A liturgia do 32º Domingo do Tempo
Comum convida-nos à vigilância. O evangelho de hoje faz parte do discurso escatológico de Jesus, referente ao fim dos tempos. A parábola das dez jovens sinaliza a situação da comunidade mateana: a demora da “volta de Jesus” desanima alguns seguidores do Mestre. A atenção se volta ao modo como as jovens (que representam os discípulos) lidam com a demora do noivo.
Há dois grupos de jovens: as insensatas e as sensatas. Os termos sensato e insensato identificam os que obedecem ou não aos ensinamentos de Jesus, os que são fiéis ou infiéis no seguimento do Mestre.
Como o noivo atrasou, todas elas dormiram. O problema não está em dormirem, mas sim em não estarem preparadas para ir ao encontro do noivo quando acordam. O próprio Jesus alertava seus discípulos, dizendo que a sua chegada era incerta e, portanto, havia a necessidade de vigilância.
Vigilância não é ficar aguardando alguém de braços cruzados, mas sim manter as lâmpadas acesas, ou seja, ser luz para a comunidade, dar testemunho. A lamparina, para iluminar, precisa estar acesa e, para tanto, necessita do óleo. A lamparina é a parte visível e o óleo a invisível. Não adianta viver só de aparências. Insensatez é levar só a lâmpada; sensatez é ter a lamparina abastecida de óleo. Quem cuida só da aparência é o distraído, o insensato; o prudente cuida de tudo, também da aparência.
Prudência é levar lâmpada e óleo, estar preparado para o imprevisível. A demora da parusia não constitui problema para o discípulo sensato, pois está preparado para participar do banquete das núpcias, no qual pode desfrutar da alegria e da comunhão com Deus no seu reino. A festa nupcial é metáfora ideal para falar do banquete do Reino, ao qual todos são convidados, ainda que nem todos atendam ao convite.
O evangelho conclui com o alerta: Vigiai, pois não sabeis o dia. A parábola mostra que estar preparado é assumir o próprio compromisso, não esperar pelos outros. As lâmpadas acesas podem simbolizar a comunidade que se lança à missão de ser “luz do mundo”. O óleo seriam as boas obras, que iluminam a vida da comunidade.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Textos: Sab
6, 12-16; 1 Tess 4, 13-18; Mateus 25, 1-13
Olhemos estas virgens do evangelho de hoje. São ignorantes e desprevenidas. Por
isso fazem quatro coisas inúteis: pedem às outras que as salvem – já não é
tempo-; saem de noite para buscar vendedores -é um absurdo-; chegam quando a
porta já está fechada -obvio- e gritam – sem ser escutadas-: “Senhor,
Senhor, abre-nos”. Resultado? “Não vos conheço”. Moral da
história? Temos que estar preparados para a segunda vinda de Cristo e não estar
perdendo azeite da nossa lâmpada durante o caminho da vida por negligencia, por
estar brincando no carrossel da fortuna e com os dados do prazer. Eu, como são
Paulo, sim creio na segunda vinda (segunda leitura). E por isso quero estar
preparado e acordado. E quero ajudar os outros a preparar-se comigo. Desta
maneira, quando vier o Senhor nos encontrará com a lâmpada da fé acesa, com o
azeite da caridade derramando-se por essa lâmpada, com a consciência tranquila
e com a paz na alma esperando o abraço de Deus.
Olhemos
a Cristo, aqui apresentado como o Esposo, pois o que lá teremos e saborearemos
serão as bodas eternas com o nosso Salvador e os seus amigos que se mantiveram
fiéis à aliança. A metáfora das bodas simboliza a relação de amor, de índole
nupcial, que se realiza entre Deus e cada um de nós. Por que este Esposo Cristo
chega tarde, de improviso? Por que esse grito na noite? Cristo abre a porta às
virgens sensatas que estavam acordadas e tinham tudo preparado e entram na
festa de bodas. E a porta se fecha detrás delas. Puderam entrar porque encheram
de azeite os seus frascos, e assim impediram que a caridade, que é a chama da
alma, se extinguisse. Não podemos dormir. Um automobilista não pode permitir-se
o luxo de dirigir dormindo; um médico não pode se ausentar de uma operação
delicada e ir embora para dormir; um piloto de avião não pode converter a sua
cabina num salão dormitório. Um só instante de sono seria fatal para tais
pessoas e causaria um desastre nunca justificável. Assim na nossa vida cristã.
O que está dizendo para nós esta parábola tão repleta de lições? Justamente
isto: primeiro que estamos na vida para ir para a eternidade,
isto é, esse encontro com Cristo que está já preparando esse banquete de bodas
definitivo, pois aqui na terra o banquete da Eucaristia é através do sinal e do
véu do sacramento; não percamos a rota; segundo, que temos que
encher sempre a lâmpada da nossa fé com o azeite da caridade e do amor, pois só
assim Jesus nos reconhecerá e daremos com a porta no meio da escuridão do
caminho; finalmente, que se não fazemos isto entraremos desgraçadamente dentro
do grupo dos ignorantes e fátuos e seremos excluídos do banquete e escutaremos
de Cristo: “Não te conheço”. Com isto, o Senhor nos está
alertando que junto com a possibilidade da salvação final, existe a
possibilidade da condenação eterna, que muitos hoje querem negar, tendo como
escudo este sofisma: “Deus é tão bom, que não permitirá que ninguém se
condene”. Deus é sério. “De Deus ninguém zomba. O que o homem semear,
isso colherá” (cf. Gal 6,7). Se estivemos brincando com a lâmpada da
fé comprando outras velas no supermercado das seitas, talvez se quebre. Quem
não alimentar essa lâmpada com a caridade, se apagará.
