«Finalmente, a Virgem Imaculada, que fora preservada de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da sua vida terrena, foi levada à glória celeste em corpo e alma, e exaltada pelo Senhor como Rainha do Universo, para que se parecesse mais com o seu Filho, Senhor dos senhores (cf. Ap. 19, 16) e vencedor do pecado e da morte»
Maria foi elevada gloriosamente ao Céu em corpo e alma. É uma verdade de fé que nos aparece simbolizada, em figura, num facto do Antigo Testamento.
A Arca do Antigo testamento foi construída segundo as indicações dadas pelo Senhor a Moisés. Transportava as Tábuas da Lei recebidas no Sinai, um pouco de maná e outros objectos ligados à história do Povo de Deus. Sobre ela brilhava a glória do Senhor e era a presença sensível de Yhaveh no meio do Seu Povo.
Maria Imaculada é a Arca da Nova Aliança. É a obra mais perfeita que Deus criou: Comporta toda a perfeição possível a uma criatura e foi ornada de privilégios singulares, em atenção a ter sido eleita para Mãe do Redentor.
Transportou em seu seio virginal, durante nove meses, o Filho de Deus – o Verbo Incarnado – no meio do Seu Povo. Guardou generosamente em seu Coração a Palavra de Deus, para a meditar e transformar em vida. Como poderia, então, o Senhor permitir que esta Arca santíssima fosse entregue à corrupção e voragem do túmulo?
A nossa imaginação limitada tenta reconstituir esse acolhimento glorioso de Maria em Corpo e Alma.
A comunhão com a Santíssima Trindade em que vivera na terra – Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de Deus Espírito Santo – torna-se agora ainda mais intensa, porque cederam para sempre as barreias levantadas pelos sentidos na vida terrena: Acolhem-n’A com a maior alegria S. José, seu esposo virginal, os Anjos, os Patriarcas e os justos de todos os tempos.
Vivemos hoje esta mesma alegria e comunhão, com a Igreja Universal – triunfante, padecente e militante, por esta Celebração da Eucaristia. Preparemo-nos para ir ao seu encontro. «Depois, ofereceram diante de Deus holocaustos e sacrifícios de paz.»
A verdadeira devoção a Nossa Senhora exterioriza-se pelas nossas flores e Cânticos, mas vivemo-la quando procuramos imitá-l’A, seguir o caminho que Ela seguiu, caminhando ao seu encontro. Aclamamo-l’A como cheia de graça. Procuremos viver na graça santificante e alimentar esta vida divina com os Sacramentos. Invocamo-l’A como Virgem fidelíssima. A nossa fidelidade à vocação batismal, concretizada, depois, na vocação pessoal, é uma consequência da nossa devoção mariana.
Não podemos evitar a corrupção do túmulo, mas podemos lutar por nos mantermos afastados do contágio da corrupção moral. Nas horas mais difíceis, lembremo-nos de Ela espera por nós.
São muitas as pessoas que procuram cantar as glórias de Nossa Senhora. Cumpre-se, deste modo, a profecia da Mãe de Jesus em casa de Isabel: «De hoje em diante me proclamarão bem-aventurada todas as gerações.»
Não podemos ficar como quem aplaude, ao lado do caminho, um cortejo que passa por nós. Esta celebração é um convite insistente a que sigamos pelo seu caminho, a que A acompanhemos, porque vamos a caminho da felicidade em que Ela se encontra.
Jesus Cristo, depois de ter ouvido o elogio a Sua Mãe, de uma mulher anónima do povo, ensina-nos como havemos de segui-l’A. Como poderíamos seguir o caminho do Céu que Jesus nos ensina, sem o conhecermos? Precisamos urgentemente de formação doutrinal. A nossa piedade crescerá na medida da formação que procurarmos adquirir.
Maria ensina-nos a combater a ignorância religiosa, o maior inimigo de Deus no mundo de hoje. A crise de fé e moral em que vivemos tem as sua origem nela. As pessoas confundem facilmente religiosidade com verdadeiro cristianismo, vivido em toda a sua exigência.
