segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O Gênio da Língua Hebraica (Capítulo 3 - Parte 2/4)


Não há dúvida, difícil é à maioria dos fiéis que desejem ler a Sagrada Escritura, adquirir o conhecimento dos idiomas originais. Todavia quem se compenetra da mentalidade ou do gênio semítico, torna-se capaz de discernir os matizes e as finuras de expressão que os livros sagrados, em boa tradução vernácula, lhe oferecem.

"O conhecimento mesmo das línguas originais se torna inútil, se não é vivificado por uma comunhão simpática e intuitiva com o gênio próprio da civilização à qual pertencia o escritor bíblico. É preciso aprender a ler entre as linhas e procurar penetrar aos poucos no ambiente de vida em que se movia o autor sagrado, ambiente que transparece no texto bíblico." 4

Pergunta-se, pois, quais as principais características de pensamento e linguagem dos autores bíblicos?

1. O gênio semita é intuitivo muito mais do que abstrativo. O que quer dizer: o judeu, ao perceber um objeto; não se preocupava grandemente com o discernimento de notas essenciais e acidentais do mesmo; apreendia-o e descrevia-o simplesmente com suas características concretas, individuais. O concreto interessava-o mais do que o abstrato.

Eis alguns casos em que o israelita, em vez de usar conceitos e termos abstratos, universais, se comprazia em circunlocuções de caráter mais concreto: Em lugar de dizer "tomar posse, dominar", o judeu às vezes preferia a expressão "lançar a sandália sobre...", que lembrava o gesto concreto ou o cerimonial da tomada de posse: 5

"Sobre Edom lançarei a minha sandália, Sobre a terra dos filisteus cantarei o meu triunfo" (Sl 59,10) cf. Sl 107,10; Gen 13,17; Dt 25,9; Jos 10,24; Rut 4,7.

A expressão "sentir-se feliz, alegre" podia ser substituída pelos dizeres "ter a alma saciada de gordura", visto ser a gordura sinal de suficiência ou plenitude, ainda hoje o alimento predileto dos árabes da Palestina:

"Minha alma será saciada como que de alimento gorduroso, E de meus lábios alegres prorromperá o teu louvor." (Sl 62,6; cf. Sl 35,9.)

Quando alguém se julgava "em perigo de vida", dizia concretamente que "trazia a sua alma nas mãos", já que "ter nas mãos" é a atitude que imediatamente precede a entrega:

"Minha alma está sempre em minhas mãos, mas não esqueço a tua lei." (Sl 118,109.) Cf. Jz 12,3; 1 Sam 19,5; Jó 13,14; Est 14,4.

"Expor a própria vida" ou "estar decidido a morrer" era equivalente a "tomar a própria carne entre os dentes", ou seja, morder-se:

"Tomo a minha carne entre os meus dentes, coloco a minha vida em minha mão." (Jó 13,14)

A ideia abstrata de posse ou de largueza, liberalidade era expressa pelo termo concreto "mão", já que a mão é o órgão que diretamente apreende ou distribui. Assim lê-se em Lev 5,7:

"Se sua mão não atingir o valor de uma ovelha...". O que quer dizer: "Se suas posses não lhe permitirem comprar uma ovelha”.

3 Rs 10,13: "O rei Salomão deu à rainha de Sabá tudo que ela desejava, como a mão do rei Salomão", isto é, "...de acordo com a opulência de um rei tal como Salomão";

Gen 43,34: "A porção de Benjamim era cinco mãos mais abundante que as porções de todos eles (seus irmãos)", frase em que "cinco mãos" significam "cinco vezes".

A figura de linguagem "mão curta" ou 'encurtada" designava parcimônia ao dar:

"A mão do Senhor seria curta demais? Verás sem demora se acontecerá ou não o que te disse!", falava Javé ao anunciar as codornizes no deserto (Num 11,23);

"A mão do Senhor não é curta demais para salvar." (Is 59,1.)

"Governar" tinha por sinônimo o termo mais concreto "julgar", e, em vez de 'Governador", podia-se dizer "Juiz", visto que, num povo primitivo, a função mais frequente de quem governa é a de julgar os litígios entre os súditos. Haja vista o título do livro dos "Juízes" (= governadores de Israel desde os tempos de Josué até a monarquia).

