Celebramos a Páscoa de Jesus, na vida e no ministério dos apóstolos Pedro e Paulo,
agradecendo a Deus pela fé de Pedro e pelo empenho missionário de Paulo,
testemunhas fiéis de Jesus Cristo. Rezemos em comunhão com a Igreja de Roma,
que testemunhou o martírio deles, e com seu bispo de Roma, o Papa.
Os Apóstolos
Pedro e Paulo se notabilizaram no grupo dos apóstolos de Jesus. Apesar da
notoriedade que lhes foi dada ao longo da história da Igreja e, ainda hoje,
eles são apresentados pelos evangelistas e nos Atos com profundas marcas de
fragilidade humana, durante o seu encontro com Jesus.
Celebrando
hoje a Páscoa desses dois grandes apóstolos e mártires de Jesus, a Igreja é
lembrada que em todas as comunidades cristãs precisam estar presentes, e muito
ligados com duas faces, os fundamentos da mesma missão evangelizadora: a vida
eclesial com dinâmica de comunhão e participação e sua ação transformadora no
mundo.
Hoje também
rezamos especialmente pelo papa, bispo de Roma, cidade onde se deu o martírio
de Pedro e Paulo. Sua missão é zelar para que a Igreja permaneça unida, fiel a
Jesus Cristo e seu projeto, realizando com humildade e coragem uma ação
evangelizadora, cada vez mais inculturada, profética e aberta a todos.
A festa dos
Apóstolos alegra todo o mundo até os seus extremos, com júbilo profundo.
Louvamos Pedro e Paulo, por Cristo, consagrados colunas das Igrejas no sangue
derramado. São duas oliveiras diante do Senhor, brilhantes candelabros de
esplêndido fulgor. Do céu luzeiros claros, desatam todo laço de culpa, abrindo
aos santos de Deus o eterno Paço. Ao Pai louvor e glória nos tempos sem
fronteiras. Império a vós, ó Filho, beleza verdadeira. Poder ao Santo Espírito,
Amor e Sumo Bem. Louvores à Trindade nos séculos. Amém. (Liturgia das Horas).
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Textos: Atos 3,1-10; Gálatas 1,11-20; João 21,15-19
Podemos retomar alguns pensamentos das leituras
bíblicas, começando pelo texto do Evangelho. Este diálogo entre Jesus e Simão,
filho de João, possui uma força e uma densidade tais que deixa um sinal na
nossa vida espiritual. Jesus pergunta três vezes ao pescador da Galiléia se ele
O ama. Nos discursos da Última Ceia o Senhor falou diversas vezes do amor pela
Sua pessoa, especificando que seria verdade só se fosse acompanhado pela
prática dos Mandamentos: “Se me amais, obedecereis aos meus mandamentos” (João
14,15; cf. 14,21-23). Agora Ele pergunta, categoricamente, a Pedro se O ama. O
texto grego utiliza dois verbos diferentes, ora um, oura outro, talvez para
variar. Ao ouvir a tríplice pergunta, Pedro fica atônito: no final ele não
responde ao “me amas mais do que estes?” inicial, e confia no conhecimento
divino de Jesus, “Senhor, tu sabes tudo” (versículo 17), para Lhe dizer que o
ama.
Depois de cada resposta afirmativa, Jesus confere
ao Apóstolo o encargo: “Apascenta as minhas ovelhas, apascenta os meus
cordeiros” (versículos 15-17). Do amor nasce o serviço na Igreja, serviço que é
exercício de amor que Pedro deve cumprir, amando toda a Igreja. A Si mesmo, Bom
Pastor, (João 10,10), Jesus faz suceder o pastor Pedro, como Seu vigário e
continuador. As ovelhas e os cordeiros, isto é, todos os cristãos, são de
Jesus, mas Pedro deve prestar-lhes o seu serviço de amor e de guia. Jesus Bom
Pastor, dá “a vida pelas ovelhas” (João10,15) e preanuncia a mesma sorte ao
pastor vigário: “Estenderás a mão” (versículo 8) para que, porventura, seja
pregado numa cruz.
Exercemos já talvez atividades na paróquia;
façamos tudo com amor. Ou então, poderíamos cumpri-las, mas ainda não nos
decidimos: esforcemo-nos para que isso aconteça o mais depressa possível,
preparemo-nos, atuemos por amor.
O apostolado nasce do amor e é exercido no amor.
