“Este é
Jesus, o Rei dos Judeus”.
Jesus crucificado está no centro; a inscrição real,
lá no alto da Cruz, desvenda as profundidades do mistério: Jesus é o Rei, e a
Cruz o seu trono. A realeza de Jesus, escrita em três línguas, é uma mensagem
universal: para o simples e o sábio, para o pobre e o poderoso, para quem se
abandona à Lei divina e para quem confia no poder político. A imagem do
Crucificado, que nenhuma sentença humana poderá jamais remover das paredes do
nosso coração, permanecerá para sempre a Palavra real da Verdade: «Luz
crucificada que ilumina os cegos», «tesouro oculto que só a oração pode
descerrar», coração do mundo. Jesus não reina dominando com um poder deste
mundo, Ele «não dispõe de nenhuma legião». «Jesus reina, atraindo»: o seu íman
é o amor do Pai que n’Ele se entrega por nós «até ao fim sem confins». «Nada
escapa ao seu calor»!
Olhar para cruz sem experimentar o sentido profundo
do Amor de Deus é loucura. Limite do amor é amar sem medida, Ele tomou sobre si
as nossas dores e graças a suas chagas fomos sarados. A medida do amor de Deus
em Jesus é a vida, foi por você! Não importa se hoje você esta vivendo em
situação de morte, pois o amor é mais forte do que a morte. Olhe pra cruz, foi
por ti porque te amo. Olhe pra cruz essa é a minha grande prova, ninguém te ama
como Eu!
“Salva-Te
a Ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!”
Jesus é pregado na cruz. O sudário de Turim
permite formar uma idéia da crueldade incrível deste processo. Jesus não toma a
bebida anestesiante que Lhe fora oferecida: conscientemente assume todo o
sofrimento da crucifixão. Todo o seu corpo é martirizado; cumpriram-se as
palavras do Salmo: «Eu, porém, sou um verme e não um homem, o opróbrio dos
homens e a abjeção da plebe» (Sal 22/21, 7). «Como um homem (…) diante do qual
se tapa o rosto, menosprezado e desestimado. Na verdade Ele tomou sobre Si as
nossas doenças, carregou as nossas dores» (Is 53, 3-4). Detenhamo-nos diante
desta imagem de sofrimento, diante do Filho de Deus sofredor. Olhemos para Ele
nos momentos de presunção e de prazer, para aprendermos a respeitar os limites
e a ver a superficialidade de todos os bens puramente materiais. Olhemos para
Ele nos momentos de calamidade e de angústia, para reconhecermos que
precisamente assim estamos perto de Deus. Procuremos reconhecer o seu rosto
naqueles que tendemos a desprezar. Diante do Senhor condenado, que não quer
usar o seu poder para descer da cruz, mas antes suportou o sofrimento da cruz
até ao fim, pode assomar ainda outro pensamento. Inácio de Antioquia, ele mesmo
preso com cadeias pela sua fé no Senhor, elogiou os cristãos de Esmirna pela
sua fé inabalável: afirma que estavam, por assim dizer, pregados com a carne e
o sangue à cruz do Senhor Jesus Cristo (1 1). Deixemo-nos pregar a Ele, sem
ceder a qualquer tentação de nos separarmos nem ceder às zombarias que
pretendem levar-nos a fazê-lo.
Senhor Jesus
Cristo, fizestes-Vos pregar na cruz, aceitando a crueldade terrível deste
tormento, a destruição do vosso corpo e da vossa dignidade. Fizestes-Vos
pregar, sofrestes sem evasões nem descontos. Ajudai-nos a não fugir perante o
que somos chamados a realizar. Ajudai-nos a fazermo-nos ligar estreitamente a Vós.
Ajudai-nos a desmascarar a falsa liberdade que nos quer afastar de Vós.
Ajudai-nos a aceitar a vossa liberdade «ligada» e a encontrar nesta estreita
ligação convosco a verdadeira liberdade.
Agora crucificam o Senhor e, junto d'Ele, dois
ladrões, um à direita e outro à esquerda. Entretanto, Jesus diz:
- Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc
XXIII, 34).
Foi o Amor que levou Jesus ao Calvário. E, já na
Cruz, todos os Seus gestos e todas as Suas palavras são de amor, de amor sereno
e forte.
Com gesto de Sacerdote Eterno, sem pai nem mãe, sem
genealogia (cfr. Heb VII, 3), abre os Seus braços à humanidade inteira.
Juntamente com as marteladas que pregam Jesus,
ressoam as palavras proféticas da Escritura Santa: trespassaram as Minhas mãos
e os Meus pés, contaram todos os Meus ossos. E eles mesmos olham para Mim e
contemplam (SI XXI, 17-18).
- Ó Meu Povo! Que te fiz Eu ou em que te
contristei? Responde-Me (Miq VI, 3) !
E nós, despedaçada a alma pela dor, dizemos
sinceramente a Jesus: sou Teu e entrego-me a Ti e cravo-me na Cruz
gostosamente, sendo, nas encruzilhadas do mundo, uma alma entregue a Ti, à Tua
glória, à Redenção, à co-redenção da humanidade inteira.