segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Homilética: 24º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "A 'Terapia do Perdão'”.




A Palavra de Deus que a liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum nos propõe fala do perdão. Apresenta-nos um Deus que ama sem cálculos, sem limites e sem medida; e convida-nos a assumir uma atitude semelhante para com os irmãos que, dia a dia, caminham ao nosso lado.

Diz o Senhor no livro do Eclesiástico: “Quem se vingar  encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas contas dos seus pecados.Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim quando orares, teus pecados serão perdoados. Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura? Senão tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados?” (Eclo 28, 1-4.). Quem não perdoa o irmão, não poderá exigir o perdão de Deus. A felicidade do homem não está em cultivar sentimentos de ódio e de rancor, mas sim em cultivar sentimentos de perdão e misericórdia.

Viveríamos mal o nosso caminho de discípulos de Cristo se, ao menor atrito  – no lar, no escritório, no trânsito… – , a nossa caridade se esfriasse e nos sentíssemos ofendidos e desprezados. Às vezes –  em matérias mais graves, em que a desculpa se torna mais difícil-,  faremos nossa a oração de Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc 23,34). Em outros casos, bastará um sorriso, retribuir o cumprimento, ter um pormenor amável para restabelecer a amizade ou a paz perdida. As ninharias diárias não podem ser motivo para perdemos a alegria, que deve ser profunda e habitual na nossa vida.

Não precisa ser muito bom em matemática para descobrir que setenta vezes sete é igual a “sempre!” Como? Claro que sim, se 70×7=490, então 70×7=sempre. Está bem: concedamos que esta lógica matemática não seja exatamente perfeita, mas também concedamos que na lógica de Cristo a conta esteja bem feita. É preciso perdoar sempre porque agrada a Deus, porque os primeiros beneficiados somos nós mesmos e porque, finalmente, é um grande bem fraterno-social.

Perdoar agrada muito a Deus porque nos faz semelhantes a ele. Deus perdoa sempre! Não importa quantas vezes peçamos perdão e nem importa se são os pecados de sempre, se estamos arrependidos o Senhor nos perdoará. É o que experimentamos no sacramento do perdão e da alegria, na confissão. Santo Agostinho, pensando no pecado de Judas, escreveu: “se ele tivesse orado em nome de Cristo teria pedido perdão, se tivesse pedido perdão teria esperança, se tivesse esperança teria esperado na misericórdia e não teria se enforcado desesperadamente”. Não temos motivo para desesperar-nos.  O pensamento de São Máximo de Turim é irrefutável: “se o ladrão obteve a graça do paraíso, por que o cristão não há de obter o perdão?”. Sendo assim, confiemos sempre na misericórdia do Senhor, façamos um propósito de mudança de vida, confessemos os nossos pecados e… Confiança, alegria, paz… Comecemos novamente! Perdoando os nossos semelhantes, quantas vezes for preciso, estaremos imitando o próprio Deus e essa semelhança nas ações atrairá maiores graças para as nossas futuras decisões.


Nós somos os primeiros a aproveitar-nos da graça de perdoar. O perdão atrai o olhar misericordioso de Deus rumo a nós e nos faz serenos no dia-a-dia. Uma pessoa que sabe que não tem inimigo vive em paz. Como saber que eu não tenho inimigo? É simples, é só não considerar ninguém como inimigo. Talvez os outros possam até considerar-nos seus inimigos desde algum ponto de vista. O problema é deles! Nós, da nossa parte, não consideraremos a ninguém como nosso inimigo. A bondade do coração cristão é o melhor remédio para curar os males do coração alheio. Mais cedo ou mais tarde, os outros pensarão: “Por que mexer com uma pessoa que só quer o meu bem? Por que irritar uma pessoa que se mostra sempre amável comigo? Por que chatear a alguém que só quer que eu seja feliz? Por que tentar ser inimigo de alguém que não fica meu inimigo?”.

Quem não perdoa o irmão, não poderá exigir o perdão de Deus. O pensamento da morte nos faz pensar diferente: ”Lembra-te do teu fim e deixa de odiar; pensa na destruição e na morte e persevera nos mandamentos” (Eclo 28, 6-7). A felicidade do homem não está em cultivar sentimentos de ódio e de rancor, mas sim em cultivar sentimentos de perdão e misericórdia.