PARA REFLETIR
Em
duas ocasiões distintas Jesus contou duas parábolas cujo conteúdo apela pela
prudência e pela vigilância antes de sua morte destacando-se o tema da
preparação para a vinda do Senhor. A das dez virgens (Mateus 25,1-13) e a dos
talentos (Mateus 25,14-30). Essas foram, aparentemente, contadas em particular
aos seus discípulos (Mateus 24,3). Na primeira parábola, dez virgens saíram ao
encontro do noivo, empolgadas com as alegrias vindouras da festa de casamento.
Todas estavam presentes; todas estavam esperando o noivo; todas se sentiam
satisfeitas com a sua preparação, pois estavam cochilando e dormindo, e todas
tinham lâmpadas. A diferença entre as cinco virgens prudentes e as cinco tolas
era que as cinco prudentes trouxeram óleo junto com suas lâmpadas. O tempo da
preparação tinha-se passado. Enquanto as virgens tolas estavam comprando óleo,
o noivo chegou e elas foram deixadas fora do casamento para sempre. Como você
está esperando pelo seu Senhor? Você está vigiando? A que temperatura está o
termômetro da tua prudência? Jesus decretou a sentença tanto para as dez
virgens como para mim e para ti: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a
hora” na qual o Filho do Homem vem!
Na
segunda parábola, um homem que ia viajar para um país distante confiou talentos
aos seus servos. A um ele deu cinco, a outro dois e a outro um, distribuindo-os
de acordo com a capacidade de cada servo. Os dois servos, um com cinco e o
outro com dois talentos, duplicaram o que lhes tinha sido confiado, resultando
em louvor e recompensa de seu senhor. O servo com um talento, agindo com temor,
foi preguiçoso. Ele escondeu o talento que lhe havia sido dado em vez de usá-lo
para obter rendimentos, suscitando a ira de seu senhor e a perda do talento que
lhe havia sido entregue. Como e onde você escondeu tudo o que recebeu de Deus?
Há
muita semelhança entre as duas parábolas. Vemos nestas duas parábolas a grande
e muita expectativa pelo Senhor que vem. As dez virgens estavam esperando o
noivo. Os servos sabiam que seu senhor voltaria. O noivo, ou o senhor, que
retorna, naturalmente, é Jesus Cristo. Ele há de voltar. Não há desculpas a
quem deixa de aguardar sua volta.
Saiba
que todas as dez virgens tinham feito alguma preparação. Os dois servos, um com
cinco e o outro com dois talentos, tinham-se preparado, obviamente; e até mesmo
o servo com um talento tinha feito alguma preparação, mantendo cuidadosamente
em segurança seu único talento até a volta de seu senhor. Por isso não fique de
braços cruzados. Prepare-se para a vinda do teu Senhor. Em breve Ele chegará.
Note que, como vimos nas duas parábolas, há preparação adequada contrastada com
negligência. Não houve o despreparo completo, mas negligência: negligência em
abandonar algum mau hábito; negligência em confessar os pecados cometidos;
negligência em desenvolver os frutos do Espírito; negligência em tirar vantagem
completa das oportunidades que Deus coloca diante deles; em resumo, negligência
em tornar-se como seu Senhor. Como vai a tua preparação? Está sendo com
inteligência ou negligência?
É
verdade que nas duas parábolas houve demora na chegada. “E, tardando o noivo”.
O senhor dos servos voltou “depois de muito tempo”. Só que isso não deve ser
motivo para o desleixo. É muito fácil para as pessoas mal interpretarem a
demora da vinda do Senhor. Elas veem isso como motivo para descuido e
descrença, quando deviam vê-la como evidência da longanimidade do Senhor que
conduz à salvação. E você, como tem agido ante a demora de Deus?
Aqui
não vale encostar-se à sua esposa, marido, pais ou filhos. A responsabilidade
individual. As virgens prudentes não podiam compartilhar seu óleo com as tolas.
O servo de um talento não podia sentir-se confortável com o fato de oito talentos
terem-se tornado quinze. Cada um tinha que prestar contas pelo que tinha feito
pessoalmente. Assim será quando o Senhor retornar. Nenhum pai será capaz de
partilhar um pouco da sua fidelidade com os seus filhos; nenhum esposo com a
sua esposa ou vice-versa; nenhum amigo com outro amigo. Ninguém poderá se gabar
dizendo “veja o que nós fizemos”; ele só pode obter a graça na base de sua
própria preparação e prudência. A salvação é individual e não coletiva.
Pois
Deus nos conhece pelo nome e assim nos trata. No final de tudo haverá a
escolha. Deus há de mandar os seus anjos para separar os bons dos maus. As
cinco virgens prudentes entraram com o noivo no casamento, enquanto as cinco
tolas não puderam entrar. Os servos dos cinco e dos dois talentos entraram na
alegria de seu senhor, enquanto o de um talento foi lançado fora, nas trevas. A
expressão “Fechou-se a porta”, encontrada na parábola das dez virgens, é uma
das expressões mais tristes nas Escrituras para todos aqueles que não estiverem
preparando prudentemente a vinda do Senhor.
Muito bom, bem explicado e objetivo.
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