sábado, 9 de abril de 2016

O plano da salvação


Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2,4); por isso muitas vezes e de muitos modos falou outrora aos nossos pais, pelos profetas (Hb 1,1). Quando se completou o tempo previsto, enviou o seu Filho (Gl 4,4), a Palavra que se fez carne, ungido pelo Espírito Santo, para anunciar a boa-nova aos pobres e curar os contritos de coração, como médico dos corpos e das almas, mediador entre Deus e os homens. Sua humanidade, na unidade da pessoa do Verbo, foi o instrumento de nossa salvação. Deste modo, em Cristo realizou-se perfeitamente a nossa reconciliação com Deus e nos foi dada a plenitude do culto divino.

Esta obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, prefiguradas pelas obras maravilhosas que ele operou no povo da Antiga Aliança, foi realizada por Cristo, principalmente pelo mistério pascal de sua bem-aventurada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão. Por este mistério, morrendo destruiu nossa morte e, ressuscitando,restituiu-nos a vida. Foi do lado de Cristo adormecido na cruz, que nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja.

Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, da mesma forma enviou os apóstolos, repletos do Espírito Santo, não apenas para pregarem o evangelho a toda criatura, anunciando que o Filho de Deus, por sua morte e ressurreição, nos libertou da morte e do poder de Satanás e nos introduziu no reino do Pai, mas também para realizarem a obra da salvação que anunciavam, por meio do sacrifício e dos sacramentos, ao redor dos quais se desenvolve toda a vida litúrgica.

Pelo batismo, os homens são incorporados no mistério pascal de Cristo: mortos com ele, sepultados com ele e com ele ressuscitados, recebem o Espírito de adoção filial no qual todos nós clamamos: Abá – ó Pai! (Rm 8,15), transformando-nos assim nos verdadeiros adoradores que o Pai procura.

Do mesmo modo, todas as vezes que comem a ceia do Senhor, anunciam a sua morte até que ele venha. Por isso, no próprio dia de Pentecostes, quando a Igreja se manifestou ao mundo, os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o batismo (At 2,41). Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo.(At 2,42.47).

Desde então, nunca mais a Igreja deixou de se reunir para celebrar o mistério pascal lendo todas as passagens da Escritura que falavam dele (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia na qual se tornam presentes a vitória e o triunfo de sua morte e, ao mesmo tempo, dando graças a Deus, pelo seu dom inefável (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, para o louvor de sua glória (Ef 1,12).



Da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II (N.5-6)     (Séc.XX)

Pais da Igreja e a Sucessão Apostólica


A Doutrina dos Pais da Igreja dos séculos I ao IV


INTRODUÇÃO


Qual é o sentido de trazer o ensinamento dos Padres da Igreja sobre a sucessão apostólica? Nós queremos simplesmente apresentar ao leitor a doutrina que existia nos primeiros séculos do cristianismo sobre a autoridade dos bispos, e a razão é simples: hoje, muitos “cristãos” nãocatólicos dizem que a “sucessão apostólica” é uma invenção da Igreja Católica e que não serve de nada. É fácil entender esta posição, porque se o que a Igreja Católica ensina sobre a sucessão apostólica dos bispos for verdade, então todo mundo que não está com o bispo não está Jesus Cristo.

Neste artigo ficará claro que os grandes pastores, reconhecidos em toda a igreja pós-apostólica, e muitos dos quais deram a vida por Cristo, acreditavam firmemente que os bispos da Igreja Católica sucederam os Apóstolos de Jesus no cargo de guiar a Igreja com autoridade. Em outras palavras, se hoje um cristão diz que no Evangelho não há “nenhum traço” da doutrina da sucessão apostólica, com o presente artigo ficará claro o que pensavam os outros cristãos, com a diferença de que estes últimos (dos Padres Igreja) estão cronologicamente muito mais perto de Jesus e os Apóstolos do que qualquer um de nós (com uma diferença de um 1800 anos).

Se alguém no século XXI acredita ter a autoridade para ensinar como devemos interpretar a Bíblia, por que não ouvir esses outros cristãos reconhecidos e ver como eles interpretavam a Igreja estabelecida pelos apóstolos e seus discípulos? Mal não vai fazer... O que vai ficar claro, pelo menos, é que a Igreja Católica hoje tem A MESMA doutrina que a Igreja dos séculos, I, II, III e IV com a autoridade dos bispos como sucessores dos apóstolos. Então, todos devem tirar suas próprias conclusões.

