sábado, 25 de março de 2017

Nossa Senhora da Anunciação


A festa da Anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria é comemorada desde o Século V, no Oriente e a partir do Século VI, no Ocidente, nove meses antes do Natal. Por este acontecimento, que fez de Maria o primeiro sacrário da Eucaristia, Ela recebeu dos cristãos o título de Nossa Senhora da Anunciação.

A visita do Anjo à Virgem Maria, sinaliza o início do cumprimento do Velho Testamento com a abertura do caminho para o Reino de Deus à luz a Boa-Nova, para toda a Humanidade. São Gabriel Arcanjo proferiu a oração que esta sempre na boca e no coração de todos os fiéis: a Ave Maria.

Maria era uma jovem adolescente, simples e virgem, prometida ao já idoso José, um carpinteiro descendente direto da casa de Davi. Ficou perturbada ao receber do Arcanjo o aviso que era a escolhida para conceber o Filho de Deus, o qual devia ser chamado Jesus, pois era o enviado para salvar a Humanidade, e cujo Reino era eterno. Assim, o Pai Criador dependeu do consentimento de uma frágil criatura humana para realizar o Mistério para a nossa Redenção.

A Virgem Maria aceitou sua parte na missão, demonstrando toda confiança no Senhor Deus e se fez Instrumento Divino nos acontecimentos proféticos. Mas teve de perguntar como seria possível, se não conhecia homem algum. Gabriel lhe explicou que o Espírito Santo a fecundaria, pela graça do Criador. Então respondeu com a mesma simplicidade de sua vida e fé: “Sou a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Sua vontade”.

Com esta resposta, pelo seu consentimento, Maria aceitou a dignidade e a honra da maternidade divina, mas ao mesmo tempo também os sofrimentos, os sacrifícios que a ela estavam ligados. Por este motivo dos devotos de Nossa Senhora da Anunciação pedem sua proteção e intercessão junto a Deus, nas suas aflições. Por sua disposição Maria se tornou a mais perfeita das criaturas humanas, a fonte dos maiores méritos e das melhores graças. Porque a Mãe de Deus, que acolheu a divindade em si mesma, contém em si toda a eternidade e, nesta, toda a plenitude dos tempos.

A data de hoje marca e festeja um dos mistérios mais sublimes e importantes para a Humanidade, citado em várias passagens importantes do Novo Testamento. Maria foi poderosamente levada à comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Motivo mais que suficiente para ser invocada como Nossa Senhora da Anunciação.

Com o sim de Maria nasceu o título de Nossa Senhora da Anunciação, cuja festa é celebrada no dia 25 de março, nove meses antes do nascimento de Cristo. O sim de Maria é como um selo que define a Aliança do povo (hebreu e cristão) com Deus, por isso marca o início da nova Aliança. O Evangelho de Lucas desenvolve, no capítulo primeiro, o tema da Anunciação.



Todas as gerações vos proclamem bem-aventurada, ó Maria! Crestes na mensagem divina e em vós se cumpriram grandes coisas, como vos fora anunciado. Maria, eu vos louvo! Crestes na encarnação o Filho de Deus no vosso seio virginal e vos tornastes Mãe de Deus. Raiou, então, o dia mais feliz da história da humanidade e Jesus veio habitar entre nós. A fé é dom de Deus e fonte de todo bem, por isso, ó mãe, alcançai-nos a graça de uma fé viva, forte e atuante que nos santifica cada dia mais. Que possamos comunicar com a vossa vida a mensagem de Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida da humanidade. Amém.

sexta-feira, 24 de março de 2017

2ª Pregação da Quaresma 2017: “O Espírito Santo nos introduz no mistério da divindade de Cristo”.


O ESPÍRITO SANTO NOS INTRODUZ 
NO MISTÉRIO DA DIVINDADE DE CRISTO

1. A fé de Nicéia

Continuamos, nesta meditação, a reflexão sobre o papel do Espírito Santo no conhecimento de Cristo. A este respeito, não podemos silenciar uma ideia presente no mundo de hoje. Há muito tempo existe um movimento chamado “Hebreus messiânicos”, ou seja, Hebreus-cristãos. (“Cristo” e “cristão” são apenas a tradução grega do hebraico Messias messiânico!). Uma estimativa fala de cerca de 150 mil membros, divididos em grupos e associações entre eles, espalhados especialmente nos Estados Unidos, Israel e vários países europeus.

