quinta-feira, 24 de março de 2016

Três ensinamentos místicos no Lava-Pés.


"Depois lançou água numa bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e a limpar-lhos com a toalha com que estava cingido" (Jo 13, 5)

Nesta passagem podemos tirar três ensinamentos místicos:

1. A água que lançou numa bacia significa a efusão de seu sangue na terra. Com efeito, o sangue de Jesus pode ser chamado água, pois tem poder para lavar.
E foi por isso que, na cruz, saiu de seu lado traspassado sangue e água, para dar a compreender que seu sangue tem poder para lavar os pecados. Também podemos compreender, pela água, a Paixão de Cristo. "lançou água numa bacia", i. é, imprimiu a memória da sua Paixão nas almas dos fiéis pela fé e pela devoção. "Lembra-te da minha pobreza e tribulação - absinto e fel que me fazem beber" (Lm 3, 19). 

2. Ao dizer "começou a lavar os pés dos discípulos", faz alusão à imperfeição humana; pois os Apóstolos, depois de Cristo, eram os mais perfeitos e, no entanto, precisavam ser purificados, pois tinham algumas impurezas. Isso nos mostra que o homem, por melhor que seja, tem necessidade de se aperfeiçoar; e que contrai algumas manchas, conforme aquilo dos Provérbios (20, 9): "Quem pode dizer: O meu coração está puro, estou limpo do pecado?". Contudo, estão sujos apenas nos pés.

Outros, ao contrário, não estão sujos apenas nos pés, estão totalmente sujos. Ora, os que jazem no chão sujam-se totalmente com as imundices da terra. Do mesmo modo, sujam-se totalmente os que se apegam totalmente às coisas da terra, já pelo sentimento, já pelos sentidos.  

Mas os que estão de pé, ou seja, os que buscam as coisas céu com o espírito e o coração, estão sujos apenas nos pés. Ora, assim como o homem de pé precisa ao menos tocar a terra com os pés para sustentar-se, nós, enquanto vivermos nessa vida mortal, que precisa das coisas terrestres para o sustento do corpo, contraímos algumas manchas, ao menos pelos sentidos. Por isso o Senhor recomenda aos discípulos sacudir o pó dos seus pés (Lc 9, 5).

O Cordeiro imolado libertou-nos da morte para a vida


Muitas coisas foram preditas pelos profetas sobre o mistério da Páscoa, que é Cristo, a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém (Gl 1,5). Ele desceu dos céus à terra para curar a enfermidade do homem; revestiu-se da nossa natureza no seio da Virgem e se fez homem; tomou sobre si os sofrimentos do homem enfermo num corpo sujeito ao sofrimento, e destruiu as paixões da carne; seu espírito, que não pode morrer, matou a morte homicida.

Foi levado como cordeiro e morto como ovelha; libertou-nos das seduções do mundo, como outrora tirou os israelitas do Egito; salvou-nos da escravidão do demônio, como outrora fez sair Israel das mãos do faraó; marcou nossas almas como sinal do seu Espírito e os nossos corpos com seu sangue.

Foi ele que venceu a morte e confundiu o demônio, como outrora Moisés ao faraó. Foi ele que destruiu a iniquidade e condenou a injustiça à esterilidade, como Moisés ao Egito.

Foi ele que nos fez passar da escravidão para a liberdade, das trevas para a luz, da morte para a vida, da tirania para o reino sem fim, e fez de nós um sacerdócio novo, um povo eleito para sempre. Ele é a Páscoa da nossa salvação.

Foi ele que tomou sobre si os sofrimentos de muitos: foi morto em Abel; amarrado de pés e mãos em Isaac; exilado de sua terra em Jacó; vendido em José; exposto em Moisés; sacrificado no cordeiro pascal; perseguido em Davi e ultrajado nos profetas.

Foi ele que se encarnou no seio da Virgem, foi suspenso na cruz, sepultado na terra e, ressuscitando dos mortos, subiu ao mais alto dos céus.

