segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Letônia: "Apostem pela liberdade no desenvolvimento integral", pede o Papa em encontro com as autoridades


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
[22-25 DE SETEMBRO DE 2018]

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, 
A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Letônia - Salão de Recepções do Palácio Presidencial de Riga 
Segunda-feira, 24 de setembro de 2018


Senhor Presidente
Membros do Governo e Autoridades,
Membros do Corpo Diplomático e da sociedade civil,
Queridos amigos todos!

Agradeço-lhe, Senhor Presidente, as suas amáveis palavras de boas-vindas bem como o convite para vos visitar, que me fez durante o encontro que tivemos no Vaticano. É motivo de alegria poder-me encontrar pela primeira vez na Letônia e nesta cidade que, como todo o vosso país, sofreu duras provações sociais, políticas, econômicas e mesmo espirituais, devidas às divisões e conflitos do passado; hoje, porém, tornou-se um dos principais centros culturais, políticos e portuários da região. Os vossos expoentes nos campos da cultura e da arte e, em particular, do mundo musical são bem conhecidos além-fronteiras. Hoje mesmo, tive a possibilidade de os apreciar na minha chegada ao aeroporto. Por isso, creio que bem se podem aplicar a vós as palavras do Salmista: «Tu converteste o meu pranto em festa» (Sal 30/29, 12). A Letônia, terra dos dainas, soube mudar o seu pranto e o seu sofrimento em canto e festa e esforçou-se por se transformar num lugar de diálogo e encontro, de convivência pacífica que procura olhar para diante.

Estais a celebrar o centenário da vossa independência, momento significativo na vida da sociedade inteira. Conheceis bem o preço desta liberdade, que tivestes de conquistar uma e outra vez. Uma liberdade que se tornou possível graças às raízes que vos constituem, como gostava de lembrar Zenta Maurina que serviu de inspiração a muitos de vós: «As minhas raízes estão no céu». Sem esta capacidade de olhar para o alto, de fazer apelo a horizontes mais altos, que nos lembram aquela «dignidade transcendente» que é parte integrante de todo o ser humano (cf. Discurso ao Parlamento Europeu, 25 de novembro de 2014), não teria sido possível a reconstrução da vossa nação. Esta capacidade espiritual de olhar mais além, que se concretiza em pequenos gestos diários de solidariedade, compaixão e ajuda mútua, sustentou-vos conferindo-vos, por sua vez, a criatividade necessária para dar vida a novas dinâmicas sociais contra todas as tentativas reducionistas e de exclusão que sempre ameaçam o tecido social.

Esta é a mensagem que o Papa escreveu no museu das vítimas do comunismo na Lituânia


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
[22-25 DE SETEMBRO DE 2018]

VISITA AO MUSEU DAS OCUPAÇÕES E DAS LUTAS PELA LIBERDADE

ORAÇÃO DO SANTO PADRE

Lituânia - Vilna   
Domingo, 23 de setembro de 2018


«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?» (Mt 27, 46).

O vosso grito, Senhor, não pára de ressoar, ecoando dentro destas paredes que recordam os sofrimentos vividos por tantos filhos deste povo. Lituanos e originários de diferentes nações sofreram na sua carne o delírio de omnipotência daqueles que tudo pretendiam controlar.

No vosso grito, Senhor, ecoa o grito do inocente que se une à vossa voz e se eleva para o céu. É a Sexta-feira Santa do sofrimento e da amargura, da desolação e da impotência, da crueldade e do absurdo que viveu este povo lituano face à ambição desenfreada que endurece e cega o coração.

Neste lugar da memória, nós Vos imploramos, Senhor, que o vosso grito nos mantenha despertos. Que o vosso grito, Senhor, nos liberte da doença espiritual que sempre nos tenta como povo: esquecer-nos dos nossos pais, de quanto viveram e sofreram.

Papa Francisco recorda os mártires assassinados pelos totalitarismos na Lituânia


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
[22-25 DE SETEMBRO DE 2018]

ENCONTRO COM OS SACERDOTES, 
RELIGIOSOS, RELIGIOSAS, CONSAGRADOS, CONSAGRADAS
 E SEMINARISTAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Lituânia - Catedral de S. Pedro e S. Paulo em Kaunas
Domingo, 23 de setembro de 2018


Amados irmãos e irmãs, boa tarde!

Antes de mais nada, gostaria de expressar um sentimento que me vai na alma. Ao contemplar-vos, vejo atrás de vós tantos mártires. Mártires anónimos, não sabendo nós sequer onde foram sepultados. Inclusive alguns de vós: saudei um, que soube o que era a prisão. Para começar, vem-me à mente uma palavra: não vos esqueçais, fazei memória. Sois filhos de mártires: esta é a vossa força. E que o espírito do mundo não vos venha dizer outra coisa diferente da que viveram os vossos antepassados. Recordai os vossos mártires e imitai o seu exemplo: não tinham medo. Hoje, ao falar com os Bispos – os vossos Bispos –, eles diziam: «Como se pode fazer para introduzir a Causa de Beatificação de muitos que nem documentos temos, mas sabemos que são mártires?» É consolador, é bom ouvir isto: a preocupação com aqueles que nos deram testemunho. São santos.