O Senhor, depois de responder a Pedro sobre a capacidade ilimitada de perdão que devemos ter, expôs a parábola dos dois devedores para nos mostrar o fundamento desta manifestação da caridade. Devemos perdoar sempre e tudo porque é muito –  sem medida  –  o que Deus nos perdoou e nos perdoa. E diante dessa prova da misericórdia do Senhor, tudo o que devemos perdoar aos outros é simplesmente insignificante.

Jesus conta a parábola de um empregado que devia uma fortuna imensa e, por compaixão, foi perdoado. Em seguida, ele, sem compaixão, se recusa a perdoar um companheiro que lhe devia uma quantia irrisória: “Paga-me o que me deves”. O Rei indignado o castiga severamente…

E Jesus conclui dizendo: ”Assim agirá meu Pai com quem não perdoar seu irmão de todo o coração…”

A parábola é um exame de consciência para nós; convida-nos a analisar as nossas atitudes para com os irmãos que erram.

Jesus nos ensina que o mal, os ressentimentos, o rancor, o desejo de vingança, devem ser vencidos por uma caridade ilimitada que se há de manifestar no perdão incansável das ofensas alheias.

Para perdoar de coração, com absoluto esquecimento da injúria recebida, é necessária por vezes uma grande fé, alimentada pela caridade.

Perdoar, portanto, porque Deus nos perdoou e para que Deus nos perdoe! Mas esta não é a única motivação. O próprio Jesus deu outra motivação mais íntima e desinteressada: a misericórdia, um sentimento feito de compreensão, de identificação com o irmão, de solidariedade e de humildade.

São Paulo, seguindo o Mestre, exortava os Cristãos de Tessalônica:  “Vede que ninguém pague a outro mal por mal. Antes, procurai sempre praticar o bem entre vós e para com todos” (1Ts 5,15). Ainda São Paulo, aplicou esta mensagem evangélica do perdão às situações concretas de sua vida, especialmente da vida doméstica: “Revesti-vos – escrevia – de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, sempre que tiverdes motivo de queixa contra alguém. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também” (Col. 3,12ss). É preciso insistir muito sobre a importância do perdão na vida de uma família. É indispensável expelir dos próprios pulmões o ar oxidado para manter o organismo sadio, assim como inspirar novo ar oxigenado. Perdoar-se é indispensável para manter vivo e sadio um matrimônio, tão importante como amar-se. O perdão, quando é sincero, renova, torna-se ele mesmo fator de crescimento do próprio amor. O fez notar o próprio Jesus na casa de Simão: Quem amará mais? “Aquele a quem foi perdoado mais”. Julgaste bem! ( Lc 7,42ss). E concluiu com uma frase que vale um tratado de psicologia: Aquele a quem se perdoa pouco, ama pouco.

O perdão constrói as relações de amizade e todas as relações sociais. Quanto há compreensão e perdão entre amigos, essa amizade perdurará apesar dos pesares. Os nossos amigos são pessoas como nós, com virtudes e defeitos; se nós, porém, não compreendermos que eles nem sempre se comportarão virtuosamente é sinal de que ainda não somos bons amigos. Até Deus permite que nós erremos, deixa que pequemos, isto é, Deus respeita até o mau uso da nossa liberdade e… continua nos amando, nos perdoando. Nós não podemos sufocar as pessoas sendo intransigentes e insuportáveis; ao contrário, devemos compreender quem está no erro sem minimizar as exigências da doutrina e da moral cristã.

Perdoar é, portanto, de verdade, um gesto cheio de nobreza, digno do homem e indispensável para viver juntos e em paz. 

domingo, 13 de agosto de 2017

Semana Nacional da Família 2017: “Família, uma luz para a vida em sociedade”


A Igreja no Brasil inicia, neste domingo (13/8) a Semana Nacional da Família, que chegou à sua 26ª edição. O tema escolhido para este ano é “Família, uma luz para a vida em sociedade”.

O Bispo de Osasco (SP) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, Dom João Bosco Barbosa de Sousa, comentou sobre esta ocasião como “muito importante para que todas as famílias do Brasil possam refletir sobre a dignidade, a importância, a beleza da família, dom de Deus”.

Para Dom João Bosco, que também preside a Comissão Nacional da Pastoral Familiar, trata-se de um momento de reflexão e, ao mesmo tempo, de testemunho e serviço dos cristãos para a humanidade.

No contexto deste Mês Vocacional, quando a Igreja recorda uma vocação a cada semana, Dom João Bosco lembrou que esta “Semana Nacional da Família” começa com o “Dia dos Pais” para que a família toda seja abençoada por Deus.

