domingo, 7 de julho de 2019

"Marcha pra Jesus": quando as "estrelas da terra" brilham mais que a "Luz do Mundo".


A chamada “Marcha para Jesus” ocorrida no feriado de Corpus Christi (20/06), assustou a grande mídia. Segundo o Jornal Nacional, a 27ª edição do tradicional evento gospel “impressiona por estar crescendo ano a ano”[1], já que, segundo os organizadores, foram mais de 3 milhões de participantes em São Paulo, contando com 4.500 caravanas de todo país e do exterior[2].

Festival de música gospel e polêmicas para todos os gostos

O sucesso incontestável do evento também conhecido pela imprensa como “festival de música gospel”, caminha lado a lado com as polêmicas que envolvem a sua organização.

Em janeiro, o pastor da Assembleia de Deus (Ministério Vitória em Cristo), Silas Malafaia, utilizou as redes[3] para denunciar a perseguição que a Marcha para Jesus estaria sofrendo pelo Poder Judiciário do Rio de Janeiro, uma vez que em 2013, o Ministério Público ajuizou ação contra algumas autoridades e o próprio Malafaia na condição de  presidente do Conselho dos Ministros Evangélicos do Estado do Rio de Janeiro (COMERJ), entidade organizadora do evento na capital. Considerando a possibilidade de indício de improbidade administrativa no apoio financeiro da prefeitura no valor de R$ 1,6 milhão, a 3ª Vara de Fazenda Pública recebeu a denúncia, causando revolta no pastor, que dentre outros argumentos, ponderou que todo o valor gasto foi detalhado e aprovado pelo Tribunal de Contas do município.

O pastor Malafaia reclamou do relativismo do Judiciário ao não agir da mesma forma com os organizadores do Carnaval e a “Parada Gay”, na qual  – além de receber recursos públicos – haveria prática de “crime”, quando alguns participantes vilipendiam imagens de religião. Malafaia também conjecturou sobre a suposta militância ideológica da juíza Mirela Erbisti, que em seu canal no YouTube teria promovido a “defesa de transgêneros”.

A extrema-imprensa, por sua vez, não abandonou sua narrativa malévola para estigmatizar evangélicos e tentar promover acirramento do sectarismo no país aproveitando a “oportunidade de ouro” com o “discurso” de um cantor gospel. Com a manchete “Marcha para Jesus tem recado para católicos e desafio para fé de multidão em SP[4]”, a Folha de São Paulo inicia sua reportagem tendenciosamente medíocre afirmando: “Nossa Senhora Aparecida, tida por católicos como a padroeira do país, não tem vez na Marcha para Jesus”. A declaração não veio de organizadores do evento, mas sim, de um dos aproximadamente 30 cantores que se apresentaram no palco. Fernandinho teria dito: “o Brasil não tem uma senhora, o Brasil tem um Senhor, e o nome dele é Jesus”, causando reação dos católicos nas redes[5]. Os organizadores do evento preferiram ignorar o ataque afrontoso à igreja católica em pleno feriado religioso.

Aliás, como o intuito maior do jornal não era relatar os acontecimentos da “Marcha para Jesus”, a reportagem passou a frisar que a relação entre os dois maiores segmentos religiosos (católicos e evangélicos), “nem sempre foi boa”, salientando que o AUGE DA HOSTILIDADE seu deu em 1995, quando num programa da Record, um bispo da Igreja Universal chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Foram buscar no “fundo do baú” um lamentável ato de intolerância da referida igreja neopentecostal que causou repugnância das igrejas evangélicas tradicionais. Mas, se a finalidade era deslegitimar o evento de real natureza pacífica para rotulá-lo como “intolerante”, não deixou de ser uma “estratégia” num país em que alguns religiosos de diversos segmentos trocam ofensas nas redes para impor à “força e violência verbal” a sua fé ou ridicularizar a crença alheia…

Palavra de Vida: «Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10, 8).