São hebreus que acreditam que Jesus, Yeshua, é o Messias prometido, o Salvador e o Filho de Deus, mas não querem absolutamente renunciar de sua identidade e tradição hebraica. Não aderem oficialmente a nenhuma das Igrejas cristãs tradicionais, porque pretendem reconectar-se e reviver a Igreja primitiva dos judeu-cristãos, cuja experiência foi interrompida bruscamente por conhecidos eventos traumáticos.

A Igreja Católica e as outras Igrejas sempre se abstiveram de promover, ou até mesmo nomear, este movimento por óbvias razões de diálogo com o hebraísmo oficial. Eu mesmo nunca falei deles. Mas agora está surgindo a convicção de que não é correto continuar a ignorá-los ou, pior, pô-los no ostracismo de um lado e do outro. Acaba de surgir na Alemanha um estudo de vários teólogos sobre o fenômeno 1. Se eu falo nesta sede é por um motivo específico, pertinente ao tema destas meditações. Em uma pesquisa sobre os fatores e circunstâncias que estiveram presente na origem da sua fé em Jesus, mais de 60% das pessoas em causa respondeu: “uma transformação interior por obra do Espírito Santo”; em segundo lugar é a leitura da Bíblia e em terceiro os contatos pessoais 2. É uma confirmação da vida que o Espírito Santo é aquele que dá o verdadeiro e íntimo conhecimento de Cristo.

Retomemos, portanto, o fio das nossas considerações históricas. Enquanto a fé cristã permaneceu restrita ao âmbito bíblico e judaico, a proclamação de Jesus como Senhor (“Creio em um só Senhor Jesus Cristo”), satisfazia todas as exigências da fé cristã e justificava o culto de Jesus “como Deus”. Senhor, Adonai, era, de fato, para Israel um título inequívoco; ele pertence somente a Deus. Chamar Jesus Senhor, portanto, é o mesmo que proclamá-lo Deus. Temos provas irrefutáveis do papel desempenhado pelo título Kyrios no início da Igreja como expressão de culto divino atribuído a Cristo. Na sua versão aramaica Maran-atha (O Senhor vem), ou Marana-tha (Vem, Senhor!), já aparece em São Paulo como fórmula litúrgica (1 Cor 16, 22) e é uma das poucas palavras preservadas na língua da comunidade primitiva 3.

Mas assim que o cristianismo entrou no mundo greco-romano ao redor, o título de Senhor, Kyrios, não era suficiente. O mundo pagão conhecia muitos e diversos “senhores”, em primeiro lugar, é claro, o imperador romano. Era necessário encontrar uma outra maneira de garantir a plena fé em Cristo e o seu culto divino. A crise ariana ofereceu uma oportunidade.

Isso nos leva à segunda parte do artigo sobre Jesus, que foi adicionada ao símbolo da fé no Concílio de Nicéia, em 325:
“nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial (homoousios) ao Pai”.

O bispo de Alexandria, Atanásio, indiscutível paladino da fé de Nicéia, está bem convencido de que não foi ele, nem a Igreja de seu tempo, que descobriu a divindade de Cristo. Todo o seu trabalho consistirá, pelo contrário, em mostrar que esta sempre foi a fé da Igreja; que nova não é a verdade, mas a heresia contrária. A sua convicção sobre este ponto encontra uma confirmação na carta que Plínio o Jovem, governador da Bitinia, escreveu ao imperador Traiano por volta do ano 111 d.C. A única informação confiável que ele diz que tem sobre os cristãos é que “normalmente se reunem antes do amanhecer, em um dia fixo da semana, e cantam hinos a Cristo como a Deus” (“Carmenque Christo quasi Deo dicere 4″).

A crença na divindade de Cristo, portanto, já existia e é só ignorando completamente a história que alguém poderia afirmar que a divindade de Cristo é um dogma querido e imposto pelo imperador Constantino no Concílio de Nicéia. A contribuição dos Padres de Nicéia, e em particular de Atanásio, foi, antes de mais nada, a de remover os obstáculos que haviam impedido até então um reconhecimento pleno e sem reticências da divindade de Cristo nas discussões teológicas.

