“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo” (Jo 15,12). Trata-se do amor que pressupõe o amor de Deus e que deve realizar-se através das nossas obras. Com relação ao amor ao próximo, por exemplo, é muito importante que não sejamos teóricos.
Estamos fartos de discursos humanitários retóricos! Gostaríamos de ver solucionada a situação das pessoas com as quais convivemos: “esse vive num barracão, aquele passa fome, fulano não tem trabalho, o outro está com depressão, os grupos estão divididos na minha paróquia, no meu grupo há uma pessoa que sempre quer destacar-se mais que os outros, há críticas… um desastre!”
No Evangelho (Jo 15,9-17), S. João nos fala do mandamento do amor. João é a “testemunha ocular” por excelência de Jesus; esteve com ele desde a primeira hora (cf. Jo 1,35); junto com Pedro e Tiago, seu irmão; assistiu à Transfiguração e à agonia no Getsêmani (cf. Mc 14,33) e foi uma das primeiras testemunhas da Ressurreição (cf. Jo 20,2). Ele mesmo se apresenta no Evangelho como “aquele que viu” (cf. Jo 19,35). Porém, com mais frequência ainda João se apresenta como “o discípulo que Jesus amava” (cf. Jo 13,23; 19,26; 20,2). Seu principal testemunho não diz respeito às coisas feitas por Jesus, mas a seu amor.
No Evangelho e na segunda leitura (1Jo 4,7-10) encontramos descrita a estrutura do amor em três planos: Amor do Pai por seu Filho Jesus Cristo; o amor de Jesus Cristo pelos homens; e o amor dos homens entre si. Como o Pai me ama assim também eu vos amo. Amai-vos uns aos outros.
Insistindo sobre o mandamento novo João nos faz Jesus repetir (Evangelho): amai-vos uns aos outros; e ele mesmo (João) nos diz (1Jo 4,7-10): amemo-nos uns aos outros. Se não se dá este último passo - de nós aos irmãos- a longa cadeia de amor que desce de Deus Pai fica como que suspensa no vazio; o amor chega perto, mas não toca; nós ficamos fora de seu fluxo, fora, portanto, da vida e da luz, porque quem não ama permanece na morte (1Jo 3,14).
São Paulo teceu o mais alto elogio ao Ágape (amor): “O amor é paciente; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça… Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” (1Cor 13,4-7).
Resumindo numa frase: para ser amados precisamos amar. Para receber amor do Pai e de Jesus Cristo precisamos doar amor aos irmãos. Na realidade, o verdadeiro paradoxo cristão consiste em acrescentar esta outra verdade: para amar precisamos ser amados. João, o discípulo que Jesus amava, compreendeu por experiência que só quem é amado é capaz de amar e escreveu, por isso, em sua carta: Amamos, porque Deus nos amou por primeiro (1Jo 4,19).
O próprio Jesus parece atribuir ao amor fraterno o papel de ser sinal eficaz do amor do Pai: Para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim (Jo 17,23).
Será que os acatólicos conhecem os católicos pelo amor mútuo, pela atenção caridosa, pelo carinho, pela boa educação, pela generosidade e pela disponibilidade? Para saber como se vive a caridade é preciso olhar, em primeiro lugar, para Jesus. A regra, a medida da caridade, é ele: “como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. Como Cristo amou-nos? Rebaixando-se a si mesmo, sofrendo na cruz e derramando todo o seu Sangue por nós, preocupando-se verdadeiramente com os nossos pequenos e grandes problemas. Assim deve ser o nosso amor aos irmãos: será preciso dedicar-lhes tempo, escutá-los, dispor-nos a ajudá-los quando for preciso, mostrar o nosso agradecimento às pessoas, corrigir com fortaleza e gentileza quando necessário, viver as normas da educação e da prudência, viver a discrição, compreendê-los, sorrir também quando não se tem vontade; sacrificar-nos por eles, sem que percebam, para que tenham bons momentos.
E nas paróquias? Quantas rivalidades! Quantos ciúmes! Quanta inveja! Disse alguém que “Cristo mandou que nos amássemos, não que nos amassemos”. Há muitas reuniões, e pouca união! Os problemas na comunidade cristã não são novos, São Paulo escreveu aos Gálatas: “se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros” (Gl 5,15). Por que será que os cristãos às vezes se mordem devorando-se uns aos outros? Pelo mesmo motivo que São Paulo identificou entre os gálatas: eram carnais. O que é necessário para viver a caridade? Deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e fazer as obras do Espírito: “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22-23). Hoje é o dia para que renovemos os bons propósitos de viver “opere et veritate”, com obras e na verdade, a virtude da caridade, não em geral e em abstrato, mas em particular e concretamente: na família, com o pai, com a mãe, com os irmãos, com os amigos, com o patrão, com o empregado, com o meu irmão de comunidade. Não é fácil porque as pessoas têm problemas, dificuldades, às vezes exalam mau olor, falam demasiado (e às vezes com a boca cheia) ou não falam quase nada, faz calor. Poderíamos enumerar mil e uma razões para não viver a caridade, nenhuma delas é consequente.
Deus nos fez solidários e responsáveis uns pelos outros; deseja que os amados por Deus procurem levar outros a ter a mesma experiência do único modo possível, isto é, amando-os e amando-os concretamente: “…não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade” (1Jo 3,18).
Para amarmos de verdade o nosso próximo, intensifiquemos a nossa vida de oração.