terça-feira, 18 de junho de 2013

Nota do CONIC sobre a repressão policial ocorrida durante as manifestações em São Paulo por conta dos reajustes das passagens


A forma como foi reprimida no dia de ontem, 13 de junho, a manifestação pública organizada em São Paulo contra o aumento das passagens de ônibus nos remeteu a tempos sombrios da história de nosso país. A truculência policial legitimada inclusive pela grande mídia, é algo que assusta.

Muito nos surpreendeu que uma manifestação pacífica, que tinha por objetivo expressar a contrariedade de cidadãos e cidadãs contra uma medida que afeta trabalhadores e trabalhadoras usuárias do transporte público, tenha sido combatida com tamanha violência pela polícia militar do Estado de São Paulo.


A falta de abertura para o diálogo tem sido uma postura constante nas diferentes esferas de representação. A repressão policial que se viu ontem, em São Paulo, também foi característica na repressão contra os povos indígenas no Mato Grosso do Sul e em outras ações Brasil afora. Parece que repressão  tornou-se um padrão.

Lamentamos que as reivindicações da sociedade civil sejam  tratadas não com diálogo, mas com violência. Esta postura, ao longo deste ano, foi recorrente em momentos e situações distintas: no Rio de Janeiro, por ocasião da desocupação do Museu do Índio; Mato Grosso do Sul em função das demarcações de terras e,ontem à noite, em São Paulo,após outras ações violentas realizadas pela mesma polícia, mas sem a grande repercussão da mídia.

A cultura autoritária, segue sendo uma característica do Estado brasileiro. Vale lembrar a nota do Conselho de Direitos Humanos da ONU, veiculada hoje pela manhã nos meios de comunicação, que faz uma série de recomendações para o Brasil.

Entre as várias orientações, pelo menos duas têm relação direta com as medidas de repressão tomadas contra as manifestações dos movimentos sociais. A primeira orientação é o fim da polícia militar no país.A segunda propõe que a reestruturação urbana realizada por ocasião da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 seja devidamente regulada para prevenir despejos e deslocamentos populacionais.

As manifestações dos povos indígenas que assistimos nos últimos dias e a manifestação que vimos ontem, e todas as repressões e extermínios de jovens que acontecem nas periferias das cidades cotidianamente ilustram que algumas de nossas políticas seguem na contramão da garantia de direitos humanos.

Como povo brasileiro, não precisamos de super eventos para vender a imagem de país do futebol e do esporte. Sabemos que estes eventos não trarão benefícios para a população em geral. Os únicos a ganhar serão os de sempre: o mercado financeiro e os mega conglomerados empresariais.

O que desejamos é: transporte público eficiente, de qualidade e com preço acessível, que as populações afetadas pelos grandes empreendimentos sejam ouvidas e suas reivindicações atendidas. Que os governos municipais, estaduais e federal não se fechem para o diálogo e optem por um projeto de país pensando no bem-estar de sua população e não na garantia de lucro certo para aqueles que historicamente já ganham e desejam ainda mais.

Não queremos apenas circo. Queremos também pão, fruto da justiça social. Reivindicamos o cumprimento das convenções internacionais de direitos humanos. Nosso desejo é que a população seja respeitada e que políticas capazes de transformar as estruturas sociais e econômicas responsáveis pela exclusão social tornem-se reais.



Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil

Demônio: um assunto incômodo


O irlandês C.S.Lewis, escritor e teólogo anglicano, falecido em 1963, deixou-nos textos marcados pela erudição e pelo humor. Em mais de um livro abordou a questão do diabo e, num deles, foi particularmente criativo. Para expressar suas ideias, imaginou um velho diabo escrevendo cartas a seu sobrinho, um diabo jovem, inexperiente; queria que esse sobrinho se tornasse um “bom” diabo. O subtítulo do livro – “Como um diabo velho instrui um diabo jovem sobre a arte da tentação” – indica aonde o autor queria chegar. O experimentado diabo procurava convencer seu sobrinho de que, na arte de enganar os homens, era fundamental convencê-los de que ele, o diabo, não existia. Convictos os homens disso, a ação do sobrinho seria mais fácil, rápida e eficaz.