Um desses obstáculos era o hábito grego de definir a essência divina com o termo agennetos, ingênito. Como proclamar que o Verbo é verdadeiro Deus, uma vez que ele é Filho, ou seja, gerado do Pai? Era fácil para Ario estabelecer a equivalência: gerado, igual feito, ou seja, passar gennetos a genetos, e concluir com a célebre frase que fez explodir o caso: “Houve um tempo em que não havia” (en ote ouk en). Isso era equivalente a fazer de Cristo uma criatura, embora não “como as outras criaturas”. Atanásio resolve a disputa com uma observação elementar: O termo agenetos foi inventado pelos gregos porque ainda não conheciam o Filho5″ e defendeu com garra a expressão “gerado, mas não feito”, genitus non factus, de Nicéia.

Outro obstáculo cultural para o pleno reconhecimento da divindade de Cristo, no qual Ario podia apoiar a sua tese, era a doutrina de uma divindade intermediária, o deuteros theos, responsável pela criação do mundo. De Platão em diante, isso tornou-se um dado comum em muitos sistemas religiosos e filosóficos da antiguidade. A tentação de assimilar o Filho, “por meio do qual todas as coisas foram criadas”, a esta entidade intermediária ficava insinuando-se na especulação cristã (Apologistas, Orígenes), embora estranha à vida interna da Igreja. O resultado era um esquema tripartido do ser: no topo, o Pai ingênito; depois dele, o Filho (e mais tarde também o Espírito Santo); em terceiro lugar, as criaturas.

A definição do “genitus non factus” e do homoousios, remove este obstáculo e obra a catarse cristã do universo metafísico dos gregos. Com esta definição, uma única linha de demarcação é desenhada sobre a vertical do ser. Existem apenas dois modos de ser: o do criador e o das criaturas e o Filho se coloca no primeiro modo, não no segundo.

Querendo colocar em uma frase o significado perene da definição de Nicéia, poderíamos formular desta forma: em cada época e cultura, Cristo deve ser proclamado “Deus”, não em algum significado derivado ou secundário, mas na acepção mais forte que a palavra “Deus” tem em tal cultura.

É importante saber o que motiva Atanásio e os outros teólogos ortodoxos na batalha, ou seja, de onde lhes vêm uma certeza tão absoluta. Não da especulação, mas da vida; mais precisamente, da reflexão sobre a experiência que a Igreja, graças à ação do Espírito Santo, faz da salvação em Cristo Jesus.

O argumento soteriológico não nasce com a controvérsia ariana; ele está presente em todas as grandes controvérsias cristológicas antigas, daquela antignóstica àquela antimonotelita. Na sua formulação clássica soa assim: “O que não é assumido não é salvo” (“Quod non est assumptum non est sanatum 6”). No uso que lhe dá Atanásio, ele pode ser entendido da seguinte maneira: “Aquilo que não é assumido por Deus não é salvo”, onde a força está naquele breve adendo “por Deus”. A salvação exige que o homem não seja assumido por qualquer intermediário, mas pelo próprio Deus: “Se o Filho é uma criatura – escreve Atanásio – o homem permaneceria mortal, não estando unido a Deus”, e ainda: “O homem não seria divinizado, se o Verbo que se tornou carne não fosse da mesma natureza do Pai 7”.

No entanto, é necessário fazer um esclarecimento importante. A divindade de Cristo não é um “postulado” prático, como é, para Kant, a própria existência de Deus8. Não é um postulado, mas a explicação de um dado de fato. Seria um postulado – e, portanto, uma dedução teológica humana – se partisse de uma certa ideia de salvação e dessa se deduzisse a divindade de Cristo como a única capaz de obrar tal salvação; no entanto, é a explicação de um dado se parte, como faz Atanásio, de uma experiência de salvação e mostra-se como ela não poderia existir se Cristo não fosse Deus. Em outras palavras, não é na salvação que se fundamenta a divindade de Cristo, mas é na divindade de Cristo que se fundamenta a salvação. 

Igrejas abrem suas portas para as "24 horas para o Senhor" 2017


"Convido todas as comunidades a viverem com fé o encontro de 24 a 25 de março para redescobrir o Sacramento da Reconciliação "24 horas para o Senhor", disse o Papa durante a Audiência Geral da última quarta-feira.

"Desejo que também este ano tal momento privilegiado de graça do caminho quaresmal - continuou Francisco - seja vivido em muitas igrejas do mundo para experimentar o encontro jubiloso com a misericórdia do Pai, que a todos acolhe e perdoa".

