sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Papa Francisco escolhe tema do Dia Mundial da Paz 2015





“Não mais escravos, mas irmãos”. Este é o tema que o Papa Francisco escolheu para o 48º Dia Mundial da Paz, que será celebrado em 1º de janeiro de 2015. A informação foi publicada, nesta quinta-feira, 21, no Boletim da Santa Sé.



Essa será a segunda mensagem escrita por Francisco para o Dia Mundial da Paz. Em comunicado emitido hoje, o Pontifício Conselho da Justiça e da Paz explica que a escravidão ainda é uma realidade e representa um “golpe de morte” para a fraternidade universal. A fraternidade, aliás, foi tema da mensagem de paz deste ano de 2014: “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Mensagem do Papa Francisco para a celebração do Dia Mundial da Paz




 MENSAGEM Mensagem do Santo Padre Francisco
para a celebração do XLVII Dia Mundial da Paz
1º de janeiro de 2014

FRATERNIDADE, FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ

1. Nesta minha primeira Mensagem para o Dia Mundial da Paz, desejo formular a todos, indivíduos e povos, votos duma vida repleta de alegria e esperança. Com efeito, no coração de cada homem e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar.

Na realidade, a fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E convém desde já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família, graças sobretudo às funções responsáveis e complementares de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.

O número sempre crescente de ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra. Assim, nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros. Contudo, ainda hoje, esta vocação é muitas vezes contrastada e negada nos factos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.

Em muitas partes do mundo, parece não conhecer tréguas a grave lesão dos direitos humanos fundamentais, sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de religião. Exemplo preocupante disso mesmo é o dramático fenómeno do tráfico de seres humanos, sobre cuja vida e desespero especulam pessoas sem escrúpulos. Às guerras feitas de confrontos armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem nos campos económico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.

A globalização, como afirmou Bento XVI, torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos.[1] As inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do «descartável» que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados «inúteis». Assim, a convivência humana assemelha-se sempre mais a um mero do ut des pragmático e egoísta.

Ao mesmo tempo, resulta claramente que as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da referência a um Pai comum como seu fundamento último não consegue subsistir.[2] Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro.

«Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9)

2. Para compreender melhor esta vocação do homem à fraternidade e para reconhecer de forma mais adequada os obstáculos que se interpõem à sua realização e identificar as vias para a superação dos mesmos, é fundamental deixar-se guiar pelo conhecimento do desígnio de Deus, tal como se apresenta de forma egrégia na Sagrada Escritura.

Segundo a narração das origens, todos os homens provêm dos mesmos pais, de Adão e Eva, casal criado por Deus à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), do qual nascem Caim e Abel. Na história desta família primigénia, lemos a origem da sociedade, a evolução das relações entre as pessoas e os povos.

Abel é pastor, Caim agricultor. A sua identidade profunda e, conjuntamente, a sua vocação é ser irmãos, embora na diversidade da sua actividade e cultura, da sua maneira de se relacionarem com Deus e com a criação. Mas o assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gn 4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros. Caim, não aceitando a predilecção de Deus por Abel, que Lhe oferecia o melhor do seu rebanho – «o Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta» (Gn 4, 4-5) –, mata Abel por inveja. Desta forma, recusa reconhecer-se irmão, relacionar-se positivamente com ele, viver diante de Deus, assumindo as suas responsabilidades de cuidar e proteger o outro. À pergunta com que Deus interpela Caim – «onde está o teu irmão?» –, pedindo-lhe contas da sua acção, responde: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Depois – diz-nos o livro do Génesis –, «Caim afastou-se da presença do Senhor» (4, 16).