No Evangelho de Mateus, Jesus dirige este forte convite aos seus discípulos, àqueles que Ele iria “enviar”. Ele próprio tinha encontrado, pessoalmente, uma humanidade desanimada e sofredora, e teve compaixão dela.

Por isso mesmo, quer multiplicar a sua obra de salvação, de cura e de libertação, através dos Apóstolos. Estes reúnem-se em redor de Jesus, ouvem as suas palavras e recebem uma missão, um objetivo para as suas vidas. Depois, põem-se a caminho, para testemunhar o amor de Deus por cada pessoa.

«Recebestes de graça, dai de graça».

O que foi que os Apóstolos receberam “gratuitamente”, que devessem dá-lo também de graça?

Através das palavras, dos gestos e das escolhas de Jesus e de toda a Sua vida, os Apóstolos experimentaram a misericórdia de Deus. Apesar das suas fraquezas e dos seus limites, receberam a nova Lei do amor, do acolhimento recíproco.

Muito especialmente, receberam o tesouro que Deus quer dar a todos os homens: a sua presença, a sua companhia pelos caminhos da vida, a sua luz para iluminar as escolhas de cada um. São dádivas preciosas, sem preço. Ultrapassam toda a nossa capacidade de retribuição, são dádivas “gratuitas”, precisamente.

Estes tesouros foram confiados aos Apóstolos e a todos os cristãos, para que se tornem, por sua vez, canais de distribuição destes bens para todos aqueles com que se encontrarem diariamente.

«Recebestes de graça, dai de graça». 

Chiara Lubich escreveu, em outubro de 2006:

«Ao longo de todo o Evangelho, Jesus convida a dar: dar aos pobres, dar a quem pede, dar a quem precisa de um empréstimo; dar de comer a quem tem fome, dar também a capa a quem nos pedir a túnica; dar gratuitamente… Ele próprio foi o primeiro a dar: a saúde aos enfermos, o perdão aos pecadores, a vida a todos nós. Ao instinto egoísta de açambarcar, opõe a generosidade. À tendência de nos concentrarmos só naquilo de que precisamos, opõe o dar atenção aos outros. À cultura do possuir, opõe a cultura do dar. (…) A Palavra de Vida deste mês poderá ajudar-nos a redescobrir o valor de cada uma das nossas ações: desde os trabalhos em casa ou no campo e na oficina, à resolução dos assuntos do escritório, aos deveres da escola, assim como as responsabilidades no âmbito civil, político e religioso. Tudo se pode transformar em serviço atento e solícito. O amor dar-nos-á olhos novos para intuir aquilo de que os outros têm necessidade e para ir ao seu encontro, com criatividade e generosidade. E qual o fruto? Haverá uma circulação de bens, porque o amor atrai amor. A alegria multiplicar-se-á, porque “há mais alegria em dar do que em receber”(At20, 35)»(1).

É uma experiência deste género que nos conta a Vergence, uma adolescente do Congo: «Um dia, ia para a escola cheia de fome. Pelo caminho encontrei um tio meu que me deu dinheiro para comprar um pão, só que, um pouco mais à frente, vi um homem muito pobre. Pensei imediatamente em dar-lhe o dinheiro que levava. A amiga que ia comigo disse-me para não o fazer, pois tinha que pensar em mim! Mas eu pensei: amanhã arranjarei comida, mas ele? Portanto, dei-lhe o dinheiro do meu pão. Imediatamente senti uma grande alegria no coração».

«Recebestes de graça, dai de graça». 

sábado, 29 de junho de 2019

Herético e apóstata. Cardeal Brandmüller excomunga o sínodo da Amazônia.


UMA CRÍTICA AO “INSTRUMENTUM LABORIS
PARA O SÍNODO DA AMAZÔNIA


De fato, pode causar espanto que, em contraste com as assembleias anteriores, desta vez o sínodo dos bispos se ocupe exclusivamente de uma região da terra cuja população é apenas a metade daquela da Cidade do México, ou seja, 4 milhões. Isto também causa suspeita no tocante às verdadeiras intenções que alguns gostariam de ver implementadas sub-repticiamente. Mas, acima de tudo, devemos nos perguntar quais são os conceitos de religião, de cristianismo e de Igreja que são a base do recém-publicado “Instrumentum laboris”. Tudo isso será examinado com o apoio de elementos individuais do texto.