Foi ele o cordeiro que não abriu a boca, o cordeiro imolado, nascido de Maria, a bela ovelhinha; retirado do rebanho, foi levado ao matadouro, imolado à tarde e sepultado à noite; ao ser crucificado, não lhe quebraram osso algum, e ao ser sepultado, não experimentou a corrupção; mas ressuscitando dos mortos, ressuscitou também a humanidade das profundezas do sepulcro.



Da Homilia sobre a Páscoa, de Melitão de Sardes, bispo
(N.65-71: SCh123,94-100) 

(Séc.II)

Quinta-feira Santa: Instituição da Eucaristia.


A liturgia de Quinta-Feira Santa é riquíssima de conteúdo. É o grande dia da instituição da Sagrada Eucaristia, dom do Céu para os homens; o dia da instituição do sacerdócio, nova prenda divina que assegura a presença real e atual do Sacrifício do Calvário em todos os tempos e lugares, tornando possível que nos apropriemos dos seus frutos.

Aproximava-se o momento em que Jesus ia oferecer a sua vida pelos homens. Tão grande era o seu amor, que na sua Sabedoria infinita encontrou o modo de ir e de ficar, ao mesmo tempo. São Josemaria, ao considerar o comportamento dos que se vêem obrigados a deixar a sua família e a sua casa, para procurar emprego em outro lugar, comenta que o amor humano costuma recorrer aos símbolos. As pessoas que se despedem trocam lembranças entre si, talvez uma fotografia… Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, não deixa um símbolo, mas uma realidade. Fica Ele mesmo. Embora vá para o Pai, permanece entre os homens. Sob as espécies do pão e do vinho está Ele, realmente presente, com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a sua Divindade.

Como responderemos a esse amor imenso? Assistindo com fé e devoção à Santa Missa, memorial vivo e atual do Sacrifício do Calvário. Preparando-nos muito bem para comungar, com a alma bem limpa. Visitando Jesus com freqüência, escondido no Sacrário.

A primeira leitura da Missa, recorda o que Deus estabeleceu no Antigo Testamento, para que o povo israelita não se esquecesse dos benefícios recebidos. Desce a muitos detalhes: desde como devia ser o cordeiro pascoal, até aos pormenores que tinham de cuidar para recordar a passagem do Senhor. Se isso se prescrevia para comemorar alguns acontecimentos históricos, que eram só uma imagem da libertação do pecado realizada por Jesus Cristo, como deveríamos comportar-nos agora, quando verdadeiramente fomos resgatados da escravidão do pecado e feitos filhos de Deus!

Esta é a razão por que a Igreja nos inculca um grande esmero em tudo o que se refere à Eucaristia. Assistimos ao Santo Sacrifício todos os domingos e festas de guarda, sabendo que estamos participando numa ação divina?

São João relata que Jesus lavou os pés dos discípulos, antes da Última Ceia. Temos de estar limpos, na alma e no corpo, e aproximarmos para recebê-lo com dignidade. Para isso nos deixou o Sacramento da Penitência.

Comemoramos também a instituição do sacerdócio. É um bom momento para rezar pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes, e para rogar que haja muitas vocações no mundo inteiro. Pediremos melhor na medida em que tenhamos mais diálogo com esse Jesus, que instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio. Vamos dizer, com total sinceridade, o que repetia São Josemaria: Senhor, põe no meu coração o amor com que queres que eu te ame. 

Santa Catarina da Suécia


Era filha de Santa Brígida e tinha parentesco com a família real sueca. Catarina foi uma grande mística sueca e nasceu em 1331.

Casou com Edgar, um nobre de grande virtude e, de comum acordo com ele, ambos conservaram castidade perfeita. Ficou viúva ainda jovem. Recebeu a notícia da morte do marido quando estava em Roma com sua mãe. Sendo de excepcional beleza, teve muita dificuldade para livrar-se dos numerosos pretendentes à sua mão.

