terça-feira, 13 de março de 2012

Homofobia ou Hamartemofobia?


Em 05 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal do Brasil aprovou a união homossexual no país, ou seja, que pessoas do mesmo sexo – homem com homem, mulher com mulher – têm os mesmos direitos perante a sociedade brasileira tanto quanto os casais heterossexuais – homem e mulher.

Dado que uma coisa puxa a outra, eis o motivo por que se ouve muito em nossos dias a palavra de origem grega homofobia, cujo sentido etimológico é “medo do igual”. No caso em questão, quer-se indicar o “medo do homossexual”. É exatamente sobre isto que quero discorrer aqui.


Partindo do gesto de Jesus Cristo que amou e acolheu com muita ternura e compaixão a mulher adúltera e não o pecado dela, quando a Lei judaica contrariamente determinava radicalmente o seu apedrejamento, afirmo: a Igreja, a exemplo do Mestre, também ama e acolhe com muito amor, compaixão e ternura cada homossexual em particular, porque sabe que como filhos amados de Deus merecem todo respeito, toda atenção. Porque sabe que cada um deles tem uma dignidade humana pelo simples fato de ser pessoa. O que ela não ama nem acolhe é, como Jesus, o pecado do homossexual. Porque o pecado escraviza o homem. Maltrata-o. Não o liberta. Não o eleva.

Ora, se Jesus não discriminou a pecadora, mas rejeitou radicalmente o pecado dela, quando lhe disse: “Vá e não peques mais”[1], do mesmo modo também a Igreja o faz: não discrimina nenhum homossexual, mas rejeita radicalmente o pecado dele, como qualquer pecado de quem quer que seja. Por causa disto, eu alcunho – ao lado da homofobia – outra palavra também de origem grega para que se torne conhecida e possa esclarecer a verdade cristã: hamartemofobia, cujo sentido etimológico é “medo do pecado”.

De posse desta palavra, convém, então, dizer que para a Igreja, o problema não é a homofobia, isto é, o medo do homossexual, a pessoa dele. Afinal, ela sabe que Jesus veio ao mundo para curar os pecadores, o errante na estrada da vida. Para ela, o problema é a hamartemofobia, isto é, o medo do pecado (dele). Afinal, o pecado obscurece “a razão, a verdade, a consciência reta”[2].

Deste modo, deve-se entender que a missão da Igreja não é compactuar com nenhum tipo de fraqueza moral do homem, mas, sim, ajudá-lo a se libertar dela para seu bem.

Estando, pois, a Igreja a serviço da verdade que liberta, ela ensina: “Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendência homossexuais inatas. Não são eles que escolhem sua condição homossexual; para a maioria, pois, esta constitui uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta.

Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus na sua vida e, se forem cristãos, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa da sua condição”[3]. Ademais, os atos homossexuais “impedem que do ato sexual surja o dom da vida. Não são frutos de uma verdadeira complementariedade afetiva e sexual. De modo algum podem ser aprovados”[4].

O que se percebe aqui neste ensinamento da Igreja? Uma Igreja que, de um lado, é consciente dos limites existenciais de seus filhos e, por isto mesmo, os acolhe; e, do outro lado, esta mesma Igreja consciente de que o pecado não é exemplo de vida para ninguém e, por isto mesmo, o rejeita terminantemente.

Sendo assim, não há espaço para preconceito na Igreja, já que este está para a pessoa. Para ela o que há é tão somente a formação de bons conceitos capazes de educar bem o homem na sua correta relação com o mundo, enquanto dimensão corporal; na sua relação com o outro, enquanto dimensão psíquica; e na sua relação com Deus, enquanto dimensão espiritual. E conceitos estes que implicam, inclusive, uma linguagem.

Falando de linguagem, vale dizer: quando se chega à casa de uma família e se pergunta aos pais, quantos filhos vocês têm? Se for um menino e uma menina, respondem: um casal. Se forem dois meninos ou duas meninas, respondem: dois meninos ou duas meninas. Nunca dizem um casal. Isto nos faz notar que casal é sinônimo de multiplicação, de fecundidade. De fato, quando se vai à feira e se pede ao feirante um casal de pássaros para comprar, ele nos mostra um macho e uma fêmea. Eis a razão por que no início, referindo-se aos homossexuais, digo homem com homem e mulher com mulher; aos heterossexuais, homem e mulher. O “e” em português é uma conjunção aditiva. Homem e mulher, portanto, se completam adicionando naturalmente sexo com nexo. O “com” não joga no time da conjunção aditiva. Logo, pode-se dizer que na relação do homem com homem e da mulher com mulher há “sexo” sem nexo.