Por que um sínodo nessa região?

Para começar, precisamos nos perguntar por que um sínodo de bispos deveria tratar de temas que — como é o caso de três quartos do “Instrumentum laboris” — têm só marginalmente algo relacionado com os Evangelhos e a Igreja. Obviamente, que a partir deste sínodo de bispos, realiza-se uma intromissão agressiva em assuntos puramente mundanos do Estado e da sociedade do Brasil. Há que se perguntar: o que a ecologia, a economia e a política têm a ver com o mandato e a missão da Igreja?

E acima de tudo: que competência profissional e autoridade tem um sínodo eclesial de bispos para emitir declarações nesses campos?

Se o sínodo dos bispos realmente o fizesse, isso constituiria uma invasão e uma presunção clerical, que as autoridades estatais teriam todo motivos para repelir.

Sobre as religiões naturais e a inculturação

Há outro elemento a se levar em conta, que é encontrado em todo o “Instrumentum laboris”: vale dizer, a avaliação muito positiva das religiões naturais, incluindo práticas curativas indígenas e similares, bem como práticas e formas de cultos mítico-religiosos. No contexto do chamado à harmonia com a natureza, fala-se até de diálogo com os espíritos (nº 75).

Não é apenas o ideal do “bom selvagem” esboçado por Rousseau e pelo Iluminismo, que aqui é comparado com o decadente homem europeu. Essa linha de pensamento vai além, até o século XX, culminando com uma idolatria panteísta da natureza.

Hermann Claudius (1913) criou o hino do movimento operário socialista: “Quando andamos lado a lado …”, e numa estrofe se lê: “Verde das bétulas e verde das sementes, que a velha Mãe Terra semeia com as mãos cheias, com um gesto de súplica para que o homem se torne seu … “. Vale notar que este texto foi posteriormente copiado no livro de cânticos da Juventude Hitlerista, provavelmente porque correspondia ao mito do “sangue e solo” nacional-socialista. Esta proximidade ideológica deve ser enfatizada: esta rejeição anti-racional da cultura “ocidental” que sublinha a importância da razão, é típica do “Instrumentum laboris”, que fala respectivamente da “Mãe Terra” no n. 44 e do “grito da terra e dos pobres” no n.101.

Consequentemente, o território – isto é, as florestas da região amazônica – pasmem, vem até declarado como um “locus theologicus”, uma fonte especial de revelação divina. Nela haveria lugares de uma epifania em que se manifestam as reservas de vida e sabedoria do planeta e que falam de Deus (nº 19). Além disso, a conseqüente regressão do Logos ao Mythos é elevada a um critério do que o “Instrumentum laboris” chama de inculturação da Igreja. O resultado é uma religião natural com uma máscara cristã.

A noção de inculturação é aqui virtualmente distorcida, pois na verdade significa o oposto do que a Comissão Teológica Internacional havia apresentado em 1988 e diferente do que havia ensinado anteriormente o decreto “Ad Gentes” do Concílio Vaticano II, sobre a atividade missionária da Igreja.

Sugestões para o Clero chinês respeitando a liberdade de consciência


TEXTO INTEGRAL DO DOCUMENTO VATICANO
SOBRE AS ORIENTAÇÕES PASTORAIS DA SANTA SÉ
SOBRE O REGISTRO CIVIL DO CLERO NA CHINA

Há tempo, chegam à Santa Sé, da parte dos Bispos da China, pedidos de uma indicação concreta acerca do comportamento a ser assumido diante da obrigação de apresentar o pedido de registro civil. A esse respeito, como se sabe, muitos Pastores permanecem profundamente perplexos, porque a modalidade desse registro - obrigatória segundo os novos regulamentos sobre as atividades religiosas, com pena de impossibilitar a ação pastoral do bispo ou sacerdote - envolve, quase sempre, a assinatura de um documento no qual, não obstante o compromisso assumido pelas Autoridades chinesas de respeitar a doutrina católica, deve declarar que aceita, entre outras coisas, o princípio da independência, autonomia e autoadministração da Igreja na China.

