageou o místico do século 10 São Gregório de Narek,
declarando-lhe um doutor da Igreja. Segundo a agência de notícias AP, apenas 35
pessoas já receberam este título.
A Armênia
considera o dia 24 de abril de 1915 como o início dos assassinatos em massa. O
país tem uma longa campanha para que haja mais reconhecimento do que ele
considera como um genocídio.
Conflito político
Em 2014,
o primeiro ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ofereceu pela primeira
vez condolências para os netos de todos os armênios que perderam a vida.
Mas ele
também disse que era inadmissível que a Armênia transformasse a questão
"em um assunto de conflito político".
A Armênia
diz que até 1,5 milhão de pessoas morreram em 1915-1916 com a divisão do
império otomano. A Turquia diz que o número de mortes foi muito menor.
A maioria
dos especialistas não turcos consideram as mortes como genocídio. Entre os
Estados que reconhecem formalmente o genocídio estão Argentina, Bélgica,
Canadá, França, Itália, Rússia e Uruguai.
A Turquia
afirma que muitos foram mortos em confrontos durante a Primeira Guerra Mundial
e que os turcos étnicos também sofreram no conflito.
Turquia "desapontada"
com palavras do Papa[2]
O Governo
turco mostra-se “desapontado” com as palavras do Papa Francisco, que este
domingo apelidou de genocídio o massacre de cristãos armênios há um século.
A posição
das autoridades de Ancara foi transmitida ao núncio apostólico, que foi
convocado após as declarações do Papa durante uma missa em memória dos armênios
massacrados.
A Turquia
“lamenta profundamente” as palavras de Francisco e mostra-se “desapontada”, de
acordo com fonte oficial citada pela agência Reuters.
O Governo
de Ancara diz-se “surpreendido”. Sublinha que a versão de genocídio da
população armênio por soldados do império otomano, entre 1915 e 1917, nunca foi
confirmada pelos tribunais internacionais.
Os
comentários do Papa causaram um “problema de confiança” entre a Turquia e o
Vaticano, afirma fonte oficial turca.
[1] Reportagem de David Willey, publicada por BBC Brasil Fonte: Instituto Unisinos
[2]
Fonte: Renascença
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