São muitas as perguntas a que o cristão deve dar uma resposta concreta à luz da fé. Não basta o bom senso para o fazer, e o Espírito Santo não quer alimentar a nossa preguiça, substituindo-nos naquilo que podemos fazer.
Precisamos urgentemente de estudar o catecismo e prestar atenção às respostas que o Santo Padre e os Bispos vão dando aos problemas do nosso tempo. Uma piedade sem doutrina cai facilmente num sentimentalismo estéril, sem qualquer influência no nosso comportamento, numa separação entre as exigências da fé e a vida.
Deixar-se guiar pela Palavra de Deus. «Felizes antes os que (…) a guardam.» A fé, infundida em nós pelo Espírito Santo, no Baptismo, e alimentada pela Palavra de Deus, deve ser vivida em todas as circunstâncias, por uma luta ascética constante. Para tornar isto possível, recebemos as virtudes e os Dons do Espírito Santo os quais devem produzir frutos.
Quando não fazemos um esforço para sermos coerentes com a fé, agindo de acordo com ela, acabamos por justificar o mal, o pecado. A fé enfraquece e acaba por se apagar.
Maria, elevada ao Céu em Corpo e Alma, anima-nos continuamente a subir, a melhorar espiritualmente, a sermos santos na situação em que nos encontramos, se ela está de acordo com a Lei de Deus.
Promessa da nossa ressurreição. A Ressurreição de Jesus e a de Sua Mãe é promessa da nossa glorificação final. S. Paulo recorda-nos esta verdade na primeira Carta aos fiéis de Corinto. «No fim dos tempos, este nosso corpo corruptível ficará incorruptível, este nosso corpo imortal ficará imortal.»
Seguindo Nossa Senhora na vida, mesmo sem darmos por isso, caminhamos direta e fielmente para a nossa glorificação eterna no Céu.
Há apenas uma pequena diferença entre a glorificação de Maria e a nossa: Ela foi glorificada em Corpo e Alma imediatamente depois de terminar a sua caminhada na terra. O nosso corpo voltará ao pó de que foi formado, para ressuscitar e ser revestido de glória no fim dos tempos.
Na Celebração da Eucaristia pedimos para esta verdade se realize em cada um de nós: «Anunciamos, Senhor, a Vossa vinda, proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!»
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Leituras: 1Crônicas 15,3-4.15-16; 16,1-2; 1Coríntios 15,54b-47; Lucas 11,27-28
Todas as nações cantam as vossas glórias, ó Maria! Hoje fostes exaltada acima dos Anjos e triunfais com Cristo para sempre.
A primeira Leitura da Missa, na Vigília da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, recorda-nos a passagem do Antigo Testamento que narra o traslado da Arca da Aliança para o seu lugar definitivo. Davi convocou todo o povo de Israel, ordenou aos sacerdotes que se purificassem para o traslado, chamou cantores e músicos para que a procissão tivesse o maior realce possível, e, num ambiente de enorme alegria, a Arca foi colocada no meio do Tabernáculo preparado para esse fim na cidade de Davi. Encontrou o seu repouso no monte Sião, que o próprio Deus escolhera para sua perpétua morada.
A Arca era sinal da presença de Deus entre o seu Povo; no seu interior, guardava-se a sua Palavra, resumida nas Tábuas da Lei. Menciona-se hoje esta passagem porque Maria é a Arca da Nova Aliança, em cujo seio o Filho de Deus, o Verbo, a Palavra de Deus feita carne, habitou durante nove meses, e que, com a sua Assunção aos céus, encontrou a sua morada definitiva no seio da Santíssima Trindade. Ali, “levada no meio de aclamações de alegria e de louvor, foi conduzida até Deus, colocada num trono de glória, por cima de todos os santos e anjos do Céu”.
A Arca do Antigo Testamento estava construída com materiais preciosos, revestida de ouro no seu interior; no caso de Maria, Deus cumulou-a de dons incomparáveis, e a sua beleza externa era o reflexo dessa plenitude de graças com que tinha sido adornada. Correspondia assim à nova morada de Deus no mundo.