"Poder, força" era conceito expresso pelo vocábulo "chifre", pois é neste que parece residir a força de muitos animais:

"(Deus é) meu escudo é o chifre de minha salvação (= a força que me salva)" (SI 17,3.)

"Abaterei todos os chifres dos malvados, e os chifres dos justos serão exaltados." (S1 74,11.)

2. A tendência a fixar a atenção sobre os indivíduos concretos levava o hebreu a realçar o que há de dinâmico em cada ser; comprazia-se em considerar o comportamento e os efeitos de pessoas e coisas, mais do que o seu Valor estático, essencial. Assim tudo, de certo modo, se podia tomar vivo e agente, para o semita. 6

Os substantivos do vocabulário hebraico são os próprios verbos ou derivam-se de verbos; o verbo (ordinariamente constituído por três consoantes) é a palavra fundamental do léxico israelita. Isto bem mostra que o aspecto principal sob o qual o judeu visava cada objeto era o aspecto dinâmico, ativo. Em particular, note-se que o termo dabhar, que originariamente significava "palavra", podia igualmente designar "coisa", pois toda coisa era pelos judeus concebida primariamente como efeito, efeito, sim, direto ou indireto, da palavra criadora de Deus. Consequentemente às premissas até aqui expostas, tendia o semita a focalizar, acima de tudo, a importância vital, a mensagem prática, que pudesse estar ligada às pessoas ou coisas apreendidas. O orador e o escritor, ao dissertarem, baseavam-se muito na sua experiência pessoal e visavam despertar impressões semelhantes, muito vivas, nos seus ouvintes e leitores. Procuravam transmitir da maneira mais penetrante possível um estado de alma. Isto faz que uma página de literatura semita seja impregnada de movimento, variedade de pessoas e coisas que se sucedem com realismo; emoções, afetos diversos a perpassam. Já que a linguagem semita ficava particularmente ligada à experiência, diz-se que ela evocava ainda mais do que exprimia. 

domingo, 29 de outubro de 2017

Homilética: Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo - Ano A: "Cristo é Rei mas bem diferente dos nossos reis e chefes de estado".


A Igreja Católica celebra hoje (34º Domingo do Tempo Comum) com grande júbilo a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, com a qual fechamos o ano litúrgico. Deste modo, a liturgia comemora cada ano o mistério completo da Redenção do gênero humano, desde a espera da vinda do Salvador, ou seja, o Advento, até a celebração do Reinado universal e eterno de Jesus Cristo. Festa instituída pelo papa Pio XI em 1925.  “Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat”. Lá estão os louvores escritos com bronze triunfal no obelisco de Heliópolis, fincado na Praça de são Pedro.

As leituras deste domingo falam-nos do Reino de Deus (esse Reino de que Jesus é rei). Apresentam-no como uma realidade que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há de vir.

A primeira leitura utiliza a imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens. A imagem sublinha, por um lado, a autoridade de Deus e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da história; e sublinha, por outro lado, a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo.

O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, o “rei” Jesus a interpelar os seus discípulo acerca do amor que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.

Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse “Reino de Deus” de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e atuará como Senhor de todas as coisas (vers. 28).
 

Ao celebrar a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, desde o ano 1925, a Igreja não identifica nunca o poder real de Cristo com um poder temporal. Aquilo que o Senhor Jesus disse a Pilatos é uma sentencia a ter em conta à hora de considerar a festa de hoje: “o meu reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). O Papa que instituiu a festa de Cristo Rei, Pio XI, também deixava isso bem claro ao afirmar que a realeza de Cristo “é principalmente interna e respeita sobretudo a ordem espiritual” (Carta Encíclica “Quas Primas”, 11-12-1925, nº 12). Contudo, um reinado espiritual não exclui a potestade judiciária, legislativa e executiva do Rei Jesus. Todas as coisas, também as temporais, lhe estão submissas. Segue-se, portanto, que a legitima autonomia das realidades criadas não significa independência dessas mesmas coisas com respeito ao seu Criador, mas que a realidade criada tem leis ínsitas ao seu mesmo ser e que devem ser respeitadas. Estas leis naturais têm a Deus por autor e mostram que tudo lhe está submisso.