Desde então, com sua mãe santa Brígida, procurou percorrer a missão que a levaria à santidade. Sua mãe havia criado um sistema de clausura para mulheres e outro para homens cujas regras eram inspiradas por são Bernardo de Claraval. Catarina conseguiu afinal recolher-se ao mosteiro de Vadstena, fundado por Santa Brígida, chegando a ser superiora dele. Morreu no convento no ano de 1381.

Nas imagens, Santa Catarina vem acompanhada de um cervo, que segundo a história, a acompanhava durante suas meditações no bosque do convento. Também diz-se que, durante uma peregrinação a Roma, Catarina, em profunda oração, salvou a cidade de uma inundação.

Mesmo antes de ter sido declarada oficialmente santa pela Igreja, o povo já proclamava sua santidade. 


Senhor, de muitas bênçãos e virtudes cumulastes Santa Catarina. Pelos méritos de tão querida Santa, nós vos rogamos por nossas famílias. Que possamos ser, a exemplo de Brígida e Catarina, modelos de santidade e fidelidade a vossa doutrina perante os nossos. Dai-nos a graça de, com alegria e paz, semearmos o vosso reino entre aqueles que nos recomendastes.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Na Semana Santa, Papa dedica catequese ao Tríduo Pascal


CATEQUESE Praça São Pedro – Vaticano Quarta-feira, 23 de março de 2016

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

A nossa reflexão sobre misericórdia de Deus nos introduz hoje ao Tríduo Pascal. Viveremos a Quinta, a Sexta e o Sábado santo como momentos fortes que nos permitem entrar sempre mais no grande mistério da nossa fé: a Ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo. Tudo, nestes três dias, fala de misericórdia, porque torna visível até onde pode chegar o amor de Deus. Escutaremos o relato dos últimos dias da vida de Jesus. O evangelista João nos oferece as chaves para compreender o sentido profundo disso: “Tendo amado os seus que estavam nesse mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1). O amor de Deus não tem limites. Como repetia muitas vezes Santo Agostinho, é um amor que vai “até o fim sem fim”. Deus se oferece verdadeiramente todo para cada um de nós e não economiza em nada. O mistério que adoramos nesta Semana Santa é uma grande história do amor que não conhece obstáculos. A Paixão de Jesus vai até o fim do mundo, porque é uma história de partilha com os sofrimentos de toda a humanidade e uma permanente presença nos acontecimentos da vida pessoal de cada um de nós. Em resumo, o Tríduo Pascal é memorial de um drama de amor que nos dá a certeza de que não seremos nunca abandonados nas provações da vida.

Na Quinta-feira Santa, Jesus institui a Eucaristia, antecipando no banquete pascal o seu sacrifício no Gólgota. Para fazer os discípulos compreenderem o amor que o anima, lava seus pés, oferecendo ainda uma vez mais o exemplo em primeira pessoa de como eles mesmos deveriam agir. A Eucaristia é o amor que se faz serviço. É a presença sublime de Cristo que deseja alimentar cada homem, sobretudo os mais frágeis, para torná-los capazes de um caminho de testemunho entre as dificuldades do mundo. Não somente. Em dar-se a nós como alimento, Jesus atesta que devemos aprender a dividir com os outros este alimento para que se torne uma verdadeira comunhão de vida com quantos estão em necessidade. Ele se doa a nós e nos pede para permanecermos Nele para fazermos o mesmo.

A Quinta-feira santa é o momento culminante do amor. A morte de Jesus, que na cruz se abandona ao Pai para oferecer a salvação ao mundo inteiro, exprime o amor dado até o fim, sem fim. Um amor que pretende abraçar todos, ninguém excluído. Um amor que se estende a todo tempo e a todo lugar: uma fonte inesgotável de salvação a que cada um de nós, pecadores, podemos chegar. Se Deus nos demonstrou o seu amor supremo na morte de Jesus, então também nós, regenerados pelo Espírito Santo, podemos e devemos nos amar uns aos outros.