É preciso interrogar-se sobre os motivos profundos que induziram Caim a ignorar o vínculo de fraternidade e, simultaneamente, o vínculo de reciprocidade e comunhão que o ligavam ao seu irmão Abel. O próprio Deus denuncia e censura a Caim a sua contiguidade com o mal: «o pecado deitar-se-á à tua porta» (Gn 4, 7). Mas Caim recusa opor-se ao mal, e decide igualmente «lançar-se sobre o irmão» (Gn 4, 8), desprezando o projecto de Deus. Deste modo, frustra a sua vocação original para ser filho de Deus e viver a fraternidade.

A narração de Caim e Abel ensina que a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também a possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho o egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a doação.

Papa resume viagem à Coréia: memória, esperança e testemunho



 CATEQUESE Sala Paulo VI – Vaticano Quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Queridos irmãs e irmãos, bom dia!

Nos dias passados, realizei uma viagem apostólica à Coreia e hoje, junto com vocês, agradeço ao Senhor por este grande presente. Pude visitar uma Igreja jovem e dinâmica, fundada no testemunho dos mártires e animada pelo espírito missionário, em um país onde se encontram antigas culturas asiáticas e a perene novidade do Evangelho: encontram-se ambas.

Desejo novamente exprimir a minha gratidão aos queridos irmãos bispos da Coreia, à senhora Presidente da República, às outras autoridades e a todos aqueles que colaboraram para esta visita.

O significado desta viagem apostólica pode ser condensado em três palavras: memória, esperança, testemunho.

A República da Coreia é um país que teve um notável e rápido desenvolvimento econômico. Os seus habitantes são grandes trabalhadores, disciplinados, organizados e devem manter a força herdada dos seus antepassados.

Nesta situação, a Igreja é guardiã da memória e da esperança: é uma família espiritual na qual os adultos transmitem aos jovens a chama da fé recebida pelos idosos; a memória dos testemunhos do passado se torna novo testemunho no presente e esperança de futuro. Nessa perspectiva, podem-se ler os dois eventos principais desta viagem: a beatificação dos 124 mártires coreanos, que se somam àqueles já canonizados há 30 anos por São João Paulo II; e o encontro com os jovens por ocasião da 6ª Jornada da Juventude Asiática.

O jovem é sempre uma pessoa em busca de algo pelo qual valha a pena viver, e o mártir dá testemunho de algo, antes, de Alguém por quem vale a pena dar a vida. Esta realidade é o Amor de Deus, que se fez carne em Jesus, a Testemunha do Pai. Nos dois momentos da viagem dedicados aos jovens, o Espírito do Senhor Ressuscitado nos encheu de alegria e de esperança, que os jovens levarão a seus diversos países e que farão tão bem!

A Igreja na Coreia guarda também a memória do papel primário que tiveram os leigos, seja nos primórdios da fé, seja na obra de evangelização. Naquela terra, de fato, a comunidade cristã não foi fundada por missionários, mas por um grupo de jovens coreanos da segunda metade de 1700, os quais ficaram fascinados com alguns textos cristãos, os estudaram a fundo e os escolheram como regra de vida. Um deles foi enviado a Pequim para receber o Batismo e depois este leigo batizou na sua volta os companheiros. Daquele primeiro núcleo, desenvolveu-se uma grande comunidade que, desde o início e por cerca de um século, sofreu violentas perseguições, com milhares de mártires. Deste modo, a Igreja na Coreia se baseia na fé, no engajamento missionário e no martírio dos fiéis leigos.

Os primeiros cristãos coreanos foram propostos como modelo à comunidade apostólica de Jerusalém, praticando o amor fraterno que supera toda diferença social. Por isso, encorajei os cristãos de hoje a serem generosos na partilha com os mais pobres e os excluídos, segundo o Evangelho de Mateus no capítulo 25: “Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (v. 40).

A fé de Foley, o jornalista americano decapitado por jihadistas





O jornalista americano James Foley, decapitado por jihadistas do Estado Islâmico (notícia divulgada nessa terça-feira, 19 de agosto), tinha sido prisioneiro em 2011 de milícias na Líbia. Preso em Trípoli, foi libertado depois de 45 dias. Após isso, decidiu escrever uma carta para a revista da Universidade Católica de Milwaukee, que ele frequentava.