É um erro gravíssimo tentar retirar a Deus da sociedade dos homens, pois um mundo sem Deus não é habitável, se estraga e se condena. Não nos esqueçamos de que teremos que prestar contas a Deus da administração que fizemos dos bens que ele nos deu para que os trabalhássemos e os colocássemos a serviço dos outros. Justamente isso é o que nos fala o Evangelho de hoje: dar de comer, dar de beber, praticar a hospitalidade, visitar os enfermos, entre outras obras de misericórdia, tudo isso é uma clara manifestação de que estamos fazendo frutificar os dons que Deus nos concedeu e, consequentemente, de que estamos fazendo efetivo o reinado de Cristo neste mundo.

Tudo é de Deus. Mas ele quis que nós fôssemos seus administradores. Façamos a nossa tarefa, qualquer que seja, com competência, profissionalidade, amor a Deus e para o bem dos irmãos, oferecendo-lhe tudo o que somos e temos. Desta maneira não será difícil fazer que Cristo reine nas nossas inteligências, nas nossas vontades, nas nossas ações, em primeiro lugar; depois, Cristo reinará, através de nós, no nosso trabalho, na nossa família, entre os nossos amigos e conhecidos. Neste sentido, o apostolado é uma clara manifestação de que realmente desejamos que Cristo reine: quem ama a Deus sempre está a procura de que alguém também o ame.

Através de nós, Jesus tem que reinar no Brasil e no mundo, mas, repito, tem que começar em nós. Por exemplo, se queremos que ele reine no nosso trabalho é só começarmos o labor profissional com uma pequena oração feita no coração; depois, teremos que trabalhar bem, com a máxima perfeição humana e cristã; cada momento que nos lembrarmos, ofereceremos a Deus tudo o que está ao nosso redor; finalmente, terminaremos depositando o esforço e o suor da jornada nas mãos do Todo-Poderoso: do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Homilética: 33º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Espiritualidade do trabalho"


Aquele que recebeu cinco talentos e o que recebeu somente dois foram bons trabalhadores. Cada um deles, recebidos os talentos, “negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros” (Mt 25,16). É preciso trabalhar! Mais ainda, é preciso trabalhar bem! João Paulo II, na sua Carta Encíclica sobre o trabalho humano (“Laborem exercens”), falava de “elementos para uma espiritualidade do trabalho”. No entanto, ninguém duvida que a primeira coisa para falarmos de uma espiritualidade do trabalho é que se tenha um trabalho e se trabalhe. É verdade que nem sempre é fácil ter um trabalho. Há muitas pessoas desempregadas. Nesse sentido, a justiça social apela aos representantes responsáveis pelo bem comum da sociedade que se empenhem em criar cada vez mais postos de trabalho.

Mas também é verdade que alguém poderia não trabalhar ou trabalhar mal simplesmente porque é um preguiçoso. Como vencer a preguiça? Trabalhando. Uma boa lição deixou aos filhos aquele camponês que estava prestes a morrer. Conta-se que os seus filhos eram bem comodistas e o pai, já moribundo, disse-lhes: ‘meus filhos, estou morrendo, mas vou deixar como herança um campo e um tesouro que se encontra neste mesmo campo; vocês só terão que procurá-lo cavando o terreno’. Morto o pai, começou a caça ao tesouro. Vão cavando, revolvendo o terreno e… nada. Depois de, literalmente, cavar todo o terreno não encontraram nenhum tesouro; só então entenderam qual era o tesouro que o pai lhes tinha deixado: o trabalho.

O trabalho é um dom de Deus, que criou o homem para que trabalhasse (cf. Gn 2,15). No nosso trabalho nós temos que fazer como aqueles servos que negociaram e fizeram com que os talentos se multiplicassem. Eles sabiam que eram administradores de bens que não lhes pertenciam. E nós, o que somos? Administradores, servos, trabalhadores na vinha do Senhor, negociantes com os talentos de Deus. O Senhor nos pedirá conta da nossa administração. Temos que trabalhar santificando a nossa profissão.

O primeiro requisito para santificar o próprio trabalho, agradando ao Senhor e fazendo do trabalho um ambiente de apostolado, é fazê-lo bem: pontualidade, responsabilidade, honestidade, prudência, solidariedade etc. Essas e outras virtudes formam o cortejo das virtudes do trabalhador. Um cristão que deseja ser santo, mas desenvolve mal o seu trabalho pode vir a ser um autêntico contra testemunha do Evangelho: reza, mas não trabalha bem; vai à Missa, mas não é honesto nas relações de compra e venda; faz penitência, mas não pratica a pequena mortificação de chegar pontualmente ao trabalho; fala que todo mundo tem que ser bom, mas ele mesmo é não é justo com os seus funcionários… Mal serviço à evangelização! Ainda que participe de uns cinco grupos da paróquia, se não é bom trabalhador, bom pai de família e bom amigo dos seus amigos, não vai atrair para Deus, não estará se santificando, não estará vivendo uma boa espiritualidade.