“O Papa Francisco – recordou o Bispo de Osasco - pediu para que todas as comunidades se envolvessem com a família, fizessem da família o centro da ação evangelizadora; que possam levar o tema da família como luz para a sociedade” (Amoris Laetitia, sobre o amor na família).

Homilética: 23º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Correção fraterna: sinal de amor verdadeiro".


Como é bom encontrarmos irmãos que querem o nosso bem. No cristianismo, a correção fraterna sempre foi o um bem admirado, ainda que, frequentemente, pouco compreendido e, talvez, praticado com escassez. Jesus, no dia de hoje, explica-nos de várias maneiras como corrigir quem erra. À pessoa que é corrigida, o Senhor lhe dirige essas palavras: “aquele que ama a correção ama a ciência, mas o que detesta a reprimenda é um insensato” (Prov 12,1). Perguntemo-nos: queremos que os outros nos ajudem? Desejamos que os nossos irmãos nos corrijam? Temos essa sensatez de quem é consciente de que sozinho não podemos chegar à meta da santidade e de que, portanto, necessitamos da ajuda dos irmãos na fé? São Cirilo dizia que “a repreensão que melhora os humildes costuma ser intolerável aos soberbos”. O humilde deseja ser ajudado, o soberbo basta-se a si mesmo e… quebra a cara!

Nós também, se formos amigos leais ou, melhor ainda, se formos irmãos leais, ajudaremos os nossos irmãos. Não os ataremos com cordas para que não pequem, mas lhes daremos os oportunos conselhos para não ofenderem o Senhor e falar-lhes-emos da importância de ser prudentes nisso ou naquilo; caso errarem, lhes corrigiremos com caridade. Nem mesmo perderemos a oportunidade de advertir-lhes – esse é o coração da correção fraterna – sobre alguma coisa que represente algum perigo para eles, especialmente em relação à salvação eterna. O amigo atencioso e cheio da caridade cristã procurará inclusive prever as dificuldades do outro e procurará conduzi-los a bom porto.

Não podemos permitir que episódios semelhantes àqueles que aconteceram nos primórdios da criação continuem sucedendo. Você se lembra? Depois que Caim matou Abel, Deus lhe pergunta: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Caim, covarde e falto de sinceridade, responde ao Senhor: “Não sei! Sou porventura eu o guarda do meu irmão?” (Gn 4,9). Deus não quis dar uma resposta ao interrogante de Caim, mas, sem dúvida, a resposta seria “sim, você é o guarda do seu irmão”. Todos nós temos a responsabilidade de ajudar os outros, temos que cuidar dos nossos irmãos pois… são nossos irmãos!

Talvez seja esse o momento de recordar que há uma obra de misericórdia espiritual que acolhe em si a boa ação da correção a um irmão. “Instruir, aconselhar, confortar são as obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e suportar com paciência” (Cat. 2447). Aconselhar! Aí se encontra, portanto, a correção fraterna entre as obras de misericórdia.

Quando não se pratica a correção fraterna é muito fácil cair na murmuração ou nas indiretas. No primeiro caso, murmuração, a coisa se transforma em fofoca; no segundo, dar indiretas, se procura o momento mais oportuno para disparar uma flecha venenosa com uma língua de serpente. “Isso chama-se: bisbilhotice, murmuração, mexerico, enredo, intriga, alcovitice, insídia…, calúnia?… vileza? – É difícil que a “função de dar critério” de quem não tem o dever de exercitá-la, não acabe em “negócio de comadres”” (S. Josemaría Escrivá, Caminho, 449).

Diz Jesus: ”Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo” (Mt 18,15). Este primeiro momento demonstra o respeito e o amor para com o próximo. Muitas vezes acontece que se espalha o erro da pessoa aos quatro ventos… Esta atitude não é cristã! É necessário rezar, pedindo as luzes do Espírito Santo para saber quando se deve calar… quando se deve falar… e como falar…

Caso o irmão não queira ouvir, Jesus ensina que se deve pedir a ajuda de outras pessoas, que tenham sensibilidade cristã e sabedoria…

Não se trata de condenar, mas de fazer a correção fraterna para que se restabeleça o amor (cf. Mt. 18,15-20). O grande critério é o amor mútuo (Rm 13,8-10) para que a comunhão se restabeleça.

