Sempre que alguém é vítima de infortúnio, é
comum perguntar-se: “Porquê a mim?”. Da mesma forma, quando sabemos de alguém
que teve uma alegria em alguma coisa na sua vida, seja por ter lutado por ela
ou por simples sorte, questionamos logo: “Mas porquê a ele e não a mim?”.
Estes raciocínios são simples mas revelam uma
verdade funda que vale a pena analisar: cada um de nós considera que é superior
aos outros, pelo que é uma injustiça a dobrar que sejamos alvo de um mal
qualquer… e acreditamos mesmo que aos outros é mais justo!
Quando se trata de algum tipo de sucesso,
quase nunca consideramos se a pessoa lutou, ou não, muito por ele, apenas
invejamos. Julgamos que a sorte se terá enganado e deu a outro o que era nosso.
Importa que sejamos capazes de nos afastar
desta forma tão imatura de ler o mundo.
O sentido da vida existe, mas daí até que
possamos compreendê-lo vai uma distância maior do que deste mundo ao outro.
Acreditamos que a nossa inteligência é capaz
de abarcar tudo. Talvez a verdade se esconda de uns e se mostre a outros, mas
será que prefere revelar-se aos que se julgam mais inteligentes?
A minha vida não é um conto infantil no qual
tudo tem um sentido e um valor concretos e evidentes. Pelo contrário, viver é
navegar num mar revolto de incertezas, tempestades de perguntas sem resposta, e
desertos, muitos desertos. Por vezes, uma bonança, uma certeza, um oásis… mas
durante pouco tempo.
Por que razão estou vivo? Porquê eu? O que
terei feito que merecesse vir viver esta vida? Será que eu existia já? No
coração de alguém?
Por que razão só valorizo o bem quando o
perco? Porque é que não sou capaz de compreender que, não sendo apenas mais um,
também não sou a pessoa mais importante?
Há pessoas a sofrer muito, algumas são capazes
de mais sorrisos do que eu. Porquê? Será que são elas que estão erradas?
Há pessoas felizes com muito menos do que eu
tenho. Quando vou compreender que há tantas coisas que tenho e que quero ainda
ter que não me servem de nada para a felicidade, ou melhor, até atrapalham?
A vida é justa, mas a lógica da sua justiça
não é a deste mundo.
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Agência Ecclesia
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