Não esqueçamos hoje que a Arca era para os judeus um lugar privilegiado onde Deus escutava as orações que lhe dirigiam: O meu nome estará ali, lê-se no livro dos Reis. Maria, Arca da Nova Aliança, é também um lugar privilegiado onde Deus escuta as nossas súplicas, com a vantagem de que Ela soma a sua voz à nossa. Do céu, intercede e corrige as nossas súplicas quando não são totalmente acertadas: “Assunta aos céus […], continua a obter-nos os dons da salvação eterna”, reafirma o Concílio Vaticano II.
“A nossa Mãe subiu em corpo e alma aos Céus. Repete-lhe que, como filhos, não queremos separar-nos dEla… Ela te escutará!” Mãe nossa, que estás em corpo e alma tão perto de Deus Pai, de Deus Filho, de Deus Espírito Santo, não nos largues da tua mão… Não me largues…, não os largues, minha Mãe. Que segurança nos dá em todos os momentos a devoção à Santíssima Virgem! Ela nos escutará em qualquer circunstância em que nos encontremos.
Conta uma antiga tradição judaica que, quando Jerusalém foi destruída pelos exércitos da Babilônia, o profeta Jeremias retirou a Arca e escondeu-a em algum lugar secreto. Desde então, não se voltou a ter nenhuma notícia dela. São João conta-nos que a viu no Céu, conforme relata uma das Leituras da Missa de amanhã, referindo-se claramente ao corpo de Maria Santíssima: Abriu-se no céu o templo de Deus e a Arca do seu Testamento foi vista no seu templo.
“Ninguém pode dizer-nos com certeza quando e onde, nem de que maneira a Virgem deixou esta terra. Mas sabemos onde está. Quando Elias foi levado ao céu, os filhos dos profetas de Jericó perguntaram a Eliseu se podiam sair em sua busca. «É possível – disseram-lhe – que o espírito do Senhor o tenha transportado para o alto de uma colina ou o tenha deixado em alguma fenda dos vales». Eliseu consentiu a contragosto, e quando regressaram da sua busca infrutífera, recebeu-os com estas palavras: Não vos tinha dito eu que não fôsseis? (2 Rs 2, 16-18). O mesmo acontece com o corpo da Santíssima Virgem; em nenhum lugar da cristandade ouvireis nem sequer um rumor acerca dele. Há tantas igrejas em tantos lugares do mundo que afirmam com entusiasmo que possuem as relíquias deste ou daquele santo… Mas nunca de Nossa Senhora. E se algum de vós pensava ainda encontrar tão inestimável tesouro, o Santo Padre ordenou há algum tempo que se pusesse fim à busca. Sabemos onde está o seu corpo: no Céu”.
Naturalmente, já sabíamos disso antes. No dia 1 de novembro de 1950, o Papa Pio XII definia como dogma de fé que “a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta à glória celestial em corpo e alma”. Mas, desde os começos da fé, os cristãos tiveram a convicção de que Santa Maria não experimentou a corrupção do sepulcro, mas foi levada em corpo e alma aos céus. Como escreve um antigo Padre de Igreja, “convinha que Aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse o seu corpo imune de toda a corrupção mesmo depois da morte. Convinha que Aquela que trouxera no seu seio o Criador feito criança, fosse morar nos tabernáculos divinos […]. Convinha que Aquela que tinha visto o seu Filho na cruz e recebido no seu coração a dor de que estivera livre no parto, o contemplasse sentado à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse tudo o que pertence ao seu Filho e fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Escrava de Deus”.
A Assunção de Nossa Senhora cumula-nos de alegria e anima-nos a avançar com garbo por esse trecho do caminho que nos falta percorrer até chegarmos ao Céu. Dá-nos forças para alcançarmos a santidade a que fomos chamados por vocação. Mas é necessário que lutemos por ser bons filhos de Deus, “que procuremos manter a alma limpa, pela Confissão sacramental freqüente e pela recepção da Eucaristia. Desta maneira, também chegará para nós o momento de subirmos ao Céu. Não do mesmo modo que a Santíssima Virgem Maria, porque os nossos corpos conhecerão a corrupção do sepulcro, devida ao pecado. No entanto, se morrermos na graça de Deus, as nossas almas irão para o Céu, talvez passando antes pelo Purgatório, a fim de adquirirem a veste nupcial que é indispensável para podermos participar do banquete da vida eterna, a limpeza necessária para sermos dignos de ver a Deus sicuti est (1 Jo 3,2), tal como é. Depois, no momento da ressurreição universal, os nossos corpos ressuscitarão e unir-se-ão às nossas almas, glorificados, para receberem o prêmio eterno”. E estaremos junto de Jesus e da sua Santíssima Mãe, com uma alegria sem fim.