Em nome da verdade é preciso dizer que nenhuma decisão moral vai ser autêntica e libertadora quando se parte do mau exemplo, do erro, do gosto, do prazer, do interesse.

Que os santos da Corte celestial sejam para nós exemplos de superação na busca da retidão!
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[1] Jo 8,11.

[2] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1849.

[3] Ibid., n. 2358.

[4] Ibid., n. 2357.
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Frei Luis Leitão pertence a Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo. Atualmente reside no Pós-Noviciado de Filosofia e também é o vice-diretor geral do IESMA(Instituto de Estudos Superiores do Maranhão).

segunda-feira, 12 de março de 2012

Os católicos e as pesquisas



No dia do nosso batismo, quando crianças, o padre pergunta aos pais: “Pedistes o Batismo para vossos filhos. Devereis educá-los na fé ... Estais conscientes disto?” Respondem: “Estamos”. Depois aos padrinhos: “Deveis ajudar os pais a cumprir sua missão. Estais dispostos a fazê-lo?”. Respondem: “Estamos”. Por fim, “credes na Santa Igreja Católica ...?”. Respondem: “Cremos”.

Pois bem, com estas respostas, os pais e padrinhos assumem o compromisso cristão de ajudarem a criança batizada a crescer na fé cristã e nesta Igreja Católica que a acolheu para marcar-lhe com o selo definitivo da graça divina.

Mas, como os pais vão dar provas concretas de que estão conscientes do compromisso cristão, e, portanto, da fé professada, se vão à igreja católica só no dia do batismo do filho? Ou nos 15 anos da filha? Ou na missa de 7º dia de um parente?

E pior, o que dizer dos católicos que mandam batizar a criança por motivações erradas, tais como: para que ela não vire bicho, ou para que tenha um padrinho rico, ou para que a tradição continue na família?!


Uma planta que não se rega, ela murcha, seca e morre. Igualmente, a vida cristã, cuja semente da graça batismal está em cada um, se não for regada com a participação da Missa, com a Eucaristia, com a escuta da Palavra de Deus, com a vida sacramental, enfim, com o testemunho da própria fé partilhada na comunidade eclesial, o que acontece? A vida cristã do católico se torna estéril, porque infecunda; torna-se morta, porque sem vida; torna-se apagada, porque sem conteúdo; perde a credibilidade, porque falta o testemunho, enfim, não brilha nem atrai. Resultado, “enfraquecendo-se a vida cristã, enfraquece-se também a pertença à Igreja Católica”[1].

Ora, diga-me como é possível ser católico deste jeito? É claro que as pesquisas referentes a católicos evasivos só podem aumentar. Contudo, é bom saber que nelas estarão incluídos só os católicos de direito – os que foram batizados e têm seus nomes no livro de registro da paróquia –, nunca os de fato – os que, além de direito, praticam sua fé com veemência.

Para tanto, é oportuno destacar também que o desconhecimento da fé cristã recebida dos Apóstolos e continuada na missão da Igreja Católica ao longo de 21 séculos é um dos motivos determinantes que impede o católico de amar mais sua Igreja e, assim, de viver com mais firmeza e convicção a própria fé católica.

Sobre isto, vamos aos fatos: se o católico desconhece a importância e grandeza da Eucaristia na vida cristã, será que ele vai à missa aos domingos? Se o católico desconhece o valor do sacramento da Penitência e seu efeito de graça atuante na vida do pecador, será que ele vai ao encontro do sacerdote para fazer a confissão? Se o católico desconhece o valor e o sentido do batismo recebido na Igreja Católica, será que ele vai se comprometer com sua fé? Certamente, não.

Santo Agostinho, no século IV, buscando dar uma resposta sobre a discussão entre fé e razão dissera: Fidens quaerens intellectum, isto é, a fé que busca compreender.