Se essa tentativa também falhar, levar o assunto à Igreja (Comunidade) para recordar à pessoa que errou as exigências do caminho cristão. Como se percebe, recomenda-se que fique tudo em casa…

O importante é colocar-se de acordo no bem. Deve sobressair o amor fraterno, o ágape, pois, “não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei” (Rm 13,8). Isto vale também para a correção individual entre irmãos… Santo Agostinho aplicou exatamente à correção fraterna as palavras de São Paulo sobre a caridade: “Ama e faze o que queres. Seja que cales, cala por amor, seja que fales, fala por amor; seja que corrijas, corrige por amor; seja que perdoes, perdoa por amor. Esteja em ti a raiz do amor, porque desta raiz não pode nascer outra coisa a não ser o bem”.


Como irmãos em Cristo, temos o dever de corrigir-nos e o direito a que nos corrijam. Vou insistir no direito: é preciso inclusive pedir aos outros que, por favor, nos façam oportunas observações. Quando se tem a humildade de receber uma correção fraterna em silêncio, sem justificar-se, com um sorriso e com um agradecido “obrigado” nos lábios, é sinal de que realmente estamos sendo movidos pelo Espírito de Deus, de que temos autêntico desejo de santidade e de que sabemos ver nas correções que nos fazem o interesse dos nossos irmãos em ajudar-nos. Tenhamos por certo que as pessoas que nos corrigem querem o nosso bem. Os pais, por exemplo, que amam os seus filhos não omitem a oportuna correção. Advertir, corrigir, aconselhar é sinal de carinho verdadeiro pelas pessoas; isto é, porque queremos o bem delas, procuramos afastar para longe delas tudo aquilo que possa fazer-lhes dano.

sábado, 12 de agosto de 2017

Homilética: 22º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "A Loucura da Cruz".


O Evangelho de hoje (Mateus 16,21-27) nos coloca naquelas dimensões do amor mais profundo e, portanto, autêntico. Quando Jesus anuncia por primeira vez que vai a Jerusalém para padecer e que será entregue à morte ali, e ressuscitará ao terceiro dia, se encontra com a reação, de boa fé, mas exagerada, de Pedro que quer impedir esse fracasso a Cristo. A resposta de Jesus hoje não é certamente de louvor, como no domingo passado, mas uma das mais duras palavras que saíram da boca de Jesus: “Afasta-te de mim, Satanás”. Cristo o convida-nos convida- a pensar como Deus e não como os homens. 

Levado pelo seu imenso carinho por Jesus, Simão procura afastá-Lo do caminho da Cruz, sem compreender ainda que ela será um grande bem para a humanidade e a suprema demonstração do amor de Deus por nós. Comenta São João Crisóstomo:”Pedro raciocinava humanamente e concluía que tudo aquilo- a Paixão e a Morte- era indigno de Cristo e reprovável.”

Pedro, naquele momento, não chega a entender que, por vontade expressa de Deus, a Redenção se tem de fazer mediante a Cruz e que “não houve meio mais conveniente de salvar a nossa miséria” (Sto. Agostinho).

Pensando apenas com uma lógica humana, é difícil entender que a dor, o sofrimento, aquilo que se apresenta como custoso, possa chegar a ser um bem. Até mesmo porque não fomos feitos para sofrer, pois todos aspiramos à felicidade.

O medo à dor é um impulso profundamente arraigado em nós, e a nossa primeira reação é de repulsa. Por isso, a mortificação, a penitência cristã, tropeça com dificuldades; não é fácil, e, ainda que a pratiquemos assiduamente, não acabamos nunca de acostumar-nos a ela.

A fé, no entanto, permite-nos ver-e experimentar que sem sacrifício não há amor, não há alegria verdadeira, a alma não se purifica, não encontramos a Deus. O caminho da santidade passa pela Cruz, e todo o apostolado fundamenta-se nela. Ensinava o Papa João Paulo II: “A Cruz é o livro vivo em que aprendemos definitivamente quem somos e como devemos atuar. Este livro está sempre aberto diante de nós” (Alocução, 01/04/1980). Devemos aproximar-nos dele e lê-lo; nele aprendemos quem é Cristo, o seu amor por nós e o caminho para segui- Lo. Quem procura a Deus sem sacrifício, sem Cruz, não O encontrará. Para ressuscitar com Cristo, temos que acompanha-Lo no seu caminho para a Cruz: aceitando as contrariedades e tribulações com paz e serenidade; sendo generosos na mortificação voluntária, que nos faz entender o sentido transcendente da vida e reafirmar o senhorio da alma sobre o corpo. Devemos ter em conta que a Cruz que anuncia Cristo é escândalo para uns e loucura e insensatez para outros (cf. 1 Cor 1,23).