Lembrei-me desse livro, editado no Brasil no início da década de 1980 (“Cartas do Coisa-Ruim”), diante de colocações do Papa Francisco, desde que iniciou seu ministério. Ao contrário da forma como muitos tratam esse tema – o afastam ou o incluem no rol das coisas ultrapassadas e inaceitáveis –, o atual papa tem-se referido a ele com frequência. Seu antecessor, Paulo VI, no começo da década de 1970 falou: “O mal que existe no mundo é ocasião e efeito de uma intervenção em nós e em nossa sociedade de um agente obscuro e inimigo, o Demônio. O mal não é apenas uma deficiência, mas um ser vivo, espiritual, pervertido e pervertedor. Terrível realidade. Misteriosa e amedrontadora... O Demônio é o inimigo número um, o tentador por excelência. Sabemos que esse ser obscuro e perturbador existe e realmente continua agindo... Sabe insinuar-se em nós, por  meio dos sentidos, da fantasia, da concupiscência... para introduzir desvios” (15.11.72). Quem vivia naquela época se lembra de que essas afirmações foram uma verdadeira bomba. Por causa delas Paulo VI foi ironizado, acusado de obscurantista e, para mostrar o ridículo de suas afirmações, uma revista semanal brasileira reproduziu inúmeras figuras do Demônio, como a dizer aos leitores: Vejam em quem o Papa acredita! Tinha razão C.S. Lewis...

Para o Papa Francisco, seguindo a tradição bíblica, o Diabo não é um mito, mas um ser  real. Em uma de suas pregações matinais, na Casa Santa Marta, o papa afirmou que por trás do ódio que há no mundo em relação a Jesus e à Igreja está o “príncipe deste mundo”: “Com sua morte e ressurreição, Jesus nos resgatou do poder do mundo, do poder do diabo, do poder do príncipe deste mundo. A origem do ódio é esta: estamos salvos e esse príncipe do mundo, que não quer que sejamos salvos, nos odeia e faz nascer a perseguição, que começou nos primeiros tempos de Jesus e continua até hoje”. Embora o diálogo entre nós seja importante , não é possível dialogar com esse “príncipe”; “podemos somente responder com a palavra de Deus que nos defende”.

O Catecismo da Igreja Católica dedica vários números ao diabo – por exemplo, quando se refere aos Anjos caídos, às tentações de Jesus, ao exorcismo, à necessidade da renúncia ao seu poder, ao domínio de Jesus sobre eles etc. “O mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o maligno, o anjo que se opõe a Deus. O ‘diabo’ é aquele que ‘se atira no meio’ do plano de Deus e de sua ‘obra de salvação’ realizada em Cristo” (nº 2851). Seu poder não é infinito, pois ele não passa de uma criatura, “poderosa pelo fato de ser puro espírito, mas sempre criatura: não é capaz de impedir a edificação do reino de Deus”. Sua ação é permitida pela divina providência, “que, com vigor e doçura, dirige a história do homem e do mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28)” (CIC 395, ler, também, os números anteriores: 391-394).


São João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja († 407), escreveu aos cristãos de Antioquia: “Na verdade, não me dá prazer falar-lhes do diabo; mas a doutrina que é consequência dessa realidade será muito útil para vós”. Também eu penso assim; daí a razão desta reflexão.


Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

Semana Nacional do Migrante e Dia Mundial do Refugiado


Entre os dias 16 e 22 de junho, realiza-se a 28ª Semana Nacional do Migrante. Nesta quarta-feira, 19, celebra-se o Dia do Migrante, e no dia 20, o Dia Mundial do Refugiado. O Setor Pastoral da Mobilidade Humana da CNBB (SPM) articula as pastorais específicas a promoverem atividades em suas dioceses, paróquias e comunidades, reiterando o tema da Semana do Migrante, que acompanha a Campanha da Fraternidade 2013: “Migração e Juventude” e o lema: “No passo da estrada, o bem viver”.