É o que nos dizem, na sua atividade concreta, os dois santos que festejamos.
Pedro não tem ouro e nem prata, mas possui na realidade uma coisa ainda mais
poderosa, “O que tenho te dou”, isto é, a fé operosa: “em nome de Jesus Cristo,
o Nazareno, levanta-te e anda” (Primeira leitura: Atos 3,6). Esta fé,
fortalecida por obra do Espírito Santo no Pentecostes, levou Pedro a pronunciar
a sua primeira pregação: com o milagre do coxo colocou as premissas para o seu
segundo discurso sobre o “Nome” de Jesus (cf. Atos 4).
A Solenidade dos santos Apóstolos Pedro e Paulo
quer despertar em nós o compromisso pelo apostolado no amor.
PARA REFLETIR
A Solenidade de S. Pedro e
S. Paulo oferece-nos o testemunho de dois homens crentes e religiosos que se
convertem a Jesus Cristo, o Filho de Deus e Salvador do Mundo. Convertem-se
quando conhecem Jesus como o Senhor e permitem que se realize neles o encontro
com o Seu amor misericordioso. Cada um à sua maneira, nas circunstâncias da sua
existência de homens e de crentes, vê o Senhor, conhece o mistério da sua morte
e ressurreição, ouve as palavras do chamamento: vem e segue-Me.
Pedro, um simples pescador do
lago da Galileia, iletrado e inculto, homem rude, de mãos e pés calejados pela
dureza pelo trabalho que lhe oferece os escassos recursos para o sustento
quotidiano da sua família. Paulo, homem douto, letrado e culto, habituado ao
estudo da Lei, pronto para as mais sérias discussões e interpretação dos
mandamentos dos seus antepassados, acérrimo defensor do seu Deus e da sua
religião. Ambos tementes a Deus, com experiências de vida tão diferentes, mas
predispostos para o encontro com a Verdade e a Vida; ambos decididos a dar
passos seguros e, sobretudo, a dar a vida, como acabou por acontecer, dando
corpo à vocação de todo o discípulo de Jesus, que cedo lhes indica o género de
morte com que haviam de dar glória a Deus.
“Tu amas-Me?”, é a pergunta
que o Evangelho nos refere e que Jesus dirigiu diretamente a Pedro junto ao mar
de Tiberíades. Ele já a havia intuído aquando do chamamento para ser discípulo
junto ao mesmo Lago. Nunca teria seguido o Mestre se não tivesse conhecido o
Seu amor, se não tivesse sentido que a sua resposta só poderia ser uma, no
primeiro, no segundo e em todos os momentos: “Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes
que te amo”.
Só um amor maior poderia
estar na origem da reviravolta total operada na vida de Paulo, quando cai por
terra diante da Luz fulgurante de Cristo Ressuscitado, no caminho de Damasco.
De acérrimo perseguidor de Cristo, de terrível perseguidor da Igreja de Deus,
que procurava destruir, passou a apóstolo, e em vez de respirar ameaças de
morte, passou a respirar sopros da vida, dispôs-se a percorrer a via da
verdade, porque o amor do Senhor vence nele todo o ódio, fez mudar o
pensamento, os objetivos, os caminhos e a totalidade da existência.
Diante destes dois
baluartes, sentimo-nos muito pequenos na fé e no amor a Cristo Jesus,
percebemos que nos falta a grandeza interior da fé do discípulo que segue o
mestre para onde quer que vá, a força do amor apaixonado que faz revolver a
vida. Teremos, porventura, grande facilidade de defender a existência de Deus,
contra o ateísmo; defendemos a dimensão religiosa da natureza humana, contra o
avanço do secularismo; defendemos a superioridade da cultura cristã, contra o
sincretismo cultural de raízes tão variadas; defendemos o lugar da Igreja na
sociedade, contra o emergir das novas potências agregadoras que se levantam...
Mas, a paixão por Cristo, a certeza do Seu amor, a segurança da fé, a esperança
contra toda a esperança, a disponibilidade para dar a vida, corpo e sangue,
vontade, liberdade, serviço...
Deixar-se cair nas mãos de
Deus, ser alcançado por Cristo, aceitar que nos construa interiormente, acolher
as propostas de conversão integral, permitir que Ele viva em nós, é o caminho
da fé ao qual todos fomos chamados, e que seguiremos com amor, cada um segundo
a sua vocação.
