Como é bom
encontrarmos irmãos que querem o nosso bem. No cristianismo, a correção
fraterna sempre foi o um bem admirado, ainda que, frequentemente, pouco
compreendido e, talvez, praticado com escassez. Jesus, no dia de hoje,
explica-nos de várias maneiras como corrigir quem erra. À pessoa que é
corrigida, o Senhor lhe dirige essas palavras: “aquele que ama a correção ama a
ciência, mas o que detesta a reprimenda é um insensato” (Prov 12,1).
Perguntemo-nos: queremos que os outros nos ajudem? Desejamos que os nossos
irmãos nos corrijam? Temos essa sensatez de quem é consciente de que sozinho
não podemos chegar à meta da santidade e de que, portanto, necessitamos da
ajuda dos irmãos na fé? São Cirilo dizia que “a repreensão que melhora os
humildes costuma ser intolerável aos soberbos”. O humilde deseja ser ajudado, o
soberbo basta-se a si mesmo e… quebra a cara!
Nós
também, se formos amigos leais ou, melhor ainda, se formos irmãos leais,
ajudaremos os nossos irmãos. Não os ataremos com cordas para que não pequem,
mas lhes daremos os oportunos conselhos para não ofenderem o Senhor e
falar-lhes-emos da importância de ser prudentes nisso ou naquilo; caso errarem,
lhes corrigiremos com caridade. Nem mesmo perderemos a oportunidade de
advertir-lhes – esse é o coração da correção fraterna – sobre alguma coisa que
represente algum perigo para eles, especialmente em relação à salvação eterna.
O amigo atencioso e cheio da caridade cristã procurará inclusive prever as
dificuldades do outro e procurará conduzi-los a bom porto.
Não
podemos permitir que episódios semelhantes àqueles que aconteceram nos
primórdios da criação continuem sucedendo. Você se lembra? Depois que Caim
matou Abel, Deus lhe pergunta: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Caim, covarde
e falto de sinceridade, responde ao Senhor: “Não sei! Sou porventura eu o
guarda do meu irmão?” (Gn 4,9). Deus não quis dar uma resposta ao interrogante
de Caim, mas, sem dúvida, a resposta seria “sim, você é o guarda do seu irmão”.
Todos nós temos a responsabilidade de ajudar os outros, temos que cuidar dos
nossos irmãos pois… são nossos irmãos!
Talvez
seja esse o momento de recordar que há uma obra de misericórdia espiritual que
acolhe em si a boa ação da correção a um irmão. “Instruir, aconselhar,
confortar são as obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e
suportar com paciência” (Cat. 2447). Aconselhar! Aí se encontra, portanto, a
correção fraterna entre as obras de misericórdia.
Quando
não se pratica a correção fraterna é muito fácil cair na murmuração ou nas
indiretas. No primeiro caso, murmuração, a coisa se transforma em fofoca; no
segundo, dar indiretas, se procura o momento mais oportuno para disparar uma
flecha venenosa com uma língua de serpente. “Isso chama-se: bisbilhotice,
murmuração, mexerico, enredo, intriga, alcovitice, insídia…, calúnia?… vileza?
– É difícil que a “função de dar critério” de quem não tem o dever de
exercitá-la, não acabe em “negócio de comadres”” (S. Josemaría Escrivá,
Caminho, 449).
Diz
Jesus: ”Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós
contigo” (Mt 18,15). Este primeiro momento demonstra o respeito e o amor para
com o próximo. Muitas vezes acontece que se espalha o erro da pessoa aos quatro
ventos… Esta atitude não é cristã! É necessário rezar, pedindo as luzes do
Espírito Santo para saber quando se deve calar… quando se deve falar… e como
falar…
Caso
o irmão não queira ouvir, Jesus ensina que se deve pedir a ajuda de outras
pessoas, que tenham sensibilidade cristã e sabedoria…
Não
se trata de condenar, mas de fazer a correção fraterna para que se restabeleça
o amor (cf. Mt. 18,15-20). O grande critério é o amor mútuo (Rm 13,8-10) para
que a comunhão se restabeleça.