A iniciativa "24 horas para o Senhor" - promovida pelo Pontifício Conselho para a Nova Evangelização - tem por tema esta ano "Misericórdia eu quero" e prevê a abertura extraordinária de muitas igrejas, da noite de hoje até a madrugada de sábado, para permitir que um maior numero possível de pessoas participe da Adoração Eucarística e da Confissão.

Em Roma, permanecerão abertas as Igrejas de Santa Maria in Trastevere e a Igreja dos Estigmas de São Francisco. Para saber mais sobre a iniciativa, a Rádio Vaticano conversou com o Secretário do dicastério vaticano para a Nova Evangelização, Padre José Octavio Ruiz Arenas:

"Esta iniciativa nasceu por ocasião do Ano da Fé em 2013 e nasceu como uma iniciativa local aqui, em Roma. Naquele momento se convidava algumas igrejas a abrirem suas portas para as confissões durante toda a noite. Depois, nos últimos dois anos, esta iniciativa foi seguida em muitos outros lugares. Nós recebemos, por exemplo, testemunhos vindos dos Estados Unidos, da França, da Rússia, da Argentina, do México, que diziam que muitos sacerdotes haviam levado a sério esta iniciativa e pouco a pouco muita gente se aproximou para receber este Sacramento em espírito de adoração ao Senhor, de reconciliação e também de entender que é uma oportunidade para mudar de vida e acolher este dom que nos dá o Senhor da sua misericórdia e da sua ternura".

RV: Esta iniciativa/oportunidade é para todos, mas em especial aos jovens?

"Sim, é uma proposta para todas as pessoas mas existem tantos jovens que acolheram o convite e sobretudo existem muitos jovens que nos ajudaram sobretudo aqui em Roma a convidas nas ruas, nas praças, nas cercanias das igrejas que estão abertas, tanta gente que passava a aproximar-se ao Sacramento. Assim, foi uma experiência muito rica que serviu também para desenvolver este sentido missionário por parte dos jovens. Uma experiência muito rica que serviu também para desenvolver este sentido missionário por parte dos jovens".

RV: O Papa, na Audiência de quarta-feira, convidou a aproveitar esta ocasião para redescobrir e para experimentar o Sacramento da Reconciliação...

"Sim, certamente. Estamos agora em um mundo no qual infelizmente se perdeu o sentido do pecado e perdendo o sentido do pecado se perde também a necessidade de aproximar-se ao Sacramento da reconciliação. Portanto é um momento para pensar que o Sacramento da Reconciliação não é somente para apagar os pecados, mas é sobretudo abrir o coração à misericórdia do Senhor e todos nós temos necessidade da misericórdia do Senhor: não estamos diante de um juiz, mas sobretudo estamos diante de Alguém que nos ama realmente. Portanto, aquilo que disse oo Papa é muito, muito verdadeiro". 

Discurso do Papa aos líderes da União Europeia


DISCURSO
Audiência com os chefes de Estado e 
de Governo da 
União Europeia por ocasião do
60° aniversário dos Tratados de Roma
Sala Régia do Palácio Apostólico
Sexta-feira, 24 de março de 2017

Ilustres hóspedes.

Agradeço-lhes pela sua presença esta tarde, às vésperas do 60° aniversário da assinatura dos Tratados institucionais da Comunidade Econômica Europeia e da Comunidade Europeia de Energia Atômica. Desejo manifestar a cada um o afeto que a Santa Sé nutre pelos seus respectivos Países e por toda a Europa, a cujos destinos está, por disposição da Providência, ligada indivisivelmente.

Expresso particular gratidão ao Primeiro Ministro, Paolo Gentiloni, Presidente do Conselho dos Ministros da República Italiana pelas obsequiosas palavras que me dirigiu, em nome de todos, e pelo esforço que a Itália empregou para a preparação deste encontro; como também ao Deputado Antonio Tajani, Presidente do Parlamento Europeu, que, nesta ocasião, deu voz às esperanças dos povos da União.

Voltar a Roma após sessenta anos, não pode ser apenas uma viagem de recordações, quanto pelo maior desejo de redescobrir a memória viva daquele evento para compreender o seu alcance. É preciso identificar-se com os desafios de então para enfrentar aqueles de hoje e de amanhã. Com suas narrações, repletas de reminiscências, a Bíblia nos oferece um método pedagógico fundamental: não se pode compreender o tempo em que vivemos sem o passado, entendido não como um conjunto de acontecimentos distantes, mas como a linfa vital que se destaca no presente. Sem esta consciência, a realidade perde a sua unidade, a história o seu fio (eixo) lógico e a humanidade perde o sentido das suas ações e a direção do seu porvir.

