A Palavra de Deus deste Domingo convida os
cristãos a não colocarem sua esperança em falsas seguranças. Convoca-os a
viverem sempre no serviço, à espera do Senhor.
A 2ª leitura (Hb 11, 1 – 2. 8 – 12) fala da fé
que tinham as grandes figuras do Antigo Testamento, sobretudo Abraão. A fé que
guia os nossos passos é precisamente o fundamento das coisas que se esperam. A
fé dá-nos a conhecer com certeza que o nosso destino é o Céu e, por isso, todas
as coisas devem ordenar-se para esse fim supremo e subordinar-se a ele.
No evangelho (Lc 12, 32 – 48) Jesus exorta-nos
à vigilância: “Estejam cingidos os vossos rins e as lâmpadas acesas. Sede como
homens que estão esperando o seu Senhor voltar de uma festa de casamento, para
lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que Ele chegar e bater” (Lc 12, 36).
Ter as roupas cingidas é uma imagem expressiva
utilizada para indicar que alguém se preparava para realizar um trabalho, para
empreender uma viagem, para entrar em luta. Ter lâmpadas acesas indica a
atitude própria daquele que está de vigia ou espera a chegada de alguém. Quando
o Senhor vier no final da nossa vida, deve encontrar-nos assim: em estado de
vigília, como quem vive ao dia; servindo por amor e empenhados em melhorar as
realidades terrenas, mas sem perder o sentido sobrenatural da vida, o fim para
que tudo se dirige.
Essa vigilância há de ser contínua,
perseverante, porque contínuo é o ataque do demônio que, “como um leão que
ruge, dá voltas buscando a quem devorar” (1 Pd 5, 8). “Vela com o coração, vela
com a fé, com a caridade, com as obras; prepara as lâmpadas, cuida de que não
se apaguem, alimenta-as com o azeite interior de uma reta consciência;
permanece unido ao Esposo pelo Amor, para que Ele te introduza na sala do
banquete, onde a tua lâmpada nunca se extinguirá” (Santo Agostinho).
Estaremos vigilantes no amor e longe da
tibieza e do pecado se nos mantivermos fiéis a Deus nas pequenas coisas que
preenchem o dia. As pequenas coisas são a ante-sala das grandes, tanto no
sentido negativo como positivo.
As pequenas vitórias diárias fortalecem a vida
interior e despertam a alma para as coisas divinas. São ocasiões que se
apresentam com muita freqüência: trata-se de viver a pontualidade à hora de
levantar-se ou de começar o trabalho; de deixar de lado uma leitura inútil que
leva à perda de tempo; trata-se de fazer um pequeno sacrifício à hora das
refeições; de dominar a língua num encontro de amigos ou numa reunião social,
etc;
Se formos fiéis nas pequenas coisas,
permaneceremos cingidos, vigilantes, à espera do Senhor que está para chegar.
Disse Jesus: “onde está o vosso tesouro, aí
estará também o vosso coração” (Lc 12, 34). O Senhor quer nos ensinar que
nenhuma coisa criada pode ser o “tesouro”, o fim último do homem. Pelo
contrário, o homem, usando retamente das coisas nobres da terra, percorre o
caminho para Deus, santifica-se e dá ao Senhor toda a glória: “quer comais ou
bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Cor
10, 31).
“…vai chegar na hora em que menos esperardes”
(Lc 12, 40). Não devemos ficar preocupados com o dia ou a hora da morte. Deus
quis ocultar o momento da morte de cada um e do fim do mundo. Imediatamente
depois da morte, todo homem comparece para o juízo particular: “Assim, está
estabelecido que os homens morram uma só vez; e depois disto, o juízo” (Hb 9,
27). Daí o cristão não poder aceitar a reencarnação! Quem morre não volta mais!
Morre-se uma só vez! Estejamos preparados para esse encontro definitivo com o
Senhor. Ele pedirá contas a cada um segundo as suas circunstâncias pessoais:
todo o homem tem nesta vida uma missão para cumprir; dela teremos de responder
diante do tribunal divino e seremos julgados segundo os frutos, abundantes ou
escassos, que tenhamos dado.
O Senhor espera de nós uma conversão sincera e
uma correspondência cada vez mais generosa: espera que estejamos vigilantes
para que não adormeçamos na tibieza, para que andemos sempre despertos.