O número de migrantes no mundo é apontado como próximo aos 250 milhões. Segundo os dados mais recentes fornecidos pela Polícia Federal, o Brasil abriga cerca de 940 mil imigrantes permanentes. Menos de 0,4% da população migrante do planeta.


O Documento de Aparecida (n. 402) alerta que “a globalização faz emergir, em nossos povos, novos rostos de pobres. Com especial atenção, fixamos nosso olhar nos rostos dos novos excluídos: os migrantes, as vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas”.  

A Semana do Migrante é um momento propício para tomada de consciência, tanto da Igreja como da sociedade, da realidade migratória que nos desafia a cada momento.  Segundo o texto base, elaborado pelo SPM, “este tema carrega sonhos, lutas desafios, expectativas. Somos, então, provocados a apontar as causas, contradições, desafios, perspectivas da realidade complexa que impulsiona os jovens a migrar. Eles são cheios de potencialidades, porém não lhes são dadas as oportunidades para desenvolvê-las. São atropelados em seu processo de amadurecimento, obrigados a ingressar precocemente na luta pela sobrevivência, forçados a migrar em busca de acesso à educação, trabalho e renda”.


Na Arquidiocese de Brasília, a abertura da Semana do Migrante ocorreu na Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Ceilândia, com a celebração eucarística no último dia, 16. O encerramento será com missa na Comunidade Nossa Senhora dos Migrantes, no Varjão (DF), dia 23, às 10h com a presença do bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner.
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Fonte: CNBB

Pontifícias Obras divulgam programação da Sede Missionária na JMJ Rio 2013


Pontifícias Obras Missionárias (POM) estarão presentes na JMJ Rio 2013 com uma Sede Missionária na cidade de Niterói (RJ), a partir do dia 23 de julho. A Juventude Missionária (JM), uma das atividades da Obra da Propagação da Fé, lança um convite aos jovens que estarão no Rio de Janeiro durante a JMJ, para participarem das atividades oferecidas pelas POM.

A programação inclui o Encontro Internacional da Juventude Missionária (23 de julho); Exposição "Maria Mãe de todos os Povos" (23 a 26 de julho); Exposição "Por uma Igreja toda Missionária" (23 a 26 de julho); Adoração Eucarística e Espiritualidade Missionária (23 a 26 de julho).


Segundo padre Marcelo Gualberto Monteiro, responsável pela Juventude Missionária no Brasil, o objetivo é oferecer aos jovens que desejam aprofundar seu compromisso com a Missão, atividades focadas na dimensão universal da fé. “Queremos reunir, partilhar e celebrar com os Jovens Missionários ligados às POM de outros países e também com jovens que vivenciarão este grande momento de fé e partilha cultural. Foi pensando em um espaço de comunhão com os outros jovens missionários do mundo que as POM do Brasil resolveram organizar este espaço que vem sendo preparado, com carinho e simplicidade, pelos jovens da Paróquia São Domingos na arquidiocese de Niterói (RJ) e os Jovens Missionários do Brasil”, explica padre Marcelo.

Neste ano especial para a Juventude do Brasil, as POM escolheram como tema da Campanha Missionária para o mês de outubro: “Juventude em Missão”. A juventude representa dinamismo na tarefa missionária que precisa contar com sua vitalidade e generosidade.

Programação da Sede Missionária na JMJ Rio 2013

1.     Encontro Internacional da Juventude Missionária

Local: Museu Solar do Jambeiro - Rua Presidente Domiciano, 195 - Boa Viagem, Niterói (RJ).
Data: 23/07
Horário: 09h às 17h

Objetivo: Encontrar com os jovens missionários das mais diversas Obras Missionárias no mundo, sendo um espaço de reflexão e partilha sobre a missão universal.
Atividade: Catequese missionária e momentos de partilha de experiência dos jovens missionários pelo mundo.