E enfim, o Sábado Santo é o dia do silêncio de Deus. Deve ser um dia de silêncio e nós devemos fazer de tudo para que para nós seja justamente um dia de silêncio, como foi naquele tempo: o dia do silêncio de Deus. Jesus colocado no sepulcro partilha com toda a humanidade o drama da morte. É um silêncio que fala e exprime o amor como solidariedade com os abandonados de sempre, que o Filho de Deus vem para preencher o vazio que apenas a misericórdia infinita do Deus Pai pode preencher. Deus se cala, mas por amor. Neste dia, o amor – aquele amor silencioso – torna-se espera da vida na ressurreição. Pensemos, o Sábado Santo: nos fará bem pensar no silêncio de Nossa Senhora, a “crente”, que em silêncio estava à espera da Ressurreição. Nossa Senhora deverá ser o ícone, para nós, daquele Sábado Santo. Pensar tanto como Nossa Senhora viveu aquele Sábado Santo; à espera. É o amor que não duvida, mas que espera na palavra do Senhor, para que torne evidente e brilhante o dia da Páscoa.

Homilética: Domingo de Páscoa: "Os sinais da ressurreição de Cristo".


É com grande amor e grande alegria que nós anunciamos aos quatro cantos da Terra que o Cristo está vivo e ressuscitado! Essa é a razão da nossa fé, é o motivo da nossa alegria, é a esperança para a vida de cada um de nós! É no Cristo em quem nós cremos, no Cristo que está vivo e que morreu pelos nossos pecados e está vivo para a glória de Deus.

A ressurreição do Senhor é ao mesmo tempo um fato histórico que transcende a mesma história. A sobriedade das narrações da ressurreição fala por si mesma. Não busquemos uma explicação racionalista para esse mistério, simplesmente adoremos o mistério! Diante do sepulcro vazio e de testemunhas tão qualificadas, nós renderemos a nossa inteligência. Nós cremos porque doze homens – brutos, sem cultura, simples pescadores – nos disseram: “Cristo ressuscitou e nós o vimos”. Tal afirmação poderia escandalizar o orgulho intelectual de alguns; nós, ao contrário, acreditamos com fé firme, rija e robusta: o Senhor ressuscitou! Mas, também é preciso pensar: como estar alegres nesta noite si há guerras, sofrimentos e até dificuldades em nossa vida? Será que nós vivemos no mundo da utopia? Tenhamos presente que o fato de existir mais uma pessoa triste não resolve o problema do mundo atual; ao contrário, aumentariam os problemas. É preciso que nós, os cristãos, estejamos contentes, que sejamos otimistas. Sê-lo-emos com aquela alegria que não é a alegria do “animal sadio”: do que não tem nem fome nem frio, tampouco fome ou qualquer dor. Esse tipo de alegria passa! A alegria do cristão vem de dentro, do mais profundo do seu coração, da paz que tem com o seu Senhor, da vida em graça, por tratar intimamente o Pai e o Filho e o Espírito Santo na oração.

Quebrou-se o silêncio de Deus, pois ele falou-nos tudo no seu Filho. Também nós precisamos quebrar o nosso silêncio: falemos com o nosso Pai do céu tudo o que está acontecendo conosco. Deveríamos até mesmo ter um desejo ardente de falar com o nosso Deus. Não podemos ficar sempre no cumprimento, que as vezes é “cumpro-e-minto”, dos preceitos da religião. Caso amemos a Deus de verdade, procuraremos estar com ele, conversar intimamente com ele, desejaremos estar perto dele. A religião não tem tão somente que fazer parte de nós, mas tem que ser um “outro eu”, “eu mesmo”, isto é, nós temos que ser ponte, meio de re-ligação das outras pessoas com Deus… Esse é o apostolado de quem reza, e reza bem. É preciso, então, que estejamos ligados, conectados, online, com o Senhor. Do contrário, não conseguiremos ser canais de conexão para que os outros falem com Deus e por ele se apaixonem.