Veja o ensino bíblico sobre a autoridade pós-apostólica, no artigo de A. Lang sobre o significado da doutrina da sucessão apostólica e também do magistério da Igreja sobre o assunto. Nós oferecemos apenas os parágrafos que abordam a questão diretamente. Para um estudo mais aprofundado existe uma literatura abundante.

OS TESTEMUNHOS DOS ANTIGOS PADRES



CLEMENTE ROMANO (97 d.C)

Em sua carta de Clemente Romano escreve a Igreja Corinto por volta do ano 97 a seguinte instrução:

Os apóstolos receberam em nosso favor a boa-nova da parte do Senhor Jesus Cristo. E Jesus Cristo foi enviado por Deus. Portanto, Cristo vem de Deus e os apóstolos [vêm] de Cristo. Esta dupla missão realizou-se em perfeita ordem por vontade de Deus. Munidos de instruções e plenamente assegurados pela ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, confiantes na Palavra de Deus, saíram a evangelizar a próxima vinda do Reino de Deus na plenitude do Espírito Santo. Assim, proclamando a palavra nos campos e nas cidades, estabeleceram suas primícias, como bispos e diáconos, dos futuros fiéis, após prová-los pelo Espírito. E não se trata de inovação... há séculos que as Escrituras falam de bispos e diáconos, pois assim se lê em algum lugar: "Quero estabelecer os bispos deles na justiça e os seus diáconos na fé".

Também os apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade episcopal. Por tal motivo e como tivessem pleno conhecimento do porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a morte deles, outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério. Os que assim foram instituídos por eles ou, mais tarde, por outros eminentes homens com a aprovação de toda a Igreja, servindo de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo, com humildade, pacífica e abnegadamente, recebendo o testemunho favorável por longo tempo e da parte de todos, não é justo, em nossa opinião, serem depostos de seus ministérios. E não será pequena a nossa falta se depusermos do episcopado aqueles que ofereceram, de maneira santa e irrepreensível, os sacrifícios. Bem-aventurados os presbíteros que nos precederam na caminhada e terminaram sua jornada carregados de frutos e perfeição. Não têm a temer que alguém os remova do lugar para eles preparado. Vemos que vós afastastes a alguns de boa índole de um ministério que eles honraram de forma digna.” (Carta aos Corintios capítulos 42 e 44)

Santo Acácio


Santo Acácio nasceu no século V, foi bispo e confessor de Amida, no Iraque. A palavra Acácio significa “aquele que não tem malícia”. Acácio viveu sempre o dia presente e nunca preocupou-se em remoer o passado nem ansiar o futuro.

Em 419 o imperador Teodósio segundo o enviou como bispo embaixador para o reino Persa. A tarefa era promover um concílio entre os persas para discutir sobre a heresia nestoriana, que negava a divindade de Jesus.

Acontece que, estando Acácio na Pérsia, estourou uma guerra entre bizantinos e persas. Os prisioneiros de guerra eram tantos, que não havia comida para alimentá-los. Diante desta realidade concreta, Acácio começou a vender os vasos sagrados e outros objetos de sua Igreja para resgatar os prisioneiros. Estes, reconhecendo a bondade de Acácio, fizeram-se cristãos.

Acácio morreu com fama de santidade, depois de governar com muito zelo sua igreja no reino dos persas.  


Ó Deus, que aos vossos pastores associastes Santo Acácio, animado de ardente caridade e da fé que vence o mundo, dai-nos, por sua intercessão, perseverar na caridade e na fé, para participarmos de sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Amoris Laetitia só pode ser interpretada à luz da tradição católica

 
A exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia do Papa Francisco somente pode ser interpretada em “continuidade doutrinal” e, se houver “dúvidas ou algum parágrafo resultar pouco claro, a correta interpretação deve ser de acordo ao com o ensinamento da Igreja”, explicou ao Grupo ACI um perito teólogo no Vaticano logo depois da publicação do documento nesta sexta-feira.

“O Papa Francisco disse repetidamente que não quer mudar nenhum tema doutrinal e esta deve ser a chave para interpretar o documento”, disse ao Grupo ACI o Pe. José Granados, Vice-presidente do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos do Matrimônio e da Família e consultor da Secretaria do Sínodo dos Bispos.

“O Papa – prosseguiu – mostra que quer propor novamente o que o Sínodo disse, às vezes com temas novos como a educação e o amor. Ao final, acredito que o documento deve ser lido em continuidade doutrinal, como deve ser entendida a hermenêutica católica”.

