Seminário é uma instituição conhecida
historicamente, mas extremamente desconhecida pela verdade dos fatos. Às vezes
nos apegamos a estereótipos quase infantis como o de que um padre se faz como
se faz receita de bolo: juntando um ingrediente aqui, outro ali, esperando o
tempo necessário, e “voilà!”, forma-se um sacerdote perfeito. Não é tão fácil
assim. Conhecemos os estereótipos, mas poucas vezes ouvimos falar a partir de
dentro o que realmente acontece. Pensando nisso, seria possível elencar algumas
verdades sobre a vida de seminário que poucas vezes são comentadas por aí, como
as seguintes:
1. Formar não é colocar numa forma
Como dissemos, não
se trata de juntar ingredientes ou fazer cálculos matemáticos. A formação
sacerdotal é muito complexa. Em primeiro lugar porque cada um tem uma história
própria. Em segundo lugar porque a configuração em Cristo é um movimento muito
mais interior que exterior. Em outras palavras, requer força de vontade,
convicção, caráter e, sobretudo, fé. A maior parte desse processo depende da
disposição do candidato a adequar-se ao “molde” que chamamos Cristo. Você pode
passar 8, 9, 10 anos formando um candidato. Se ele endurece o interior, não há
forma capaz de conter a pressão que ele próprio representa. Portanto, formar é
dar diretrizes para que o próprio candidato se converta à luz do Espírito
Santo. Sem a participação ativa do maior interessado na vocação, não há forma
capaz de dar o formato almejado.
2. Há conflitos
Mais uma vez aqui
pesa a história de vida de cada um. Porém, essa talvez seja a mais natural das
verdades sobre a vida de seminário. Afinal, todos viemos de determinados
grupos, como a família, os amigos, o trabalho, etc. Se por um lado faz parte da
nossa condição humana viver em sociedade, por outro cada pessoa que atravessa a
nossa história representa um desafio. O mais interessante do convívio com as
diferenças no seminário é que ele representa uma verdadeira escola para o
convívio com fiéis (nem sempre agradáveis) da nossa futura paróquia.
3. Não passamos o dia rezando
Eis mais um
estereótipo pueril. Temos uma vida extremamente diversificada, ainda que
disciplinada: jogamos futebol, lavamos louça, jogamos cartas, estudamos,
rezamos, assistimos TV e até saímos para assistir a um filme de vez em
quando…Não só na vida de seminário, mas para todos é importante ter uma rotina
equilibrada, que contemple diferentes necessidades. Normalmente a formação
sacerdotal cuida desses aspectos dividindo didaticamente a vida do candidato em
quatro dimensões: Intelectual, Pastoral, Espiritual e Humano-afetiva. Isso é
importante para que o futuro padre saia do seminário mais que intitulado padre,
que saia com uma personalidade integrada e mais parecida com o rosto de Cristo.
4. Dizer sim todos os dias é mais
difícil
No começo temos
muitas expectativas, queremos dar tudo a Cristo, até o sangue se fosse
necessário. Com o tempo, assim como o namoro, as coisas vão se esfriando, o sim
dito lá atrás vai aos poucos se transformando numa distante lembrança de um
tempo que não volta. Às vezes temos a impressão de que estamos apenas nos
arrastando e esperando o dia da ordenação (ou o da morte se não for pedir
muito). Apesar de ser um desafio, dizer sim todos os dias vale muito mais a
pena. Assim as coisas deixam de ter um peso para assumirem a bela dimensão da
grandiosidade daquilo que esperamos.
5. Um padre não se faz no dia da
ordenação
Um dos nossos
formadores sempre diz: “Um padre não se faz no improviso”. Grande verdade! Pode
até parecer cansativo esse exemplo para alguns, mas se não acordo todos os dias
para ir à missa no seminário, dificilmente terei disposição para instituir uma
missa cedo na minha paróquia, ainda que seja uma necessidade para os fiéis.
Outro exemplo: se não crio o hábito de rezar a liturgia das horas todos os
dias, quando padre sempre inventarei alguma outra atividade “mais importante”.
Criar hábito é forjar-se. Isso é difícil, requer sacrifício e abnegação. Porém,
quando temos diante dos olhos o Modelo, Cristo Jesus, qualquer sacrifício se
torna um ato verdadeiramente salvífico, para nós e para os outros.