Caro Padre Angelo, em uma jornada na escola ouvi uma professora que
dizia que o casamento dos padres poderia ser uma solução aos casos de pedofilia e
também a homossexualismo. Ela
também sustentava que os apóstolos eram casados e que seria justo ter também
padres casados (adiciono que ela também falava das freiras). Ela disse que o
celibato sacerdotal e monástico é contra a natureza e que o matrimônio poderia
acabar com as infidelidades e os escândalos. Naturalmente eu estava muito bravo
ao ouvir estas coisas contra a Igreja, mas não tive coragem de contrapor,
porque muitos dos meus companheiros estavam de acordo, e também porque eu não
tinha argumentos adequados para contrapor estas questões.
Resposta do sacerdote:
Caro,
1. Cito primeiramente
o que escreveu um professor na França, Jean Guitton: “Se se compara a vida dos
animais com o comportamento da espécie humana, percebemos que a sexualidade nos
animais tem um papel muito mais limitado. Dá-se por fases e períodos limitados,
ao menos nas espécies superiores. Com excessão dos grandes macacos, que são
certamente os degenerados, a fêmea aceita o macho somente para sua necessidade
aos seus deveres com a espécie. Existem também casos nos quais apenas um
contato torna a fêmea idônea a gerar muitas vezes, como para as abelhas e
pulgões. De resto, a sexualidade animal é limitada estreitamente a sua função e
não cria comunidade de vida entre os indivíduos. Conhecem-se certamente as
simbioses de acoplamento, por exemplo nas rãs e nas tartarugas, mas o
acoplamento não é uma sociedade” (J. Guitton, O amor humano, p. 162).
2. Depois de ter
observado que para os animais o estímulo sexual leva à necessidade
incontrolável, afirma: “Existe toda uma literatura que quer apresentar a
satisfação do instinto sexual como uma necessidade. Mas os raciocínios dos
fisiologistas e o lirismo nunca podem prevalecer sobre a realidade que a
continência não é prejudicial à saúde física e mental e não afeta os órgãos
reprodutores. É neste sentido que o instinto sexual, que no homem e somente no
homem é independente do instinto vital, permite ao homem libertar-se… Por outro
lado, enquanto no animal o instinto segue uma regra e é submisso ao ritmo
cósmico, no homem - e sobretudo no macho - pode ser excitado quase em
continuação. Não é ligado às necessidades vitais e se apresenta no tempo e fora
dele. Diria que no homem o instinto se solta da vida para se envolver no
espírito… Tudo ocorre como se a natureza tivesse, neste instinto mais que em
outro, deparado o desejo da necessidade… A necessidade, reduzida a pura
necessidade real, é rara e se deve notar que nunca é constritiva” (Ib., pp.
164-165).
3. Um autor de
bioética, Ramòn Lucas Lucas, ressalta a importância deste dado: “No animal a
atividade instintiva sexual tem um caráter totalmente automático. O encontro do
macho com a fêmea não é subordinado a nenhuma decisão ou escolha; tem qualquer
coisa de fatal. Do mesmo modo, o ritmo dos períodos do cio é regulado de
maneira automática. Este caráter automático não se encontra no homem. Não
existe no homem ‘normal’ nenhuma atividade instintiva vinculada por si. A razão
disto, em relação à sexualidade, é a ausência dos períodos de cio; como existem
determinados estímulos hormonais, que se manifestam na intensificação do
instinto. Em virtude desta ausência, o homem escapa ao ciclo do tempo” (R.
Lucas Lucas, Antropologia e problemas bioéticos, p. 69).
4. E acrescenta: “A
exclusão do homem de determinação instintiva não é de menos, mas uma outra
oportunidade como sinal de sua grandeza. A diminuição de sua potência como ser
natural oferece a oportunidade de orientar-se para a sua determinação. A vida
não lhe é dada já organizada, nem determinada para o ciclo dos instintos; assim
o homem é exposto ao risco, e à oportunidade e ao dever de perguntar-se qual é
o sentido da sua atividade sexual. Com isto, a possibilidade de errar se
converte em privilégio do qual goza apenas o homem; errar é humano. A falta de
determinação da força natural da sensualidade humana e das relações sexuais
produz paradoxalmente uma força de humanização” (Ib., p. 79).