É justamente em meio ao barulho do mundo, ao ruído das fábricas, à paciente leitura dos livros da faculdade, enfim, por ocasião dos diversos afazeres do cotidiano nós encontramos a Deus, ele nos espera em meio a essas coisas. Fugir dessa realidade é fugir do mundo real e seria, portanto, fugir do encontro com Deus. Nesse sentido, as palavras de S. Francisco de Sales são atuais para animar-nos a viver essa “espiritualidade do trabalho” da qual falava o grande João Paulo II: “a prática da devoção tem que atender à nossa saúde, às nossas ocupações e deveres particulares. Na verdade, Filotéia, seria porventura louvável se um bispo fosse viver tão solitário como um cartuxo? Se pessoas casadas pensassem tão pouco em juntar para si um pecúlio, como os capuchinhos? Se um operário frequentasse tanto a igreja como um religioso o coro? Se um religioso se entregasse tanto a obras de caridade como um bispo? Não seria ridícula tal devoção, extravagante e insuportável? Entretanto, é o que se nota muitas vezes, e o mundo, que não distingue nem sequer a devoção verdadeira da imprudência daqueles que a praticam desse modo excêntrico, censura e vitupera a devoção, sem nenhuma razão justa e real” (S. Francisco de Sales, Filotéia, 1,3).

Vamos continuar negociando com os nossos talentos. Há momentos nos quais precisamos ser fortalecidos para continuar com esse empenho firme e alegre: santificar a realidade profissional, a de todos os dias. Vamos fortalecer-nos na Missa dominical, e até diária se possível; na meditação diária da Palavra de Deus; na reza quotidiana do Terço; nas visitas ao Santíssimo. Todas essas práticas de piedade são como um “posto de combustível” aonde o carrinho da nossa alma vai se reabastecer para continuar caminhando, encontrando e amando a Deus, conversando com ele em todos os momentos da nossa jornada.

Homilética: 32º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "A preparação para a vinda do Senhor".


A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum convida-nos à vigilância. O evangelho de hoje faz parte do discurso escatológico de Jesus, referente ao fim dos tempos. A parábola das dez jovens sinaliza a situação da comunidade mateana: a demora da “volta de Jesus” desanima alguns seguidores do Mestre. A atenção se volta ao modo como as jovens (que representam os discípulos) lidam com a demora do noivo.

Há dois grupos de jovens: as insensatas e as sensatas. Os termos sensato e insensato identificam os que obedecem ou não aos ensinamentos de Jesus, os que são fiéis ou infiéis no seguimento do Mestre.

Como o noivo atrasou, todas elas dormiram. O problema não está em dormirem, mas sim em não estarem preparadas para ir ao encontro do noivo quando acordam. O próprio Jesus alertava seus discípulos, dizendo que a sua chegada era incerta e, portanto, havia a necessidade de vigilância.

Vigilância não é ficar aguardando alguém de braços cruzados, mas sim manter as lâmpadas acesas, ou seja, ser luz para a comunidade, dar testemunho. A lamparina, para iluminar, precisa estar acesa e, para tanto, necessita do óleo. A lamparina é a parte visível e o óleo a invisível. Não adianta viver só de aparências. Insensatez é levar só a lâmpada; sensatez é ter a lamparina abastecida de óleo. Quem cuida só da aparência é o distraído, o insensato; o prudente cuida de tudo, também da aparência.

Prudência é levar lâmpada e óleo, estar preparado para o imprevisível. A demora da parusia não constitui problema para o discípulo sensato, pois está preparado para participar do banquete das núpcias, no qual pode desfrutar da alegria e da comunhão com Deus no seu reino. A festa nupcial é metáfora ideal para falar do banquete do Reino, ao qual todos são convidados, ainda que nem todos atendam ao convite.

O evangelho conclui com o alerta: Vigiai, pois não sabeis o dia. A parábola mostra que estar preparado é assumir o próprio compromisso, não esperar pelos outros. As lâmpadas acesas podem simbolizar a comunidade que se lança à missão de ser “luz do mundo”. O óleo seriam as boas obras, que iluminam a vida da comunidade. 

