- “Afinal: a doutrina católica admite ou não a predestinação? Em que se distinguiria do fato ou do destino a predestinação?” (Pessimista - Rio de Janeiro-RJ).
Abordamos aqui uma das questões mais elevadas da Fé cristã. Para penetrá-la, o estudioso tem que se resolver a não se deixar levar pelo sentimentalismo nem pelo antropocentrismo, mas estritamente pelos dados da Revelação, que é sobrenatural (não, porém, antinatural) e teocêntrica.
A questão da predestinação se prende à do mal. Tenha-se em vista o que aí se diz:
1) A possibilidade de errar é inerente ao conceito mesmo de criatura;
2) Esta possibilidade se realizou no mundo quando o primeiro homem cometeu livremente o erro ou o mal moral, o pecado;
3) Os males físicos (misérias e morte) são consequências do pecado;
4) A culpa dessas desordens recai, em última análise, sobre o livre arbítrio do homem, não sobre Deus;
5) Deus se apiedou da criatura, tomando a sua sorte na Encarnação e na morte de cruz, a fim de dar valor salvífico ao sofrimento.
Entremos agora no tema da predestinação.
I. Conceito e existência da predestinação
Por predestinação entende-se em Teologia o desígnio, concebido por Deus, de levar a criatura racional (o homem) ao fim sobrenatural, que é a vida eterna. Note-se logo que este desígnio tem por exclusivo objeto a bem-aventurança celeste; não há predestinação para o mal ou o inferno.
A Sagrada Escritura atesta amplamente a existência de tal desígnio no Criador. De um lado, ela ensina que a Boa Notícia da salvação deve ser anunciada a todos os povos (cf. Mateus 28,19) e que Deus quer «sejam salvos todos os homens e cheguem ao conhecimento da verdade» (cf. 1Timóteo 2,4). De outro lado, ela também diz que há homens que se perdem (cf. João 17,12) e que o Senhor exerce uma providência especial para salvar os que não se perdem:
- “Sabemos que, com aqueles que O amam, Deus colabora em tudo para o bem dos mesmos, daqueles que Ele chamou segundo o seu desígnio. Pois, aqueles que de antemão Ele conheceu, Ele também os predestinou a reproduzir a imagem de seu Filho (...) E, aqueles que Ele predestinou, Ele também os chamou (à fé); os que Ele chamou, Ele também os justificou (mediante o batismo); os que Ele justificou, Ele também os glorificou” (Romanos 8,28-30).
Cf. tb.: Efésios 1,3-6; Romanos 9,14; 11,33; Mateus 20,23; 22,14; 24,22-24; João 6,39; 10,28.
Na base destes textos, não resta dúvida entre os teólogos, desde o início do Cristianismo, sobre o fato da predestinação. Vejamos agora um ponto mais árduo, que é:
II. O modo como Deus predestina