No Iraque a Igreja fica até o fim para ajudar
os cristãos que sofreram a invasão do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) em
agosto de 2014. Dom Petros Mouche é o responsável pela Arquidiocese Católica
Siríaca de Mossul. Ela é a segunda maior cidade do Iraque e também foi invadida
pelo EI. Hoje, com o EI expulso de Mossul e das planícies de Nínive, as
comunidades cristãs estão lentamente voltando à vida. Milhares de fiéis
iraquianos, depois de terem passado mais de três anos no exílio no Curdistão,
se estabeleceram em suas antigas casas, aldeias e cidades. Em uma entrevista à
Fundação Pontifícia ACN, o Arcebispo Dom Mouche – que também é responsável pela
Igreja Católica Siríaca em Kirkuk e no Curdistão – faz um balanço da situação.
Organizações Religiosas e Humanitárias tiveram
papel importante
A mudança positiva ocorreu em nossa região –
ninguém pode negar isso. As coisas podem ainda não estar no nível exigido, mas
há sinais muito claros e concretos de progresso. Mas nenhum crédito vai para o
Estado: o crédito pertence às organizações religiosas e humanitárias que
correram para nos apoiar. No entanto, ainda não temos fundos para concluir a
reconstrução de todas as casas. Afinal, elas foram muito danificadas ou
totalmente destruídas; estamos esperando a ajuda dos governos, como os do Reino
Unido e da Hungria, que intervenham e nos ajudem nessa frente.
Falta de emprego
Quanto à criação de empregos, há pouquíssimas
iniciativas. Nós fizemos muitos pedidos a várias empresas americanas,
britânicas, francesas e até da Arábia Saudita. Pedimos que lançassem alguns
projetos importantes na região a fim de que que nossos povos possam sobreviver
e, especialmente nossos jovens, possam encontrar trabalho. Mas ainda estamos à
espera. O governo iraquiano fez muitas promessas, mas poucos projetos foram
implementados. Nossa confiança no Estado é baixa. Estamos convencidos de que,
oferecendo as oportunidades certas, muitos de nossos povos retornariam a
Qaraqosh – se pudessem viver lá em paz e estabilidade.
Os problemas não terminarão enquanto a
ganância prevalecer. Quando apenas os fortes prevalecem e os direitos dos
pobres são esmagados; enquanto o Estado ainda estiver fraco e a lei não for
aplicada. Mas nossa esperança está em Deus e rezamos para que o EI nunca
retorne. Por sua segurança e bem-estar geral, os cristãos dependem do estado de
direito e da integridade do governo. Isso é o que pode garantir a segurança
para nós e para a Igreja.
“Os cristãos não usam violência para defender
a si mesmos, mas apelam ao respeito mútuo”
Não há um partido específico e bem conhecido
com planos para atacar os cristãos. Contudo, quem quer que tenha ambições de
tomar nossa terra, perde o senso de cidadania e não respeita os direitos dos
outros. Essas partes não se sentem confortáveis com a nossa sobrevivência e
presença contínua. Há muitas visitas de boa vontade por delegações oficiais e
muitas boas palavras são faladas, mas nada acontece. Boas intenções não são
suficientes. Da parte de alguns, não há respeito suficiente pelos nossos
direitos. E os cristãos não usam violência para defender a si mesmos, mas
apelam ao respeito mútuo. Porém, se isso não for respondido dessa maneira
respeitosa, mais e mais cristãos irão emigrar. Isso machuca a todos nós, que
amamos esta terra, nossa história, nossa civilização e nossa herança.
No Iraque a Igreja que fica até o fim
A Igreja como um todo – seus bispos, pastores
e leigos – não poupa esforços para reivindicar os direitos do seu povo e para
assegurar uma área onde possamos viver com dignidade e paz. A Igreja e seus
líderes fazem o seu melhor para instilar confiança e esperança em nosso povo,
mas sem forçar qualquer pessoa que retorne, permaneça ou seja deslocada. Essa
decisão que cada família deve tomar por si mesma, a decisão que garanta sua
dignidade, seu futuro, especialmente o futuro das crianças.
Mensagem: Voltem para Qaraqosh
Aqui está a minha mensagem para os cristãos
que deixaram Qaraqosh, onde quer que eles estejam – ainda no Iraque, ou se eles
já estão em terras estrangeiras: Qaraqosh é a mãe que te alimentou com o amor
de Deus, o amor da Igreja e amor da terra; permanecerá sendo sua mãe apesar da
tristeza por sua ausência; a cidade é o seu coração que ainda está ligado a
você e seus olhos estão observando todos os seus passos. É feliz quando você
está feliz, e está preocupada com o seu destino quando você não está feliz.
Suas portas permanecem abertas para você. A cada momento Qaraqosh está pronta
para abraçar você de novo – Qaraqosh pede que você permaneça fiel ao leite puro
que ela lhe deu!
Ajuda permanente da ACN
Desde 2014, a ACN está na vanguarda no apoio
aos cristãos iraquianos com mais de 300 projetos realizados. Esse apoio inclui
ajuda humanitária para fiéis que fugiram para o Curdistão para escapar do EI, a
reconstrução e reforma das casas cristãs nas Planícies de Nínive e, atualmente,
a reconstrução e reforma da infraestrutura da Igreja no norte do Iraque.
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ACN
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