“Reforma” não, revolução

Já se passaram 500 anos desde a revolução de Lutero. Não é mais tempo de polêmica, mas de entendimento e reconciliação. Mas nunca à custa da verdade e do que realmente nos revela a história.

Há uma grande confusão hoje em dia no que diz respeito à figura de Lutero, e convém deixar claro que, do ponto de vista da teologia dogmática e da doutrina da Igreja, ele foi responsável, não por uma reforma, mas por uma revolução, isto é, uma mudança total dos fundamentos da fé católica. Tampouco seria realista afirmar que sua intenção tenha sido apenas a de lutar contras alguns abusos no uso das indulgências ou contra os pecados da Igreja da Renascença. Abusos e pecados, sempre os houve dentro da Igreja, não só durante o Renascimento, mas ainda nos dias de hoje. Constituímos a Santa Igreja em virtude da graça de Deus e dos sacramentos, mas todos os homens pertencentes a ela são pecadores, todos precisam de perdão, de arrependimento, de penitência.

Esta distinção é muito importante. Em seu livro de 1520, De Captivitate Babylonica Ecclesiæ, aparece com absoluta clareza que Lutero renunciou a todos os princípios da fé católica, da Sagrada Escritura, da Tradição apostólica, do magistério do Papa e dos Concílios, do episcopado. Nesse sentido, Lutero destruiu o conceito de desenvolvimento homogêneo da doutrina cristã, tal como explicado na Idade Média, e chegou a negar os sacramentos como sinais eficazes da graça neles contida, substituindo essa eficácia objetiva por uma fé subjetiva. Lutero aboliu cinco sacramentos e, além disso, negou a Eucaristia: o seu caráter sacrificial e a conversão real da substância do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Jesus Cristo. E não só isso. Afirmou que o sacramento da ordem, tanto episcopal quanto presbiteral, é uma invenção do Papa — para ele, o Anticristo —, e não parte da Igreja de Jesus Cristo. Nós, porém, cremos que a hierarquia sacramental, em comunhão com o sucessor de Pedro, é um elemento essencial da Igreja Católica, e não apenas o princípio de uma organização humana.

É por isso que não podemos aceitar que a reforma de Lutero seja entendida como uma reforma da Igreja, em sentido católico. Só é católica a reforma que significa uma renovação na graça e nos costumes da fé de sempre, uma renovação espiritual e moral dos cristãos, e não uma “refundação”, uma “nova” Igreja.

Particularidades de linguagem dos semitas (Capítulo 3 – Parte 1/4)


No capítulo anterior, dizia-se que a inspiração divina não extingue a contribuição do escritor humano na redação dos livros sagrados. É o que nos leva agora a investigar e analisar as particularidades de expressão e estilo com que os autores do Antigo e do Novo Testamento marcaram as páginas bíblicas.

Três são os idiomas comumente ditos sagrados, idiomas de que Deus se quis servir para falar aos homens na Bíblia: o hebraico, o aramaico e o grego.

O adjetivo "hebraico" se deriva do nome do Patriarca Heber ('Êbher ou 'Ibhri, um dos pósteros de Sem, filho de Noé (cl. Gên 10,21-25). Foi de Heber que tomou nome o povo oriundo de Abraão, também descendente de Sem: o povo hebreu", cuja língua materna, tradicional, é o hebraico. 1
  

Entre outros descendentes de Sem, conta-se ainda Arara, do qual tomou nome a nação Araméia ou Síria, residente na Sina e na Alta Mesopotâmia; era dotada de língua muito semelhante ao hebraico, mais rica, porém, e sutil do que este. O aramaico se foi tornando cada vez mais comum entre os povos do Oriente (principalmente em suas relações diplomáticas; cf. 4 Rs 18,26), de modo a vir a ser nos séc. IV/III a.C. a língua usual do próprio povo de Abraão (cf. Ne 13,24), ficando o hebraico reservado para o culto sagrado; no tempo de Cristo, era o aramaico o idioma falado entre os judeus.

Os idiomas hebraico e aramaico, portanto, pertencem ao grupo das línguas semíticas. 2

Em hebraico foram redigidos quase todos os livros do Antigo Testamento. O aramaico é o idioma original de fragmentos do Antigo Testamento (Dan 2,4b-7,28; Esdr 4,8-6,18; 7,12-26; Jer 10,11), assim como do Evangelho de S. Mateus, o qual, porém, hoje só existe em tradução grega.