O teólogo explicou que “a exortação deve ser interpretada em continuidade com a Veritatis Splendor de São João Paulo II, que tinha como objetivo apresentar os ensinamentos morais da Igreja”.

De fato, “o mesmo Papa Francisco reconhece que há normas absolutas, por exemplo, no numeral 245 da exortação, reitera que ‘nunca, nunca e nunca tomeis o filho como refém!’”.

O Pe. Granados ressaltou que a exortação pastoral “não pode mudar normas do Direito Natural recebido por Cristo, normas que a Igreja não pode mudar”. A Amoris Laetitia não é a exceção.

De fato, a exortação cita em uma nota de rodapé da declaração do ano 2000 do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos sobre “a admissão da Santa Comunhão aos fiéis divorciados em nova união”.

“Essa citação significa que o Papa aprova esse documento”, ressalta o Pe. Granados.

“Amoris laetitia”: a beleza da família, de acordo com Francisco



A Amoris Laetitia contém toda a beleza e a complexidade da família, também nos seus detalhes mais cinzas, sendo assim uma monumental Exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco que marca a conclusão do não fácil caminho de reflexão realizado nas duas assembleias dos bispos do mundo.

Nove capítulos, mais de 300 parágrafos, 260 páginas, cerca de dois anos para elaborá-la: no texto altamente esperado, publicado hoje, mas que tem a data não aleatória de 19 de Março, Solenidade de São José, ecoa os resultados dos relatórios finais dos Sínodos 2014 e 2015, bem como os documentos e os ensinamentos de seus antecessores: João Paulo II, em particular, com a sua Familiaris Consortio, Papa Paulo VI com a histórica Humanae Vitae, o Papa Bento XVI com a Deus caritas est.

Há também algumas passagens fortes das catequeses sobre a família do próprio Papa Francisco durante as Audiências das Quartas-Feiras, preparatórias para acolher este documento que já promete ser como uma das obras-primas do seu magistério. Não faltam as contribuições dos fieis e das várias Conferências Episcopais do mundo, do Quênia, como da Austrália ou da Coreia e as citações de personalidades significativas como Martin Luther King, Erich Fromm, Jorge Luis Borges, Octavio Paz, ou até mesmo do filme A Festa de Babette com o qual o Papa explica o conceito de “gratuidade”.

Tudo para demonstrar que para falar de família “não existem simples receitas”, mas é necessário ampliar o olhar e adotar um discernimento que, na medida do possível, reflita cada caso. Porque, escreve o Papa, “nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas com intervenções do magistério”, mas principalmente com o amor. A alegria do amor.

Abaixo está um resumo dos pontos-chaves da Exortação Apostólica do Santo Padre.
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Premissa

A Exortação apostólica chama a atenção pela sua amplitude e articulação. Está dividida em nove capítulos e mais de 300 parágrafos. Tem início com sete parágrafos introdutórios que evidenciam a plena consciência da complexidade do tema, que requer ser aprofundado. Afirma-se que as intervenções dos Padres no Sínodo constituíram um «precioso poliedro» (AL 4) que deve ser preservado. Neste sentido, o Papa escreve que «nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais». Por conseguinte, para algumas questões «em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais. De facto,“as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral (…), se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado”» (AL 3). Este princípio de inculturação revela-se como muito importante até no modo de articular e compreender os problemas, modo esse que, sem entrar nas questões dogmáticas bem definidas pelo Magistério da Igreja, não pode ser «globalizado».

Mas sobretudo o Papa afirma de imediato e com clareza que é necessário sair da estéril contraposição entre a ânsia de mudança e a aplicação pura e simples de normas abstratas. Escreve: «Os debates, que têm lugar nos meios de comunicação ou em publicações e mesmo entre ministros da Igreja, estendem-se desde o desejo desenfreado de mudar tudo sem suficiente reflexão ou fundamentação até à atitude que pretende resolver tudo através da aplicação de normas gerais ou deduzindo conclusões excessivas de algumas reflexões teológicas» (AL 2).