Nas Sagradas Escrituras, um sinal não é simplesmente um evento milagroso, mas algo que aponta para uma realidade de significado mais amplo. Por analogia, é como um sinal de trânsito, que serve para orientar os viajantes na estrada, de sorte que ninguém erre o caminho ou corra risco de acidentes. Um sinal na estrada faz-nos chegar a nosso destino sem incorrer em nenhum dano. Nos textos bíblicos, os sinais indicam que Deus está realizando algo que não é percebido por quem não fez a experiência de fé e amor. Os sinais não servem como provas ou argumentos lógicos para convencer ninguém, porque somente podem ser percebidos por quem faz a experiência de fé e amor. É esta que indica que um acontecimento comum é sinal da ação de Deus.

Que todos estejam alegres neste dia composto por todo o tempo pascal! Nós queremos e propomo-nos a busca do trato com Deus na oração porque desejamos que essa noite da ressurreição seja também a noite da nossa ressurreição espiritual para coisas mais altas: hoje nos levantamos também da nossa preguiça espiritual e começaremos a vida nova de vibração junto ao Senhor ressuscitado que de nós teve compaixão. Saudaremos também a Nossa Senhora: “alegra-te, Virgem Maria, porque o Senhor ressuscitou!”

Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo

 
Em tempos de guerra, como os nossos, onde os corações dos homens bons se inflamam pela busca da justiça e dos homens maus pela busca do proveito próprio e da perpetuação no poder… existe algo mais importante para se pensar?

Em tempos de manipulação da linguagem, de construções de discursos para justificar perante os mais simples as atitudes orgulhosas, psicopatas e de domínio de populações inteiras… existe algo mais importante para se pensar?

Em tempos de perseguição da Verdade, de juízo e condenação da Honestidade, de crucificação da seriedade… existe algo mais importante para se pensar?

Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. (Jo 3, 16)

Sim! Existe algo mais importante para se pensar. E tal pensamento não requer, contudo, abandonar a realidade de cada um, nem as suas preocupações mais urgentes; não requer sequer o abandono da luta, ou a procura por uma “falsa paz”, que deixa ao ímpio o caminho livre para atuar.

Acompanhar a Cristo que escolhe morrer por puro amor nos convida a continuar em pé de guerra, mas com a certeza da vitória de Deus, com a certeza da vitória da Verdade sobre todas as mentiras do coração humano. E, também, com a certeza da cruz.

Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa. (Jo 15, 20)

A todos os nossos leitores, benfeitores e colaboradores desejamos, com essa mensagem, um Santo Tríduo Sacro e uma feliz Páscoa da Ressurreição!

Via-Sacra: 11ª Estação: “Jesus é pregado na Cruz” (S. Mateus 27,37-42).


“Este é Jesus, o Rei dos Judeus”.

Jesus crucificado está no centro; a inscrição real, lá no alto da Cruz, desvenda as profundidades do mistério: Jesus é o Rei, e a Cruz o seu trono. A realeza de Jesus, escrita em três línguas, é uma mensagem universal: para o simples e o sábio, para o pobre e o poderoso, para quem se abandona à Lei divina e para quem confia no poder político. A imagem do Crucificado, que nenhuma sentença humana poderá jamais remover das paredes do nosso coração, permanecerá para sempre a Palavra real da Verdade: «Luz crucificada que ilumina os cegos», «tesouro oculto que só a oração pode descerrar», coração do mundo. Jesus não reina dominando com um poder deste mundo, Ele «não dispõe de nenhuma legião». «Jesus reina, atraindo»: o seu íman é o amor do Pai que n’Ele se entrega por nós «até ao fim sem confins». «Nada escapa ao seu calor»!