É possível que também os livros de Tobias e Judite, dos quais atualmente só se conhecem traduções, hajam sido redigidos originariamente em aramaico.

Em grego foram concebidos, no Antigo Testamento, o livro da Sabedoria e o 2º dos Macabeus; outrossim todo o Novo Testamento (com exceção do Evangelho de S. Mateus). 

sábado, 28 de outubro de 2017

Os novelistas da Globo e a Família Tradicional


Se querem diálogo dialoguemos. Se querem confronto confrontemos.

E Globo não tem medo de nós e nós também não temos medo da Globo.

Não sei se vc percebeu, mas o conflito e a ojeriza que se instalou entre a família tradicional e a família mutante e avançada foi causada pelos novelistas da Globo. 

A Globo ganhou rios de dinheiro com as audiências que os novelistas lhe deram. E eles foram ficando cada dia mais ousados. 

Quando veio a reação, lenta mas inquietante para quem moviera bilhões de $$$, a Globo não sabe como voltar atrás. 

O SBT, a RECORD e a BANDEIRANTES, não porque sejam mais respeitosas em outros programas, mas porque nas suas entrevistas e outras mensagens defendem a família tradicional, estão carreando para si a audiência das famílias feridas na sua autoridade, na sua fé e nos seus conceitos de Homem/mulher/ e filhos. 

Foi e continua guerra de conceitos. E os novelistas na sua maioria vestiram a camisa da Globo e a Globo vestiu a camisa e a nudez dessas novelas, com exceção de alguns artistas.

Quando levaram o debate para auditórios entre o que é avançado e o que é tradição, o conflito atingiu os artistas, porque estes agora já não estavam representando o que os novelistas escreviam e sim defendendo como artistas suas próprias ideias.  Sobrou para os artistas.

Agora o povo religioso (são milhões, mais do que a audiência da Globo) distingue entre deputados, artistas e diretores sérios e os inimigos de pai/mãe e filhos: família.

Se o conflito persistir não haverá governo para subsidiar as perdas deste canal!  

Fogo! Socorro! Acudam!


Junto com a divulgação da imoralidade fantasiada de arte e a propaganda maciça do homossexualismo travestido de respeito à diversidade, reaparece a doutrinação da Ideologia de Gênero, também com ares de liberdade e de orientação sexual.      São Paulo já advertia: “Fostes chamados à liberdade. Porém, não façais da liberdade um pretexto para servirdes à carne” (Gl 5, 13). A família está sendo alvo de ataques que visam a sua destruição. Se a crise social, política e familiar por que passamos é, sobretudo, moral, essa propaganda em nada a faz diminuir, mas, pelo contrário, aumenta-a rompendo todas as barreiras éticas que deveriam pautar o comportamento humano. Os bons ficam acuados. A família perde seus direitos na educação dos seus filhos, que se tornam alvo fácil da propaganda destruidora da moral. E os meios de comunicação, através de novelas e entrevistas direcionadas, vão divulgando essa mentalidade de modo bem orquestrado. 

É preciso dar um basta! É preciso que as forças morais de toda a humanidade se levantem e deem o seu brado de inconformidade com tudo isso. É hora de gritar com São Luiz Maria Grignion de Montfort: “Fogo! fogo! fogo! Socorro! socorro! socorro!... Socorro, que assassinam nosso irmão! Socorro, que degolam nossos filhos!...”. 

A Igreja levanta a sua voz de repúdio a tudo isso: sua doutrina clara já condena esses erros. É preciso que os católicos sejam lógicos e coerentes com o que a Igreja lhes ensina.

É hora, principalmente de os leigos agirem. Não fiquem se perguntando: o que a Igreja vai falar ou fazer sobre isso? Vocês também são a Igreja. A pergunta deve ser: o que nós estamos fazendo contra tudo isso? Não fiquem esperando pelos pastores. As ovelhas têm o direito de se defenderem dos lobos que as atacam. Falem, protestem, escrevam, alertem os filhos, os amigos. Gritem nas redes sociais! Pais de família, reajam! É preciso que o mundo escute a voz dos bons e saiba que ainda existem famílias corretas, pessoas de bem e de coragem que não concordam com a imposição dessas ideologias.