“Como minha mãe”

Nascido em uma família católica de Boston, Foley contou: “Eu e meus colegas fomos capturados e detidos em um centro militar de Trípoli”. Todos os dias, conta o jornalista, “aumentava a preocupação pelo fato que as nossas mães pudessem estar em pânico”. E mesmo “não tendo plena certeza de que minha mãe teria consciência daquilo que estava acontecendo comigo”, Foley repetia para uma colega que “minha mãe tem uma grande ” e que “eu rezava para que ela soubesse que estou bem. Rezava para conseguir me comunicar com ela”. O jornalista contou que “começou a rezar o terço” porque “era como minha mãe e minha avó rezavam (…). Eu e Clare (uma colega) começamos a rezar em alta voz. Sentia-me encorajado em confessar a minha fraqueza e a minha esperança junto e conversando com Deus, em vez de estar em silêncio”. 

Por que a América é católica?


Você já leu o diário de Cristóvão Colombo?

É um dos Diários mais emocionantes que já li. Colombo o escreveu quando estava a bordo de sua Caravela “Santa Maria” em direção às “Índias”, como ele pensava que fosse chegar, navegando pelo Ocidente, ao invés de fazê-lo pelo Oriente, como todos os navegadores portugueses e espanhóis do século XV faziam. O caminho para as Índias estava fechado pelos muçulmanos que tinham dominado Constantinopla.

A História de Colombo é emocionante; ele era católico fervoroso. Foi aos reis de Portugal e não conseguiu as três caravelas que precisava para a sua viagem que parecia uma aventura louca. Foi aos reis da Espanha, Fernando e Isabel, e também não conseguiu, porque em 1492 esses reis, lutavam para expulsar os muçulmanos mouros de Granada. E os reis e seus assessores o achavam um visionário.

Então, Colombo, entrou um dia na Catedral de Sevilha, e prometeu a Nossa Senhora, diante do seu altar, que se conseguisse as caravelas, lhe traria o primeiro pedaço de ouro que encontrasse nas “Índias”. “Os reis da terra não querem me ouvir, mas a Senhora é a Rainha do céu e tudo pode”; essa foi a sua oração.

Saindo da Catedral de Sevilha, Colombo encontrou o frei franciscano de Rábida, na Andaluzia, Juan Perez, antigo confessor da rainha Isabel, que levou Colombo a ela, e o apoiou contra os doutores de Salamanca e funcionários do rei Fernando, que lhe negavam o auxílio para a viagem.

Isabel era católica fervorosa, e por inspiração de Deus acreditava em Colombo.

Neste ínterim, os reis conseguiram expulsar os muçulmanos de Granada, e as finanças aliviaram. Então, a rainha Isabel, empenhou suas joias pessoais para bancar a viagem de Colombo. Certamente ai houve a mão de Deus, para que a América nascesse católica. E Colombo conseguiu as caravelas.

Em sua nau capitânia ele pôs o nome de “Santa Maria”, não foi sem razão. Nas outras: Pinta e Nina.

A viagem foi terrível; quase dois meses em mar aberto sem saber quando e onde iam chegar. Eram 100 homens na Santa Maria, Pinta e Nina. Os marujos queriam voltar, se rebelavam, mas Colombo insistia e rezava. Ele conta em seu diário que os marinheiros sabiam rezar ou cantar a cada dia a “Salve Rainha”, com outras orações devotas que continham louvores a Deus e a Nossa Senhora.

Depois de muita luta, Colombo chegou enfim, em 12 de outubro de 1492 nas ilhas que ele chamou de São Salvador e Santo Domingo (La Española); e fundou o Forte Natividade, por causa do Natal. E aí celebrou a primeira Missa na América. Note os nomes cristãos.

A Igreja mudou o seu ensinamento com relação à pena de morte?


