sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A aliança do Senhor


No Deuteronômio, Moisés disse o seguinte ao povo: O Senhor teu Deus firmou uma aliança no Horeb. Não foi com vossos pais que o Senhor firmou esta aliança, mas convosco (Dt 5,2-3).

Por que não firmou a aliança com seus pais? Porque a lei não foi feita para o justo (1Tm1,9). Ora, seus pais eram justos; tinham o conteúdo do Decálogo gravado em seus corações e em suas almas, pois amavam a Deus que os criara e abstinham-se de toda injustiça para com o próximo. Não precisavam da advertência de uma lei escrita, porque tinham em si mesmos a justiça da Lei.

Mas, quando essa justiça e esse amor para com Deus caíram no esquecimento e se extinguiram no Egito, tornou-se necessário que Deus, em sua grande bondade para com os homens, se manifestasse de viva voz.

Com seu poder fez sair seu povo do Egito, para que o homem voltasse a ser discípulo e seguidor de Deus; e castigou os desobedientes, a fim de que o povo não desprezasse o seu Criador.

Alimentou-o como maná, para que recebesse um alimento espiritual, conforme disse também Moisés no Deuteronômio: Ele te alimentou com o maná, que nem tu nem teus pais conheciam, para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca do Senhor (Dt 8,3).

Deu ainda o mandamento do amor de Deus, e ensinou a justiça para com o próximo, a fim de que o homem não fosse injusto nem indigno de Deus. Assim, por meio do Decálogo, Deus preparava o homem para a sua amizade e para a concórdia com o próximo. Era o homem que tirava proveito de tudo isso, uma vez que Deus não tinha nenhuma necessidade do homem.

Efetivamente,tudo isso contribuía para a glória do homem, dando o que lhe faltava, isto é, a amizade de Deus. Porém, isto nada acrescentava a Deus, pois ele não tinha necessidade do amor do homem.

O homem é que precisava da glória de Deus, a qual de modo algum poderia obter senão servindo a Deus. Por isso, Moisés lhe disse de novo: Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e teus descendentes, amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele – pois é a tua vida e prolonga os teus dias (Dt 30,19-20).

A fim de preparar o homem para esta vida, o Senhor proclamou por si mesmo as palavras do Decálogo, para todos sem exceção; por isso elas não foram abolidas por ocasião da sua vinda segundo a carne, mas permanecem em vigor entre nós, desenvolvidas e amplificadas.

Quanto aos preceitos próprios da servidão, Deus prescreveu-os separadamente ao povo, por intermédio de Moisés, adaptados à sua educação e formação, conforme disse o próprio Moisés: Naquele tempo, vos ensinei leis e decretos conforme o Senhor Deus me ordenou (cf. Dt 4,5). Por isso, os preceitos, que implicavam a servidão e tinham o caráter de sinais, foram abolidos pelo Senhor na Nova Aliança da liberdade. Mas os preceitos naturais, que convêm a homens livres e são comuns a todos, foram completados e aperfeiçoados, concedendo generosamente aos homens o dom de conhecer a Deus como Pai adotivo, amá-lo de todo o coração e seguir seu Verbo sem se desviarem.


Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo

(Lib. 4,16,2-5: SCh 100, 564-572)             (Séc.II)

O Papa Francisco e as críticas.


No saco de mendicante que eu trago a tiracolo e que, no caminho, muitas vezes me bate no coração, eu reúno coisas preciosas que guardo amorosamente, também para tirá-las para fora no tempo oportuno, mas também há outras que, depois de um atento discernimento, eu deixo cair no chão: não são dignas de serem conservadas.

Entre esses objetos, às vezes há pedras que alguns atiram para me atingir: algumas me alcançam e me ferem, outras passam ao lado. Mas todas caem no chão, e eu não as pego de volta para não ter a tentação de jogá-las novamente ao remetente. Nisso também me ajuda a velhice e o seu fato de conhecer o acúmulo de ações que não deixam vestígios.

Para ser sincero, eu não sou tentado nem mesmo a me defender: só se fossem calúnias pertinentes à fé ou à moral eu reagiria, para me interrogar e avaliar uma eventual defesa.

Pensando nisso, surge diante de mim a imagem do Papa Francisco, esse bispo de Roma que, inesperado pela maioria, fez com que se reacendesse novamente o fogo do Evangelho que não estava apagado, mas chocava debaixo das cinzas acumuladas nas últimas décadas, depois do arder da hora do Concílio. 