A complexidade da realidade chinesa e o fato de que no país parece não existir outra praxe aplicativa dos regulamentos para os assuntos religiosos, tornam particularmente difícil pronunciar-se em matéria. A Santa Sé, por um lado não pretende forçar a consciência de ninguém. Por outro, considera que a experiência da clandestinidade não pertence à normalidade da vida da Igreja, e que a história demonstrou que Pastores e fiéis a ela recorrem somente no tormentoso desejo de manter íntegra a própria fé (cf. n. 8 da Carta de Bento XVI aos católicos chineses de 27 de maio de 2007). Por isso a Santa Sé continua a pedir que o registro civil do Clero ocorra com a garantia de resepitar a consciência e as profundas convicções católicas das pessoas envolvidas. De fato, somente assim, pode-se favorecer seja a unidade da Igreja seja a contribuição dos católicos ao bem da sociedade chinesa.

No que se refere à avaliação da eventual declaração que se deve assinar no momento do registro, em primeiro lugar é necessário considerar que a Constituição da República Popular da China declara formalmente que tutela a liberdade religiosa (art.36). Em segundo lugar, o Acordo Provisório de 22 de setembro de 2018 reconhecendo o papel peculiar do Sucessor de Pedro, leva logicamente a Santa Sé a entender e interpretar a “independência” da Igreja Católica na China não no sentido absoluto, ou seja, como separação do Papa e da Igreja universal, mas relativo à esfera política, segundo o que acontece em todas as partes do mundo nas relações entre o Papa e uma Igreja particular ou entre Igrejas particulares. De resto, afirmar que a identidade católica não pode ser separada do Sucessor de Pedro, não significa querer fazer de uma Igreja particular um corpo estranho à sociedade e à cultura do país onde ela vive e atua. Em terceiro lugar, o contexto atual das relações entre a China e a Santa Sé caracterizado por um consolidado diálogo entre as duas partes, é bem diferente do contexto dos anos Cinquenta do século passado quando nasciam organismos patrióticos. Em quarto lugar, acrescenta-se o fato de grande importância que no decorrer dos anos, muitos Bispos ordenados sem mandato apostólico solicitaram e receberam a reconciliação com o Sucessor de Pedro, de modo que hoje, todos os Bispos chineses estão em comunhão com a Sé Apostólica e desejam uma integração cada vez maior com os Bispos católicos de todo o mundo.

Diante desses fatos, é legítimo esperar um novo comportamento por parte de todos, também para enfrentar as questões práticas referentes à vida da Igreja. Da parte sua a Santa Sé continua a dialogar com as Autoridades chinesas sobre o registro civil dos Bispos e dos sacerdotes para encontrar uma fórmula que, no ato do registro, respeite não apenas as leis chinesas, mas também a doutrina católica.

Enquanto isso, baseados nos fatos acima, se um Bispo ou um sacerdote decide se registrar civilmente, mas o texto da declaração para o registro não parece respeitoso à fé católica, ele esclarecerá por escrito durante a assinatura que faz isso sem deixar de lado a fidelidade à doutrina católica. Se não for possível esclarecer por escrito, o solicitante a fará verbalmente, possivelmente com a presença de uma testemunha. Em todos os casos, é oportuno que o solicitante comunique imediatamente ao próprio Bispo as circunstâncias com que foi realizada. De fato, isso tem como único objetivo o de favorecer o bem da comunidade diocesana e o seu crescimento no espírito de unidade, assim como uma evangelização adequada às novas exigências da sociedade chinesa e a gestão responsável dos bens da Igreja.