Olhando esse final feliz da vida da Virgem, compreendemos a alegria de sermos fiéis todos os dias. Percebemos que “vale a pena lutar, dizer ao Senhor que sim; vale a pena – no ambiente pagão em que vivemos, e em que por vocação divina temos de santificar-nos e santificar os outros –, vale a pena repelir com decisão tudo o que possa afastar-nos de Deus, e responder afirmativamente a tudo o que nos aproxime dEle. O Senhor ajudar-nos-á, pois não pede impossíveis. Se nos manda que sejamos santos, apesar das nossas inegáveis misérias e das dificuldades do ambiente, é porque nos concede a sua graça. Portanto, possumus (Mc 10, 39), podemos! Podemos ser santos, apesar das nossas misérias e pecados, porque Deus é bom e todo-poderoso, e porque temos por Mãe a própria Mãe de Deus, a quem Jesus não pode dizer «não».
“Vamos, pois, encher-nos de esperança, de confiança: apesar das nossas misérias, podemos ser santos se lutarmos um dia e outro, se purificarmos as nossas almas no Sacramento da penitência, se recebermos com freqüência o pão vivo descido dos céus (cfr. Jo 6, 41), o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, realmente presente na Eucaristia.
“E quando chegar o momento de rendermos a nossa alma a Deus, não teremos medo da morte. A morte será para nós o mesmo que mudar de casa. Virá quando Deus quiser, mas será uma libertação, o princípio da Vida com maiúscula. Vita mutatur, non tollitur (Prefácio I dos defuntos) […]. A vida não nos é arrebatada, mas transformada. Começaremos a viver de um modo novo, muito unidos à Santíssima Virgem, para adorar eternamente a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, que é o prêmio que nos está reservado”.
Enquanto não chega esse momento, a nossa Mãe ajuda-nos do Céu, todos os dias, em todas as nossas dificuldades. Não deixemos de recorrer a Ela, com a confiança dos filhos muito pequenos.
PARA REFLETIR
Retomemos duas afirmações litúrgicas para transferirmos para a nossa mente e para a nossa vida algumas das grandes riquezas espirituais da Solenidade da Assunção de Maria. “Grandes coisas se dizem de vós, ó Virgem Santa Maria” (Antífona de entrada). Uma dessas coisas é a Assunção, definida em 1950 como dogma de fé pelo magistério solene da Igreja com as seguintes palavras de Pio XII: “A Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem, terminado o curso da vida terrena, foi elevada à glória celeste em alma e corpo”.
Este dogma, que suscitou tanta alegria e esperança entre os Católicos, não está contido explicitamente na Bíblia, mas as muitas razões que os Padres da Igreja e os teólogos aduziram a seu favor, como disse com razão Pio XII, “têm como último fundamento a Sagrada Escritura”. A Bíblia não contém todas as verdades (falta, por exemplo, a lista dos livros inspirados que a compõem), e por isso é necessário que a ela se junte a Tradição.
A Sagrada escritura oferece-nos pontos de partida que, à luz do Espírito Santo que atua na Igreja, conduzem ao mistério da Assunção, ou se prestam para a formulação do seu dogma. Os Padres e os Doutores da Igreja expressaram a sua fé, partilhada com os fiéis do seu tempo, recordando a “Arca”, sinal da presença de Deus, que é introduzida no santuário como está na primeira leitura, para afirmarem que Maria, que trouxe no seu seio o Filho de Deus, entrou no santuário celeste em corpo e alma. Assim, segundo a expressão do Salmo messiânico 131/132, “Levanta-vos, Senhor, Vós e a arca da Vossa majestade”, encontrou a ocasião para proclamar tudo o que ardia no seu coração e no coração dos fiéis: que a glorificação corporal de Jesus (“Levantai-Vos”) está unida à de Maria (“Arca”). O mesmo vale para a vitória definitiva sobre a morte com a glorificação corporal, de que fala a segunda leitura. Vale para o acolhimento obediente da Palavra de Cristo no Evangelho de hoje, que une Maria ao Filho e a torna participante da mesma sorte gloriosa.