Deus não precisa de
defensores, a cultura cristã não precisa de apologetas, a religião católica não
precisa de fariseus, a Igreja não precisa de poder, as comunidades não precisam
de burocratas. Deus só nos pede amor e misericórdia incarnados em cada um de
nós e na Sua Igreja; a humanidade só precisa do testemunho da nossa fé viva e
apaixonada, do testemunho de uma fé que nos transforme e, conosco
transformados, possa mudar um pouco do mundo.
Convido-vos, por isso,
caríssimos irmãos, a renovarmos constantemente a alegria de nos convertermos ao
Senhor de todo o coração, de convertermos a Cristo o nosso diaconado, o nosso
presbiterado, o nosso episcopado; convido-vos a convertermos a Cristo a nossa
condição de cristãos, a nossa condição de leigos, a nossa condição de
consagrados.
Nenhum de nós foi
simplesmente chamado a cumprir a agenda típica do ministro ordenado ou a
executar as tarefas que se esperam de um ministro da Igreja; fomos chamados a
ser de Cristo na fé, a ser da Igreja no serviço, a ser para a humanidade na
misericórdia. Nenhum de vós, caros leigos, foi simplesmente chamado a cumprir
preceitos ou obrigações dentro da Igreja, mas a ser sal, fermento e luz de
Cristo nas realidades temporais em que estais mergulhados. Nenhum de vós, caros
consagrados, foi simplesmente chamado a viver a radicalidade evangélica por
meio da profissão da pobreza, da castidade e da obediência, mas a ser
totalmente de Cristo, por dentro e por fora, com um coração indiviso.
Pedro e Paulo são grandes
por serem de Cristo, por se deixarem converter por Ele e por viverem com Ele e
n’Ele, dentro da Igreja que é o Seu Corpo, no serviço apostólico destinado a
salvar o mundo. A nossa única grandeza está em sermos de Cristo, na Igreja, e
para o mundo. A nossa única riqueza é o Cristo que trazemos no coração e que
podemos repartir com todos os homens ansiosos de um encontro consolador,
portador de esperança e gerador de salvação.
Conscientes de serem
portadores desse imenso tesouro, Pedro e João, que se dirigem ao templo para
orar, fixam os olhos num mendigo que pede esmola. Têm a coragem de lhe dizer:
“olha para nós”. Ele olhava atentamente e espera deles alguma coisa. “Não tenho
ouro nem prata, mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno,
levanta-te e anda”.
Esta realidade comove-nos,
tanto por sermos portadores de Cristo, consolação e salvação dos pobres deste
mundo, quando percorremos as ruas da vida a que nos conduz o ministério, como
quando estamos do lado dos pobres – e estamos sempre desse lado - e podemos
acolher o Cristo que nos é dado por homens frágeis como nós.
“E, tomando-lhe a mão
direita, levantou-o”. Feliz imagem para dizer tudo o que Jesus faz por nós e o
que somos chamados a fazer, em seu nome e com Ele no coração, por aqueles a
quem nos envia: levantá-los pela mão. Tudo o que somos e tudo o que fazemos no
exercício do ministério sagrado, resume-se a levantar pela mão todos os que se
encontram sentados, à porta do templo ou já dentro do templo. Ajudamo-los a
levantar-se por dentro, por meio do anúncio da Palavra do Evangelho, da
evangelização, por meio do serviço do altar, ou seja, pela celebração dos
sacramentos, pela prática da caridade cristã.
Todo o exercício do
ministério exige de vós, caros jovens: ter Cristo no coração e na vida, o tesouro
que sois chamados a levar ao mundo; partir com os olhos atentos a todos os que
esperam uma palavra ou um sinal de esperança; ajudá-los a ver Cristo por meio
da fé; propor-lhes que O acolham e se alegrem com Ele. Aí encontrareis também a
única recompensa que pode esperar o apóstolo do Senhor; aí sentireis a alegria
de ser de Cristo e mensageiros da sua graça; aí podereis saborear a felicidade
associada à graça da vossa vocação.
Que este dia de festa e de
graça para toda a Igreja nos ajude a renovar a alegria da fé em Cristo Jesus, o
entusiasmo para a evangelização e a fortaleza para a construção de comunidades
de discípulos missionários.
Ampare-nos a Mãe de Deus e
Mãe da Igreja, Aquela que acolhemos como Mãe desta porção do Povo de Deus, e a
quem invocamos como Santa Maria.
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* Celebrada a partir das vésperas da Solenidade.
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