Hoje vemos também muitas pessoas que não sentem as coisas de Deus, mas as dos homens. Têm o olhar posto nas coisas da terra, nos bens materiais, sobre os quais se lançam sem medida, como se fossem os únicos reais e verdadeiros. Disse Álvaro Del Portilho: "Este paganismo contemporâneo caracteriza-se pela busca do bem-estar material a qualquer custo, e pelo correspondente esquecimento – melhor seria dizer medo, autêntico pavor de tudo o que possa causar sofrimento. Com esta perspectiva, palavra como Deus, pecado , cruz, mortificação, vida eterna… acabam por ser incompreensíveis para um grande número de pessoas, que desconhecem o seu significado e sentido”.

Temos que lembrar a todos que não ponham o coração nas coisas da terra, que tudo é caduco, que envelhece e dura pouco. "Todos envelhecerão  como uma veste” (Hb 1,11). Somente a alma que luta por manter-se em Deus permanecerá numa juventude sempre maior até que chegue o encontro com o Senhor. Todas as outras coisas passam, e depressa.

Jesus recorda-nos hoje: "Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” (Mt 16,26). Antes, falou: "Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la.”

O cristão não pode passar por alto estas palavras de Jesus Cristo. Deve arriscar-se, jogar a vida presente em troca de conseguir a eterna. "Que pouco é uma vida para oferecê-la a Deus!…”(Caminho, nº 4 20).

A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade para a identificar com a de Deus, não aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos "Que queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, crêem que Deus Se satisfaz, medindo também a Deus por si, e não a si mesmo por Deus”.

“O Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”(Mt 16, 27). O Senhor, com estas palavras, situa cada homem, individualmente, diante  do Juízo Final. A salvação tem, pois, um caráter radicalmente pessoal!

O fim do homem não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na terra pela Graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo,apego aos bens temporais) e levar a Cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Como explica São Tomás: “o menor bem da graça é superior a todo o bem do universo” (Suma Teológica, I-II, q. 113, a. 9).

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Padre proíbe político pró-aborto de ler as Escrituras durante a Missa


A Catedral de St Colman’s em Cork não permitirá a Ken Curtin ler a Bíblia durante o serviço religioso porque ele é membro do partido Social Democrata, que apoia o aborto e repele a Oitava Emenda, que assegura proteção legal para mulheres e crianças não nascidas.

Pe. John McCarthy disse a Curtin que ele seria dispensado como leitor da Missa devido a sua luta contra uma emenda pró-vida.  


“[Pe. John] disse que devido às minhas posições pessoais, e enquanto fosse um membro do partido que apoia algo contra a crença da Igreja, eu não poderia mais ser um leitor”, disse Curtin, que perdeu a disputa pelo seu partido em Cork East durante as eleições.

Comentando depois de um encontro com o Bispo Crean, o Sr. Curtin disse que ele “teve uma boa audiência” e o bispo “escutou meu ponto de vista e expressou algumas opiniões próprias”. 


Numa declaração, a Diocese de Cloyne disse que “uma reunião frutífera e cordial foi realizada entre o Bispo Crean e Ken Curtin”, descrevendo o encontro como de “natureza pastoral”. Uma reunião envolvendo Pe. McCarthy seria realizada no futuro.

Depois de ter se encontrado com o bispo, Curtin disse que sentiu do Bispo Crean “que ele expressou a visão de que a pertença de uma pessoa a um partido político não deve ser motivo suficiente para excluí-la de ter uma função dentro da Igreja”.


“No entanto, ele afirmou acreditar que a visão de uma pessoa que repele a Oitava Emenda é uma questão diferente e ele teria um problema com alguém que sustenta uma visão contrária à da Igreja, rejeitando a Oitava Emenda e continuando no papel de leitor”. 

Padre Fábio de Melo fala pela primeira vez sobre sua saúde e a Síndrome do Pânico


Meus queridos amigos,

Saibam por mim o que sobre mim é verdade. Há 3 meses enfrentei um problema grave familiar. Desde então parei de dormir direito e passei a enfrentar uma angústia muito grande. Há 20 dias tive sintomas de síndrome do pânico, diagnóstico que já tinha tido 2 anos atrás e que superei muito rapidamente na época.

Desta vez foi muito diferente. Fiquei praticamente uma semana trancado em casa, com sensação de morte, tristeza profunda e medo de tudo. Nunca chorei tanto na minha vida. Meu amigo e médico Dr. Víctor Sorrentino recomendou-me uma psiquiatra de sua confiança. 