Ao mesmo tempo, a Santa Sé compreende e respeita a escolha dos que, conscientemente, decidem não se registrar nas atuais condições. A Santa Sé permanece próxima a eles e pede ao Senhor ajuda para custodiar a comunhão com os próprios irmãos na fé, mesmo diante das provas que todos deverão enfrentar.

Bento XVI: o Papa é um só, Francisco


“A unidade da Igreja está sempre em perigo, há séculos. Foi assim em toda a sua história. Guerras, conflitos internos, ameaças de cismas. Mas sempre prevaleceu a consciência de que a Igreja é e deve ficar unida. A sua unidade sempre foi mais forte do que as lutas e as guerras internas”. Esta é a certeza de Bento XVI que recorda a todos: “O Papa é um só, Francisco”.

A sua preocupação pela unidade da Igreja é ainda mais forte nos tempos atuais, nos quais os cristãos mostram-se muitas vezes divididos em público e confrontam-se também em exaltadas discussões, muitas vezes usando de modo absolutamente impróprio o nome de Ratzinger. As palavras de Bento foram concedidas ao jornal Corriere della Sera, que anuncia a próxima publicação de um diálogo com o Papa emérito.

Papa: única medida possível para quem segue Jesus é amar sem medida


SANTA MISSA E BÊNÇÃO DOS PÁLIOS
PARA OS NOVOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS
NA SOLENIDADE DOS SANTOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basilica Vaticana
Sábado, 29 de junho de 2019

Os apóstolos Pedro e Paulo aparecem aos nossos olhos como testemunhas. Nunca se cansaram de anunciar, viver em missão, a caminho, desde a terra de Jesus até Roma. E aqui levaram o seu testemunho até ao fim, dando a vida como mártires. Se formos às raízes do seu testemunho, descobrimo-los testemunhas de vida, testemunhas de perdão e testemunhas de Jesus.

Testemunhas de vida… e, todavia, as suas vidas não foram límpidas nem lineares. Eram ambos de índole muito religiosa: Pedro, discípulo da primeira hora (cf. Jo 1, 41); Paulo, acérrimo defensor das tradições dos pais (cf. Gal 1, 14). Mas cometeram erros enormes: Pedro chegou a negar o Senhor; Paulo, a perseguir a Igreja de Deus. Ambos reentram em si por uma pergunta de Jesus: «Simão, filho de João, tu amas-Me?» (Jo 21, 15); «Saulo, Saulo, porque Me persegues?» (At 9, 4). Pedro fica pesaroso com as perguntas de Jesus; Paulo, encandeado pelas suas palavras. Jesus chamou-os pelo seu nome e mudou a sua vida. E, depois de todas estas aventuras, fiou-Se deles, dois pecadores arrependidos. Poderíamos perguntar-nos: Porque é que o Senhor não nos deu duas testemunhas integérrimas, com a ficha limpa, com a vida ilibada? Porquê Pedro, quando havia João? Porquê Paulo e não Barnabé?

Nisto, encerra-se uma grande lição: o ponto de partida da vida cristã não está no facto de ser dignos; com aqueles que se julgavam bons, bem pouco pôde fazer o Senhor. Quando nos consideramos melhores que os outros, é o princípio do fim. O Senhor não realiza prodígios com quem se crê justo, mas com quem sabe que é indigente. Não é atraído pela nossa habilidade, não é por isso que nos ama. Ele ama-nos como somos, e procura pessoas que não se bastam a si mesmas, mas estão prontas a abrir-Lhe o coração. Pedro e Paulo apresentaram-se assim transparentes diante de Deus. Pedro disse-o imediatamente a Jesus: «Sou um homem pecador» (Lc 5, 8). Paulo escreve que era «o menor dos apóstolos, nem [era] digno de ser chamado Apóstolo» (1 Cor 15, 9). E, na vida, mantiveram-se nesta humildade até ao fim: Pedro crucificado de cabeça para baixo, porque se julgava indigno de morrer como o seu Senhor; Paulo sempre afeiçoado ao seu nome, que significa «pequeno», esquecendo-se do que recebeu no nascimento, Saulo, nome do primeiro rei do seu povo. Compreenderam que a santidade não está no elevar-se mas em humilhar-se: não é uma subida na classificação, mas confiar dia a dia a própria pobreza ao Senhor, que realiza grandes coisas com os humildes. Qual foi o segredo que, no meio das fraquezas, os fez continuar para diante? O perdão do Senhor.