Se
essa tentativa também falhar, levar o assunto à Igreja (Comunidade) para
recordar à pessoa que errou as exigências do caminho cristão. Como se percebe,
recomenda-se que fique tudo em casa…
O
importante é colocar-se de acordo no bem. Deve sobressair o amor fraterno, o
ágape, pois, “não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois
quem ama o próximo está cumprindo a Lei” (Rm 13,8). Isto vale também para a
correção individual entre irmãos… Santo Agostinho aplicou exatamente à correção
fraterna as palavras de São Paulo sobre a caridade: “Ama e faze o que queres.
Seja que cales, cala por amor, seja que fales, fala por amor; seja que
corrijas, corrige por amor; seja que perdoes, perdoa por amor. Esteja em ti a
raiz do amor, porque desta raiz não pode nascer outra coisa a não ser o bem”.
Como
irmãos em Cristo, temos o dever de corrigir-nos e o direito a que nos corrijam.
Vou insistir no direito: é preciso inclusive pedir aos outros que, por favor,
nos façam oportunas observações. Quando se tem a humildade de receber uma
correção fraterna em silêncio, sem justificar-se, com um sorriso e com um
agradecido “obrigado” nos lábios, é sinal de que realmente estamos sendo movidos
pelo Espírito de Deus, de que temos autêntico desejo de santidade e de que
sabemos ver nas correções que nos fazem o interesse dos nossos irmãos em
ajudar-nos. Tenhamos por certo que as pessoas que nos corrigem querem o nosso
bem. Os pais, por exemplo, que amam os seus filhos não omitem a oportuna
correção. Advertir, corrigir, aconselhar é sinal de carinho verdadeiro pelas
pessoas; isto é, porque queremos o bem delas, procuramos afastar para longe
delas tudo aquilo que possa fazer-lhes dano.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Textos: Jr 33, 7-9; Rm 13, 8-10; Mt 18,
15-20
ECaros irmãos e irmãs, cada domingo nos recorda o ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. Ao domingo, portanto, aplica-se a exclamação do Salmista: “Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria” (Sl 118, 24). O domingo é um dia que está no âmago da vida cristã e é, ao mesmo tempo, o primeiro dia da semana, memorial do primeiro dia da criação. A Ceia do Senhor é o seu centro, pois nela toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Cristo ressuscitado: O domingo é o dia por excelência da assembléia litúrgica, em que os fiéis se reúnem para ouvir a Palavra de Deus e participar do Banquete Eucarístico.
A página do Evangelho deste domingo começa nos recordando que somos frágeis e, por isto, precisamos da misericórdia do Senhor a todo instante. Sempre devemos ter consciência das nossas falhas, dos erros, dos pecados. Por isso, no início de cada Missa somos sempre convidados a reconhecer diante do Senhor que somos pecadores, expressando com palavras e com gestos o arrependimento sincero. O sacerdote suplica a Deus: “Tende compaixão de nós Senhor”, ao que todos respondem: “Porque somos pecadores”. Todos nós somos pecadores e necessitados do perdão do Senhor. É o Espírito Santo que nos leva a reconhecer as nossas culpas, à luz da palavra de Jesus e a todos Deus concede a sua misericórdia.
A convivência humana pode ser atingida por contrastes, conflitos, devido ao fato de que somos diferentes por temperamento, pontos de vista e gostos. O texto evangélico também sintetiza: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós, contigo” (v. 15). Podemos frisar a expressão “a sós, contigo”. Isto quer mostrar o respeito que devemos ter para com o outro, para com o bom nome do irmão, o zelo pela sua dignidade. O “falar a sós” indica a possibilidade da pessoa poder fazer a sua defesa e explicar as suas ações. O objetivo é ganhar o irmão. Uma franca explicação pode esclarecer algo que não ficou bem entendido. Nem sempre isto é possível quando o problema é levado ao conhecimento de todos.
Esta correção deverá ser feita sempre com amor, com discernimento, com caridade fraterna. São Bento, na sua Regra, dá uma recomendação singular, ao prescrever: “Socorrer na tribulação” (RB 4,18). Mas, a expressão latina usada por São Bento é “in tribulationem subvenire”. A palavra “subvenire” pode ser traduzida por “vir por baixo, vir de baixo”. Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por baixo para sustentar, amparar e ajudar, para salvar. Corrigir, sim, mas como Deus, que em Jesus, veio por baixo, na humildade de um presépio e na humilhação da cruz.
