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O Dies Iræ traduziu e publica, a pedido do próprio, um texto-resposta de Mons. Carlo Maria Viganò que, sendo muito mais do que isso, se torna uma verdadeira declaração de Fé e de amor para com a Santa Madre Igreja, Corpo Místico de Cristo, num momento em que é fortemente atacada por aqueles que, desde o seu interior, continuam a querer levar por diante um plano diabólico para a sua destruição. |
Caro Dr. Kokx,
Li, com grande interesse, um seu artigo
intitulado Perguntas para Viganò: Sua Excelência tem razão sobre o Vaticano II,
mas o que acha que deveriam fazer os católicos agora?, publicado, a 22 de
Agosto, no Catholic Family News. Tratando-se de questões muito importantes para
os fiéis, respondo-lhe de bom grado.
Pergunta-me: «O que significa “separar-se” da
igreja conciliar segundo o Arcebispo Viganò?». Respondo-lhe com uma questão: o
que significa separar-se da Igreja Católica de acordo com os defensores do
Concílio? Embora seja evidente que não é possível misturar-se com aqueles que
propõem doutrinas adulteradas do manifesto ideológico conciliar, deve-se notar
que o simples facto de sermos baptizados e membros vivos da Igreja de Cristo
não implica a adesão à estrutura conciliar; isto vale, antes de mais, para os
simples fiéis e para os clérigos seculares e regulares que, por várias razões,
se consideram sinceramente Católicos e que reconhecem a Hierarquia.
Em vez disso, deve ser esclarecida a posição
daqueles que, declarando-se Católicos, abraçam as doutrinas heterodoxas que se
difundiram nas últimas décadas, com a consciência de que essas representam uma
ruptura com o Magistério precedente. Neste caso, é legítimo questionar a sua
real pertença à Igreja Católica, na qual, todavia, ocupam cargos oficiais que
lhes conferem autoridade. Uma autoridade exercida ilicitamente, se a finalidade
que se propõe é obrigar os fiéis a aceitar a revolução imposta depois do Concílio.
Uma vez esclarecido este ponto, é evidente que
não são os fiéis tradicionalistas – ou seja, os verdadeiros Católicos, nas
palavras de São Pio X – que devem abandonar a Igreja na qual têm pleno direito
de permanecer e da qual seria lamentável separar-se; mas os Modernistas, que
usurpam o nome católico precisamente porque é o único elemento burocrático que
lhes permite que não sejam considerados como qualquer outra seita herética.
Esta sua pretensão serve, de facto, para evitar que acabem entre as centenas de
movimentos heréticos que, ao longo dos séculos, acreditaram poder reformar a
Igreja segundo a própria vontade, colocando o seu orgulho acima da humilde
custódia do ensinamento de Nosso Senhor. Mas como não é possível reivindicar a
cidadania de uma Pátria de que não se partilha a língua, a lei, a fé e a
tradição, assim é impossível que aqueles que não partilham a fé, a moral, a
liturgia e a disciplina da Igreja Católica possam reivindicar o direito de
permanecer nela e até mesmo de ascender aos graus da Hierarquia.
Por isso, não caiamos na tentação de abandonar
– ainda que com justificada indignação – a Igreja Católica, sob o pretexto de
que foi invadida por hereges e fornicadores: são estes que devem ser expulsos
do recinto sagrado, numa obra de purificação e de penitência que deve partir
cada um de nós.
É também evidente que existem casos
generalizados em que o fiel encontra graves problemas ao frequentar a paróquia,
assim como ainda são pouco numerosas as igrejas onde se celebra a Santa Missa
no Rito Católico. Os horrores que se alastraram, durante décadas, em muitas das
nossas paróquias e santuários, tornam impossível até mesmo assistir a uma
“eucaristia” sem ser perturbados e colocar em risco a própria fé. Assim como é
muito difícil garantir, para si e para os próprios filhos, uma instrução
católica, Sacramentos celebrados dignamente e um director espiritual sólido.