Isto implica afirmar que nossa fé precisa ser amadurecida, compreendida e aprofundada. O católico que amadurece na fé e sabe dar-lhe razões nunca faz este tipo de discurso: só vou à igreja quando eu estiver com vontade, ou eu me confesso sozinho com Deus quando vou me deitar, e basta. Pois bem, isto não é fé. Isto é comodismo espiritual!

E mais, o católico convicto da própria fé nunca deixa sua Igreja Católica por outros grupos religiosos. Isto porque se a verdadeira Igreja de Cristo é continuidade com Sua missão, e Sua missão passa pela Eucaristia, porque Ele desejou ardentemente celebrar a Ceia com seus discípulos; passa pelo perdão dos pecados, porque Ele ordenou a seus Apóstolos que perdoassem a todos, então onde não há celebração da Eucaristia, sacramento da Confissão, aí não há também continuidade com a missão de Cristo na terra, e sim ruptura ou outra coisa qualquer do tipo: “Estai alerta para que ninguém vos enrede com sua filosofia e com doutrinas falsas, baseando-se em tradição humana e remontando às forças elementares do mundo, sem se fundamentar em Cristo”[2]. Logo, o católico não trocará sua fé por outra “fé”.

Quando o católico desconhece a beleza da doutrina católica – doutrina esta que se caracteriza pela sua unidade e comunhão de um único e mesmo credo, válido tanto para o católico do sertão do Maranhão quanto para o Papa lá em Roma –, ele perde também o encanto da própria fé, e, com isso, acaba-se tornando presa fácil nas mãos de grupos religiosos, os quais também por ignorância só sabem falar mal de Maria, nossa mãezinha do Céu, e das imagens.

Fundamentalmente, conhecer a Igreja Católica é tomar consciência de que o DEPÓSITO DA FÉ firma-se na Sagrada Escritura, na Tradição e no Magistério da Igreja. Qualquer católico, ao partir desta tríade, vai encontrar com muita consistência e precisão as razões de sua fé. Com efeito, é sempre em atenção contínua a esta tríade que a Igreja Católica vivificada pela ação do Espírito Santo conduz e orienta seus filhos na fé e na moral.

Se todos os que foram batizados na Igreja Católica deixarem de ser católicos de arquibancada, de raridade, de eventos e de uma “fé que busca consolação subjetiva”[3], asseguro: nunca vão abandonar a Igreja Católica. Afinal, “nela temos tudo o que é bom, tudo o que é motivo de segurança e de consolo!”[4].
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[1] Cf. Documento de Aparecida, n. 100b.
[2] Cl 2, 8.
[3] TESSORE, Dag. Bento XVI (questões de fé, ética e pensamento na obra de Joseph Ratzinger). São Paulo: Claridade, 2005. p. 29.
[4] Documento de Aparecida, n. 246.
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Frei Luis Leitão pertence a Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo. Atualmente reside no Pós-Noviciado de Filosofia e também é o vice-diretor geral do IESMA(Instituto de Estudos Superiores do Maranhão).

domingo, 11 de março de 2012

Pedido de Perdão


Perdão Senhor!

Neste terceiro Domingo da Quaresma, dando prosseguimento às atividades do Ano Jubilar dos 400 anos de São Luís, nossa Arquidiocese celebra o “Domingo do perdão”. Numa atitude de humildade e de coragem queremos fazer um pedido de perdão a todas as gerações dos habitantes nativos da Ilha de UPaon Açú e de todo o Maranhão.

A começar pelas comunidades indígenas que receberam os primeiros colonizadores e os primeiros missionários. Pedimos perdão por não termos entendido que eles não eram selvagens. Por não termos percebido que eles eram um povo com longa história e tradição e donos de todas essas terras. Que eles tinham uma cultura e que guardavam a herança dos seus ancestrais. Que tinham aprendido a amar a terra, o ar e as águas, guardando toda forma de vida e com o devido respeito a Tupã seu Deus.

Chegaram os colonizadores em nome do reino terreno, também chegaram os missionários em nome do Reino de Deus e impuseram uma nova maneira de pensar e de olhar para a realidade, a religião e a vida em sociedade.