O Papa Francisco tem muitos inimigos ou, melhor, sabe que muitos se opõem a ele, não conseguem ter simpatia por ele, não estão dispostos a ouvi-lo: são estes que se sentem como seus inimigos, mesmo que ele, justamente em nome do Evangelho que ele quer viver a cada dia com radicalidade, se recuse a considerá-los como tais e a agir em consequência, segundo a estratégia humana exigida pela contraposição.

A única defesa que ele realiza é a denúncia das "fofocas" – eu as definiria como "murmurações" – que ele faz frequentemente, comentando o Evangelho na missa matinal em Santa Marta. Fofocas que não são críticas de rosto aberto, exercício de parrésia e franqueza, mas palavras lançadas como flechas no escuro, repetidas em conciliábulos, acusações em meia voz que até sugerem uma infidelidade sua à tradição da Igreja e à doutrina católica. 

São Porfírio de Gaza


Nasceu na Tessalônica em 353 e morreu em Gaza em 420.

São Porfírio nasceu de uma família rica e com vinte e cinco anos mudou-se para o Egito, onde entrou no monastério de Esquete, no deserto. Cinco anos depois ele viajou para a Palestina, para visitar os lugares santos e residiu numa caverna perto do Rio Jordão por mais cinco anos, em profunda solidão.

Neste período ele adoeceu profundamente e resolveu gastar seus últimos dias em Jerusalém, onde poderia estar perto dos lugares onde Jesus Cristo viveu. Sua austeridade era tão grande que a doença agravou e ele só podia visitar os lugares santos apoiado num pedaço de madeira.

Um amigo seu, chamado Marco, propôs a ajudá-lo, oferecendo seu braço, mas Porfírio recusou a ajuda. “Eu vim até a Palestina para procurar o perdão dos meus pecados e não devo procurar o conforto de ninguém”, dizia Porfírio.

Neste sofrimento ele viveu alguns anos, com olhar sereno e feliz. Só uma coisa ainda o incomodava: sua riqueza deixada na Tessalônica. Um dia, chamou seu amigo Marcos e lhe ordens para ir até sua casa e vender suas propriedades. Três meses depois, seu amigo retornou trazendo grande quantia em ouro. Porfírio o recebeu com alegria, pois estava completamente recuperado de sua enfermidade.

O santo explicou ao amigo que, dias antes, durante um acesso de febre, ele tinha sentido vontade de caminhar até o Calvário. Lá chegando, ele teve uma queda como um desmaio e pensou ter visto Cristo na cruz. Implorou ao Mestre que o levasse com Ele para o Paraíso. Jesus então apontou-lhe a cruz e pediu que ele a carregasse. São Porfírio tomou então a cruz nos ombros e quando acordou estava completamente recuperado da doença.

O santo distribuiu, então, seus bens entre os pobres da Palestina. Para sobreviver, Porfírio aprendeu a fazer sapatos e tornou-se um grande sapateiro.

No fim da vida, Porfírio retornou para Gaza, foi ordenado bispo e passou a defender a fé contra o ataque constante dos pagãos. Diz a história que, em Gaza, terrível seca assolava os campos. Os pagãos culpavam os cristãos e não queriam receber Porfírio entre eles. Às portas da cidade, Porfírio rezou a Deus e a chuva caiu com abundância. Assim, ele foi reconhecido pelos cidadãos de Gaza e pôde entrar na cidade.

Porfírio retirou do maior templo da cidade os ídolos pagãos e construiu uma grande Igreja, consagrada em 408. Na ocasião de sua morte, sua diocese era toda cristã, conforme o testemunho de seu amigo Marcos, que escreveu a biografia do santo. 


Ó Deus, que aos vossos pastores associastes São Porfírio de Gaza, animado de ardente caridade e da fé que vence o mundo, dai-nos, por sua intercessão, perseverar na caridade e na fé, para participarmos de sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Quaresma ou Campanha da Fraternidade?


Transcrevemos a seguir algumas notas sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016: "Casa comum nossa responsabilidade", do Padre Cléber Eduardo. O sacerdote publicou fez um desabafo em seu perfil, no Facebook, e pediu que ninguém o mutile, nem o altere. Trata-se de um texto crítico à CNBB pela realização da Campanha da Fraternidade no Tempo da Quaresma. Segundo o sacerdote, alinhado com o posicionamento de muitos católicos, a Campanha da Fraternidade tira o foco real do Tempo da Quaresma e coloca toda a Teologia de conversão em uma chave meramente antropológica, socialista e imanente, colocando a salvação das almas em segundo plano. Segue o texto:

Este texto está assegurado pela a Constituição Federal, Artigo 5º "IX- é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;" e também pelo Código de Direito Canônico, cânon 212 § 2: "Os fiéis têm o direito de manifestar aos Pastores da Igreja as próprias necessidades, principalmente espirituais, e os próprios anseios." e §3: "De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam, tem o direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos Pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência para com os Pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, deem a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis."

