Nestes dias de Páscoa a Liturgia nos fez assistir ao nascimento da fé
pascal. Mediante a narração das aparições do Ressuscitado, vimos renascer nos
discípulos de Jesus, desanimados e dispersos, a fé e o amor para com Ele: a
ressurreição gerou a fé.
Hoje, Jesus aparece no meio da comunidade reunida. Nós também, reunidos
com os nossos irmãos na fé, fazemos a experiência do Ressuscitado. Cristo
ressuscitado é a razão de ser de nossa existência. Celebrar essa história é
motivo de grande alegria para os cristãos. A nossa experiência, sem ser do
mesmo modo, não deixa de ser maravilhosa, já que nós contemplamos o corpo
eucarístico do Senhor, comungamos o seu Corpo e o seu Sangue. No mistério da
Eucaristia está todo o Mistério Pascal do Senhor. Eis aqui um argumento
totalmente convincente para que não faltemos a Missa dominical!
O Evangelho ( Jo 20, 19-31) inicia falando do primeiro dia da semana;
isto é, o Dia por excelência, pois foi o dia da Ressurreição do Senhor. Jesus
veio confortar os amigos mais íntimos: A paz esteja convosco, disse-lhes.
Depois mostrou-lhes as mãos e o lado. Nesta ocasião, Tomé não estava com os
demais Apóstolos; não pôde, pois, ver o Senhor nem ouvir as suas palavras
consoladoras.
Mal o encontraram, disseram-lhe: Vimos o Senhor! Tomé continuava
profundamente abalado com a crucifixão e a morte do Mestre; quer ver para crer!
Acredito que os Apóstolos devem ter-lhe repetido, de mil maneiras diferentes, a
mesma verdade que era agora a sua alegria e a sua certeza: Vimos o Senhor!
As dúvidas de Tomé viriam a servir para confirmar a fé dos que mais
tarde haviam de crer n’Ele. Comenta São Gregório Magno: “Porventura pensais que
foi um simples acaso que aquele discípulo escolhido estivesse ausente, e que
depois, ao voltar, ouvisse relatar a aparição e, ao ouvir, duvidasse, e,
duvidando, apalpasse, e, apalpando acreditasse? Não foi por acaso, mas por disposição
divina que isso aconteceu. A divina clemência agiu de modo admirável quando
este discípulo que duvidava tocou as feridas das carnes do seu Mestre, pois
assim curava em nós as chagas da incredulidade… Foi assim, duvidando e tocando,
que o discípulo se tornou testemunha da verdadeira ressurreição”.
A resposta de Tomé é um ato de fé, de adoração e de entrega sem limites:
Meu Senhor e meu Deus! A fé do Apóstolo brota não tanto da evidência de Jesus,
mas de uma dor imensa. O que o levou a adoração e ao retorno ao apostolado não
são tanto as provas como o amor. Diz a Tradição que o Apóstolo Tomé morreu
mártir pela fé no seu Senhor; consumiu a vida a seu serviço.
Meu Senhor e meu Deus! Estas palavras têm servido de jaculatória a
muitos cristãos, e como ato de fé na presença real de Jesus Cristo na
Eucaristia, quando se passa diante de um Sacrário ou no momento da Consagração
na Missa.
A Ressurreição do Senhor é um apelo para que manifestemos com a nossa
vida que Ele vive. As obras do cristão devem ser fruto e manifestação de sua fé
em Cristo.
É esta fé que hoje é tão escassa; para muitos que dizem ser crente, a fé
não exerce influência alguma nos seus costumes nem na sua vida. Um cristianismo
assim, não convence nem converte o mundo. É preciso voltar a acomodar a própria
fé ao exemplo da Igreja primitiva; é preciso pedir a Deus uma fé profunda, pois
que, no poder da fé, está a certeza da vitória dos cristãos. “Esta é a vitória
que vence o mundo: a nossa fé! Quem é que vence o mundo senão Aquele que crê que
Jesus é Filho de Deus?” ( 1 Jo 5,4-5).
Oito dias depois da Páscoa, os discípulos estavam em casa quando Jesus
veio, estando fechadas as portas, parou no meio deles e disse: “A paz esteja
convosco!” Também agora, na nossa assembleia, Jesus vem em nosso meio e nos dá
sua paz. Nós, como Tomé, O reconhecemos como nosso Senhor e nosso Deus. Rezemos
para que Ele faça de nós uma verdadeira comunidade reunida em Seu nome.