Nestes casos, os fiéis leigos têm o direito e o dever de procurar sacerdotes,
comunidades e institutos que sejam fiéis ao Magistério de sempre. E que, à
louvável celebração da liturgia em Rito Antigo, saibam acompanhar a fiel adesão
à doutrina e à moral, sem nenhuma cedência diante do Concílio.
A situação é, certamente, mais complexa para
os clérigos que dependem hierarquicamente do próprio Bispo ou do Superior
religioso, mas que, ao mesmo tempo, têm o direito sacrossanto de permanecer
católicos e de poder celebrar segundo o Rito Católico. Se, por um lado, os
leigos têm mais liberdade de movimento na escolha da comunidade a que recorrem
para a Missa, os Sacramentos e a instrução religiosa, mas menos autonomia pelo
facto de dependerem de um sacerdote, por outro lado, os clérigos têm menos
liberdade de movimento, estando incardinados na Diocese ou na Ordem e sujeitos
à autoridade eclesiástica, mas mais autonomia pelo facto de poderem,
legitimamente, decidir celebrar a Missa e administrar os Sacramentos no Rito
Tridentino e de pregar de acordo com a sã doutrina. O Motu Proprio Summorum
Pontificum reafirmou que fiéis e sacerdotes têm o direito inalienável – que não
lhes pode ser negado – de valer-se da liturgia que mais perfeitamente exprime a
nossa Fé. Mas, actualmente, este direito deve ser usado não só e não tanto para
preservar a forma extraordinária do rito, mas para testemunhar a adesão àquele
depositum fidei que só no Rito Antigo encontra perfeita correspondência.
Recebo quotidianamente cartas aflitas de
sacerdotes e de religiosos marginalizados, transferidos ou condenados ao
ostracismo por causa da sua fidelidade à Igreja: é forte a tentação de
encontrar um ubi consistam distante do tumulto dos Inovadores, mas devemos
tirar o exemplo das perseguições que muitos Santos sofreram, entre os quais
Santo Atanásio, que nos oferecem um modelo de como nos devemos comportar diante
da heresia galopante e da fúria persecutória. Como repetiu repetidamente o meu
venerável Irmão, Mons. Athanasius Schneider, o Arianismo, que afligia a Igreja
na época do Santo Doutor de Alexandria do Egipto, era tão difundido entre os
Bispos que quase levou a crer que a ortodoxia católica tinha desaparecido
completamente. Mas foi graças à fidelidade e ao testemunho heróico dos poucos
Bispos fiéis que a Igreja conseguiu recuperar. Sem esse testemunho, o Arianismo
não teria sido derrotado: sem o nosso testemunho de hoje, não será derrotado o
Modernismo e a apostasia globalista deste Pontificado.
Não é, portanto, questão de trabalhar desde o
interior ou desde o exterior: os vinhateiros são chamados a trabalhar na Vinha
do Senhor e é lá que devem permanecer, mesmo que custe a vida; os pastores são
chamados a apascentar o Rebanho do Senhor, a manter afastados os lobos vorazes
e a expulsar os mercenários que não se importam com a salvação das ovelhas e
dos cordeiros.
Este trabalho, muitas vezes silencioso e
escondido, foi realizado pela Fraternidade São Pio X, à qual se deve reconhecer
o mérito de não ter deixado apagar a chama da Tradição numa época em que
celebrar a Missa antiga era considerado subversivo e motivo de excomunhão. Os
seus sacerdotes foram um salutar espinho no lado do Corpo eclesial,
considerados como um insuportável termo de comparação para os fiéis, uma
censura constante à traição cometida contra o povo de Deus, uma alternativa
inadmissível ao novo curso conciliar. E se a sua fidelidade tornou inevitável a
desobediência ao Papa com as Consagrações Episcopais, graças a elas a
Fraternidade soube proteger-se do ataque furioso dos Inovadores e permitiu, com
a sua própria existência, tornar possível a disponibilização do Rito Antigo,
até então proibido. Assim como permitiu que surgissem as contradições e os
erros da seita conciliar, sempre amistosa nos confrontos com os hereges e os
idólatras, mas implacavelmente rígida e intolerante para com a Verdade
católica.