O Bispo [Linas Vodopjanovas OFM, encarregado da vida consagrada] disse sem meias palavras (os franciscanos falam assim): «Muitas vezes hoje, de várias maneiras, é colocada à prova a nossa fé – afirmou ele; e não estava a pensar nas perseguições dos ditadores –. Depois de corresponder à chamada da vocação, muitas vezes já não sentimos alegria na oração nem na vida comunitária».

O espírito da secularização, do tédio por tudo o que diz respeito à comunidade é a tentação da segunda geração. Os nossos pais lutaram, sofreram, estiveram encarcerados… e nós talvez não tenhamos a força de continuar. Tende isto em conta!

A Carta aos Hebreus faz uma exortação: «Não vos esqueçais dos primeiros dias. Não vos esqueçais dos vossos antepassados» (cf. 10, 32-39). Esta é a exortação que vos dirijo ao começar.

Toda a visita ao vosso país decorreu sob este lema: «Jesus Cristo, nossa esperança». Já quase no final deste dia, encontramos um texto do apóstolo Paulo que nos convida a esperar com constância. E faz este convite depois de nos ter anunciado o sonho de Deus para cada ser humano, mais ainda, para toda a criação: «tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28); a tradução literal seria «endireita» todas as coisas.

Lituânia: Homilia do Papa Francisco na Missa celebrada em Kaunas


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
[22-25 DE SETEMBRO DE 2018]

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Lituânia - Parque Sántakos em Kaunas
Domingo, 23 de setembro de 2018


São Marcos dedica uma parte inteira do seu Evangelho ao ensinamento dirigido aos discípulos. É como se, a meio do caminho para Jerusalém, Jesus quisesse que os seus renovassem a sua opção, sabendo que este seguimento comportaria momentos de provação e sofrimento. O evangelista narra aquele período da vida de Jesus, lembrando que Ele anunciou, em três ocasiões, a sua paixão; e eles, por três vezes, expressaram a sua perplexidade e resistência, e o Senhor quis deixar-lhes um ensinamento, em cada uma das três ocasiões. Acabamos de ouvir a segunda destas três sequências (cf. Mc 9, 30-37).

A vida cristã sempre atravessa momentos de cruz e, às vezes, parecem intermináveis. As gerações passadas viram gravar a fogo o tempo da ocupação, a angústia daqueles que eram deportados, a incerteza por aqueles que não voltavam, a vergonha da delação, da traição. O livro da Sabedoria fala-nos do justo perseguido, daquele que sofre insultos e tormentos pelo simples facto de ser bom (cf. 2, 20-20). Quantos de vós poderiam contar em primeira pessoa, ou na história de algum parente, esta mesma passagem que foi lida? Quantos de vós viram também vacilar a sua fé, porque Deus não apareceu para vos defender; porque o facto de permanecer fiéis não foi suficiente para que Ele interviesse na vossa história. Kaunas conhece esta realidade; toda a Lituânia o pode testemunhar sentindo arrepios à simples nomeação da Sibéria, ou dos guetos de Vilna e Kaunas, entre outros; e pode corroborar em uníssono com o apóstolo Tiago, na passagem da sua Carta que escutamos: cobiçam, matam, invejam, lutam e fazem guerra (cf. 4, 2).

Mas, os discípulos não queriam que Jesus lhes falasse de sofrimento e de cruz; não querem saber nada de provações e angústias. E São Marcos lembra que o interesse deles ia para outras coisas: voltavam para casa discutindo sobre qual deles seria o maior. Irmãos, o desejo de poder e glória é o modo mais comum de se comportar daqueles que não conseguem curar a memória da sua história e, talvez por isso mesmo, não aceitam sequer comprometer-se no trabalho do momento presente. E então discute-se sobre quem mais brilhou, quem foi mais puro no passado, quem possui mais direito do que os outros a ter privilégios. E assim negamos a nossa história, «que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 96). É uma atitude estéril e vã, que se recusa a envolver-se na construção do presente, perdendo o contacto com a dolorosa realidade do nosso povo fiel. Não podemos ser como aqueles «peritos» espirituais que se limitam a julgar de fora e passam o tempo inteiro a falar sobre «o que se deveria fazer» (cf. ibid., 96).

Lituânia: "No ímpio, o mal procura sempre aniquilar o bem", diz Papa


ANGELUS
Lituânia, Kaunas, Parque Sántakos
Domingo, 23 de setembro de 2018

Amados irmãos e irmãs!Amados irmãos e irmãs!