2.     Exposição "Maria Mãe de todos os Povos"

Local: Museu Solar do Jambeiro - Rua Presidente Domiciano, 195 - Boa Viagem, Niterói (RJ).
Data: 23/07 a 26/07
Horário: 14h às 17h

Objetivo: Valorizar a diversidade e a interculturalidade da devoção a Maria. A missão universal, carisma das obras missionárias, promove desta forma, um modelo e exemplo de missionariedade, na figura da Mãe de Jesus, presente em todos os povos. Será uma forma simples de partilhar a devoção a Nossa Senhora invocada em nossos países com vários nomes.
Atividade: Exposição de imagens de Nossa Senhora de diversos países dos cinco continentes, bem como os 20 títulos de Nossa Senhora mais populares no Brasil.

3.     Exposição "Por uma Igreja toda Missionária"

Local: Museu Solar do Jambeiro - Rua Presidente Domiciano, 195 - Boa Viagem, Niterói (RJ).
Data: 23/07 a 26/07
Horário: 14h às 17h

Objetivo: Partilhar algumas realidades missionárias no mundo bem como atividades das Obras Missionárias nos cinco continentes reforçando a proposta das POM na animação da Missão universal da Igreja.

Atividade: Exposição de algumas atividades missionárias das POM pelos cinco continentes através de banners, objetos e outros meios, bem como atividades da Infância e Adolescência Missionária (IAM) pelo mundo e também atividades missionárias da Missão da arquidiocese de Niterói (RJ) em Rondônia com seu Projeto “Igrejas-Irmãs”. Teremos também apresentações culturais de alguns países.

4.     Adoração Eucarística e Espiritualidade Missionária

Local: Paróquia São Domingos - Rua Alexandre Moura, 29 - São Domingos, Niterói (RJ).
Data: 23/07 a 26/07
Horário: 14h às 17h

Objetivo: Oferecer um espaço onde os jovens possam fazer suas orações pelo mundo, pelos continentes, pelos missionários e pelas atividades missionárias diante de Jesus Sacramento exposto.


Atividade: Na Igreja de São Domingos o Santíssimo Sacramento ficará exposto no período e horário acima indicado com momentos de adoração orientados jovens da Juventude Missionária do Brasil.

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Fonte: CNBB

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Extremistas budistas atacam a Igreja de São Francisco Xavier.


Colombo, Sri Lanka, Arquidiocese do Cardeal Malcon Ranjith, 5 de junho de 2013: extremistas budistas atacam a Igreja de São Francisco Xavier. De acordo com a agência AsiaNews, os terroristas destruíram uma imagem da Virgem Maria, e, em seguida, atearam fogo ao altar a fim de profanar a Sagrada Eucaristia.


Ainda segundo AsiaNews, o incidente reforçou a fé dos fiéis cingaleses, pois, apesar de o tabernáculo ter sido completamente queimado por conta do uso de enorme quantidade de querosene, as hóstias permaneceram intactas! “Trata-se — diz um fiel — de um espantoso milagre, pelo qual Jesus deixa uma mensagem à nossa sociedade e àqueles que realizaram os ataques: Ninguém pode destruir Cristo e seu amor, pois Ele deu a vida por nós e depois ressuscitou. Ninguém pode fazer nada contra Ele”.

Na imagem, à esquerda, altar lateral incendiado; à direita, sacrário retirado do altar e incendiado, mas hóstias permaneceram intactas.
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domingo, 16 de junho de 2013

Papa destaca que medidas políticas e econômicas devem respeitar o ser humano


CARTA
Carta do Papa Francisco ao primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, por ocasião do encontro do G8 (17-18 de junho de 2013)
Domingo, 16 de junho de 2013


Ao honorável David Cameron

Primeiro Ministro,

Tenho o prazer de responder à sua gentil carta de 5 de junho de 2013, com a qual quis informar-me sobre a agenda do seu governo para a presidência britânica do G8 no ano de 2013 e sobre a próxima Cúpula, prevista para Lough Erne, nos dias 17 e 18 de junho de 2013, intitulado “Um encontro do G8 que remonta aos primeiros princípios”.