O dia 25 de março de 1957 foi uma data repleta de expectativas, esperanças, entusiasmo e trepidação; somente um evento excepcional, pelo seu alcance e consequências históricas, podia torná-la única na história. A memória daquele dia une-se às expectativas de hoje e às esperanças dos povos europeus, que almejam discernir o presente para prosseguir, com renovado impulso e confiança, o caminho iniciado.

Disso estavam bem cientes os Pais fundadores e os Líderes que, ao colocar a própria assinatura nos dois Tratados, deram vida àquela realidade política, econômica, cultural, mas, sobretudo, humana, que hoje é chamada União Europeia. Por outro lado, como disse o Ministro do Exterior belga, Spaak, tratava-se “na verdade, do bem-estar material dos nossos povos, da expansão das nossas economias, do progresso social e de possibilidades industriais e comerciais totalmente novas, mas, sobretudo, (...) [de] uma particular concepção da vida, fraterna e justa, à medida do homem” ¹.

Depois dos anos obscuros e cruentos da Segunda Guerra Mundial, os líderes da época acreditaram na possibilidade de um futuro melhor, “não deixaram de ousar e nem agiram muito tarde. A recordação das desventuras passadas e das suas culpas parece ter-lhes inspirado e dado a coragem necessária para esquecer as antigas rivalidades e pensar em agir, de modo verdadeiramente novo, para realizar a maior transformação [...] da Europa” ².

Os Pais fundadores recordam-nos que a Europa não é um conjunto de regras a serem observadas, nem um prontuário de protocolos e procedimentos a serem seguidos. Ela é uma vida, um modo de conceber o homem, a partir da sua dignidade transcendente e inalienável, e não apenas um conjunto de direitos a serem defendidos ou de pretensões a serem reivindicadas. À origem da ideia sobre a Europa, está “a figura e a responsabilidade da pessoa humana, com sua efervescência de fraternidade evangélica, [...] com o seu desejo de verdade e de justiça, adquirido de uma experiência milenária” ³. Roma, com a sua vocação de universalidade (4), é o símbolo desta experiência e, por isso, foi escolhida como lugar da assinatura dos Tratados, porque aqui – recordou o Ministro do Exterior holandês, Luns, - “foram lançadas as bases políticas, jurídicas e sociais da nossa civilização” (5).

Foi claro, desde o princípio, que o coração pulsante do projeto político europeu não podia não ser o homem; mas, da mesma forma, foi evidente o risco de que os Tratados permanecessem letra morta. Eles deviam ser repletos de espírito vital. O primeiro elemento da vitalidade europeia é a solidariedade. “A Comunidade Econômica Europeia – afirmava o Primeiro Ministro luxemburguês, Bech – viverá e terá sucesso somente se, durante a sua existência, permanecer fiel ao espírito de solidariedade europeia, que a criou, e se o desejo comum da Europa em gestação for mais forte que os desejos nacionais” (6). Este espírito é muito necessário, hoje, diante dos impulsos centrífugos, como também da tentação de reduzir os ideais básicos da União às necessidades produtivas, econômicas e financeiras.

Da solidariedade nasce a capacidade de abrir-se aos outros. “Os nossos planos não são de natureza egoística” (7), disse o Chanceler alemão, Adenauer. “Sem dúvida, os Países que estão para se unir (...) não querem se isolar do resto do mundo e erigir, em torno de si, barreiras instransponíveis” (8), acrescentou o Ministro do Exterior francês, Pineau. Em um mundo, que conhecia bem o drama dos muros e as divisões, era bem evidente a importância de trabalhar por uma Europeia unida e aberta e o desejo comum de remover aquela barreira inatural que, do Mar Báltico ao Adriático, dividia o continente. Quanto esforço para abater aquele muro! Não obstante, hoje, perdeu-se a memória daquele esforço. Perdeu-se até a consciência do drama das famílias separadas, da pobreza e da miséria que aquela divisão provocou. Onde as gerações tinham a ambição de ver abatidos os sinais de inimizade forçada, agora se discute como excluir os “perigos” do nosso tempo, a partir da longa fila de mulheres, homens e crianças, em fuga da guerra e da pobreza, que pedem somente a possibilidade de um futuro para si e para seus entes queridos.