O livro da Sabedoria, que escutamos na primeira leitura, fala-nos do justo perseguido, daquele cuja simples presença já incomoda os ímpios. O ímpio é descrito como a pessoa que oprime o pobre, não tem compaixão da viúva, nem respeita o idoso (cf. 2, 17-20). O ímpio tem a pretensão de pensar que a sua força é a norma da justiça. Submeter os mais frágeis, usar a força sob qualquer forma, impor um modo de pensar, uma ideologia, um discurso dominante, usar a violência ou a repressão para dobrar aqueles que, simplesmente com o seu agir honesto, simples, operoso e solidário de todos os dias, manifestam que é possível outro mundo, outra sociedade. Ao ímpio, não lhe basta fazer o que lhe apraz, deixar-se guiar pelos seus caprichos; também não quer que os outros, fazendo o bem, ressaltem este seu modo de proceder. No ímpio, o mal procura sempre aniquilar o bem.

Há setenta e cinco anos, esta nação assistia à definitiva destruição do Gueto de Vilna; culminava, assim, o aniquilamento de milhares de judeus, que começara dois anos antes. À semelhança do que se lê no livro da Sabedoria, o povo judeu passou por ultrajes e tormentos. Façamos memória daqueles tempos e peçamos ao Senhor que nos conceda o dom do discernimento para descobrir, a tempo, qualquer novo germe daquele comportamento pernicioso, qualquer aragem que atrofie o coração das gerações que, não o tendo experimentado, poderiam correr atrás daqueles cantos de sereia.

No Evangelho, Jesus lembra-nos uma tentação a propósito da qual deveremos vigiar atentamente: a ânsia de ser os primeiros, de predominar sobre os outros; tentação esta, que pode esconder-se em todo o coração humano. Quantas vezes sucedeu que um povo se julgou superior, com mais direitos adquiridos, com maiores privilégios a preservar ou conquistar! Qual é o remédio proposto por Jesus, quando surge tal impulso no nosso coração e na mentalidade duma sociedade ou dum país? Fazer-se o último de todos e o servo de todos; permanecer no lugar para onde ninguém quer ir, aonde nada chega, na periferia mais distante; e servir, criando espaços de encontro com os últimos, com os descartados. Se o poder se deixasse guiar por isto, se permitíssemos ao Evangelho de Cristo chegar às profundezas da nossa vida, então a globalização da solidariedade seria verdadeiramente uma realidade. «Enquanto no mundo, especialmente nalguns países, se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos “a carregar as cargas uns dos outros” (Gal 6, 2)» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 67).

sábado, 22 de setembro de 2018

Papa Francisco envia mensagem ao Círio de Nazaré


O Papa Francisco enviou uma mensagem na qual saúda todos os fiéis que participarão do Círio de Nazaré, o qual acontece anualmente no segundo domingo de outubro, neste ano, dia 14 do próximo mês.

A mensagem, assinada pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, em nome do Santo Padre, expressa a saudação do Pontífice “os fiéis reunidos na querida Arquidiocese de Belém do Pará, vindos de todos os cantos da Amazônia, para agradecer e renovar aos pés da sua amada Padroeira Senhora de Nazaré, seus pedidos”.

Entre esses pedidos, Francisco sublinha o da intercessão da Virgem “pelos trabalhos preparatórios para o Sínodo Extraordinário dos Bispos para a Amazônia”, que está previsto para ocorrer em outubro de 2019.

Confira:

Papa no encontro com os jovens, na Lituânia: "Ninguém pode dizer: «Eu salvo-me sozinho»".


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
Encontro com os jovens na Catedral de Vilnius, na Lituânia
Sábado, 22 de setembro de 2018

Obrigado, Mónica e Jonas, pelo vosso testemunho! Recebi-o como vindo de um amigo, como se estivéssemos juntos sentados nalgum bar, contando as coisas da vida, tomando uma cerveja ou uma ghira, depois de ter estado no Jaunimo Teatras.

Mas a vossa vida não é uma obra teatral; é real, concreta, como a de cada um de nós que estamos aqui, nesta bela praça situada entre estes dois rios. E tudo isto talvez nos possa servir para reler as vossas histórias e, nelas, descobrir a passagem de Deus... Porque Deus passa sempre na nossa vida.

Como esta catedral, atravessastes situações que vos levavam ao colapso, incêndios dos quais parecia não poderdes mais recuperar. Várias vezes este templo foi devorado pelas chamas, ruiu, mas sempre houve aqueles que decidiram reconstruí-lo, não se deixaram vencer pelas dificuldades, não deixaram cair os braços. A própria liberdade da vossa pátria está construída sobre aqueles que não se deixaram abater pelo terror e a desgraça. A vida, a condição e a morte do teu pai, Mónica, e a tua doença, Jonas, poderiam ter-vos destroçado; e todavia estais aqui a partilhar a vossa experiência com um olhar de fé, fazendo-nos descobrir que Deus vos deu a graça para suportar, levantar-vos, continuar a caminhar na vida.