Mais tarde chegaram também os filhos da “Mãe África” que brutalmente arrancados de seu mundo secular foram transplantados sem nenhuma escolha, nas terras de Santa Cruz, e de modo significativo nas terras do Maranhão. Também eles foram objeto de tantos desmandos, falta de consideração e respeito.

No entanto índios, negros e brancos de boa vontade miscigenados ao longo da aventura humana de 400 anos de história, formam a São Luís e o Maranhão dos nossos dias.

Tupã, Oxalá, Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, Deus de nossos pais, perdoa nossa fraqueza, nossa mesquinhez, nossa visão míope do mundo e da história em nome de nossos antepassados. Permita que nós hoje, filhos desta caminhada plurissecular não repitamos nunca mais os mesmos erros. Conceda-nos a paz e a prosperidade através da fraternidade e da solidariedade entre todos. Amém.
 
 
Dom José Carlos
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Luís - MA

sábado, 10 de março de 2012

Agenda da Paróquia - Março de 2012


08/03: Reunião do Conselho Comunitário da Matriz, no Centro Catequético (Matriz) às 19:30;

09/03: Via-Sacra às 16h na Igreja Matriz;

-Reunião de preparação da Assembleia Pastoral Paroquial 2012, no Centro Catequético (Matriz) às 19:30;

10/03: Início da Oficina de Oração e Vida no Centro Social Urbano (CSU) - Cohab;

11/03: Ritos de preparação para os Catecúmenos receberem os Sacramentos de Iniciação Cristã, às 17h na Igreja Matriz;

- Início dos encontros de Iniciação Cristã, 1ª Eucaristia e Perseverança no Centro Catequético da Igreja Matriz às 8h;


15/03: Ensaio da Via-Sacra nas ruas, às 19:30 no Centro Catequético da Igreja Matriz; 

16/03: ANIVERSÁRIO DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO – (1986-2012), 26 anos;

- Via-Sacra às 16h na Igreja Matriz;

- Ensaio da Via-Sacra nas ruas, às 19:30 no Centro Catequético da Igreja Matriz;

17/03: Reunião com os Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão às 15h no Centro Catequético (Matriz);

19/03: Solenidade de São José, esposo da virgem Maria;

22-24/03: Assembleia Pastoral Paroquial.: dias 22 e 23 a partir das 19:30 e dia 24 a partir das 14:30, na sala 6 do Centro Catequético da Igreja Matriz;

24-25/03: 3º Retiro Arquidiocesano das Santas Missões Populares no Ginásio Polio Esportivo do Instituto Pobres Servos da Divina Providência – Cidade Operária; 

24/03: Início da Catequese na  Igreja Nossa Senhora da Paz, III conj. Cohab;


25/03: Festa da Aces (Legião de Maria), às 14h na Igreja Matriz;

26/03: Solenidade da Anunciação do Senhor (transferida do dia 25/03);

- Festa da Milícia da Imaculada às 19h na Igreja N. Senhora das Graças - forquilha;

27/03: Reunião da Equipe de Liturgia da Matriz para tratar das celebrações da semana santa às 19:30 no Centro Catequético da Matriz;

sexta-feira, 9 de março de 2012

"Dar razões da própria esperança" (1Pd 3,15).


Queridos Jovens,
É necessário percorrer um caminho de preparação espiritual e apostólica se realmente desejamos que os frutos da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013 possam amadurecer e transformar as nossas vidas. Devemos trilhar num itinerário de oração e de trabalho para que as palavras do Santo Padre, o Papa, e o encontro renovador em Cristo e com os irmãos do mundo inteiro possam dar frutos de vida eterna. Se não estivermos atentos, poderemos facilmente fazer parte da multidão que gritava “Hosana” no Domingo de Ramos e “crucifica-o” na Sexta-Feira Santa.
Desejo peregrinar com vocês e, para isso, gostaria de propor uma breve reflexão sobre o tema da primeira Jornada Mundial da Juventude: "Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês" (1Pd 3, 15).


Ele foi escolhido pelo Beato João Paulo II em 1986. Quando no dia 23 de março, no Domingo de Ramos, as dioceses do mundo inteiro realizaram a I Jornada Mundial da Juventude.