A fim de que tal tema tenha o seu mais amplo e profundo significado, é preciso assegurar a cada atividade política e econômica nacional e internacional uma referência ao homem. De fato, essas atividades devem, por um lado, consentir a máxima expressão da liberdade e da criatividade individual e coletiva e, por outro lado, promover e garantir que essas aconteçam sempre responsavelmente e no sentido da solidariedade, com uma particular atenção aos mais pobres.


As prioridades que a Presidência britânica estabeleceu para a cúpula de Lough Erne referem-se, sobretudo, ao livre comércio internacional, ao fisco, à transparência dos governos e dos agentes econômicos. Não falta, contudo, uma atenção fundamental com o homem, concretizada na proposta de uma ação concertada do Grupo para eliminar definitivamente o flagelo da fome e para garantir a segurança alimentar. Da mesma forma, é sinal de atenção pela pessoa humana o fato de que um dos temas centrais da agenda seja a proteção das mulheres e das crianças da violência sexual em situações de conflito, ainda que é preciso não esquecer que o contexto indispensável para o desenvolvimento de todas as mencionadas nações políticas é aquele da paz internacional.  Infelizmente, as graves crises internacionais são temas recorrentes nas deliberações do G8, e este ano não se poderá não considerar com atenção a situação no Oriente Médio e, particularmente, na Síria. Por este último, desejo que a Cúpula contribua para obter um cessar fogo imediato e duradouro e levar todas as partes em conflito à mesa de negociações. A paz exige uma renúncia de longo alcance a certas reivindicações, para construir uma paz mais igualitária e justa. Além disso, a paz é um requisito indispensável para a proteção das mulheres, das crianças e das outras vítimas inocentes, e para começar a erradicar a fome, principalmente entre as vítimas da guerra.

As ações inclusas na agenda da presidência britânica do G8, que pretendem se concentrar na legalidade como o fio de ouro do desenvolvimento, com os consequentes compromissos para evitar a evasão fiscal e assegurar a transparência e a responsabilidade dos governantes, são medidas que apontam para as raízes éticas profundas dos problemas, já que, como bem havia destacado o meu predecessor, Bento XVI, a presente crise global demonstra que a ética não é algo externo à economia, mas é uma parte integrante e inevitável do pensamento e da ação econômica.

Sejam as medidas de longo prazo para assegurar a estrutura adequada de legalidade que norteia todas as ações econômicas, sejam as medidas conjunturais de urgência para resolver a crise econômica mundial, devem ser guiadas pela ética, pela verdade, que incluiu, antes de tudo, o respeito pela verdade sobre o homem, o qual não é um fator econômico em maioria, ou um bem descartável, mas algo que tem uma natureza e uma dignidade não reduzíveis a simples cálculos econômicos. Por isso, a preocupação com o bem-estar básico material e espiritual de cada homem é o ponto de partida de toda solução política e econômica e a medida última da sua eficácia e da sua eticidade.

Por outro lado, a finalidade da economia e da política é propriamente o serviço aos homens, a começar pelos mais pobres e mais frágeis, onde quer que eles se encontrem, mesmo se estejam no ventre de suas mães. Toda teoria ou ação econômica e política deve esforçar-se para proporcionar a todo habitante da terra aquele mínimo bem-estar que permita viver com dignidade, na liberdade, com possibilidade de sustentar uma família, de educar os filhos, de louvar a Deus e de desenvolver as próprias capacidades humanas. Isto é o principal. Sem esta visão, toda a atividade econômica não teria sentido.

Nesse sentido, os vários e graves desafios econômicos e políticos que o mundo de hoje enfrenta requerem uma corajosa mudança de atitude, que restaure à finalidade (a pessoa humana) e aos meios (a economia e a política) o seu devido lugar. O dinheiro e os outros meios políticos e econômicos devem servir e não governar, tendo em mente que a solidariedade gratuita e desinteressada é, de modo aparentemente paradoxal, a chave do bom funcionamento econômico global.