Portanto, escrevo aos leitores, certo de que entre eles, alguns de nossos bispos também o lerão. Já aviso de antemão que qualquer comentário pejorativo aos Senhores Bispos será sumariamente apagado, não porque alguns não o mereçam, mas porque o meu perfil não é um lugar para bate-bocas de comadres de vila. Uma coisa é discordar, outra fazer estripulias de moleques.

Quem discorda do que escrevo ou vê de forma diferente tenha a hombridade de o fazê-lo dentro da educação e polidez de gente civilizada e de usar seu nome próprio. Se discorda, coloque seus argumentos e iniciemos um debate.

Centenas de católicos escrevem-me diariamente sobre sua inquietação e perplexidade com mais uma Campanha da Fraternidade (CF). Discutir saneamento básico, esgoto e políticas da água dentro das igrejas parece-lhes - e parece-me - totalmente fora da realidade. Dentre as dezenas de razões para o rechaço a mais ouvida é que a CF tem o intuito de desviar o espírito da Quaresma para ocupar cátedras e púlpitos para uma pregação meramente social e política, quase sempre alinhada ao bom-mocismo do politicamente correto transformando a Igreja Católica em mais uma ONG "engajada". Atitude esta condenada pelo Papa Francisco...

Dizem os perplexos e inquietos que, para os promotores da CF 2016, é mais importante discutir sobre esgoto e água que tratar sobre a proteção da vida nascente e o pecado hediondo do aborto, mais importante cuidar do córrego sujo que do manancial de sangue dos milhares de cristãos, católicos ou não, perseguidos não só na Síria pelos muçulmanos, mais importante que banir e entregar à justiça canônica e civil sacerdotes pedófilos, mais importante que cuidar dos inúmeros casos e denúncias sobre a péssima formação sacerdotal e a corrompida doutrina instalada nalguns seminários e servida à mão-cheia nos púlpitos, mais importante que suspender sacerdotes que não temem desfilar com bandeiras partidárias e bonezinhos de sindicatos, partidos políticos e do MST, mais importante que se levantar contra a eugenia que se instala contra os prováveis e futuros microcéfalos, mais importante que limpar e sanear a PJ de toda a doutrina marxista que está às claras.

Quando um padre se levanta contra estas questões candentes ele é tachado de "não está em comunhão com a Igreja" ou, "não está em comunhão com a Diocese" ou "não está em comunhão com o presbitério". Conversa fiada de que detêm o poder, mas não detêm a razão. Senhores... o mal e o pecado continuam ser mal e pecado mesmo que todos digam que não.

O que ocorre com tal padre, na melhor das hipóteses é ostracizado pelos colegas, na pior é suspenso do uso de ordens. VEREMOS o que lá vem para mim. Só não sei por que tantas pessoas falam dos padres e bispos bons que se calam... terão medo de quais represálias os assim chamados "bons" bispos? A não promoção a uma diocese "melhor", a não promoção a algum arcebispado, um título cardinalício? 

Consultando minha consciência e os ditames da Santa Igreja a quem sirvo vejo-me na obrigação de esclarecer aos fiéis algumas coisas:

O Cordeiro Imolado


O poder das trevas quer jogar a Igreja por terra, destruí-la. O que Jesus viveu no Horto das Oliveiras foi o momento da maior luta do filho de Deus quando Ele foi chamado para ser cordeiro, para ser imolado, para ser sacrificado. Por isso todo sacerdote é um sacrificador, um batalhador, um homem que deve se consumir para anunciar a Verdade do Evangelho.

Esse não é um combate natural... não deve ser racionalizado ou reduzido a uma administração paroquial, a uma carreira diplomática ou acadêmica, esquecendo-se da luta contra o poder das trevas, da luta contra Satanás, para dar às almas a Verdade, a Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Na quinta-feira santa Nosso Senhor Jesus Cristo vai enfrentar uma luta tremenda contra o poder das trevas ("Pai, seja feita vossa vontade e não a minha"). Na carta aos Hebreus: 'Pai, deste-me um corpo e este corpo é para fazer a tua vontade'.