Capítulo primeiro: “À luz da Palavra”

Enunciadas estas premissas, o Papa articula a sua reflexão a partir das Sagradas Escrituras no primeiro capítulo, que se desenvolve como uma meditação acerca do Salmo 128, característico da liturgia nupcial hebraica, assim como da cristã. A Bíblia «aparece cheia de famílias, gerações, histórias de amor e de crises familiares» (AL 8) e a partir deste dado pode meditar-se como a família não é um ideal abstrato, mas uma «tarefa “artesanal”» (AL 16) que se exprime com ternura (AL 28), mas que se viu confrontada desde o início também pelo pecado, quando a relação de amor se transformou em domínio (cf. AL 19). Então, a Palavra de Deus «não se apresenta como uma sequência de teses abstratas, mas como uma companheira de viagem, mesmo para as famílias que estão em crise ou imersas nalguma tribulação, mostrando-lhes a meta do caminho» (AL 22).

Capítulo segundo: “A realidade e os desafios das famílias”

Partindo do terreno bíblico, o Papa considera no segundo capítulo a situação atual das famílias, mantendo «os pés assentes na terra» (AL 6), bebendo com abundância das Relações conclusivas dos dois Sínodo se enfrentando numerosos desafios, desde o fenômeno migratório à negação ideológica da diferença de sexo («ideologia de gênero»); da cultura do provisório à mentalidade anti-natalidade e ao impacto das biotecnologias no campo da procriação; da falta de habitação e de trabalho à pornografia e ao abuso de menores; da atenção às pessoas com deficiência ao respeito pelos idosos; da desconstrução jurídica da família à violência para com as mulheres. O Papa insiste no carácter concreto, que é um elemento fundamental da Exortação. E é este carácter concreto e realista que estabelece uma diferença substancial entre «teorias» de interpretação da realidade e «ideologias».

Citando a Familiaris consortio, Francisco afirma que «é salutar prestar atenção à realidade concreta, porque “os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história” através dos quais “a Igreja pode ser guiada para uma compreensão mais profundado inexaurível mistério do matrimônio e da família”» (AL 31). Sem escutar a realidade não é possível compreender nem as exigências do presente nem os apelos do Espírito. O Papa nota que o individualismo exacerbado torna hoje difícil a doação a uma outra pessoa de uma maneira generosa (cf. AL 33). Eis um interessante retrato da situação: «Teme-se a solidão, deseja-se um espaço de proteção e fidelidade mas, ao mesmo tempo, cresce o medo de ficar encurralado numa relação que possa adiar a satisfação das aspirações pessoais» (AL 34).

A humildade do realismo ajuda a não apresentar «um ideal teológico do matrimônio demasiado abstrato, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas das famílias tais como são» (AL 36). O idealismo não permite considerar o matrimônio assim como é, ou seja, «um caminho dinâmico de crescimento e realização». Por isso, também não se pode julgar que se possa apoiar as famílias «com a simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura à graça» (AL 37). Convidando a uma certa “autocrítica” de uma apresentação não adequada da realidade matrimonial e familiar, o Papa insiste na necessidade de dar espaço à formação da consciência dos fiéis: «Somos chamados aformar as consciências, não a pretender substituí-las» (AL37). Jesus propunha um ideal exigente, mas «não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera» (AL 38).

Capítulo terceiro: “O olhar fixo em Jesus: a vocação da família”

O terceiro capítulo é dedicado a alguns elementos essenciais do ensinamento da Igreja acerca do matrimônio e da família. É importante a presença deste capítulo, porque ilustra de uma maneira sintética em 30 parágrafos a vocação à família de acordo com o Evangelho, assim como ela foi recebida pela Igreja ao longo do tempo, sobretudo quanto ao tema da indissolubilidade, da sacramentalidade do matrimônio, da transmissão da vida e da educação dos filhos. Fazem-se inúmeras citações da Gaudium et spes do Vaticano II, da Humanae vitae de Paulo VI, da Familiaris consortio de João Paulo II.

O olhar é amplo e inclui também as «situações imperfeitas». Com efeito, lemos: «“O discernimento da presença das semina Verbi nas outras culturas (cf. Ad gentes, 11) pode-se aplicar também à realidade matrimonial e familiar. Para além do verdadeiro matrimônio natural, há elementos positivos também nas formas matrimoniais doutras tradições religiosas”, embora não faltem também as sombras» (AL 77). A reflexão inclui ainda as «famílias feridas», a propósito das quais o Papa afirma – citando a Relatio finalis do Sínodo de 2015 —«é preciso lembrar sempre um princípio geral: “Saibam os pastores que, por amor à verdade, estão obrigados a discernir bem as situações” (Familiaris consortio, 84). O grau de responsabilidade não é igual em todos os casos, e podem existir fatores que limitem a capacidade de decisão. Por isso, ao mesmo tempo que se exprime com clareza adoutrina, há que evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diferentes situações,e é preciso estar atentos ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição» (AL 79).