Quis compartilhar com o Senhor, primeiro-ministro, estes pensamentos, no desejo de contribuir para destacar aquilo que está implícito em todas as instâncias políticas, mas que às vezes se pode esquecer: a importância vital de colocar o homem, cada homem e cada mulher, no centro de toda atividade política e econômica nacional e internacional, porque o homem é o mais verdadeiro e mais profundo recurso da política e da economia e, ao mesmo tempo, o fim primordial delas.

Senhor primeiro-ministro, com a esperança de ter oferecido uma válida contribuição espiritual às vossas deliberações, faço votos de um fecundo êxito dos trabalhos e invoco abundantes bênçãos para a Cúpula de Lough Erne e para todos os participantes, bem como para as atividades da presidência britânica do G8 durante o ano de 2013 e aproveito a ocasião para renovar os meus melhores votos e exprimir os meus sentimentos de estima.

Do Vaticano, 15 de junho de 2013,

Franciscus
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Fonte: Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

Não adoro cruzes!


Ele era de outra igreja e apostrofou-me à queima roupa:

- Você adora ou não adora cruzes? Sua Igreja até reza isso na semana santa!

Olhei com calma e disse:

-Se prometer não me interromper, eu explico.- Prometeu.

Então eu lhe disse:

- Você tem carinho especial pela sua Bíblia. É justo que tenha. Aprende nela! Eu aprendo com a Bíblia e com a cruz. Esta cruz pequena aqui no meu peito, eu não adoro, nem aquele enorme cruzeiro lá no morro, nem cruzes nas salas ou nas torres de igreja. São obras de marceneiros, carpinteiros e artesãos. Eu não poderia adorá-las porque são apenas objetos de devoção. Elas lembram Jesus, mas Jesus não está nelas. Se pegarem fogo Jesus não se queimará.

Mas, como você diz que adora Jesus, e que o sangue de Jesus tem poder e por isso mesmo adora Jesus, entenderá que aquela cruz na qual ele morreu tornou-se especial, porque seu sangue escorreu por ela. Eu nunca cheguei perto dela ou do que dizem que ainda existe dela. Então, recorro a símbolos.



Aquela cruz única empapada com o sangue redentor do Cristo foi madeiro santificado. Se eu chegasse perto de um pedaço dela eu o beijaria com a maior reverência, em memória do sangue que escorreu por aquele lenho. Ao adorar aquele sangue do meu Senhor misturado ao lenho onde ele morreu eu estaria, sim, adorando tudo o que teve a ver com a morte dele por nós.

Quando digo que adoro a santa cruz não falo desta aqui, nem de milhões de pequenas cruzes espalhadas pelo mundo. Estou pensando naquele sangue derramado numa delas e naquela cruz especial que foi testemunha do maior amor do mundo. Esta aqui que você vê no meu peito não teve o sangue dele a escorrer por ela. É simbólica e é sinal de gratidão. Esta, eu reverencio, porque aponta para a outra e para quem morreu na outra. A outra que eu nunca vi, eu venero de maneira muito especial. Gostaria de chegar perto, ao menos da parte que dizem que restou dela! Se você soubesse que ainda existe o rolo da lei que Jesus leu e logo após anunciou sua missão, como você o trataria? Como um documento qualquer?

Olhou-me assombrado e disse: – “Faz sentido!” De vez em quando, havendo tempo, a gente toma um café ecumênico na padaria de um senhor espírita…É… Pois é!




Papa convidou fiéis a verem na mensagem do Evangelho um caminho de liberdade e de vida


HOMILIA
Santa Missa por ocasião do Dia do Evangelho da Vida
Praça São Pedro
Domingo, 16 de junho de 2013


Amados irmãos e irmãs!