Tradicionalmente, a Igreja Católica sempre admitiu a possibilidade da aplicação da pena de morte. Este posicionamento pode ser encontrado nos vários Catecismos antigos, nos documentos papais e nos escritos dos grandes teólogos da Igreja. Diante disso, procede a afirmação de que o Papa João Paulo II, em sua encíclica Evangelium Vitae, concluiu - e ensinou - que a pena de morte deve ser evitada?

Nem a Igreja mudou o seu ensinamento nem o Papa João Paulo II mudou o ensinamento da Igreja. O que mudou foi a circunstância em que a Igreja pode ou não aplicar esse ensinamento moral.

Para que um ato possa ser moral ou imoral não basta que ele seja avaliado em si mesmo, é preciso levar em conta três fatores: o ato em si mesmo, a intenção e as circunstâncias. O ato em si mesmo pode ser bom. Ex. o rezar. Contudo, se for feito com a intenção errada - por vaidade, por exemplo - pode ser inadequado. Apesar de ser bom, o ato de comer, por exemplo, se for praticado em uma circunstância errada pode ser também inadequado. Ex. comer dentro da Igreja. Assim, para que a moralidade de um ato seja realmente boa, é preciso avaliar também a intenção e a circunstância.

Em relação à pena de morte essa avaliação também se aplica. Para a Igreja, o ato da pena de morte em si mesmo é bom. Isso se dá porque por detrás dessa ação existe a realidade da legítima e proporcionada defesa. O que vem a ser isto? O Catecismo da Igreja Católica esclarece:

"A legítima defesa das pessoas e das sociedades não é uma exceção à proibição de matar o inocente, que constituiu o homicídio voluntário. A ação de defender-se pode acarretar um duplo efeito: um é a conservação da própria vida, o outro é a morte do agressor... Só se quer o primeiro; o outro, não.



O amor a si mesmo permanece um princípio fundamental da moralidade. Portanto, é legítimo fazer respeitar seu próprio direito à vida. Quem defende sua vida não é culpável de homicídio, mesmo se for obrigado a matar o agressor:

‘Se alguém, para se defender, usar de violência mais do que o necessário, seu ato será ilícito. Mas, se a violência for repelida com medida, será lícito... E não é necessário para a salvação omitir este ato de comedida proteção para evitar matar o outro porque, antes da de outrem, se está obrigado a cuidar da própria vida.’ (Sto Tomás de Aquino).

A legítima defesa pode não ser um direito, mas um dever grave, para aquele que é responsável pela vida de outros." (CIC 2263-2265) 

Sou obrigado à legítima defesa?



O programa Resposta Católica já tratou sobre a legítima e proporcionada defesa da sociedade em seu episódio128. Sobre a legítima e proporcionada defesa da pessoa no episodio165, tomando como exemplo o caso de um policial que tira a vida de um agressor. Resta ainda responder se uma pessoa que tem o direito à legítima e proporcionada defesa tem também o dever de se defender.

A resposta direta é não. Ninguém tem o dever de se defender e de tirar a vida de um agressor. Existem duas situações excepcionais e específicas em que a pessoa tem o dever de defender-se e de preservar a própria vida.

A primeira é no caso de a pessoa agredida estar em pecado mortal e, sabendo que se morrer naquele momento, possível e provavelmente perderá a sua vida eterna e irá para o inferno, nesse caso, ela tem o dever de preservar a sua vida biológica e ter possibilidade de emenda e de conversão para salvar-se. A segunda possibilidade em que a pessoa tem o dever de defender-se de um agressor, tirando a vida desse, se necessário, é a de que muitas vidas ou o bem comum dependam dela. Por exemplo, uma pessoa que presta serviço para a comunidade e sabe que a vida de muitos depende da sua própria ou de um pai de família que sabe que a subsistência da mulher e dos filhos depende dele. Nesse caso, existe o dever de tentar salvar a própria vida. 