Lendo o convite de São Pedro a dar razões de nossa fé, a primeira coisa em que pensamos é como defender nossa fé contra aqueles que a denigrem. Pensamos em uma apologética da fé, que consiste apenas em embates e discussões para demonstrar a verdade. Este tipo de missão é necessário e importante, sem dúvida, mas deve ser executada por amor às pessoas a quem Deus ama.

Porém, muitas vezes nos esquecemos de que a primeira e fundamental missão e apologética que podemos e devemos realizar é a do testemunho de nossa fé através do exemplo. Um jovem de verdadeira identidade católica é aquele que transmite nas pequenas tarefas do dia a dia o sopro da graça Divina. Um jovem católico é alegre e entusiasta, é capaz de escutar a todos e falar com vivacidade de Cristo. É aquele que em casa apoia a família, e na escola se esforça por estudar, respeita os seus professores e é cordial com todos os funcionários da Escola em que estuda. E se o adolescente pratica algum esporte, é sinal de caridade e harmonia. Com a namorada ou o namorado coloca todos os meios necessários para viver com santidade esta etapa importante da vida. É também aquele que consegue ver com os olhos da fé os problemas sociais, familiares, psicológicos e dificuldades várias que passa na vida.

Não deixemos nos enganar pelo inimigo, porque o demônio nos ronda e nos tenta. Apologética deve supor a vivência pessoal da fé, senão fica completamente vazia. Verdade sem caridade transforma-se numa mentira, pois não respeita o outro enquanto criatura amada e querida por Deus. Cristo nos deu diversas lições sobre isto. É completamente evangélica a frase: “Rejeitar o pecado, mas não o pecador”. Querendo arrancar a erva daninha, muitas vezes poderemos arrancar a boa semente.

A caridade sem verdade é falsa. Pois só na verdade existe a real caridade em sentido evangélico e cristão. Por isso, é importante sair da infantilidade da fé. Isso ocorre quando cometemos a injustiça de querer enfrentar os questionamentos do mundo tendo a formação infantil. Daí a importância do Ano da Fé pedido pelo Papa Bento XVI.

É triste perceber que existem excelentes profissionais católicos, com um alto padrão de formação e especialização que exige seu campo de atuação, mas que possuem um conteúdo catequético raquítico, desnutrido. É uma tremenda injustiça com a Igreja e com Cristo.

Então, o que fazer? Não podemos ficar com os braços cruzados. É necessário levar a boa nova de Cristo a todas as criaturas. E não há melhor modo de fazer isto do que através de gestos de amor, entrega, trabalho e doação.

É necessária a inteligência da fé. A Igreja possui dois mil anos de história e tradição. Carrega um patrimônio humanístico, cultural, filosófico e teológico únicos. Temos o Catecismo da Igreja Católica e o Compêndio do Catecismo. Temos os Santos Padres da Igreja. As encíclicas papais, os documentos dos concílios. É necessário saber dar razões de nossa fé, mas para isto é necessário estudá-la e aprofundá-la sempre e cada vez mais.

Nossa fé não é puro sentimento ou apenas a invenção de um grupo de homens piedosos. Existe a racionalidade da fé. E no Catolicismo esta inteligência da fé possui uma densidade tal, que seria um pecado de omissão não conhecer e estudar.

Peguemos as primeiras palavras do evangelho de São João. O que encontramos lá? “No princípio era o Verbo” (Jo 1,1). Uma das grandes questões que movia a mente dos filósofos gregos era a que versava sobre o princípio e fundamento de todas as coisas. Por que as coisas existem? Qual é o fundamento delas? João apresenta Cristo como o Verbo, o fundamento de todas as coisas que os gregos durantes séculos buscavam. Cristo é o verdadeiro logos, a razão. No cristianismo, Cristo é a razão encarnada.

São palavras belíssimas do evangelista, que devem encher nosso coração de alegria e entusiasmo por nossa fé. Ela não é irracional ou puro sentimento. Ela é sentido e razão de ser de todas as coisas. Não carreguemos em nossas almas algum sentimento de inferioridade. Não se deixem seduzir por intelectualismos vazios. Conheçam a fé que professam.