Se não bastassem as seitas que se levantam, se compreendessem a diferença entre o culto protestante e a santa Missa, cairiam de joelhos por sete dias e sete noites por terem trocado a Missa por um culto não católico. Não estou falando de doutrinas e sacrifícios inventados por homens, mas da essência do sacrifício de Cristo.

Se todo católico entendesse a plenitude da Missa, cairia de joelhos por abandonar Sua graça por interesses pessoais e agir de forma a desacreditar a Igreja. Essa é a ação do demônio, tornar a Igreja desacreditada!

A traição de Judas não terminou com Judas, mas ela continua presente no coração de muitos consagrados e leigos que desacreditam a Igreja, a ponto de comparar o sacrifício de Cristo a qualquer reunião que se faça fora da Igreja Católica! 

Novo "Altar" da Basílica de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, lembra os altares dos templos maçônicos.


Depois de cerca de dois anos fechada ao público para obras de restauro, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Santuário de Fátima, Portugal, reabre com uma desagradável surpresa: um novo “altar” sagrado pelo Bispo de Leiria Fátima, D. António Marto.

Escreve-nos um leitor português:

O polêmico novo altar da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, lembra os altares dos templos maçônicos.

Coincidência ou não, a forma de cubo e as três velas que ladeiam o novo altar lembram indubitavelmente os templos da Maçonaria, causando alguma perplexidade entre os fiéis. O Santuário não deu nenhuma explicação, mas pensa-se que as três velas estejam relacionadas como que representando os videntes da Cova da Iria.

O altar, inserido no novo presbitério, foi consagrado no passado dia 2 de Fevereiro pelo Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, perante centenas de fiéis. Mas a estética e a lembrança da Maçonaria deixam muito a desejar…

O altar anterior:



O verdadeiro temor do Senhor


Feliz és tu se temes o Senhor e trilhas seus caminhos (Sl 127,1). Todas as vezes que na Escritura se fala do temor do Senhor, nunca se fala isoladamente, como se ele bastasse para a perfeição da nossa fé; mas vem sempre acompanhado de muitas outras virtudes que nos ajudam a compreender sua natureza e perfeição. Assim aprendemos desta palavra que disse Salomão no livro dos Provérbios: Se suplicares a inteligência e pedires em voz alta a prudência; se andares à sua procura como ao dinheiro, e te lançares no seu encalço como a um tesouro, então compreenderás o temor do Senhor (Pr 2,3-5).

Vemos assim quantos degraus é necessário subir para chegar ao temor do Senhor. Em primeiro lugar, devemos suplicar a inteligência, pedir a prudência, procurá-la como ao dinheiro e nos lançarmos ao seu encalço como a um tesouro. Então chegaremos a compreender o temor do Senhor. Porque o temor, na opinião comum dos homens, tem outro sentido. É a perturbação que experimenta a fraqueza humana quando receia sofrer o que não quer que lhe aconteça. Este gênero de temor manifesta-se em nós pelo remorso do pecado, pela autoridade do mais poderoso ou a violência do mais forte, por alguma doença, pelo encontro com um animal feroz e pela ameaça de qualquer mal. Esse temor, por conseguinte, não precisa ser ensinado, porque deriva espontaneamente de nossa fraqueza natural. Não aprendemos o que se deve temer, mas são as próprias coisas temíveis que nos incutem o terror. Pelo contrário, sobre o temor de Deus, assim está escrito: Meus filhos, vinde agora e escutai-me: vou ensinar-vos o temor do Senhor Deus (Sl 33,12). Portanto, se o temor do Senhor é ensinado, deve-se aprender. Não nasce do nosso receio natural, mas do cumprimento dos mandamentos, das obras de uma vida pura e do conhecimento da verdade.

Para nós, todo o temor do Senhor está contido no amor, e a caridade perfeita expulsa o temor. O nosso amor a Deus leva-nos a seguir os seus conselhos, a cumprir os seus mandamentos e a confiar em suas promessas. Ouçamos o que diz a Escritura: E agora, Israel, o que é que o Senhor teu Deus te pede? Apenas que o temas e andes em seus caminhos; que ames e guardes os mandamentos do Senhor teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, para que sejas feliz (Dt 10,12-13).

Ora, os caminhos do Senhor são muitos, embora ele próprio seja o Caminho. Pois, ele chama-se a si mesmo caminho, e mostra a razão porque fala assim: Ninguém vai ao Pai senão por mim (Jo 14,6).

Devemos, portanto, examinar e avaliar muitos caminhos, para encontrarmos, por entre os ensinamentos de muitos, o único caminho certo, o único que nos conduz à vida eterna. Há caminhos na Lei, caminhos nos profetas, caminhos nos evangelhos e nos apóstolos, caminhos nas diversas obras dos mestres. Felizes os que andam por eles, movidos pelo temor do Senhor.