Como se derramou em vós esta graça de Deus?

Através de pessoas que cruzaram a vossa vida, pessoas boas que vos nutriram com a sua experiência de fé. Mónica, a tua avó e a tua mãe, a paróquia franciscana foram para ti como a confluência destes dois rios: tal como o rio Vilna se junta ao Neris, assim tu te agregaste, te deixaste conduzir por esta corrente de graça. Porque o Senhor salva, fazendo-nos parte dum povo. Ninguém pode dizer: «Eu salvo-me sozinho»; mas estamos todos interligados, «em rede». Deus quis entrar nesta dinâmica de relações e atrai-nos a Si em comunidade, dando à nossa vida um sentido pleno de identidade e pertença (cf. Exort. ap. Gaudete et exsultate, 6). Também tu, Jonas, encontraste nos outros, na tua esposa e na promessa feita no dia do matrimónio, motivo para prosseguir, lutar, viver. Não permitais que o mundo vos faça crer que é melhor caminhar sozinhos. Não cedais à tentação de vos concentrar em vós próprios, de vos tornar egoístas ou superficiais perante a dor, as dificuldades ou o sucesso passageiro. Reafirmemos que, «aquilo que acontece ao outro, acontece a mim»; andemos contracorrente relativamente a este individualismo que isola, que nos torna egocêntricos e vaidosos, preocupados apenas com a imagem e o próprio bem-estar.

Apostai na santidade a partir do encontro e comunhão com os outros, atentos às suas necessidades (cf. ibid., 146). A nossa verdadeira identidade pressupõe a pertença a um povo. Não existem identidades «de laboratório», nem identidades «destiladas». Cada um de nós conhece a beleza mas também a fadiga e, muitas vezes, a tribulação de pertencer a um povo. Aqui está enraizada a nossa identidade; não somos pessoas sem raízes.

Papa chama ao encontro entre povos: “Construímos demasiadas fortalezas”


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
Visita ao Santuário Mater Misericordiae na Lituânia
Sábado, 22 de setembro de 2018

Amados irmãos e irmãs!

Encontramo-nos diante da «Porta da Aurora», ou seja, tudo o que resta das muralhas desta cidade que serviam para se defender de qualquer perigo e provocação, mas que o exército invasor, em 1799, destruiu completamente, deixando apenas esta porta: já então estava ali colocada a imagem da «Virgem da Misericórdia», a Santíssima Mãe de Deus que está sempre pronta a socorrer-nos, a vir em nosso auxílio.

Ela, já desde então, queria ensinar-nos que se pode proteger sem atacar, que é possível ser prudentes sem a necessidade doentia de desconfiar de todos. Esta Mãe sem o Menino, toda dourada, é a Mãe de todos; em cada um daqueles que aqui se deslocam, Ela vê o que muitas vezes nós próprios não conseguimos sequer notar: o rosto de seu Filho Jesus gravado no nosso coração.

E, dado que a imagem de Jesus está colocada como um selo em todo o coração humano, cada homem e cada mulher oferecem-nos a possibilidade de nos encontrarmos com Deus. Quando nos fechamos em nós próprios com medo dos outros, quando construímos muros e barricadas, acabamos por nos privar da Boa Nova de Jesus, que conduz a história e a vida dos outros. Construímos demasiadas fortalezas no nosso passado, mas hoje sentimos a necessidade de nos olharmos de frente reconhecendo-nos como irmãos, de caminhar juntos descobrindo e experimentando, jubilosa e pacificamente, o valor da fraternidade (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 87). Todos os dias vem aqui visitar a Mãe da Misericórdia uma multidão de pessoas provenientes de muitos países: lituanos, polacos, bielorrussos e russos; católicos e ortodoxos. Hoje isto tornou-se possível pela facilidade das comunicações, a liberdade de circulação entre os nossos países. Como seria bom se, à facilidade de se deslocar dum lugar para outro, se juntasse também a facilidade de estabelecer pontes de encontro e solidariedade entre todos, de fazer circular os dons que gratuitamente recebemos, de sair de nós mesmos para nos darmos aos outros, aceitando por nossa vez a presença e a diferença dos outros como um dom e uma riqueza na nossa vida.

Às vezes parece que o fato de nos abrimos ao mundo nos lance para espaços de competição, onde «o homem é lobo para o homem» e onde há lugar só para o conflito que nos divide, para as tensões que nos consomem, para o ódio e a inimizade que não levam a parte nenhuma (cf. Exort. ap. Gaudete et exsultate, 71-72).