Preparem-se bem para a Jornada Rio 2013 através de uma vida verdadeiramente cristã, que seja sal e luz e possa atrair a todos pela beleza de seus gestos e palavras. Preparem-se conhecendo mais profundamente a doutrina e a tradição da Igreja. Sempre há um motivo e uma razão para a Igreja defender certa posição. Antes de criticá-la, busque conhecer as razões. Devemos viver nossa fé com todo nosso ser, com nossa alma, com nossa inteligência e com o nosso coração.  A Igreja ofereceu aos jovens o catecismo adaptado à sua linguagem e, em Madri, entregou a todos os inscritos para a Jornada um exemplar em sua própria língua.

Dar razões de nossa fé é, sobretudo, viver integralmente o cristianismo. Muito me alegram os inúmeros grupos de jovens que utilizam as redes para a formação cristã. Parabéns pela iniciativa! E felicito todos os jovens que estão levando a sério a preparação para a Jornada Mundial, através de encontros de oração, reflexão, partilha e missão. Motivo todos a continuarem por esse caminho, que só tem a enriquecer a vida de vocês.

Que Cristo, o Logos encarnado, nos ilumine para que possamos no dia a dia de nossa vida dar razões de nossa esperança.

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)


segunda-feira, 5 de março de 2012

Saúde sim. Doença não.


"Quem permanece por muito tempo próximo das pessoas que sofrem, conhece a angústia e as lágrimas, mas também o milagre da alegria, fruto do amor" (Bento XVI). A dor e o sofrimento acompanham o ser humano do nascer até o declinar da vida. Não fomos criados para o sofrimento, nosso Deus não é masoquista, que sente prazer ao ver o ser humano sofrer, nosso Deus é o Deus da vida. "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 15).

Dizer que a doença é vontade de Deus é mentira. A doença é coisa da gente, é de natureza humana e não divina.


Em nenhum momento da vida humana podem os dizer que Deus quis a morte. Muitas vezes a gente se depara com afirmações do tipo: "foi vontade de Deus que acontecesse aquele acidente... foi vontade de Deus que aquela pessoa morresse de tal doença...é vontade de Deus que aquela pessoa sofra porque deve pagar os seus pecados".

Nosso Deus não é vingativo, que busca desforra diante do mal cometido. Nosso Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. "Eu não quero a morte do pecador e sim que ele se converta e viva" (Ez 18,23). O Senhor Jesus nunca deixou de atender o clamor, fosse de quem fosse. A palavra do Senhor foi sempre em defesa da vida. "Levanta-te a tua fé te salvou" (Lc 17,10). "Se tu queres podes curar-me. Eu quero fique curado" ( Mc 1,40-41).

A Campanha da Fraternidade deste ano não quer justificar a doença e muito menos colocar panos quentes na situação da saúde de nosso povo mais necessita do. Pelo contrário.

O grande objetivo é: "refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos doentes e mobilizar por melhorias no sistema público de saúde". Ninguém quer condenar ninguém e muito menos jogar pedras contra o telhado do vizinho, mas também não se quer fechar os olhos diante da realidade. A Campanha da Fraternidade entende o ser humano como uma unidade de corpo e alma.

"Ao paralisar o corpo, a doença impede o espírito a voar. Ao mesmo tempo em que experimentamos a unidade, de outro lado a profunda ruptura. A doença é um forte convite à reconciliação e à harmonização com nosso próprio ser" (Texto base nº 12). O Guia da Pastoral da Saúde na América Latina diz que: "a saúde é afirmação da vida, em suas múltiplas incid ncias, e um direito fundamental que os Estados devem garantir".

O mesmo documento assim define a saúde como "um processo harmonioso de bem estar físico, psíquico, social e espiritual, e não apenas ausência de doença, processo que capacita o ser humano a cumprir a missão que Deus lhe destinou, de acordo com a etapa e a condição de vida em que se encontra" (Texto base nº 14).