No vazio da memória, que distingue os nossos dias, muitas vezes se esquece também outra grande conquista, fruto da solidariedade sancionada em 25 de março de 1957: o período mais longo de paz dos últimos séculos. “Povos, que ao longo do tempo, se encontraram, muitas vezes, em campos opostos, a combater uns contra os outros, (...) agora, ao invés, estão unidos por meio da riqueza das suas peculiaridades nacionaos” (9). A paz se constrói sempre com a contribuição livre e consciente de cada um. Todavia, “para muitos, hoje [ela] parece, de qualquer forma, um bem descontado” (10) e, por isso, torna-se fácil considerá-la supérflua. Pelo contrário, a paz é um bem precioso e essencial, porque sem ela não se tem condições de construir um futuro para ninguém e se acaba por “viver dia após dia”.

A Europa unida nasce, de fato, de um projeto claro, bem definido, adequadamente ponderado, mesmo se, no princípio, apenas embrionário. Todo bom projeto visa o futuro e o futuro são os jovens, chamados a realizar as promessas do futuro (11). Para os Pais fundadores, era clara, portanto, a consciência de se fazer parte de uma obra comum, que não ia apenas além dos confins dos Estados, mas também aqueles do tempo, a ponto de unir as gerações entre si, todas igualmente partícipes da construção da Casa comum. 

Jerusalém: Santo Sepulcro de Cristo foi reaberto.


O Santo Sepulcro, a tumba onde foi depositado o corpo de Jesus depois da crucificação, voltou a brilhar em todo o seu esplendor.

As obras de restauração foram concluídas oficialmente alguns dias antes da Semana Santa e os peregrinos já podem entrar no recinto sagrado.

Em uma cerimônia ecumênica simples e simbólica, representantes das três igrejas cristãs responsáveis pela custódia do Santo Sepulcro – a Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa Grega e a Igreja Ortodoxa Armênia – agradeceram pela reabertura do Santo Sepulcro.

Falaram a respeito desta reabertura Sua Beatitude Teófilo III, Patriarca greco-ortodoxo; Francesco Patton, Custódio franciscano da Terra Santa; Sua Beatitude Nourhan Maougian, Patriarca Armênio Apostólico; e Dom Pierbattista Pizzaballa, Administrador Apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém.

O Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, participou da cerimônia ecumênica junto com os representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs presentes na Basílica do Santo Sepulcro: coptos, sírios, etíopes e luteranos.

Dom Pizzaballa afirmou que “a aparente missão impossível da restauração da Santa Edícula se tornou possível porque nós permitimos que Deus iluminasse os nossos pensamentos, nossos olhos e nossos laços”.

“Acredito que a maioria dos habitantes de Jerusalém e todos aqueles que estão familiarizados com a vida no Santo Sepulcro, em geral com a vida dos cristãos em Jerusalém, não podia acreditar que este momento seria possível. Muitas vezes, quando os peregrinos, os cristãos locais, também os não cristãos, visitavam a Basílica e perguntavam quando seria possível a restauração da Edícula, a resposta imediata era: ‘Nunca veremos este dia’. Mas este dia ‘finalmente chegou’”.

O Administrador Apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, indicou que “o Santo Sepulcro, onde nosso Senhor foi enterrado e onde ressuscitou, é o custódio da nossa fé. Mas também das nossas respectivas histórias, das nossas identidades. É o espelho do que somos”. 

O Espírito Santo, Senhor que dá a vida


O Concílio Vaticano II abriu um novo horizonte de valorização de uma Teologia do Espírito Santo. Raniero Cantalamessa, nas pregações do Advento último, comenta as três grandes afirmações do Credo sobre o Espírito Santo: 1. “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida”. 2. “... e procede do Pai (e do Filho) e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. 3. "... e falou pelos profetas".

Traduzo aqui, em linguagem coloquial, o aprofundamento de Cantalamessa, começando com a primeira afirmação:

1.. “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida”.

O credo não diz que o Espírito Santo é "o" Senhor ( no credo, se proclama, "e creio em um só Senhor Jesus Cristo"!). Senhor indica aqui a natureza, não a pessoa; diz o que é, não quem é o Espírito Santo. "Senhor" significa que o Espírito Santo compartilha o Senhorio de Deus, que está do lado do Criador, e não das criaturas; em outras palavras, que é de mesma natureza divina – mesmo ser.