Capítulo quarto: “O amor no matrimónio”

O quarto capítulo trata do amor no matrimônio e ilustra-o a partir do “hino ao amor” de São Paulo de 1 Cor 13, 4-7. O capítulo é uma verdadeira e autêntica exegese cuidadosa, precisa, inspirada e poética do texto paulino. Poderemos dizer que se trata de uma coleção de fragmentos de um discurso amoroso que cuida de descrever o amor humano em termos absolutamente concretos. Surpreende-nos a capacidade de introspeção psicológica evidenciada por esta exegese. O aprofundamento psicológico chega ao mundo das emoções dos cônjuges – positivas e negativas – e à dimensão erótica do amor.Este é um contributo extremamente rico e precioso para a vida cristã dos cônjuges, que não tinha até agora paralelo em anteriores documentos papais.

À sua maneira, este capítulo constitui um pequeno tratado no conjunto de um desenvolvimento mais amplo, plenamente consciente do carácter quotidiano do amor que se opõe a todos os idealismos: «não se deve atirar para cima de duas pessoas limitadas o peso tremendo de ter que reproduzir perfeitamente a união que existe entre Cristo e a sua Igreja, porque o matrimônio como sinal implica “um processo dinâmico, que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus”» (AL 122). Mas, por outro lado, o Papa insiste de modo enérgico e firme no facto de que «na própria natureza do amor conjugal, existe a abertura ao definitivo» (AL 123) precisamente no íntimo daquela «combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres» (Al 126) que é de facto o matrimônio.

O capítulo conclui-se com uma reflexão muito importante acerca da «transformação do amor» uma vez que «o alongamento da vida provocou algo que não era comum noutros tempos: a relação íntima e a mútua pertença devem ser mantidas durante quatro, cinco ou seis décadas, e isto gera a necessidade de renovar repetidas vezes a recíproca escolha» (AL 163). A aparência física transforma-se e a atração amorosa não desaparece, mas muda: com o tempo, o desejo sexual pode transformar-se em desejo de intimidade e «cumplicidade». «Não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade» (AL 163).

Capítulo quinto: “O amor que se torna fecundo”

O quinto capítulo centra-se por completo na fecundidade e no carácter gerador do amor. Fala-se de uma maneira espiritualmente e psicologicamente profunda do acolher uma nova vida, da espera própria da gravidez, do amor de mãe e de pai. Mas também da fecundidade alargada, da adoção, do acolhimento do contributo das famílias para a promoção de uma “cultura do encontro”, da vida na família em sentido amplo, com a presença de tios, primos, parentes dos parentes, amigos. A Amoris laetitia não toma em consideração a família «mononuclear», mas está bem consciente da família como rede de relações alargadas. A própria mística do sacramento do matrimônio tem um profundo caráter social (cf. AL 186). E no âmbito desta dimensão social, o Papa sublinha em particular tanto o papel específico da relação entre jovens e idosos, como a relação entre irmãos como aprendizagem de crescimento na relação com os outros.

É preciosa e vivificante a cruz de Cristo


Ó preciosíssimo dom da cruz! Vede o esplendor de sua forma! Não mostra apenas uma imagem mesclada de bem e de mal, como aquela árvore do Paraíso, mas totalmente bela e magnífica para a vista e o paladar.

É uma árvore que não gera a morte, mas a vida; que não difunde as trevas, mas a luz; que não expulsa do Paraíso, mas nele introduz. A esta árvore subiu Cristo, como um rei que sobe no carro triunfal, e venceu o demônio, detentor do poder da morte, para libertar o gênero humano da escravidão do tirano.

Sobre esta árvore o Senhor, como um valente guerreiro,ferido durante o combate em suas mãos, nos pés e em seu lado divino, curou as chagas dos nossos pecados, isto é, curou a nossa natureza ferida pela serpente venenosa.

Se antes, pela árvore, fomos mortos, agora, pela árvore, recuperamos a vida; se antes, pela árvore, fomos enganados, agora, pela árvore, repelimos a astúcia da serpente. Sem dúvida, novas e extraordinárias mudanças! Em vez da morte, nos é dada a vida; em lugar da corrupção, a incorrupção; da vergonha, a glória.

Não é sem razão que o Apóstolo exclama: Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo (Gl 6,14). Pois aquela suprema sabedoria que floresceu na cruz, desmascarou a presunção e a arrogante loucura da sabedoria do mundo; toda a espécie de bens maravilhosos que brotaram da cruz, extirparam inteiramente a raiz da maldade e do pecado.