E podemos acrescentar outros casos. Mas é importante revelar que os Pais da Igreja não deduzem, nem extraem dos textos bíblicos o que afirmam; antes, os textos bíblicos são ocasião e estímulo misterioso para exprimir a verdade de fé na Assunção. Com os seus raciocínios e atitudes os Pais da Igreja não demonstram rigorosamente o dogma da Assunção corpórea de Maria, mas pressupõem-no como fruto da ação do Espírito Santo na Igreja e ligam-no de certo modo à Sagrada Escritura, a qual permanece assim “último fundamento”do dogma.
Mais ainda, na Oração do Dia pedimos a Deus que, por intercessão de Maria elevada ao Céu, também nós “mereçamos ser por Vós glorificados”, no fim da vida, com alma e depois com o corpo. A Solenidade de hoje não nos transmitiria todo o seus perfume celeste se não nos abrisse à contemplação do grande mistério de amor que Deus reserva para cada um de nós, mediante Cristo e em união com Cristo. “Pai, eu quero que também aqueles que me deste estejam onde eu estiver, para que contemplem a minha glória” (João 17,24).
Embora o dogma da Assunção de Maria tenha sido definido no Ocidente pelo ano de 1950, o mistério a que ele se refere é mais antigo.
Há muito tempo, tanto no Oriente quanto no Ocidente, celebra-se a “Dormição da Virgem” ou o Transitum Mariae, como também é conhecida esta festa. Os estudiosos a situam entre os séculos V e VI, com origem provavelmente oriental. O enfoque teológico está no fato de Maria ter sido santificada pela Encarnação do Verbo. Os cristãos enxergam a sua morte como dormição e passagem: melhor ainda, entrada na glória de Deus, como ensina São João Danasceno.
Se, temos um novo Adão, há também uma Nova Eva. O ícone da Dormição, com o qual a Igreja desde sempre celebrou a páscoa da Virgem, traz no centro não a Mãe, mas o Filho, para onde o olhar do fiel converge. À base do Cristo, está deitada (dormindo! = imagem da morte) a Virgem Maria. São dois movimentos que se cruzam: um vertical (o Cristo, simbolizando a amizade do Céu com a terra) e outro horizontal (a Virgem deitada, simbolizando a humanidade como terra fértil para receber a semente da Vida.
Morte e Ressurreição, portanto, são dois aspectos da Páscoa de Cristo que Maria, imagem do mundo remido, experimenta. Nesse sentido é que podemos denominá-la de Nova Eva, porque é Mãe da Nova Humanidade nascida da Páscoa de Cristo, Senhor.
A celebração da Páscoa de Maria, portanto, toca-nos agora a todos, pois revela nosso destino como homens e mulheres nascidos em gérmem pascal, pois “Maria, a Mãe de Deus, primícia, do gênero humano, era terrena e corruptível, como filha de Adão. Porém, sendo incorporada a Cristo, também seu corpo devia ser glorificado e tornar-se imortal, mediante a ressurreição de seu Filho.
Como comunidade peregrina, grávida da salvação de Deus, nos reunimos para celebrar. Vivemos a experiência de Maria, que, vestida de sol e adornada de jóias bonitas, canta a esperança oferecida aos pobres e humildes.
Com ela entoamos, alegres, nossa ação de graças pela salvação realizada em Jesus Cristo, após termos ouvido e acolhido a Palavra, guardando-a em nosso coração para vivê-la, como Maria sempre fez.
Sentamos com ela à mesa do Pai e participamos do banquete do Reino, com seu Filho Jesus, saboreando antecipadamente a alegria de nossa elevação definitiva.
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* No Brasil, caso não caia num domingo, esta solenidade é transferida para as vésperas do primeiro domingo seguinte, para maior participação dos fieis.
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