Deus quis um
povo para si, um povo santo, um povo “sacerdotal”, para santificar o mundo todo
em seu nome. Um povo que fizesse sua vontade, realizasse seu reino: “um reino
de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19,6 - 1ª leitura). Essa vocação do povo,
por ocasião da proclamação da Lei no monte Sinai, prefigura aquela vocação mais
plena que, no monte da Galileia, Jesus dirigiu a doze humildes galileus. Eles
são como que representantes das doze tribos de Israel, e ele os manda para a
colheita messiânica, para ceifar com a palavra do evangelho, anunciando a vinda
do Reino. Eles são o começo do verdadeiro Israel, o novo povo de Deus. Os
sinais disso são os prodígios que os acompanham na sua missão: curam enfermos,
limpam leprosos, ressuscitam mortos, expulsam demônios… (Mt 10,8 - evangelho).
O Evangelho
nos lembra nossa vocação de evangelizadores. O que é narrado nesse texto, deve
ter acontecido muitas vezes enquanto o Senhor percorria cidades e aldeias
pregando a chegada do Reino de Deus: ao ver a multidão, encheu-se de compaixão
por ela, comoveu-se no mais íntimo do seu ser, porque estavam cansadas e
abatidas como ovelhas que não têm pastor, profundamente desorientadas.
Encheu-se de
compaixão, ou condoeu-se dela: o verbo grego é profundamente expressivo:
“comover-se nas entranhas”. Jesus, com efeito, comoveu-se ao ver o povo,
porque os seus pastores, em vez de o guiarem e cuidarem dele, o
desencaminhavam, comportando-se mais como lobos do que como verdadeiros
pastores do seu próprio rebanho.
Com efeito, a consideração das
necessidades espirituais do mundo deve levar-nos a um infatigável e generoso
trabalho apostólico. A
dificuldade é que agora, como nos tempos de Jesus, os trabalhadores são poucos
em proporção com a tarefa. A solução é dada pelo próprio Senhor: Orar, rogar a
Deus, Dono da messe, para que envie trabalhadores para a colheita. Será difícil
que um cristão, que se ponha a rezar de verdade, não se sinta urgido a
participar pessoalmente neste trabalho apostólico!
No texto
do Evangelho vê-se como é essencial a oração na vida da Igreja; que Jesus chama
os seus Doze Apóstolos depois de lhes ter recomendado que rezassem para que o
Senhor enviasse operários para a Sua messe (Mt 9, 38).
Toda a
atividade apostólica dos cristãos deve ser, pois, precedida e acompanhada por
uma intensa vida de oração, visto que não se trata de uma empresa meramente
humana, mas divina.
“A messe é
muita, mas os operários poucos… Ao escutarmos isto — comenta São Gregório Magno
–, não podemos deixar de sentir uma grande tristeza, porque é preciso
reconhecer que há pessoas que desejam escutar coisas boas; falta, no entanto,
quem se dedique a anuncia-las”.
Temos de
pedir com frequência a Deus que se verifique no povo cristão um ressurgir de
homens e mulheres que descubram o sentido vocacional da sua vida; que não
somente queiram ser bons, mas se saibam chamados a ser operários no campo do
Senhor e correspondam generosamente a essa chamada: homens e mulheres , velhos
e jovens, que vivam entregues a Deus no meio do mundo, muitos em celibato
apostólico; cristãos correntes, ocupados nas mesmas tarefas dos seus iguais,
que levem Cristo ao âmago da sociedade de que fazem parte.
Peçamos
também à Santíssima Virgem que nos faça entender como dirigida a cada um de nós
essa confidência que o Senhor faz aos seus — a messe é muita –, e formulemos um
propósito concreto de empreender com urgência e constância um esforço grande
para que sejam muitos os operários no campo de Deus. Peçamos-lhe a enorme
alegria de ser instrumentos para que outros correspondam à chamada que Jesus
lhes faz.