Descubramo-los, pois, como testemunhas de perdão. Nas suas quedas, descobriram a força da misericórdia do Senhor, que os regenerou. No seu perdão, encontraram uma paz e alegria irreprimíveis. Com o mal que fizeram, poderiam viver com sentimentos de culpa: quantas vezes terá Pedro pensado na sua negação! Quantos escrúpulos para Paulo, que fizera mal a tantas pessoas inocentes! Humanamente, faliram; mas encontraram um amor maior do que os seus fracassos, um perdão tão forte que curava até os seus sentimentos de culpa. Só quando experimentamos o perdão de Deus é que renascemos verdadeiramente. Recomeça-se daqui: do perdão. Reencontramo-nos a nós mesmos aqui: na confissão dos nossos pecados.

Testemunhas de vida, testemunhas de perdão, Pedro e Paulo são sobretudo testemunhas de Jesus. No Evangelho de hoje, Jesus pergunta: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?» As respostas evocam personagens do passado: João Batista, Elias, Jeremias ou alguns dos profetas. Pessoas extraordinárias, mas todas mortas. Diversamente, Pedro responde: «Tu és o Cristo» (cf. Mt 16, 13.14.16), isto é, o Messias. Uma palavra que não indica o passado, mas o futuro: o Messias é o esperado, a novidade, aquele que traz ao mundo a unção de Deus. Jesus não é o passado, mas o presente e o futuro. Não é um personagem distante para lembrar, mas alguém a quem Pedro trata por «tu»: Tu és o Cristo. Para a testemunha, mais do que um personagem da história, Jesus é a pessoa da vida: é o novo, não o já visto; a novidade do futuro, não uma lembrança do passado. Por isso, não é testemunha quem conhece a história de Jesus, mas quem vive uma história de amor com Jesus. Porque, no fundo, o que a testemunha anuncia é apenas isto: Jesus está vivo e é o segredo da vida. De fato, vemos que, depois de ter dito «Tu és o Cristo», Pedro acrescenta: «o Filho de Deus vivo» (16, 16). O testemunho nasce do encontro com Jesus vivo. E, no centro da vida de Paulo, encontramos a mesma palavra que transborda do coração de Pedro: Cristo. Paulo repete esse nome continuamente: quase quatrocentas vezes nas suas cartas! Para ele, Cristo não é apenas o modelo, o exemplo, o ponto de referência: é a vida. Escreve: «Para mim, viver é Cristo» (Flp 1, 21). Jesus é o seu presente e o seu futuro, a ponto de, à vista da sublimidade do conhecimento de Cristo, considerar o passado como lixo (cf. Flp 3, 7-8).

quarta-feira, 26 de junho de 2019

No Iraque a Igreja fica até o fim

 
No Iraque a Igreja fica até o fim para ajudar os cristãos que sofreram a invasão do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) em agosto de 2014. Dom Petros Mouche é o responsável pela Arquidiocese Católica Siríaca de Mossul. Ela é a segunda maior cidade do Iraque e também foi invadida pelo EI. Hoje, com o EI expulso de Mossul e das planícies de Nínive, as comunidades cristãs estão lentamente voltando à vida. Milhares de fiéis iraquianos, depois de terem passado mais de três anos no exílio no Curdistão, se estabeleceram em suas antigas casas, aldeias e cidades. Em uma entrevista à Fundação Pontifícia ACN, o Arcebispo Dom Mouche – que também é responsável pela Igreja Católica Siríaca em Kirkuk e no Curdistão – faz um balanço da situação.