Desde então estou fazendo um tratamento. Os medicamentos fizeram uma enorme diferença. Tenho conseguido cumprir meus compromissos e procurado fazer uma rotina mais leve que me permita estar entre amigos que amo. Estou me sentindo bem melhor, ainda que não me sinta inteiro.

Papa ordena que instituto religioso belga deixe de oferecer eutanásia a doentes mentais sob pena de excomunhão.


O Papa Francisco ordenou que o Instituto Religioso “Irmãos da Caridade” na Bélgica pare de oferecer a eutanásia nos hospitais psiquiátricos por eles geridos. A ordem foi transmitida pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica ao Superior Geral do Instituto, Frei René Stockman, e o prazo é até esse mês de agosto. Caso a ordem não seja seguida, poderão seguir rígidas medidas canônicas, até a excomunhão.

O instituto religioso masculino de direito pontifício foi fundado por um sacerdote belga e aprovado em 1899. Em maio passado, o instituto havia anunciado que permitiria aos médicos praticar a eutanásia em seus 15 hospitais psiquiátricos na Bélgica.

Junto à Holanda, a Bélgica é o único país onde os médicos são legalmente autorizados a fazer a eutanásia em pessoas com problemas de saúde mental. Um dos critérios para a prática é o estado de “sofrimento insuportável” do paciente, além de ser necessário ao menos o parecer de três médicos, entre os quais um psiquiatra.

O superior da Congregação Católica na Bélgica, Raf De Rycke, em comunicado, havia dito que a eutanásia seria feita somente na falta de um “tratamento alternativo razoável” e que todo pedido seria examinado com a “máxima cautela”.

O superior-geral da Congregação, Irmão Rene Stockman, manifestou-se sobre o caso na época, dizendo que isso é inaceitável. Ele denunciou a forte pressão sofrida pela Ordem no que diz respeito à eutanásia e afirmou que “a secularização está arruinando a congregação na Bélgica”. 

Catequese do Papa: "Perdão divino - motor da esperança"


CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Ouvimos a reação dos convíveres de Simão o fariseu: “Quem é este homem que até perdoa pecados?” (Lc 7, 49). Jesus tinha feito um gesto escandaloso. Uma mulher da cidade, conhecida por todos como uma pecadora, entrou na casa de Simão, inclinou-se aos pés de Jesus e derramou sobre seus pés óleo perfumado. Todos aqueles que estavam ali à mesa murmuraram: se Jesus é um profeta, não deveria aceitar gestos do tipo de uma mulher como aquela. Aquelas mulheres, pobrezinhas, que serviam somente para ser encontradas às escondidas, também pelos chefes, ou para ser lapidadas. Segundo a mentalidade do tempo, entre o santo e o pecador, entre o puro e o impuro, a separação devia ser clara.

Mas a atitude de Jesus é diferente. Desde o início do seu ministério na Galileia, Ele aproxima os leprosos, os endemoniados, todos os doentes e os marginalizados. Um comportamento do tipo não era nada habitual, tanto é verdade que esta simpatia de Jesus pelos excluídos, os “intocáveis”, será uma das coisas que mais chamará a atenção de seus contemporâneos. Lá onde há uma pessoa que sofre, Jesus está lá, e aquele sofrimento se torna seu. Jesus não prega que a condição de pena deve ser suportada com heroísmo, à maneira dos filósofos históricos. Jesus partilha a dor humana e quando a enfrenta, do seu íntimo brota aquela atitude que caracteriza o cristianismo: a misericórdia. Jesus, diante da dor humana, sente misericórdia; o coração de Jesus é misericordioso. Jesus prova compaixão. Literalmente: Jesus sente tremar suas vísceras. Quantas vezes nos evangelhos encontramos reações do tipo. O coração de Cristo encarna e revela o coração de Deus, que lá onde está um homem ou uma mulher que sofre, quer a sua cura, a sua libertação, a sua vida plena.

É por isso que Jesus abre os braços aos pecadores. Quanta gente perdura também hoje em uma vida errada porque não encontra ninguém disponível para olhá-lo ou olhá-la de modo diferente, com os olhos, melhor, com o coração de Deus, isso é, olhá-los com esperança. Jesus, em vez disso, vê uma possibilidade de ressurreição também em quem acumulou tantas escolhas erradas. Jesus está sempre ali, com o coração aberto; abre aquela misericórdia que tem no coração; perdoa, abraça, entende, se aproxima: assim é Jesus!