O ensinamento de Cristo sobre a correção fraterna deverá ser lido à luz de um outro preceito que Ele mesmo nos deixa: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho? Ou como podes dizer a teu irmão: ‘Deixa-me, irmão, tirar de teu olho o argueiro, quando tu não vês a trave no teu olho?’ Tira primeiro a trave do teu olho e depois enxergarás para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Lc 6,41-42). Neste contexto, é importante lembrar que é sempre válida a recomendação de São Paulo, como nos diz a primeira leitura: “Com ninguém tenhais outra dívida que a do mútuo amor… A caridade não faz mal ao próximo” (Rm 13,8-10).
O texto Evangélico deste domingo traz ainda uma frase bastante significativa e que deve ser sublinhada: “Se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles” (v.19-20). Com estas palavras Jesus ressalta o valor da oração. Deus é pai misericordioso, que ouve a prece dos seus filhos. Quando rezamos, conquistamos o coração de Deus, ao qual nada é impossível.
Os primeiros discípulos pediram a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Como de fato, é preciso aprender a rezar, devemos sentir a necessidade de pertencer à escola de Jesus para aprender a rezar autenticamente. E podemos receber a primeira lição pelo exemplo do próprio Senhor. Os Evangelhos, por várias vezes, descrevem Jesus em diálogo íntimo e constante com o Pai.
Na oração, em cada época da história, o homem considera-se a si mesmo e a sua situação diante de Deus, a partir de Deus e em vista de Deus, e experimenta que é criatura carente de ajuda, incapaz de alcançar sozinho o cumprimento da própria existência e da própria esperança (cf. BENTO XVI, Audiência Geral, 11 de maio de 2011). A oração deve ser a abertura e elevação do coração a Deus, torna-se assim relação pessoal com Ele. Segundo o Catecismo da Igreja Católica: “Na oração, é sempre o amor do Deus fiel a dar o primeiro passo; o passo do homem é sempre uma resposta. Na medida que Deus se revela e revela o homem a si mesmo, a oração surge como um apelo recíproco…” (n. 2567).
E a Sagrada Escritura deixa para nós inúmeros exemplos de homens e mulheres que se tornaram exemplos de oração. A própria leitura da Sagrada Escritura deve ser também um momento de oração, sobretudo, através dos salmos. Neles encontramos um formulário de orações. O Livro dos Salmos nos apresenta uma coletânea de cento e cinquenta Salmos, que podem ser apresentados como a nossa oração, o nosso modo de nos dirigirmos a Deus e de nos relacionarmos com Ele. A Igreja nos exorta a uma leitura contínua da Palavra de Deus, como alimento salutar para o espírito, capaz de nutrir o conhecimento de Deus e o diálogo com Ele.
Na oração desenrola-se um diálogo com Jesus que faz de nós seus amigos íntimos: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós” (Jo 15,4). Esta reciprocidade constitui precisamente a substância, a alma da vida cristã, e é condição para estarmos sempre unidos ao Senhor. Quem reza não perde a coragem, nem sequer face às dificuldades mais graves, porque sente que Deus está ao seu lado e encontra refúgio, serenidade e paz entre os seus braços paternos. Depois, ao abrirmos o nosso coração com confiança a Deus, teremos mais generosidade com o próximo, e passaremos a construir a história segundo o projeto divino.
Em geral conhecemos a oração com palavras, mas também a mente e o coração devem estar presentes na nossa oração. É o contato da nossa mente com o coração de Deus. E aqui a Virgem Maria é um modelo real. O evangelista São Lucas repete várias vezes que a Mãe de Deus “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19). Maria viveu plenamente a sua existência, os seus deveres quotidianos, a sua missão de Mãe, mas soube manter em si um espaço interior para meditar sobre a palavra e a vontade de Deus.
A página do Evangelho deste domingo começa nos recordando que somos frágeis e, por isto, precisamos da misericórdia do Senhor a todo instante. Sempre devemos ter consciência das nossas falhas, dos erros, dos pecados. Por isso, no início de cada Missa somos sempre convidados a reconhecer diante do Senhor que somos pecadores, expressando com palavras e com gestos o arrependimento sincero. O sacerdote suplica a Deus: “Tende compaixão de nós Senhor”, ao que todos respondem: “Porque somos pecadores”. Todos nós somos pecadores e necessitados do perdão do Senhor. É o Espírito Santo que nos leva a reconhecer as nossas culpas, à luz da palavra de Jesus e a todos Deus concede a sua misericórdia.
