Como é bom
encontrarmos irmãos que querem o nosso bem. No cristianismo, a correção
fraterna sempre foi o um bem admirado, ainda que, frequentemente, pouco
compreendido e, talvez, praticado com escassez. Jesus, no dia de hoje,
explica-nos de várias maneiras como corrigir quem erra. À pessoa que é
corrigida, o Senhor lhe dirige essas palavras: “aquele que ama a correção ama a
ciência, mas o que detesta a reprimenda é um insensato” (Prov 12,1).
Perguntemo-nos: queremos que os outros nos ajudem? Desejamos que os nossos
irmãos nos corrijam? Temos essa sensatez de quem é consciente de que sozinho
não podemos chegar à meta da santidade e de que, portanto, necessitamos da
ajuda dos irmãos na fé? São Cirilo dizia que “a repreensão que melhora os
humildes costuma ser intolerável aos soberbos”. O humilde deseja ser ajudado, o
soberbo basta-se a si mesmo e… quebra a cara!
Nós
também, se formos amigos leais ou, melhor ainda, se formos irmãos leais,
ajudaremos os nossos irmãos. Não os ataremos com cordas para que não pequem,
mas lhes daremos os oportunos conselhos para não ofenderem o Senhor e
falar-lhes-emos da importância de ser prudentes nisso ou naquilo; caso errarem,
lhes corrigiremos com caridade. Nem mesmo perderemos a oportunidade de
advertir-lhes – esse é o coração da correção fraterna – sobre alguma coisa que
represente algum perigo para eles, especialmente em relação à salvação eterna.
O amigo atencioso e cheio da caridade cristã procurará inclusive prever as
dificuldades do outro e procurará conduzi-los a bom porto.
Não
podemos permitir que episódios semelhantes àqueles que aconteceram nos
primórdios da criação continuem sucedendo. Você se lembra? Depois que Caim
matou Abel, Deus lhe pergunta: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Caim, covarde
e falto de sinceridade, responde ao Senhor: “Não sei! Sou porventura eu o
guarda do meu irmão?” (Gn 4,9). Deus não quis dar uma resposta ao interrogante
de Caim, mas, sem dúvida, a resposta seria “sim, você é o guarda do seu irmão”.
Todos nós temos a responsabilidade de ajudar os outros, temos que cuidar dos
nossos irmãos pois… são nossos irmãos!
Talvez
seja esse o momento de recordar que há uma obra de misericórdia espiritual que
acolhe em si a boa ação da correção a um irmão. “Instruir, aconselhar,
confortar são as obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e
suportar com paciência” (Cat. 2447). Aconselhar! Aí se encontra, portanto, a
correção fraterna entre as obras de misericórdia.
Quando
não se pratica a correção fraterna é muito fácil cair na murmuração ou nas
indiretas. No primeiro caso, murmuração, a coisa se transforma em fofoca; no
segundo, dar indiretas, se procura o momento mais oportuno para disparar uma
flecha venenosa com uma língua de serpente. “Isso chama-se: bisbilhotice,
murmuração, mexerico, enredo, intriga, alcovitice, insídia…, calúnia?… vileza?
– É difícil que a “função de dar critério” de quem não tem o dever de
exercitá-la, não acabe em “negócio de comadres”” (S. Josemaría Escrivá,
Caminho, 449).
Diz
Jesus: ”Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós
contigo” (Mt 18,15). Este primeiro momento demonstra o respeito e o amor para
com o próximo. Muitas vezes acontece que se espalha o erro da pessoa aos quatro
ventos… Esta atitude não é cristã! É necessário rezar, pedindo as luzes do
Espírito Santo para saber quando se deve calar… quando se deve falar… e como
falar…
Caso
o irmão não queira ouvir, Jesus ensina que se deve pedir a ajuda de outras
pessoas, que tenham sensibilidade cristã e sabedoria…
Não
se trata de condenar, mas de fazer a correção fraterna para que se restabeleça
o amor (cf. Mt. 18,15-20). O grande critério é o amor mútuo (Rm 13,8-10) para
que a comunhão se restabeleça.
Se
essa tentativa também falhar, levar o assunto à Igreja (Comunidade) para
recordar à pessoa que errou as exigências do caminho cristão. Como se percebe,
recomenda-se que fique tudo em casa…
O
importante é colocar-se de acordo no bem. Deve sobressair o amor fraterno, o
ágape, pois, “não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois
quem ama o próximo está cumprindo a Lei” (Rm 13,8). Isto vale também para a
correção individual entre irmãos… Santo Agostinho aplicou exatamente à correção
fraterna as palavras de São Paulo sobre a caridade: “Ama e faze o que queres.
Seja que cales, cala por amor, seja que fales, fala por amor; seja que
corrijas, corrige por amor; seja que perdoes, perdoa por amor. Esteja em ti a
raiz do amor, porque desta raiz não pode nascer outra coisa a não ser o bem”.
Como
irmãos em Cristo, temos o dever de corrigir-nos e o direito a que nos corrijam.
Vou insistir no direito: é preciso inclusive pedir aos outros que, por favor,
nos façam oportunas observações. Quando se tem a humildade de receber uma
correção fraterna em silêncio, sem justificar-se, com um sorriso e com um
agradecido “obrigado” nos lábios, é sinal de que realmente estamos sendo movidos
pelo Espírito de Deus, de que temos autêntico desejo de santidade e de que
sabemos ver nas correções que nos fazem o interesse dos nossos irmãos em
ajudar-nos. Tenhamos por certo que as pessoas que nos corrigem querem o nosso
bem. Os pais, por exemplo, que amam os seus filhos não omitem a oportuna
correção. Advertir, corrigir, aconselhar é sinal de carinho verdadeiro pelas
pessoas; isto é, porque queremos o bem delas, procuramos afastar para longe
delas tudo aquilo que possa fazer-lhes dano.