Foi com uma mistura de pesar a alívio que eu li a declaração sobre a resignação e subsequente excomungação do controverso Padre Beto, agora já não mais Padre, não mais católico, apenas Beto.
Pesar, porque é triste que um sacerdote da Santa Igreja, seja ele quem for, sinta-se impossibilitado de cumprir seus votos à Deus de ministrar ao Seu povo na condição de servo e sacerdote e por isso, decida abandonar sua vocação. Como o próprio “Padre. Beto” argumenta, o sacerdócio católico é, de certa forma, para sempre e irrevogável, pois tal e qual o testemunho do Antigo Testamento, a fé Católica é, de fato, o cumprimento do Judaísmo bíblico em Cristo, e sendo assim, não poderia ser diferente. O sacerdócio judeu era vitalício e o Católico assim se intenciona ser. Alívio, porque a última coisa de que a Igreja precisa é que a desobediência, o subjetivismo e relativismo sejam instituídos em seu próprio seio e nesse sentido, a resignação e subsequente excomungação do referido Padre seja, talvez, uma benção do alto.
Infelizmente, o mundo secularizado parece difundir – cada vez mais agressivamente – uma visão neo-liberal, quase anárquica, que parece favorecer tudo aquilo que, não muito tempo atrás, era dissaborido até mesmo pelos mais progressistas. Sendo assim, dentro da própria Igreja há aqueles que não apenas passaram a tolerar e aceitar quase que cegamente a desobediência, o subjetivismo e o relativismo teológico e moral, mas os apoiam apaixonadamente. Quem duvida que faça uma breve visita ao FaceBook do ex-católico e ex-padre “Beto” e veja com os próprios olhos as centenas, talvez milhares, de mensagens de apoio de “católicos” deixadas no seu mural.
Esse relativismo intolerante, infligido justamente por aqueles que pregam a tolerância é, lastimavelmente, muitas vezes agravado pela complacência daqueles em posição de autoridade, mas principalmente pela falta de zelo, reverência e ortodoxia dos leigos em geral, que parecem ter sistematicamente adotado posturas seculares de duas formas bastante evidentes: (i) ao engolir tudo o que lhes é posto garganta abaixo em nome da tolerância e dos “direitos humanos” (ii) e ao presumirem que a Igreja, enquanto Mãe e formadora da Fé Cristã, deva limitar-se a ser apenas uma cópia miniatura ou consequência acidental da sociedade “real” , submetendo-se, portanto, às imposições da cultura, dos “avanços” da ciência – Alguém gostaria de uma clonagem humana, hoje? – dos “avanços” legais em forma de leis que garantem o “direito” à eutanásia, aborto, união homossexual, etc.
Para os Católicos que assim se posicionam, o Evangelho e a mensagem de Cristo podem ser subjetivamente interpretados e estão abertos à discussão, ao debate – como sugere excomungado Padre Beto. É como se a Igreja, ao invés de cumprir o seu papel de Heraldo da Palavra de Deus, que é Eterna e portanto, não muda, devesse ao invés disso abraçar e anunciar os modismos determinados pelo padrão de comportamento de cada tempo. Em consonância com esse argumento, gostaria que os defensores dos modismos de hoje respondessem a uma suposição extrema, mas bastante válida enquanto ilustração da desordem moral que enfrentamos nesses nossos dias: suponhamos que um novo movimento adepto do amor livre e sem fronteiras surgisse em nosso meio e declarasse que em nome do amor, o homem – no sentido de ser humano – que se apaixonar por uma vaca e com ela deseje contrair “matrimônio” deva ser aceito como qualquer outro, também em nome da tão defendida tolerância ou direito de escolha. Onde está o limite do aceitável e tolerável, e quem o define? A história da civilização nos responde à essas perguntas de maneira bem clara: o certo e o errado, o natural e não natural são conceitos intrinsecamente ligados à Lei Moral imposta por Deus, o Altíssimo e Quem tudo sabe. Não se deve matar, mentir, roubar a propriedade alheia por uma questão de princípio moral, porque é errado. Não cremos nesses princípios por uma questão de direitos humanos, tolerância ou corretismo político. Essas coisas nem existiam quando essa Lei Moral foi gravada nos corações do homem (Cf Rom. 2,15), independentemente da cultura, etnia, etc. Portanto, foi Deus quem nos instruiu sobre o certo e o errado quando nos deu os Dez Mandamentos como guia.
Enfim, a ideia sobre a tolerância em nome do “amor” que o “Pe. Beto” divulga, revela, na verdade, um sofisma ingênuo para justificar uma intenção ilícita. Só porque alguém chama algo de “amor” não quer dizer que seja amor ou que seja certo ou aceitável. Se alguém mata outro por “amor” não pode ser justificado porque agiu por “amor”. Claro, essa é uma comparação extrema, um casal gay não está a cometer um crime dessa ordem, mas o fato é que está a romper com a palavra de Deus tanto quanto quem comete um outro pecado qualquer. Enfim, a pergunta que paira no ar quando reflito sobre os pontos de vista defendidos pelo padre relativista é a seguinte: Onde é que o seu discurso se enquadra na Imitação de Cristo a que todo cristão é convidado a abraçar? Será que devemos supor que se Cristo chegasse na Terra hoje seria complacente com aqueles que ignoram as ordenanças de Deus à ponto da rebeldia? O que mais me intriga, contudo, é o fato do discurso do padre, apesar de tão inortodoxo, ter conquistado um exército tão vasto de adeptos auto-proclamados católicos. Esse mesmo exércitos de “católicos” acredita estar na linha de frente contra o autoritarismo antiquado “papista”, e por isso inundam os espaços virtuais mantidos pelo ex-padre com imensas manifestações de apoio ao seu ato de desobediência.
Quando li sua declaração de não submissão à autoridade da Igreja, não pude deixar de associar as palavras do padre “Beto” às de Lutero, que ao negar o próprio erro, rejeitou a oferta de reconciliação com a Igreja escolhendo separar-se dela. Enfim, não foi o primeiro, tampouco será o último.
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Fonte: Ecclesia Militans
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