Quanto afeto na repetição deste nome: Marta, Marta.
A casa de Betânia, a uns três quilômetros de Jerusalém, é um lugar onde Jesus
costuma se deter para repousar com os seus discípulos. Lá fora, na cidade, Ele
tem de enfrentar discussões, encontra oposição e rejeição, enquanto que aqui
existe paz e acolhida.
Marta é empreendedora e ativa. É o que ela
demonstra também por ocasião da morte de seu irmão Lázaro, quando entra num
diálogo sério com Jesus, no qual o questiona com energia. É uma mulher forte,
que mostra uma grande fé. Diante da pergunta: “Crês que eu sou a ressurreição e
a vida?”, ela responde, sem hesitar: “Sim, Senhor, eu creio”
(cf. Jo 11,25-27).
Também agora ela está atarefada na preparação de
uma acolhida digna do Mestre e dos seus discípulos. Ela é a patroa, a dona de
casa (como diz o próprio nome: Marta significa “patroa”) e, portanto, sente-se
responsável. Provavelmente está preparando o jantar para o ilustre hóspede.
Maria, sua irmã, deixou-a sozinha nas suas ocupações. Contrariamente aos
hábitos orientais, em vez de permanecer na cozinha, fica escutando Jesus junto
com os homens, sentada aos seus pés, exatamente como a perfeita discípula. Daí
a intervenção um pouco ressentida de Marta: “Senhor, não te importas que minha
irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!”
(Lc 10,40). Eis então a resposta afetuosa e ao mesmo tempo firme de Jesus:
“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com
muitas coisas. No entanto, uma só é necessária.”
Será que Jesus não estava satisfeito com o espírito
empreendedor e o serviço generoso de Marta? Não lhe agradaria a acolhida
concreta e não apreciaria de bom grado as iguarias que lhe estava preparando?
Pouco depois desse episódio, nas parábolas, Jesus elogia administradores,
empresários e empregados que sabem fazer render talentos e negociar os bens
(cf. Lc 12,42; 19,12-26). Elogia até mesmo a esperteza deles
(cf. Lc 16,1-8). Portanto, não podia deixar de alegrar-se ao ver uma
mulher tão cheia de iniciativa e capaz de uma acolhida dinâmica e abundante.
O que Ele repreende é a ansiedade e a preocupação
que ela põe no trabalho. Fica agitada, “sozinha com todo o serviço”
(Lc 10,40), perdeu a calma. Não é mais ela quem orienta o trabalho, foi o
trabalho que assumiu o comando e a tiranizou. Ela não está mais livre,
tornou-se escrava da sua ocupação.
Não acontece também conosco de às vezes nos
perdermos nas mil coisas a serem feitas? Somos atraídos e distraídos pela
internet, pelo WhatsApp, pelos SMS inúteis. Mesmo quando se trata de
compromissos sérios que nos prendem, eles podem nos fazer esquecer que devemos
estar atentos aos outros, escutar as pessoas que estão perto de nós. O perigo é
sobretudo perder de vista por que e para quem trabalhamos. É deixar que o
trabalho e as outras ocupações se tornem fim a si mesmos.
Ou senão, somos tomados pela ansiedade e pela
agitação diante de situações e problemas difíceis que dizem respeito à família,
à economia, à carreira, à escola, ao futuro nosso ou dos filhos, até o ponto de
esquecermos as palavras de Jesus: “Portanto, não vivais preocupados, dizendo:
‘Que vamos comer? Que vamos beber? Como nos vamos vestir?’ Os pagãos é que
vivem procurando todas essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que
precisais de tudo isso” (Mt 6,31-32). Também nós merecemos a repreensão de
Jesus:
“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com
muitas coisas. No entanto, uma só é necessária.”