sexta-feira, 9 de maio de 2025

PRIMEIRA HOMILIA DO PAPA LEÃO XIV

Vou começar em inglês e o restante é em italiano, mas eu quero repetir as palavras do salmo: ‘Cantai ao Senhor um cântico novo, porque fez maravilhas’. E de fato, não só comigo, mas com todos nós, meus irmãos cardeais. Eu convido vocês a celebrar as maravilhas que Ele fez, as bênçãos que Deus continua a derramar sobre nós.

Para o ministério de Pedro, vocês me chamaram para essa missão e convido todos a caminharem comigo, como comunidade dos discípulos de Cristo que anunciam o Evangelho. ‘Tu és o Cristo o filho do Deus vivo’, com estas palavras, Pedro, interrogado pelo mestre, juntamente com os outros discípulos sobre a sua fé nele, resume a herança que a igreja através da sua sucessão apostólica em 2 mil anos, conserva, aprofunda e transmite ao longo dos 2 mil anos. Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo, isto é, o único salvador e revelador da face do pai. Nele, Deus para se fazer próximo e acessível aos homens revelou-se a nós no olhar confiante de uma criança, na mente viva de um jovem e nos traços maduros de um homem até aparecer aos seus depois da Ressurreição com o seu corpo glorioso.

Ele nos mostrou, assim, um modelo de humanidade santa que todos podemos imitar, juntamente com a promessa de um destino eterno que ultrapassa todos os nossos limites e capacidades. Pedro, na sua resposta, capta ambas as coisas. O dom de Deus e o caminho a seguir para se deixar transformar por ele. Dimensões inseparáveis da salvação, confiadas à Igreja para que ela anuncie para o bem do gênero humano. 

Confiai-nos a nós, escolhidos por ele antes de sermos formados no ventre materno, regenerados nas águas do batismo e para além dos nossos limites e sem o nosso mérito, conduzidos até aqui e daqui enviados para que o evangelho seja anunciado a toda a criatura. Em particular, Deus chamando-me através do vosso voto, para suceder ao primeiro dos apóstolos, confia-me este tesouro para que, com sua ajuda, eu seja o seu fiel administrador em benefício de todo o corpo místico da igreja, para que seja cada vez mais uma cidade edificada sobre o monte, uma arca de salvação que navega nas ondas da história, um farol que ilumina a escuridão do mundo. E isto não se deve tanto à magnificência das suas estruturas, ou à grandeza das suas construções, como os monumentos em que encontramos, mas, sim, à santidade dos seus membros, daquele povo que Deus adquiriu para si, para que anuncie as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.

Contudo, na raiz da conversa em que Pedro faz em sua profissão de fé, também há uma outra questão. Pergunta Jesus: ‘Quem dizem eles que é o filho do homem?’. Essa não é uma questão banal, mas diz respeito a um aspecto importante do nosso ministério: a realidade em que vivemos com os seus limites e as suas potencialidades, as suas questões e suas crenças. Quem dizem as pessoas que é o filho do homem? Pensando na cena sobre a qual estamos a refletir, poderíamos encontrar duas possíveis respostas para esta pergunta que delineiam duas atitudes diferentes: em primeiro lugar, a resposta do mundo.

Mateus enfatiza que a conversa entre Jesus e seus seguidores sobre a sua identidade acontece na bela cidade de Cesareia de Filipe, repleta de edifícios luxuosos, situada em um cenário natural e encantador aos pés do Monte Hérmon, mas também lar de círculos cruéis de poder, cenário de traição e infidelidade. Essa imagem nos fala de um mundo que considera Jesus uma pessoa sem importância nenhuma, no máximo um personagem curioso que pode causar admiração do seu modo estranho de falar e de agir. E assim, quando a sua presença se torna incômoda devido às suas exigências morais e honestidade, esse mundo não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo.

Depois, há uma outra possível resposta à pergunta de Jesus: a das pessoas comuns. Para elas, o nazareno não é um charlatão, é um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas como outros grandes profetas da história de Israel. É por isso que eles o seguem, pelo menos enquanto podem fazê-lo, sem muitos riscos e conveniências. 

Mas eles o consideram apenas um homem e, portanto, num momento de perigo, durante a Paixão, eles também o abandonam, e vão embora desiludidos. O que chama atenção nessas duas atitudes é a sua atualidade. Elas são encontradas na boca de muitos homens e mulheres do nosso tempo. Também hoje existem muitos contextos em que a fé cristã é considerada algo absurdo, algo para pessoas fracas e pouco inteligentes, contextos em que outras certezas são preferidas a ela, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder, o prazer. Esses são ambientes nos quais não é fácil testemunhar e proclamar o Evangelho e um daqueles que creem e acreditam são ridicularizados, combatidos, desprezados, ou ao máximo tolerados e lastimados, mas precisamente por isso são lugares onde a missão é urgente, porque a falta de fé muitas vezes traz consigo tragédias, como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação da dignidade da pessoa nas formas mais dramáticas, a crise da família e muitas outras feridas das quais sofrem - e não pouco - a nossa sociedade.

