Prosseguimos ainda com as observações sobre a liturgia. Recordo ao leitor que são observações soltas, que vou fazendo à medida que recordo os usos e abusos mais comuns nas nossas comunidades, alguns deles com o conselho, o incentivo e o aval de conhecidos liturgistas em nada comprometidos com as orientações emanadas pela Santa Sé. E, assim, o nosso povo vai se tornando cobaias de um laboratório (ou oficina, como é moda dizer) litúrgico – como se a liturgia pudesse ser fabricada em laboratório ou inventada artificialmente...
Assim, vamos agora à Liturgia Eucarística, que se inicia com a apresentação das ofertas e vai até a oração após a comunhão. Eis as observações que proponho:
1. É um abuso que se deixa para cobrir o Altar neste momento. Na liturgia latina, o Altar deve sempre estar coberto, mesmo que seja uma mesa bela e artisticamente rica. Altar descoberto significa abstinência de celebração da Eucaristia e é um símbolo próprio do período que vai do encerramento da Missa na Ceia do Senhor até a tarde do Sábado Santo, quando se ornamente a igreja para a Vigília Pascal. Pior ainda é deixar o Altar descoberto mesmo durante a Liturgia Eucarística, usando somente o corporal!
2. Não esqueçamos: a toalha deve ser branca, digna, não deve ser vazada, pois deve reter os fragmentos da hóstia que porventura caiam ou o vinho consagrado em caso de acidente.
3. É importante que os vasos sagrados não sejam uma adaptação de mau gosto, mas sejam próprios para a liturgia. Por exemplo: muitas vezes, para o lavabo, colocam uma bacia comum e uma leiteira com a água para lavar as mãos, além de uma toalha de rosto! Está errado! Outras vezes, as galhetas são improvisadas em vidrinhos ou galhetas de refeição comum. Não é adequado. Pior ainda quando, ao invés do cibório ou âmbula, toma-se um recipiente de vidro próprio para se guardar doce ou biscoitos! É puro mau gosto!
4. Deve-se evitar encher o altar de coisas: jornalzinho, folha de cânticos, agenda com intenções, etc. O Altar é imagem de Cristo; deve ser reverenciado e respeitado! Sobre ele devem estar somente o indispensável: o corporal, o sanguinho, a patena com o pão, a âmbula, o cálice com a pala e o missal (se for necessário com um apoio para facilitar a leitura do celebrante). Se não tiver outra solução, coloquem-se ainda sobre ele duas velas (uma de cada lado). Nas missas solenes podem ser colocadas quatro ou até seis. Sete velas somente podem ser usadas nas missas presididas pelo Bispo. Ao lado ou sobre o Altar coloca-se também o crucifixo (sempre com o Crucificado). Se já houver um grande no fundo da igreja, voltado para o povo, basta. Neste caso, havendo cruz processional, ela é colocada voltada para o celebrante.
5. Quanto à procissão das ofertas, somente se apresenta coisas que sejam para o sacrifício (pão, vinho e água), donativos para os pobres ou objetos que depois sirvam para doação ou para o uso da igreja. Nunca se ofertam coisas que depois sejam retomadas: isso é teatro, coisa totalmente alheio ao espírito litúrgico! Então, é totalmente errado ofertar um casal, uma mãe, uma um cartaz, etc. Também não se ofertam os objetos que já são da igreja: as velas que serão colocadas sobre o Altar, o lavabo, o cálice vazio... Tudo isso é totalmente sem sentido! É teatrinho de faz-de-conta! Também não há necessidade alguma de fazer comentário sobre o que se está oferecendo! A apresentação é a Deus e Deus já sabe do que se trata. Tudo quanto se puder evitar de comentários durante a missa somente fará bem à celebração! Rito não é para ser explicado; rito é para ser vivido, saboreado!
6. Quanto ao canto das ofertas, não é necessário que tenha que falar em ofertório, em pão ou em vinho. Qualquer canto litúrgico que ajude a aprofundar o mistério celebrando ou seja dirigido a Deus e não seja contrário ou alheio ao espírito do rito que se está realizando, pode ser usado...
7. O bom é que as galhetas e o lavabo não sejam colocados sobre o Altar. Uma vez utilizados deveriam ser recolocados na credência.
8. Está se introduzindo um costume abusivo nas nossas missas, um rito novo, extra-litúrgico: oferecer água ao padre para beber. Isso está errado! Se algum celebrante tem problema de garganta, pigarro ou coisa do gênero, admite-se. Mas, que isso se torne regra, é totalmente errado! Durante a celebração não se come nem se bebe nada a não ser as sagradas espécies na hora liturgicamente prevista. Esse abuso revela o quanto a sacralidade e o espírito de renúncia e auto-disciplina vão desaparecendo na Igreja! Do mesmo modo não é nada elegante o coral ficar bebendo água dentro do espaço litúrgico durante a celebração. Quem precisar beber, vá à sacristia!
Continuaremos depois.
Côn. Henrique Soares da Costa________________________________Fonte: http://www.padrehenrique.com/index.php/liturgia/geral/146-temas-de-liturgia--vii