A
exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia do Papa Francisco somente pode
ser interpretada em “continuidade doutrinal” e, se houver “dúvidas ou algum
parágrafo resultar pouco claro, a correta interpretação deve ser de acordo ao
com o ensinamento da Igreja”, explicou ao Grupo ACI um
perito teólogo no Vaticano logo depois da publicação do documento nesta
sexta-feira.
“O Papa
Francisco disse repetidamente que não quer mudar nenhum tema doutrinal e esta
deve ser a chave para interpretar o documento”, disse ao Grupo ACI o Pe. José
Granados, Vice-presidente do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos do
Matrimônio e da Família e consultor da Secretaria do Sínodo dos Bispos.
“O Papa –
prosseguiu – mostra que quer propor novamente o que o Sínodo disse, às vezes
com temas novos como a educação e o amor. Ao final, acredito que o documento
deve ser lido em continuidade doutrinal, como deve ser entendida a hermenêutica
católica”.
O teólogo
explicou que “a exortação deve ser interpretada em continuidade com a Veritatis
Splendor de São João Paulo II, que tinha como objetivo apresentar os
ensinamentos morais da Igreja”.
De fato,
“o mesmo Papa Francisco reconhece que há normas absolutas, por exemplo, no
numeral 245 da exortação, reitera que ‘nunca, nunca e nunca tomeis o filho como
refém!’”.
O Pe.
Granados ressaltou que a exortação pastoral “não pode mudar normas do Direito
Natural recebido por Cristo, normas que a Igreja não pode mudar”. A Amoris
Laetitia não é a exceção.
De fato,
a exortação cita em uma nota de rodapé da declaração do ano 2000 do Pontifício
Conselho para os Textos Legislativos sobre “a admissão da Santa Comunhão aos
fiéis divorciados em nova união”.
“Essa
citação significa que o Papa aprova esse documento”, ressalta o Pe. Granados.
O
sacerdote indicou que existem ainda algumas normas disciplinadoras sobre os sacramentos que podem mudar, como “por exemplo, o fato de que
um divorciado em nova união possa ser padrinho”. A exortação “se refere
explicitamente a estas normas” assinalando que “é necessário um discernimento”
a respeito.
Na
exortação, um dos sinais da continuidade com o ensinamento da Igreja é a
perspectiva positiva da encíclica Humanae Vitae do Beato Paulo VI.
“Amoris
Laetitia quer reafirmar o ensinamento da Humanae Vitae. Há uma referência a
consciência, mas a consciência deve estar sempre corretamente formada. Nunca há
oposição entre a consciência moral e a lei moral”.
A
exortação “enfatiza a necessidade de continuar formando as consciências, para
que as pessoas vejam na Humanae Vitae a única forma verdadeira de viver a
sexualidade na união conjugal”.
O
sacerdote recordou que “os 50 anos da Humanae Vitae serão celebrados logo, mas
apesar disso é uma encíclica com uma visão concreta do futuro: responde ao
assunto da perda do sentido da sexualidade que começou com a revolução sexual”.
O
documento do Papa Francisco também contém um rechaço ao aborto, à ideologia de gênero, à eutanásia, e elogia as
famílias numerosas.
“Estes
assuntos – continuou o Pe. Granados – são essenciais para expressar uma cultura
da família, a única forma cultural através da qual anunciamos o Evangelho de
Cristo”.
“A fé
cristã não pode ser vivida de forma particular, na intimidade de uma
consciência isolada e subjetiva. Situa-se no mundo e na comunhão entre os
homens, onde Deus se manifesta e abre um caminho de plenitude para Ele”,
indicou o Pe. Granados.
Nesse
sentido, o perito teólogo em temas de matrimônio e família disse que a
exortação do Papa Francisco “apresenta algumas contribuições originais. No
documento podemos analisar os grandes esforços pastorais do Papa Francisco e
seu desejo de levar Cristo e seu projeto de amor a todas as famílias para que
possam viver a grande vida do Evangelho”.
“O texto
apresenta uma renovada proposta para uma educação dirigida às famílias e uma
educação sexual-afetiva para o amor, muito necessária no caminho de preparação
para o matrimônio”.
Finalmente,
disse o Pe. Granados, “a exortação ressalta a necessidade de que a Igreja
acompanhe as famílias para integrar todos – inclusive os mais afastados – na
grande vocação que Cristo nos ensinou”.
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ACI Digital
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