Organizações Religiosas e Humanitárias tiveram papel importante

A mudança positiva ocorreu em nossa região – ninguém pode negar isso. As coisas podem ainda não estar no nível exigido, mas há sinais muito claros e concretos de progresso. Mas nenhum crédito vai para o Estado: o crédito pertence às organizações religiosas e humanitárias que correram para nos apoiar. No entanto, ainda não temos fundos para concluir a reconstrução de todas as casas. Afinal, elas foram muito danificadas ou totalmente destruídas; estamos esperando a ajuda dos governos, como os do Reino Unido e da Hungria, que intervenham e nos ajudem nessa frente.

Falta de emprego

Quanto à criação de empregos, há pouquíssimas iniciativas. Nós fizemos muitos pedidos a várias empresas americanas, britânicas, francesas e até da Arábia Saudita. Pedimos que lançassem alguns projetos importantes na região a fim de que que nossos povos possam sobreviver e, especialmente nossos jovens, possam encontrar trabalho. Mas ainda estamos à espera. O governo iraquiano fez muitas promessas, mas poucos projetos foram implementados. Nossa confiança no Estado é baixa. Estamos convencidos de que, oferecendo as oportunidades certas, muitos de nossos povos retornariam a Qaraqosh – se pudessem viver lá em paz e estabilidade.

Os problemas não terminarão enquanto a ganância prevalecer. Quando apenas os fortes prevalecem e os direitos dos pobres são esmagados; enquanto o Estado ainda estiver fraco e a lei não for aplicada. Mas nossa esperança está em Deus e rezamos para que o EI nunca retorne. Por sua segurança e bem-estar geral, os cristãos dependem do estado de direito e da integridade do governo. Isso é o que pode garantir a segurança para nós e para a Igreja.

Levar a esperança ao mundo


O Paquistão é um país com quase 200 milhões de habitantes, sendo 95% muçulmanos. Os cristãos são apenas 2% da população. Nesta minoria, encontra-se o Cardeal Joseph Coutts, Arcebispo de Karachi, que visitou o Brasil pela primeira vez a convite da ACN. O Cardeal Coutts participou da 57° Assembleia Geral da CNBB para falar sobre a realidade dos cristãos no Paquistão.

A chamada Lei da Blasfêmia

Em sua visita o Cardeal explicou que o maior problema enfrentado pelas minorias é o mal-uso da chamada Lei da Blasfêmia, introduzida no Paquistão em 1986. De acordo com a lei, aquele que falar contra o profeta Maomé, ou manchar seu nome por escrito ou de qualquer outra forma, será sentenciado à morte.

“Embora esta lei tenha a intenção de proteger a honra do Profeta Maomé e do Livro Sagrado, ela pode ser facilmente usada de maneira imprópria. É muito fácil para um muçulmano acusar alguém de blasfêmia. Em muitos casos, trata-se de uma acusação infundada, mas o acusador usa a Lei da Blasfêmia como meio de vingança por motivos pessoais”, diz o Cardeal Coutts.

Apesar de enfrentar muitas dificuldades, Dom Coutts é muito esperançoso e está em comunhão com os cristãos no mundo todo. “Nós sabemos que há cristãos sofrendo em outros lugares do mundo. Aqui no Brasil mesmo existem muitos cristãos que passam por necessidades enfrentando uma grande pobreza. Também sei que muitas pessoas com poucos recursos são muito generosas e ainda rezam por nós. Isso nos dá coragem para continuar. Nós sabemos que não estamos sozinhos”.

O Cardeal Joseph Coutts levou seu testemunho em Aparecida; na Fazenda da Esperança de Guaratinguetá; na Comunidade Canção Nova em Cachoeira Paulista; além de diversas outras atividades nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. “Vir ao Brasil foi uma experiência muito agradável, é uma Igreja viva. Em cada lugar que passei vi sinais de como a fé de vocês é forte.”