A saúde é um conjunto de fatores humanos que devem entrar em harmonia, desde alimentação, educação, trabalho, remuneração, as relações interpessoais, a qualidade de vida, a dimensão espiritual da fé, enfim o equilíbrio humano e sobrenatural da vida. Nosso desejo é ver concretizada a da Palavra de Deus: "Que a saúde se difunda sobre a terra" (Eclo 38,8). E para que isso aconteça cada qual deve fazer a sua parte. Os indivíduos como primeiros responsáveis.
Os municípios, os Estados e a Nação, através dos organismos competentes, não podem deixar de medir esforços e criar políticas públicas que venham ao encontro das necessidades do povo. Por isso: saúde sim. Doença não.

Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)

Orientação ou confusão sexual?


O fato não obteve a divulgação que merecia, como acontece cada vez que uma notícia contraria os interesses de empresas ou instituições que controlam o poder econômico. Em abril de 2010, depois de anos de pesquisas clínicas e observações rigorosas, o Instituto “American College of Pediatricians”, dos Estados Unidos, divulgou uma série de estudos que determinam, de maneira inequívoca, que o desejo dos adolescentes de assumirem o sexo oposto constitui um estágio de desenvolvimento normal e temporário.

Em sua advertência às escolas e aos adultos responsáveis, a entidade pede que não se aproveite da indefinição que caracteriza a adolescência para estimular a confusão sexual: «A maior parte das crianças e dos adolescentes com Desordem de Identidade de Gênero perde essas tendências durante a puberdade – se este comportamento não for reforçado. Quando alguém estimula uma criança ou adolescente a se comportar ou ser tratado como se fosse de outro sexo, a confusão é reforçada e a criança fica condicionada a uma conduta dolorosa e sofrida sem necessidade».


Por sua vez, o Presidente do Instituto, Dr. Tom Benton, explica que «a adolescência é um período de agitação e efemeridade. Os adolescentes estão confusos sobre muitas coisas, começando pela orientação sexual e pela identidade de gênero, demonstrando-se particularmente vulneráveis às influencias do ambiente que os cerca».

Se tudo isso for verdade, pode-se imaginar a calamidade que é o assim denominado “kit-gay”, encomendado pelo Ministério da Educação para ser distribuído em todas as escolas públicas do país. Preparados e incentivados por entidades GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), os vídeos e a cartilha são uma aberração destinada a minar os fundamentos da ética e da moral. Por detrás de uma fachada anti-homofóbica, o kit tenta incutir nas crianças e adolescentes a noção de que ser gay, lésbica e bissexual não é apenas perfeitamente normal, mas até mesmo “chique”. Pela oposição levantada por dezenas de instituições, o kit não chegou a ser distribuído, mas revela a força que as organizações gays adquiriram nestes últimos anos no Brasil e no mundo.

O pluralismo cultural e o relativismo ético solapam os alicerces da sociedade ao incentivar os adolescentes e os jovens a seguirem a orientação sexual que quiserem, sem se importar com normas e tradições legadas pela própria constituição espiritual, psíquica e biológica do ser humano. Mas, de acordo com esse princípio, nada impede que, num futuro próximo, até mesmo a pedofilia e a zoofilia sejam acolhidas como uma simples opção individual. Cada um é livre de fazer o que quiser, contanto que encontre aceitação e concordância da parte do parceiro...

A Igreja – “perita em humanidade”, como foi definida pelo Papa Paulo VI – não pode concordar com nada que avilte a dignidade humana. Mas, não se contenta em proibir e condenar, como atesta o “Catecismo da Igreja Católica”, publicado em 1997: «Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição».

Frei Antônio Moser em seu volume “Casado ou solteiro, você pode ser feliz”, publicado em 2006, vai um pouco mais além e lembra que «a busca da identidade e o empenho na organização pessoal de acordo com esta identidade constituem um desafio ético primordial. Não é a tendência nem a orientação sexual que determinam a condição ética de uma pessoa, e sim o seu empenho em conhecer a própria identidade e organizar-se espiritual e afetivamente da melhor maneira possível. Isso vale tanto para as pessoas hétero quanto para os homossexuais. Ser hétero ou homo é adjetivo: ser pessoa humana, com vocação divina, é substantivo».

Assim – parafraseando o título de seu livro – todos podem ser felizes... se colocarem a sexualidade a serviço do amor, de acordo com o projeto de Deus.

Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)