Olhar para cruz sem experimentar o sentido profundo do Amor de Deus é loucura. Limite do amor é amar sem medida, Ele tomou sobre si as nossas dores e graças a suas chagas fomos sarados. A medida do amor de Deus em Jesus é a vida, foi por você! Não importa se hoje você esta vivendo em situação de morte, pois o amor é mais forte do que a morte. Olhe pra cruz, foi por ti porque te amo. Olhe pra cruz essa é a minha grande prova, ninguém te ama como Eu!

“Salva-Te a Ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!”

Jesus é pregado na cruz. O sudário de Turim permite formar uma idéia da crueldade incrível deste processo. Jesus não toma a bebida anestesiante que Lhe fora oferecida: conscientemente assume todo o sofrimento da crucifixão. Todo o seu corpo é martirizado; cumpriram-se as palavras do Salmo: «Eu, porém, sou um verme e não um homem, o opróbrio dos homens e a abjeção da plebe» (Sal 22/21, 7). «Como um homem (…) diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desestimado. Na verdade Ele tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as nossas dores» (Is 53, 3-4). Detenhamo-nos diante desta imagem de sofrimento, diante do Filho de Deus sofredor. Olhemos para Ele nos momentos de presunção e de prazer, para aprendermos a respeitar os limites e a ver a superficialidade de todos os bens puramente materiais. Olhemos para Ele nos momentos de calamidade e de angústia, para reconhecermos que precisamente assim estamos perto de Deus. Procuremos reconhecer o seu rosto naqueles que tendemos a desprezar. Diante do Senhor condenado, que não quer usar o seu poder para descer da cruz, mas antes suportou o sofrimento da cruz até ao fim, pode assomar ainda outro pensamento. Inácio de Antioquia, ele mesmo preso com cadeias pela sua fé no Senhor, elogiou os cristãos de Esmirna pela sua fé inabalável: afirma que estavam, por assim dizer, pregados com a carne e o sangue à cruz do Senhor Jesus Cristo (1 1). Deixemo-nos pregar a Ele, sem ceder a qualquer tentação de nos separarmos nem ceder às zombarias que pretendem levar-nos a fazê-lo.

Senhor Jesus Cristo, fizestes-Vos pregar na cruz, aceitando a crueldade terrível deste tormento, a destruição do vosso corpo e da vossa dignidade. Fizestes-Vos pregar, sofrestes sem evasões nem descontos. Ajudai-nos a não fugir perante o que somos chamados a realizar. Ajudai-nos a fazermo-nos ligar estreitamente a Vós. Ajudai-nos a desmascarar a falsa liberdade que nos quer afastar de Vós. Ajudai-nos a aceitar a vossa liberdade «ligada» e a encontrar nesta estreita ligação convosco a verdadeira liberdade.

Agora crucificam o Senhor e, junto d'Ele, dois ladrões, um à direita e outro à esquerda. Entretanto, Jesus diz:

- Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc XXIII, 34).

Foi o Amor que levou Jesus ao Calvário. E, já na Cruz, todos os Seus gestos e todas as Suas palavras são de amor, de amor sereno e forte.

Com gesto de Sacerdote Eterno, sem pai nem mãe, sem genealogia (cfr. Heb VII, 3), abre os Seus braços à humanidade inteira.

Juntamente com as marteladas que pregam Jesus, ressoam as palavras proféticas da Escritura Santa: trespassaram as Minhas mãos e os Meus pés, contaram todos os Meus ossos. E eles mesmos olham para Mim e contemplam (SI XXI, 17-18).

- Ó Meu Povo! Que te fiz Eu ou em que te contristei? Responde-Me (Miq VI, 3) !

E nós, despedaçada a alma pela dor, dizemos sinceramente a Jesus: sou Teu e entrego-me a Ti e cravo-me na Cruz gostosamente, sendo, nas encruzilhadas do mundo, uma alma entregue a Ti, à Tua glória, à Redenção, à co-redenção da humanidade inteira.