Embora apreciado como homem, [Jesus] é reduzido a apenas um líder carismático, a um super-homem, isso não só entre os crentes, mas também entre muitos batizados, que assim acabam vivendo em um enteísmo do fato. Este é um mundo cujo é confiado, como o papa Francisco nos ensinou muitas vezes, somos chamados a testemunhar a fé em Jesus, o salvador, de forma alegre. Por isso, também pra nós é essencial repetir: ‘Tu és o Cristo, filho do Deus vivo’.

É essencial fazer isso antes demais na nossa relação com Deus, no compromisso de um caminho diário de conversão. Mas também como Igreja, vivendo juntos a nossa pertença ao Senhor e levando a boa nova a todos. Digo isto, antes demais, a mim mesmo, como sucessor de Pedro, ao iniciar a minha missão de bispo da Igreja em Roma, chamado a presidir na caridade a Igreja universal, segundo a célebre expressão de Santo Inácio de Antioquia. Ele levado acorrentado a esta cidade, lugar do seu iminente sacrifício, escreveu aos cristãos que lá estavam: ‘Então serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo quando o mundo deixar de ver o meu corpo’. Ele se referia à possibilidade de ser devorado pelas feras no circo, e assim aconteceu, mas as suas palavras evocam em sentido lato, um compromisso indispensável para que na Igreja exerça um ministério de autoridade. Desaparecer, para que Cristo permaneça. Fazer-se pequeno, para que ele seja conhecido e glorificado. Gastar-se completamente, para que ninguém perca oportunidade de o conhecer e o amar. Que Deus me conceda esta graça hoje e sempre essa graça, hoje e sempre, com a ajuda da terna intercessão de Maria, mãe da Igreja.

HABEMUS PAPA LEÃO XIV

Que a paz esteja com todos vocês. Irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação do Cristo ressuscitado, o bom pastor que deu a vida pela Igreja de Deus. Queria também que esta saudação de paz entrasse no vosso coração e chegasse a todos, onde quer que estejam, a todos os povos na Terra inteira, que a paz esteja convosco. Esta é a paz de Cristo ressuscitado, é uma paz desarmada e paz desarmante, humilde e que irá perseverar e que vem de Deus, Deus que nos ama a todos, incondicionalmente.

Ainda conservamos nos nossos ouvidos aquela voz fraca mas sempre corajosa do Papa Francisco que abençoava Roma. O Papa que abençoava Roma, que abençoava todo o mundo, o mundo inteiro, naquela manhã de Páscoa. Deixem-me continuar essa bênção.

Deus ama-nos, Deus ama todos vós, o mal não vai prevalecer. Estamos todos nas mãos de Deus. Por isso, sem medo, juntem-se de mãos dadas a Deus e entre nós vamos avançar. Somos discípulos de Cristo, Cristo veio antes de nós, o mundo precisa da Sua luz, a humanidade precisa Dele como uma ponte de forma a chegar a Deus e a chegar ao Seu amor.

Ajudem-nos também, a uns e outros, a construir pontes com diálogo, encontro, unindo-nos todos para sermos um só povo sempre em paz. Obrigado, Papa Francisco.

Queria também agradecer a todos os meus irmãos cardeais que me escolheram para suceder a Pedro e para caminharmos juntos convosco como uma Igreja unida que tenta sempre encontrar a paz, justiça e sempre a tentar trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo sem medo, para proclamar o Evangelho e a sermos missionários.

Sou um filho de Santo Agostinho, agostiniano. Que disse, convosco sou cristão e para vós, bispo. Neste sentido podemos caminhar todos rumo à pátria que Deus nos preparou.

À Igreja de Roma, uma saudação especial. Devemos procurar juntos como ser uma Igreja missionária, que constrói pontes, diálogo, sempre aberta a receber como esta praça todos os que precisam da nossa caridade, presença, diálogo e amor.

E se me permitem, uma saudação a todos aqueles, em modo particular à minha querida diocese de Chiclayo no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu bispo e partilhou a sua fé, e deu tanto, tanto para continuar uma Igreja fiel a Jesus Cristo.

A todos vocês, irmãos e irmãs, de Roma, de Itália, do mundo inteiro, queremos ser uma Igreja sinodal, que caminha, que procura sempre a paz, procura sempre a caridade, estar perto especialmente dos que sofrem.

Hoje é o dia da súplica à Nossa Senhora de Pompeia. A nossa mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar perto, ajudar-nos com a sua intervenção e o seu amor. Quero rezar convosco, rezemos juntos por esta nova missão, por toda a Igreja, pela paz no mundo e peçamos esta graça a Maria, nossa mãe.”


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