Esta celebração tem um nome muito belo: Evangelho da Vida. Com esta Eucaristia, no Ano da Fé, queremos agradecer ao Senhor pelo dom da vida, em todas as suas manifestações, e ao mesmo tempo queremos anunciar o Evangelho da Vida.

Partindo da Palavra de Deus que escutamos, gostaria de vos propor simplesmente três pontos de meditação para a nossa fé: primeiro, a Bíblia revela-nos o Deus Vivo, o Deus que é Vida e fonte da vida; segundo, Jesus Cristo dá a vida e o Espírito Santo mantém-nos na vida; terceiro, seguir o caminho de Deus leva à vida, ao passo que seguir os ídolos leva à morte.


1.            A primeira leitura, tirada do Segundo Livro de Samuel, fala-nos de vida e de morte. O rei David quer esconder o adultério cometido com a esposa de Urias, o hitita, um soldado do seu exército, e, para o conseguir, manda colocar Urias na linha da frente para ser morto em batalha. A Bíblia mostra-nos o drama humano em toda a sua realidade, o bem e o mal, as paixões, o pecado e as suas consequências. Quando o homem quer afirmar-se a si mesmo, fechando-se no seu egoísmo e colocando-se no lugar de Deus, acaba por semear a morte. Exemplo disto mesmo é o adultério do rei David. E o egoísmo leva à mentira, pela qual se procura enganar a si mesmo e ao próximo. Mas, a Deus, não se pode enganar, e ouvimos as palavras que o profeta disse a David: Tu praticaste o mal aos olhos do Senhor (cf. 2 Sam 12, 9). O rei vê-se confrontado com as suas obras de morte – na verdade o que ele fez é uma obra de morte, não de vida! –, compreende e pede perdão: “Pequei contra o Senhor” (v. 13); e Deus misericordioso, que quer a vida e sempre nos perdoa, perdoa-lhe, devolve-lhe a vida; diz-lhe o profeta: “O Senhor perdoou o teu pecado. Não morrerás”.

Que imagem temos de Deus? Quem sabe se nos aparece como um juiz severo, como alguém que limita a nossa liberdade de viver?! Mas toda a Escritura nos lembra que Deus é o Vivente, aquele que dá a vida e indica o caminho da vida plena. Penso no início do Livro do Gênesis: Deus plasma o homem com o pó da terra, insufla nas suas narinas um sopro de vida e o homem torna-se um ser vivente (cf. 2, 7). Deus é a fonte da vida; é devido ao seu sopro que o homem tem vida, e é o seu sopro que sustenta o caminho da nossa existência terrena. Penso também na vocação de Moisés, quando o Senhor Se apresenta como o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, como o Deus dos viventes; e, quando enviou Moisés ao Faraó para libertar o seu povo, revela o seu nome: “Eu sou aquele que sou”, o Deus que Se torna presente na história, que liberta da escravidão, da morte e traz vida ao povo, porque é o Vivente. Penso também no dom dos Dez Mandamentos: uma estrada que Deus nos indica para uma vida verdadeiramente livre, para uma vida plena; não são um hino ao “não” – não deves fazer isto, não deves fazer aquilo, não deves fazer aquilo outro… Não! – São um hino ao “sim” dito a Deus, ao Amor, à vida. Queridos amigos, a nossa vida só é plena em Deus, porque só Ele é o Vivente!

2.            A passagem do Evangelho de hoje permite-nos avançar mais um passo. Jesus encontra uma mulher pecadora durante um almoço em casa de um fariseu, suscitando o escândalo dos presentes: Jesus deixa-Se tocar por uma pecadora e até lhe perdoa os pecados, dizendo: “São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (Lc 7, 47). Jesus é a encarnação do Deus Vivo, Aquele que traz a vida fazendo frente a tantas obras de morte, fazendo frente ao pecado, ao egoísmo, ao fechamento em si mesmo. Jesus acolhe, ama, levanta, encoraja, perdoa e dá novamente a força de caminhar, devolve a vida. Ao longo do Evangelho, vemos como Jesus, por gestos e palavras, traz a vida de Deus que transforma. É a experiência da mulher que unge com perfume os pés do Senhor: sente-se compreendida, amada, e responde com um gesto de amor, deixa-se tocar pela misericórdia de Deus e obtém o perdão, começa uma vida nova. Deus, o Vivente, é misericordioso. Estais de acordo? Digamo-lo juntos: Deus, o Vivente, é misericordioso! Todos: Deus, o Vivente, é misericordioso. Outra vez: Deus, o Vivente, é misericordioso!

