É
sabido que Deus a todos criou por amor. O ato criacional de Deus não está
destacado de sua substância, senão que é um desdobrar daquilo que Deus é em si
mesmo. A natureza criada - e nela o ser humano como Coroa da obra da criação -
possui em si uma certa imperfeição. Não em relação a si mesma, mas, em relação
a Deus. Deus é perfeito e em relação a Ele tudo o mais não é. Deus é Absoluto,
e em relação a Ele tudo o mais é relativo. Desde este ponto de vista, a obra
criada é imperfeita e relativa sempre a Deus. Aqui entro no delicado e
controverso assunto da homossexualidade.
Um
jovem me diz: "padre, porque Deus criou o homossexual nesta sua condição
se Deus é amor?" E ainda: "Se Deus sabe de antemão que a
homossexualidade é pecado, porque então cria alguém homossexual?"
Perguntas difíceis, mas, muito pertinentes que podem nos ajudar a compreender
um pouco mais daquilo que é o projeto de Deus para o ser humano. Em primeiro
lugar Deus não cria uma pessoa para ser assassino, outra para ser estuprador,
outra para ser ladrão e outra para ser homossexual. A natureza criada - que não
é Deus - é por si mesma imperfeita. Uma árvore não é simétrica. Nem nosso
próprio corpo o é. Se perfeição for simetria e se, em relação à criação o
objeto referencial da simetria for a perfeição de Deus, então ninguém é
perfeito, pois, nenhum ser humano por santo que seja nunca se aproximará da
essência divina senão por graça do próprio Deus que se lhe revela. Assim, já se
pode descartar a hipótese de que Deus tenha criado intencionalmente uma pessoa
para que ela sofra. Se esta hipótese for levada adiante, haverá que se admitir
a existência do mal em Deus. Admitir a existência do mal em Deus é o pecado dos
anjos decaídos que se tornaram demônios. Deus é o Bem e nele nunca há mal
algum. Conforme o argumento ontológico de Santo Anselmo, Deus é aquele que nada
de maior, excelente, belo, verdadeiro e puro pode ser pensado. Se, deste modo,
Deus é a essência em existência, logo, nele não há nenhuma possibilidade para
conceber o mal e criá-lo. Portanto, afirmar que Deus possa criar alguém para
fazê-lo sofrer com esta ou aquela realidade humana, é ilógico uma vez que Deus
não pode conceber o sofrimento como mal ou desejo sádico.
A
segunda questão da primeira pergunta referente à criação do homem - e em
questão o homossexual - é: Deus não cria o homem condicionado a ser isto ou
aquilo, como se afirmou anteriormente. No texto que escrevi sobre a liberdade
afirmo que somos dotados do livre-arbítrio por Deus desde a criação. Portanto,
escolhemos o que queremos para a nossa vida. Tal escolha pode ser ou não
conforme o plano de Deus. Acusar Deus de ser mal, despótico, sádico e um
criador de marionetes é não ter a maturidade necessária nem a liberdade
presumida para assumir a própria vida e as próprias escolhas. Noutras palavras:
é ser um bebê chorão apontando o dedo pra todo mundo e acusando a todos - e até
a pobre da pedra - de ter tropeçado e arrancado o tampo do dedão.