Dois dias após a condenação do padre Marcos Roberto Ferreira a 33 anos de prisão por abuso de dois adolescentes em Joinville, o pai de um dos garotos, que é afilhado do religioso, contou ao G1 sobre o sofrimento da família assim que os crimes vieram a público e disse que houve falta de apoio da igreja católica.
Após o pai ver o menino perder amigos e se sentir discriminado na comunidade religiosa que frequentava, ele decidiu colocar a casa e o negócio da família à venda e recomeçar em outro município.
O pai, que tem a identidade preservada para a proteção do adolescente, contou que o garoto, na época com 13 anos, estava sofrendo preconceito. "As pessoas na igreja começaram a olhá-lo de um jeito diferente, mas ele é a vítima. As pessoas começaram a nos ofender nas redes sociais. Foi muita hipocrisia”, afirmou.
Os crimes ocorreram em 2017 na paróquia de Pirabeiraba, distrito de Joinville, onde o réu passou a morar depois de atuado em São Francisco do Sul, cidade na qual administrou a paróquia de Santa Paulina por quase cinco anos.
Os abusos eram cometidos na casa do padre, lugar em que os meninos iam dormir a pedido dele. As vítimas relataram os abusos aos pais, que procuraram a polícia. Laudos periciais, elaborados a partir da análise de um psicólogo da Polícia Civil, comprovaram que os crimes ocorreram.
Quando o processo começou, o pai disse que 42 pessoas testemunharam a favor do padre e que precisou contratar um advogado para defender o filho.
“De repente, estávamos só nossa família e nossos amigos contra toda aquela gente em defesa do padre. No início, o bispo nos recebeu e disse que nos daria todo o apoio, mas depois quando o processo avançou, nos virou as costas. A igreja nos virou as costas”, afirma.
Para o pai, nos momentos mais difíceis, a igreja não ofereceu apoio. “O advogado nos cobrou pelo trabalho dele, então, fui pedir ajuda ao bispo, que nem nos recebeu. Um padre do [setor] financeiro da Mitra disse que não tinha nada a ver com isso e comparou nosso filho a uma televisão. Ele disse: ‘se você compra uma televisão e ela dá defeito, o problema é de quem?’”, contou.
Sem auxílio, a família explicou que precisou recorrer ao parcelamento dos honorários do advogado. “Estou pagando até hoje. Graças a Deus ele me deu a possibilidade de pagar aos poucos".
Diante da situação, o pai disse que a família deixou de frequentar a igreja.