Esta foi também a experiência do apóstolo Paulo, como ouvimos na segunda leitura: “A vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim” (Gl 2, 20). E que vida é esta? É a própria vida de Deus. E quem nos introduz nesta vida? É o Espírito Santo, dom de Cristo ressuscitado; é Ele que nos introduz na vida divina como verdadeiros filhos de Deus, como filhos no Filho Unigênito, Jesus Cristo. Estamos nós abertos ao Espírito Santo? Deixamo-nos guiar por Ele? O cristão é um homem espiritual, mas isto não significa que seja uma pessoa que vive “nas nuvens”, fora da realidade, como se fosse um fantasma. Não! O cristão é uma pessoa que pensa e age de acordo com Deus na vida cotidiana, uma pessoa que deixa que a sua vida seja animada, nutrida pelo Espírito Santo, para ser plena, vida de verdadeiros filhos. E isto significa realismo e fecundidade. Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo é realista, sabe medir e avaliar a realidade, e também é fecundo: a sua vida gera vida em redor.

3.            Deus é o Vivente, é o Misericordioso. Jesus traz-nos a vida de Deus, o Espírito Santo introduz-nos e mantém-nos na relação vital de verdadeiros filhos de Deus. Muitas vezes, porém – sabemo-lo por experiência –, o homem não escolhe a vida, não acolhe o “Evangelho da vida”, mas deixa-se guiar por ideologias e lógicas que põem obstáculos à vida, que não a respeitam, porque são ditadas pelo egoísmo, o interesse pessoal, o lucro, o poder, o prazer, e não são ditadas pelo amor, a busca do bem do outro. É a persistente ilusão de querer construir a cidade do homem sem Deus, sem a vida e o amor de Deus: uma nova Torre de Babel; é pensar que a rejeição de Deus, da mensagem de Cristo, do Evangelho da Vida leve à liberdade, à plena realização do homem. Resultado: o Deus Vivo acaba substituído por ídolos humanos e passageiros, que oferecem o arrebatamento de um momento de liberdade, mas no fim são portadores de novas escravidões e de morte. O Salmista diz na sua sabedoria: “Os mandamentos do Senhor são retos, alegram o coração; os preceitos do Senhor são claros, iluminam os olhos” (Sal 19, 9). Recordemo-nos sempre disto: O Senhor é o Vivente, é misericordioso. O Senhor é o Vivente, é misericordioso.

Amados irmãos e irmãs, consideremos Deus como o Deus da vida, consideremos a sua lei, a mensagem do Evangelho como um caminho de liberdade e vida. O Deus Vivo faz-nos livres! Digamos sim ao amor e não ao egoísmo, digamos sim à vida e não à morte, digamos sim à liberdade e não à escravidão dos numerosos ídolos do nosso tempo; numa palavra, digamos sim a Deus, que é amor, vida e liberdade, e jamais desilude (cf. 1 Jo 4, 8; Jo 8, 32; 11, 2), digamos sim a Deus que é o Vivente e o Misericordioso. Só nos salva a fé no Deus Vivo; no Deus que, em Jesus Cristo, nos concedeu a sua vida com o dom do Espírito Santo , nos faz viver como verdadeiros filhos de Deus com a sua misericórdia. Esta fé torna-nos livres e felizes. Peçamos a Maria, Mãe da Vida, que nos ajude a acolher e testemunhar sempre o “Evangelho da Vida”. Assim seja.
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Fonte: Boletim da Santa Sé