Dos Tratados sobre os Salmos, de Santo Hilário, bispo

(Ps 127,1-3:CSEL 24,628-630)             (Séc.IV)

10 verdades sobre a vida de um Seminarista


Seminário é uma instituição conhecida historicamente, mas extremamente desconhecida pela verdade dos fatos. Às vezes nos apegamos a estereótipos quase infantis como o de que um padre se faz como se faz receita de bolo: juntando um ingrediente aqui, outro ali, esperando o tempo necessário, e “voilà!”, forma-se um sacerdote perfeito. Não é tão fácil assim. Conhecemos os estereótipos, mas poucas vezes ouvimos falar a partir de dentro o que realmente acontece. Pensando nisso, seria possível elencar algumas verdades sobre a vida de seminário que poucas vezes são comentadas por aí, como as seguintes:

1. Formar não é colocar numa forma

Como dissemos, não se trata de juntar ingredientes ou fazer cálculos matemáticos. A formação sacerdotal é muito complexa. Em primeiro lugar porque cada um tem uma história própria. Em segundo lugar porque a configuração em Cristo é um movimento muito mais interior que exterior. Em outras palavras, requer força de vontade, convicção, caráter e, sobretudo, fé. A maior parte desse processo depende da disposição do candidato a adequar-se ao “molde” que chamamos Cristo. Você pode passar 8, 9, 10 anos formando um candidato. Se ele endurece o interior, não há forma capaz de conter a pressão que ele próprio representa. Portanto, formar é dar diretrizes para que o próprio candidato se converta à luz do Espírito Santo. Sem a participação ativa do maior interessado na vocação, não há forma capaz de dar o formato almejado.

2. Há conflitos

Mais uma vez aqui pesa a história de vida de cada um. Porém, essa talvez seja a mais natural das verdades sobre a vida de seminário. Afinal, todos viemos de determinados grupos, como a família, os amigos, o trabalho, etc. Se por um lado faz parte da nossa condição humana viver em sociedade, por outro cada pessoa que atravessa a nossa história representa um desafio. O mais interessante do convívio com as diferenças no seminário é que ele representa uma verdadeira escola para o convívio com fiéis (nem sempre agradáveis) da nossa futura paróquia.

3. Não passamos o dia rezando

Eis mais um estereótipo pueril. Temos uma vida extremamente diversificada, ainda que disciplinada: jogamos futebol, lavamos louça, jogamos cartas, estudamos, rezamos, assistimos TV e até saímos para assistir a um filme de vez em quando…Não só na vida de seminário, mas para todos é importante ter uma rotina equilibrada, que contemple diferentes necessidades. Normalmente a formação sacerdotal cuida desses aspectos dividindo didaticamente a vida do candidato em quatro dimensões: Intelectual, Pastoral, Espiritual e Humano-afetiva. Isso é importante para que o futuro padre saia do seminário mais que intitulado padre, que saia com uma personalidade integrada e mais parecida com o rosto de Cristo.

4. Dizer sim todos os dias é mais difícil

No começo temos muitas expectativas, queremos dar tudo a Cristo, até o sangue se fosse necessário. Com o tempo, assim como o namoro, as coisas vão se esfriando, o sim dito lá atrás vai aos poucos se transformando numa distante lembrança de um tempo que não volta. Às vezes temos a impressão de que estamos apenas nos arrastando e esperando o dia da ordenação (ou o da morte se não for pedir muito). Apesar de ser um desafio, dizer sim todos os dias vale muito mais a pena. Assim as coisas deixam de ter um peso para assumirem a bela dimensão da grandiosidade daquilo que esperamos.

5. Um padre não se faz no dia da ordenação

Um dos nossos formadores sempre diz: “Um padre não se faz no improviso”. Grande verdade! Pode até parecer cansativo esse exemplo para alguns, mas se não acordo todos os dias para ir à missa no seminário, dificilmente terei disposição para instituir uma missa cedo na minha paróquia, ainda que seja uma necessidade para os fiéis. Outro exemplo: se não crio o hábito de rezar a liturgia das horas todos os dias, quando padre sempre inventarei alguma outra atividade “mais importante”. Criar hábito é forjar-se. Isso é difícil, requer sacrifício e abnegação. Porém, quando temos diante dos olhos o Modelo, Cristo Jesus, qualquer sacrifício se torna um ato verdadeiramente salvífico, para nós e para os outros.