A convivência humana pode ser atingida por contrastes, conflitos, devido ao fato de que somos diferentes por temperamento, pontos de vista e gostos. O texto evangélico também sintetiza: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós, contigo” (v. 15). Podemos frisar a expressão “a sós, contigo”. Isto quer mostrar o respeito que devemos ter para com o outro, para com o bom nome do irmão, o zelo pela sua dignidade. O “falar a sós” indica a possibilidade da pessoa poder fazer a sua defesa e explicar as suas ações. O objetivo é ganhar o irmão. Uma franca explicação pode esclarecer algo que não ficou bem entendido. Nem sempre isto é possível quando o problema é levado ao conhecimento de todos.
Esta correção deverá ser feita sempre com amor, com discernimento, com caridade fraterna. São Bento, na sua Regra, dá uma recomendação singular, ao prescrever: “Socorrer na tribulação” (RB 4,18). Mas, a expressão latina usada por São Bento é “in tribulationem subvenire”. A palavra “subvenire” pode ser traduzida por “vir por baixo, vir de baixo”. Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por baixo para sustentar, amparar e ajudar, para salvar. Corrigir, sim, mas como Deus, que em Jesus, veio por baixo, na humildade de um presépio e na humilhação da cruz.
O ensinamento de Cristo sobre a correção fraterna deverá ser lido à luz de um outro preceito que Ele mesmo nos deixa: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho? Ou como podes dizer a teu irmão: ‘Deixa-me, irmão, tirar de teu olho o argueiro, quando tu não vês a trave no teu olho?’ Tira primeiro a trave do teu olho e depois enxergarás para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Lc 6,41-42). Neste contexto, é importante lembrar que é sempre válida a recomendação de São Paulo, como nos diz a primeira leitura: “Com ninguém tenhais outra dívida que a do mútuo amor… A caridade não faz mal ao próximo” (Rm 13,8-10).
O texto Evangélico deste domingo traz ainda uma frase bastante significativa e que deve ser sublinhada: “Se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles” (v.19-20). Com estas palavras Jesus ressalta o valor da oração. Deus é pai misericordioso, que ouve a prece dos seus filhos. Quando rezamos, conquistamos o coração de Deus, ao qual nada é impossível.
Os primeiros discípulos pediram a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Como de fato, é preciso aprender a rezar, devemos sentir a necessidade de pertencer à escola de Jesus para aprender a rezar autenticamente. E podemos receber a primeira lição pelo exemplo do próprio Senhor. Os Evangelhos, por várias vezes, descrevem Jesus em diálogo íntimo e constante com o Pai.
Na oração, em cada época da história, o homem considera-se a si mesmo e a sua situação diante de Deus, a partir de Deus e em vista de Deus, e experimenta que é criatura carente de ajuda, incapaz de alcançar sozinho o cumprimento da própria existência e da própria esperança (cf. BENTO XVI, Audiência Geral, 11 de maio de 2011). A oração deve ser a abertura e elevação do coração a Deus, torna-se assim relação pessoal com Ele. Segundo o Catecismo da Igreja Católica: “Na oração, é sempre o amor do Deus fiel a dar o primeiro passo; o passo do homem é sempre uma resposta. Na medida que Deus se revela e revela o homem a si mesmo, a oração surge como um apelo recíproco…” (n. 2567).
E a Sagrada Escritura deixa para nós inúmeros exemplos de homens e mulheres que se tornaram exemplos de oração. A própria leitura da Sagrada Escritura deve ser também um momento de oração, sobretudo, através dos salmos. Neles encontramos um formulário de orações. O Livro dos Salmos nos apresenta uma coletânea de cento e cinquenta Salmos, que podem ser apresentados como a nossa oração, o nosso modo de nos dirigirmos a Deus e de nos relacionarmos com Ele. A Igreja nos exorta a uma leitura contínua da Palavra de Deus, como alimento salutar para o espírito, capaz de nutrir o conhecimento de Deus e o diálogo com Ele.