A Igreja chegou a esta certeza baseando-se não somente na Escritura, mas também na própria experiência de salvação. O Espírito, já escrevia Santo Atanásio, não pode ser uma criatura, porque quando somos tocados por ele (nos sacramentos, na Palavra, na oração) fazemos a experiência de entrar em contato com Deus em pessoa, e não com o seu intermediário. Se nos diviniza, isso significa que ele próprio é Deus¹.

A expressão segundo a qual o Espírito Santo "dá a vida" é tomada de várias passagens do Novo Testamento: "É o Espírito que dá a vida" (Jo 6, 63); "A lei do Espírito dá a vida em Cristo Jesus" (Rm 8, 2); "O último Adão tornou-se espírito que dá a vida" (1 Cor 15, 45); "A letra mata, o Espírito dá a vida" (2 Cor 3, 6). 

quinta-feira, 23 de março de 2017

CNBB divulga nota sobre o foro privilegiado


NOTA DA CNBB SOBRE O FORO PRIVILEGIADO


O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, reunido em Brasília-DF, no período de 21 a 23 de março de 2017, acompanha o intenso e necessário debate sobre o foro especial por prerrogativa de função ou “foro privilegiado”, diante do número crescente de autoridades envolvidas em denúncias por crimes de corrupção. 

O foro privilegiado tem seu fundamento nos artigos 102 e 105 da Constituição Federal que conferem, respectivamente, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a exclusividade do julgamento de ações penais contra determinadas autoridades. 

Calcula-se um universo de 22 mil autoridades que estariam beneficiadas pelo foro privilegiado. Aos olhos da população, esse procedimento jurídico parece garantia de impunidade numa afronta imperdoável ao princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei. Por isso, é urgente rever esses artigos da Constituição Federal de 1988. 

Para CNBB, Reforma da Previdência “escolhe o caminho da exclusão social”


NOTA DA CNBB SOBRE A PEC 287/16

– “REFORMA DA PREVIDÊNCIA”


“Ai dos que fazem do direito uma amargura
e a justiça jogam no chão”
 (Amós 5,7)

O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, dos dias 21 a 23 de março de 2017, em comunhão e solidariedade pastoral com o povo brasileiro, manifesta apreensão com relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/2016, de iniciativa do Poder Executivo, que tramita no Congresso Nacional.

O Art. 6º. da Constituição Federal de 1988 estabeleceu que a Previdência seja um Direito Social dos brasileiros e brasileiras. Não é uma concessão governamental ou um privilégio. Os Direitos Sociais no Brasil foram conquistados com intensa participação democrática; qualquer ameaça a eles merece imediato repúdio.

Abrangendo atualmente mais de 2/3 da população economicamente ativa, diante de um aumento da sua faixa etária e da diminuição do ingresso no mercado de trabalho, pode-se dizer que o sistema da Previdência precisa ser avaliado e, se necessário, posteriormente adequado à Seguridade Social.

Os números do Governo Federal que apresentam um déficit previdenciário são diversos dos números apresentados por outras instituições, inclusive ligadas ao próprio governo. Não é possível encaminhar solução de assunto tão complexo com informações inseguras, desencontradas e contraditórias. É preciso conhecer a real situação da Previdência Social no Brasil. Iniciativas que visem ao conhecimento dessa realidade devem ser valorizadas e adotadas, particularmente pelo Congresso Nacional, com o total envolvimento da sociedade.

O sistema da Previdência Social possui uma intrínseca matriz ética. Ele é criado para a proteção social de pessoas que, por vários motivos, ficam expostas à vulnerabilidade social (idade, enfermidades, acidentes, maternidade...), particularmente as mais pobres. Nenhuma solução para equilibrar um possível déficit pode prescindir de valores éticos-sociais e solidários. Na justificativa da PEC 287/2016 não existe nenhuma referência a esses valores, reduzindo a Previdência a uma questão econômica.

Buscando diminuir gastos previdenciários, a PEC 287/2016 “soluciona o problema”, excluindo da proteção social os que têm direito a benefícios. Ao propor uma idade única de 65 anos para homens e mulheres, do campo ou da cidade; ao acabar com a aposentadoria especial para trabalhadores rurais; ao comprometer a assistência aos segurados especiais (indígenas, quilombolas, pescadores...); ao reduzir o valor da pensão para viúvas ou viúvos; ao desvincular o salário mínimo como referência para o pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), a PEC 287/2016 escolhe o caminho da exclusão social.