Nesta semana, tão logo o nome de Ives Gandra da Silva Martins
Filho despontou como favorito para o Supremo Tribunal Federal — conforme previsão acertada da mídia alternativa —, a imprensa convencional, pouco dada
à imparcialidade, já começou a praticar o seu habitual "assassinato de
reputações".
Para o colunista Lauro Jardim, de O Globo, por
exemplo, Ives seria "um legítimo representante do século XIX no
Supremo". Um site da periferia virtual, do qual não vale a pena fazer
propaganda, afirma que a nomeação de Gandra seria o avanço da "seita
fascista" Opus Dei no Brasil. Até as revistas Carta Capital e Veja, que normalmente não se sintonizam em matéria política, entraram
em um acordo: para a primeira, "Ives demonstra um pensamento
preocupante sobre matéria de família"; para a segunda, "Gandra é tido como honesto,
católico fervoroso e acima do bem e do mal (!)" (o que, evidentemente, não
pode ser um elogio).
O
chilique dos jornalistas é devido, obviamente, às posições conservadoras que
Ives Gandra manifestamente sustenta em questões de moralidade. Para suscitar o
escândalo em relação ao jurista, que é hoje presidente do Tribunal Superior do
Trabalho, a mídia faz questão de ressuscitar inclusive trechos de uma obra sua de Direito Constitucional, na
qual o ministro defende a complementaridade dos sexos para a existência de um
verdadeiro matrimônio, afirma o caráter especialmente procriativo da sociedade
conjugal (sexo tem a ver com filhos, não é algo extraordinário?) e condena a
realidade do divórcio, cuja admissão no direito positivo só o que tem causado é
"maior número de separações", "maior número de filhos desajustados"
e "maior despreparo para o casamento".
Em
resumo, Ives Gandra Filho parece ostentar apenas um "defeito":
pensar como a maioria dos brasileiros pensa.
Sim, porque, independentemente da religião a que pertençam, a verdade é que a
maior parte dos brasileiros é contrária ao aborto, é contrária ao divórcio, é
contrária ao casamento gay, ao mesmo tempo em que é a favor da vida, a favor da
família e a favor do casamento monogâmico natural. Todas essas questões,
portanto, que para a mídia liberal parecem
pesar em desfavor de Ives, para qualquer brasileiro médio é (ou pelo menos deveria ser) motivo de
grande satisfação. Com a nomeação de Ives Gandra para o Supremo, finalmente
teríamos, na mais alta instância do Poder Judiciário, um ministro de identidade
cristã, capaz de falar diretamente aos cidadãos de bem de nosso país.
Porém,
é evidente, um bom juiz não se deve medir por sua
"representatividade", mas por atuar conforme a lei — e nisso,
igualmente, Ives Gandra Filho só parece acumular ainda mais pontos a seu favor.
Crítico ferrenho do ativismo judicial, Ives Filho aprendeu com o pai que, para
manter o equilíbrio em uma democracia, cada esfera do poder deve manter-se
sadiamente dentro de seus limites institucionais, os quais foram fixados pela
própria Constituição. Dele não ouviremos, portanto, que um magistrado, depois da investidura, não deve satisfação a mais
ninguém. Por sua atuação, não seremos surpreendidos com a criação ou revogação arbitrária
das leis de nosso país. Isso porque, muito antes de ser indicado
para o STF — e mesmo que a sua nomeação não aconteça —, Ives Filho já tem
demonstrado compreender, tanto em sua obra quanto em sua atuação junto à
magistratura, o que significa zelar, afinal, pela "guarda da
Constituição".
A
reação frenética da mídia, então, o que revela?