Na oração desenrola-se um diálogo com Jesus que faz de nós seus amigos íntimos: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós” (Jo 15,4). Esta reciprocidade constitui precisamente a substância, a alma da vida cristã, e é condição para estarmos sempre unidos ao Senhor. Quem reza não perde a coragem, nem sequer face às dificuldades mais graves, porque sente que Deus está ao seu lado e encontra refúgio, serenidade e paz entre os seus braços paternos. Depois, ao abrirmos o nosso coração com confiança a Deus, teremos mais generosidade com o próximo, e passaremos a construir a história segundo o projeto divino.
Em geral conhecemos a oração com palavras, mas também a mente e o coração devem estar presentes na nossa oração. É o contato da nossa mente com o coração de Deus. E aqui a Virgem Maria é um modelo real. O evangelista São Lucas repete várias vezes que a Mãe de Deus “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19). Maria viveu plenamente a sua existência, os seus deveres quotidianos, a sua missão de Mãe, mas soube manter em si um espaço interior para meditar sobre a palavra e a vontade de Deus.
Peçamos uma vez mais a intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, para que o Senhor ilumine a nossa mente e o nosso coração, a fim de que nossa relação com Ele na oração seja cada vez mais intensa, afetuosa e constante. Assim seja.
PARA REFLETIR
Nossa meditação da Palavra
do Senhor neste Domingo pode ser desenvolvida em cinco afirmações. Ei-las:
(1) Cristo está
presente na sua Igreja; jamais a deixará, “pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou
aí, no meio deles”. Caríssimos, quantas vezes tal afirmação
foi distorcida como se bastasse que uns quatro gatos pingados se reunissem com
a Bíblia e aí estaria Jesus. Nada disso! O sentido é exatamente o contrário.
Aqui, neste capítulo 18 de São Mateus, Jesus está falando sobre a vida da
Igreja, comunidade que ele fundou e entregou aos apóstolos, tendo Pedro por
chefe. Os dois ou três aos quais se refere o Senhor são os líderes da
Comunidade que vão decidir a questão do irmão que não quer ouvir os outros e
divide a Comunidade! O que a Igreja liga ou desliga na terra – e são os
pastores (os Bispos com o Papa) que têm, em última análise, essa
responsabilidade – o Senhor ratifica no céu: “Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no
céu, e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu!” A
autoridade que Cristo deu a Pedro de um modo todo especial, deu-a, aos demais
Bispos, os pastores autênticos da sua Igreja, em comunhão com Pedro. Pois bem,
onde dois ou três, como Igreja, estiverem reunidos em nome do Senhor, ele
estará ali, ratificando suas decisões. Que fique claro: não se pode agradar a
Cristo, ser-lhe fiel, rompendo com a sua Igreja! Ela, por mais que seja frágil
por causa da nossa fragilidade, é a Comunidade que o Senhor reuniu, sustenta e
na qual se faz presente atuante!
(2) Essa Igreja
é uma Comunidade de amor. O amor cristão não é simplesmente amizade ou simpatia
humana, mas o fruto da presença do próprio Espírito de Amor, o Espírito Santo
em nós: “O amor de Deus foi derramado
nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” (Rm 5,5)É
desse amor que fala São Paulo no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios; é
esse amor que “cobre uma multidão de
pecados” (Tg 5,20), é
esse amor que é “a plenitude da Lei”.
Só ama assim quem se abre para o amor de Cristo, deixando-se guiar e impregnar
pelo seu Espírito de amor! Ora, caríssimos, a Igreja deve ser o ambiente
impregnado desse amor, mais forte que nossas diferenças de temperamento, de
opiniões, de modo de agir… Onde está o amor, a caridade, Deus aí está; onde o
amor reina, o Reino de Deus está presente neste mundo! A Igreja deve ser o
lugar do amor, lugar do Reino!
(3) Essa
Comunidade de amor é Comunidade de compromisso, de responsabilidade no
seguimento de Cristo. Por isso, não se pode usar o amor para acobertar a
covardia, a tibieza, a frieza para com o Senhor e os irmãos e os demandos na
Comunidade! O amor é exigente: “O
amor de Cristo nos impele” (cf. 2Cor 5,14). A infidelidade ao
amor a Cristo e aos irmãos é, precisamente, o pecado, que gera a divisão, a
desunião, que faz sangrar a Igreja. Por isso Jesus nos exorta à correção
fraterna, desde aquela simples, feita entre irmãos, até a correção formal e
mais solene, feita pelo Bispo ou até mesmo pelo Papa, como Chefe Supremo da
Igreja de Cristo neste mundo: “Se
o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo; se ele não te ouvir, toma contigo
mais uma ou duas pessoas; se ele não der ouvido, dize-o à Igreja”.
