No saco de mendicante que eu trago a tiracolo e
que, no caminho, muitas vezes me bate no coração, eu reúno coisas preciosas que
guardo amorosamente, também para tirá-las para fora no tempo oportuno, mas
também há outras que, depois de um atento discernimento, eu deixo cair no chão:
não são dignas de serem conservadas.
Entre esses objetos, às vezes há pedras que alguns
atiram para me atingir: algumas me alcançam e me ferem, outras passam ao lado.
Mas todas caem no chão, e eu não as pego de volta para não ter a tentação de
jogá-las novamente ao remetente. Nisso também me ajuda a velhice e o seu fato
de conhecer o acúmulo de ações que não deixam vestígios.
Para ser sincero, eu não sou tentado nem mesmo a me
defender: só se fossem calúnias pertinentes à fé ou à moral eu reagiria, para
me interrogar e avaliar uma eventual defesa.
Pensando nisso, surge diante de mim a imagem
do Papa Francisco, esse bispo de Roma que, inesperado pela
maioria, fez com que se reacendesse novamente o fogo do Evangelho que não
estava apagado, mas chocava debaixo das cinzas acumuladas nas últimas décadas,
depois do arder da hora do Concílio.
O Papa Francisco tem muitos inimigos ou,
melhor, sabe que muitos se opõem a ele, não conseguem ter simpatia por ele, não
estão dispostos a ouvi-lo: são estes que se sentem como seus inimigos, mesmo
que ele, justamente em nome do Evangelho que ele quer viver a cada dia com
radicalidade, se recuse a considerá-los como tais e a agir em consequência,
segundo a estratégia humana exigida pela contraposição.
A única defesa que ele realiza é a denúncia das
"fofocas" – eu as definiria como "murmurações" – que ele
faz frequentemente, comentando o Evangelho na missa matinal em Santa Marta.
Fofocas que não são críticas de rosto aberto, exercício de parrésia e franqueza,
mas palavras lançadas como flechas no escuro, repetidas em conciliábulos,
acusações em meia voz que até sugerem uma infidelidade sua à tradição da Igreja
e à doutrina católica.
Devemos reconhecer: também havia críticas
contra João Paulo II e Bento XVI, mas
para Francisco há também um sutil desprezo. Ele é julgado como
"não teólogo", ele é lido com desconfiança. Acima de tudo, sente-se
desconforto em relação aos seus gestos simples e espontâneos, humanos e tão
pouco hieráticos para parecer populistas.
No entanto, Francisco vive como sempre
viveu – ele mesmo confessa que se propôs a não mudar de vida ao se tornar papa
– na simplicidade, deixando que a paixão do Evangelho o mova, sem prestar muita
atenção a estilos consolidadas de poder e de corte.
Certamente, é um papa diferente no estilo daqueles
que o precederam, mas essa é uma riqueza para a Igreja que é universal e não
pode continuar se expressando apenas em atitudes muito ligadas à cultura
europeia.
A operação de discernimento autêntico com a ajuda
do Espírito Santo que deveria ser feita é, em vez disso, aquela sobre o
elemento que mais propriamente lhe compete: confirmar os irmãos na fé, estar no
meio deles como aquele que serve, pastorear os seus irmãos e as suas irmãs
amando o Senhor mais do que todas as suas próprias coisas.
Eu sou um pouco mais jovem do que Francisco, e
o que me impressiona nele todas as vezes que eu o encontro é a sua fé sólida
como a rocha, a sua convicção apaixonada de crente a quem Deus renova a força e
a juventude, a sua crença de que Jesus Cristo é o Evangelho e o
Evangelho é Jesus Cristo.
E então, por que, a cada dia que passa, aumentam os
seus opositores, que parecem ter a mesma perfil daqueles homens religiosos que
Jesus repreendia: obcecados pela lei, sem misericórdia, homens da letra
intencionados apenas a se defender, pessoas autorreferenciais que espiam o
pecado nos outros e nunca o confessam como próprio?
Alguns destes, sempre na penumbra eclesial, chegam
até a indicá-lo como culpado de heresia bondosa; outros dizem que ele está
destruindo a Igreja e a imagem do papado; alguns chegam até a considerá-lo como
papa ilegítimo...
Mas Francisco sabe que pode contar com a
oração constante que sobe por ele da Igreja que precisa dele ser o rebanho do
Senhor.
Enzo Bianchi,
prior e fundador da Comunidade de Bose
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Fonte: Revista Jesus - jan 2015.
Tradução: Moisés Sbardelotto.
Disponível
em: IHU Unisinos / CEFEP
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