Herodes e Pilatos ficaram amigos!


Assim como, há dois mil anos, Herodes e Pilatos se uniram para crucificar Cristo, hoje, dois inimigos tidos como ferrenhos – a saber, os marxistas e certas organizações metacapitalistas – têm se unido com um propósito comum: a destruição da família. Grandes fundações – como Rockefeller, MacArthur, Ford e Bill & Melinda Gates – têm financiado pesadamente ONGs com ideologia de esquerda, unindo dois universos até então inconciliáveis.

Para compreender como se cruzam esses dois mundos aparentemente tão hostis, é importante a figura-chave do sociólogo americano Kingsley Davis. Em um renomado estudo sobre a sociedade humana [1], ele explica que ela é regulada por usos, costumes e leis: os usos solidificados tornam-se costumes; estes, por sua vez, consolidados, viram leis; e todo esse mecanismo cria um sistema de recompensas e punições, que se condensa em instituições. Para mudar a sociedade, diz Davis, é preciso desmontar essas instituições.

Davis também esteve à frente de estudos sobre o controle populacional e, junto com outros professores, aperfeiçoou a “teoria da transição demográfica”. Essa teoria, proposta por Warren Thompson em 1915, em sua obra Population: A Study in Malthusianism [“População: Um Estudo sobre o Malthusianismo”], dizia que o êxodo do campo para a cidade contribuía para a diminuição da população. Davis também vislumbrava o controle de natalidade como uma ferramenta para manter a paz no planeta, já que, com a agricultura se desenvolvendo nos países desenvolvidos e o superpovoamento dos países subdesenvolvidos, no futuro uma guerra por alimentos seria inevitável.

Todas essas ideias engendraram, em 1952, o Conselho Populacional, fundado por John Rockefeller III, juntamente com vários especialistas em demografia. Já de início, começou a investir-se na promoção de centros mundiais de estudos demográficos, além da implantação do DIU (dispositivo intrauterino) e de outros métodos contraceptivos ao redor do mundo, mormente em países periféricos, como Coréia, Hong Kong, Taiwan, Índia e Paquistão.

Só que o desenvolvimento de anticoncepcionais não era a forma ideal de reduzir a população mundial. Quem o percebeu foi justamente Kingsley Davis, que, em um almoço com o então presidente do Conselho Populacional, Frank Notestein, no dia 17 de maio de 1963, manifestou sua insatisfação com a forma como eles estavam lidando com o controle demográfico. O descontentamento de Davis deu origem, em 1967, a um estudo que mudaria os rumos da história da demografia. No artigo, de título Population Policy: Will Current Programs Succeed?[“Política Populacional: os Programas Atuais Terão Sucesso?”], publicado na revista Science, Davis mostra, à luz de seu pensamento sociológico, que não é possível reduzir a população simplesmente implantando DIUs nas mulheres. Para controlar efetivamente a demografia, é preciso mudar a sociedade e modificar os seus usos, costumes e leis. Mais do que distribuir meios de contracepção para as mulheres, é preciso alterar o tecido social e a família, a fim de que elas não queiram mais ter filhos.

À época, as ideias de Davis não foram bem aceitas. No entanto, ele continuou ensinando tudo isso aos seus alunos. Alguns anos mais tarde, o seu magistério deu frutos em uma aluna chamada Adrienne Germain. Essa mulher, presidente emérita da International Women’s Health Coalition [“Coalizão Internacional pela Saúde das Mulheres”], em uma entrevista concedida à Universidade de Harvard, em 2012, contou como um período de experiência com as mulheres do Peru, em sua juventude, marcou profundamente a sua carreira profissional. Ela percebeu, a partir de seu contato com Davis e Judith Blake, que aquelas mulheres “tinham razões muito boas para ter muitos filhos. E até que – ou a menos que – as suas vidas fossem mudadas, elas provavelmente continuariam tendo filhos” [2].