Muitas vezes, vê-se confundir amor e misericórdia com a covardia ou o comodismo
de não corrigir. Ora, caríssimos, a correção é um modo de amar, é um modo de
preocupar-se com o outro e com a Comunidade que é ferida pelo pecado e o mau
exemplo. A correção pode salvar o irmão. Quantos escândalos nas nossas
Comunidades poderiam ter sido evitados se houvera a correção no momento
oportuno e do modo discreto e sincero que Jesus nos recomenda. Isso vale para a
Igreja menorzinha, que é nossa família doméstica, vale para o grupo do qual
participamos, vale para a paróquia, a diocese e a Igreja universal (não a “do
Reino de Deus”, mas a de Cristo!), espalhada por toda a terra. A omissão em
corrigir é covardia, é falta de amor à Comunidade que é a Igreja, é pecado de
omissão e desatenção pelo irmão. Certamente, tal correção deverá ser feita
sempre com amor, com discernimento, com caridade fraterna. São Bento, na sua
Regra, dá um preceito encantador: “In
tribulationem subvenire” – poderíamos traduzir assim:
“socorrer na tribulação”. Mas, a palavra latina é subvenire: vir por baixo, vir de
baixo. Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por
baixo para sustentar, amparar e ajudar, para salvar; não vem com a soberba de
quem está por cima para massacrar! Corrigir, sim, mas como Deus, que em Jesus,
veio por baixo, na pobreza do presépio e na humilhação da cruz! Aí a correção
terá mais chance de surtir efeito!
(4) Na
Comunidade de amor às vezes pode ser necessária a punição. Pode ser que não
surta efeito a correção fraterna; pode ser que aquele que é corrigido teime na
sua dureza de propósito e repouse no erro. Jesus mesmo prevê tal possibilidade
no Evangelho de hoje. E, então, o próprio Senhor exorta a que tal irmão seja
punido. Que escândalo para a nossa mentalidade atual! O pobre do Papa Bento
XVI, antigo Cardeal Ratzinger, sabe o quanto foi difamado porque teve que impor
penalidades a teólogos ou outros irmãos que, após a correção, não se emendaram!
A nossa tendência é somente recordar do Senhor as palavras que agradam! No
entanto, a punição na Igreja não é pela vingança ou o desafogo, mas deverá ser
sempre medicinal, isto é, para produzir o arrependimento e a correção,
restabelecendo a paz na Comunidade e a salvação do irmão. Que os pais tenha a
coragem de corrigir, os Bispos e o Santo Padre também. Aliás, de João Paulo II
e Bento XVI, sabemos que a têm, graças a Deus!
(5) Qual o
fruto de uma comunidade assim? A saúde fraterna: a alegria de viver como
irmãos: “Se ele te ouvir, tu ganhaste o
teu irmão!” Oh, que palavra tão doce: ganhar o irmão! Eis aqui
o motivo último da correção fraterna! Pensemos bem, caríssimos: a Igreja não é
um clube de amigos, mas uma família de irmãos em Cristo! É o amor do Senhor
Jesus Cristo que nos une. A alegria da comunhão fraterna somente será
experimentada na sinceridade das nossas relações. Correção, sim; crítica destrutiva,
murmuração, difamação, não! Neste sentido, todos nós precisamos fazer um sério
exame de consciência, seja em nível de família, como naquele de grupos e
paróquias e, até mesmo, de Diocese!
São esses os
aspectos que a Palavra de Deus nos põe hoje. Recordemos a exortação do Senhor
pela boca de Ezequiel: se não corrigirmos o irmão e ele morrer no seu pecado, a
culpa é nossa; se ele se corrigir, ganhamos o irmão: viveremos nós e viverá ele
– eis a marca do Reino de Deus neste mundo! Que ele aconteça em nossas
comunidades! Amém.
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