Já desde o começo do mundo, houve figuras e alegorias desta árvore que anunciavam e Indicavam realidades verdadeiramente admiráveis. Repara bem, tu que sentes um grande desejo de saber: 

Não é verdade que Noé, com seus filhos e esposas, e os animais de toda espécie, escapou da morte do dilúvio, por ordem de Deus, numa frágil arca de madeira?

E o que dizer da vara de Moisés? Não era figura da cruz quando transformou a água em sangue, quando devorou as falsas serpentes dos magos, quando separou as águas do mar como poder do seu golpe, quando as fez voltar ao seu curso normal, afogando os inimigos e salvando aqueles que eram o povo de Deus?

Símbolo da cruz foi também a vara de Aarão, quando se cobriu de folhas num só dia para indicar quem devia ser o sacerdote legítimo.

Abraão também prenunciou a cruz, quando colocou seu filho amarrado sobre o feixe de lenha.

Pela cruz, a morte foi destruída e Adão recuperou a vida. Pela cruz, todos os apóstolos foram glorificados, todos os mártires coroados e todos os que creem, santificados. Pela cruz, fomos revestidos de Cristo ao nos despojarmos do homem velho. Pela cruz, nós, ovelhas de Cristo, fomos reunidos num só rebanho e destinados às moradas celestes.



Dos Sermões de São Teodoro Estudita
(Oratio inadorationem crucis: PG99,691-694.695.698-699)     (Séc.IX)

Diferenças da absolvição no Sacramento da Penitência e na Missa



Absolvição: Palavra de origem latina – absolvere – que significa perdoar, libertar. Na celebração litúrgica, a absolvição é o rito celebrativo pelo qual Deus perdoa o pecador que manifesta sua conversão ao ministro da Igreja (Bispo ou padre) na Confissão sacramental. Na fórmula ritual da absolvição manifesta-se que a origem do perdão encontra-se na misericórdia divina, graças a redenção de Jesus Cristo, por obra do Espírito Santo.

Existe um outro rito que também é denominado de “absolvição”. Este encontra-se no final do rito penitencial da Missa e inicia-se com as palavras “Deus todo-poderoso, tenha compaixão de nós...” Não é um gesto sacramental de perdão dos pecados, como acontece na celebração do Sacramento da Penitência, mas uma invocação do perdão divino para que todos que celebram aquela Eucaristia, padre inclusive sejam purificados e dignos desta celebração. O texto ritual da Missa é muito claro: 

Santa Júlia Billiart


Maria Rosa Júlia Billiart nasceu na França em 1751. Foi batizada no dia do nascimento e recebeu a primeira comunhão aos sete anos. Desde então entregou-se ao amor de Jesus

Aos treze anos, Júlia sofreu sérios problemas e subnutrida, ficou paraplégica por vinte e dois anos. Durante este tempo aprendeu os mistérios da vida mística, do calvário, da glória e da luz. Sempre engajada na catequese da paróquia era preocupada com a educação dos pobres. Cultivava amizades na família, com os religiosos, com as carmelitas, com as damas da nobreza que lhe conseguiam os donativos.

Nesta época, decidiu ingressar para vida religiosa, com uma meta estabelecida: fundar uma congregação destinada a educar os pobres e a formar bons educadores. Mesmo não sendo letrada, possuía uma pedagogia nata, aprendida na escola dos vinte e dois anos de paralisia. Assim, ainda paralítica em 1804, fundou a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora.

Sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus a curou. Depois de trinta anos voltou a caminhar. A Mãe de Deus era sua grande referência e modelo, e a Eucaristia era o centro de sua vida de fé inabalável.

Júlia abriu uma escola gratuita e depois não parou mais. Viajava da França e da Bélgica, fundando pensionatos e escolas, pois naqueles tempos de miséria a necessidade era muito grande. Não aceitava qualquer donativo que pudesse tirar a independência da congregação. Perseguida e injustiçada pelo bispo de Amiens, foi por este afastada da congregação. Morreu em paz no dia 8 de abril de 1816 na cidade de Namur.  



Deus de amor e bondade, que escolheste Santa Júlia para a obra de auxílio ao mais abandonados, ajudai-nos a seguir o exemplo deixado e a viver sempre em caridade fraterna com os mais esquecidos. Dai-nos também paciência nas enfermidades e a esperança viva na recuperação da saúde. Por Cristo nosso Senhor. Amém.