sábado, 4 de abril de 2015

Sábado Santo


Hoje, é o dia alitúrgico por excelência. Ontem, Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor, houve ao menos a Solene Ação Litúrgica, com Adoração da Cruz, Liturgia da Palavra, Oração Universal e Comunhão. Hoje, Sábado Santo, nem isso! Até a Comunhão nos é tirada, tamanha a dor e profundo o luto pela morte de Nosso Senhor Jesus Cristo!

A Quaresma é toda pedagógica em suas perdas... Já na Septuagésima (que só existe na forma extraordinária), o Aleluia e o Glória nos são tirados. Na Quaresma, em si, também as flores e o solo de órgão, relegando a música ao mero sustentar do canto. Depois, no V Domingo da Quaresma (antigamente, I Domingo da Paixão, como ainda é chamado na forma extraordinária), até as imagens sacras perdemos, pois são veladas com um manto. Cessa, então, no Tríduo, mesmo o órgão para acompanhar o canto é suprimido, com exceção da Missa in Coena Domini até o Glória, quando volta a não mais ser tocado até o Glória da Solene Vigília Pascal. Na Sexta-feira Santa, então, nem mais a Missa temos, ainda que nos reste a Comunhão, e, enfim, no Sábado Santo, hoje, nem ela... Ficamos no vazio, fora a Liturgia das Horas, esperando o Aleluia romper na Vigília! 

Papa aos presidiários de Rebibbia: Jesus nos ama sem limites.


SANTA MISSA NA CEIA DO SENHOR

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Igreja "Padre Nosso"
Novo Pavilhão do Presídio de Rebibbia, Roma
Quinta-feira Santa, 2 de Abril de 2015


Nesta quinta-feira, Jesus estava à mesa com os discípulos, celebrando a festa da Páscoa. A passagem do Evangelho que escutamos contém uma frase que é justamente o centro daquilo que Jesus fez por todos nós: «Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim» (Jo 13,1). Jesus nos amou. Jesus nos ama. Sem limites, sempre, até o final. O amor de Jesus por nós não tem limites: sempre mais, sempre mais. Nunca se cansa de amar ninguém. Ama todos nós, ao ponto de dar a sua vida por nós. Sim, dar a vida por nós; sim dar a vida por todos nós, dar a vida por cada um de nós. E cada um de nós pode dizer: “Ele deu a vida por mim”. Cada um. Deu a vida por ti, por ti, por ti, por mim, por ele... por cada um, com nome e sobrenome. O seu amor é assim: pessoal. O amor de Jesus nunca decepciona, porque Ele nunca se cansa de amar, como não se cansa de perdoar, não se cansa de nos abraçar. Esta é a primeira coisa que queria vos dizer: Jesus nos amou, cada um de nós, até o final.

Em seguida, faz isto que os discípulos não entendiam: lavar os pés. Naquele tempo, isso era um costume, era um hábito, pois quando uma pessoa chegava numa casa, estava com os pés imundos com o pó da estrada; não existiam os paralelepípedos naquele tempo... Havia o pó da estrada. E na entrada da casa, os seus pés eram lavados. Mas isso não era o dono da casa que fazia, eram os escravos que o faziam. Era um trabalho de escravos. E Jesus, como escravo, lava os nossos pés, os pés dos discípulos, e por isso diz: «Agora, não entendes – se dirigia a Pedro - o que estou fazendo; mais trade compreenderás» (Jo 13,7). Jesus: tão grande é o seu amor que se fez escravo para nos servir, para nos curar, para nos limpar. 

A descida do Senhor à mansão dos mortos 


Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos. 

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. 

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’ 

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.  

O Sábado Santo


Hoje é um dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez este Senhor nosso por nós. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o seu corpo destroçado.

Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçar-nos-emos para que as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus, guardem silêncio. Mas sem estarmos meramente passivos: é uma graça que Deus nos concede quando a pedimos diante do Corpo morto do seu Filho, quando nos empenhamos por tirar da nossa vida tudo o que nos afasta d’Ele.

O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demônio e o pecado, e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial: já somos Filhos de Deus! É necessário fazer propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de superar todos os obstáculos, sejam de que tipo for, se nos mantivermos bem unidos a Jesus pela oração e pelos sacramentos.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: ECCE HOMO: "Eis aqui o homem".

"Eis aqui o homem"

1. Pilatos, vendo o Redentor reduzido a um estado tão digno de toda a compaixão, pensou que a sua só vista comoveria os judeus e por isso, conduziu-o a uma varanda, levantou o farrapo de púrpura e, mostrando ao povo o corpo de Jesus coberto de chagas e dilacerado, disse-lhe: “Eis aqui o homem” (Jo 19,4).

Ecce homo, como se quisesse dizer: Eis o homem que acusastes perante mim como se
O homem das dores
pretendesse fazer-se rei; eu, para Vos agradar, condenei-o aos flagelos, ainda que inocente. “Eis o homem, não ilustre pelo império, mas repleto de opróbrio”
(St. Ag. Trac. 11 in Jo 6). Ei-lo reduzido a tal estado que parece um homem esfolado ao qual restam poucos instantes de vida. Se, apesar de tudo, pretendeis que eu o condene à morte, afirmo-Vos que não posso fazê-lo, porque não encontro motivo para o condenar. Mas os judeus, à vista de Jesus assim maltratado, mais se enfurecem: “Ao verem-no, os pontífices e ministros clamavam, dizendo: ‘Crucifica-o, crucifica-o’. Vendo Pilatos que não se acalmavam, lavou as mãos à vista do povo, dizendo: ‘Sou inocente do sangue deste justo: Vós lá Vos avinde’. E eles responderam: ‘Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,23-26).
 
Ó meu amado Salvador, Vós sois o maior de todos os reis, mas agora eu Vos vejo como o homem mais desprezado, dentre todos: se esse povo ingrato não Vos conhece, eu Vos conheço e Vos adoro por meu verdadeiro rei e Senhor. Agradeço-Vos, ó meu Redentor, por tantos ultrajes por mim recebidos e suplico-Vos me deis amor aos desprezos e aos sofrimentos, já que Vós os abraçastes com tanto afeto.

Envergonho-me de haver no passado amado tanto as honras e os prazeres, chegando por sua causa a renunciar tantas vezes à Vossa graça e ao Vosso amor; arrependo-me disso mais que de todas as coisas. Abraço, Senhor, todas as dores e ignomínias que vossas mãos me enviarem; dai-me aquela resignação de que necessito. Amo-Vos, meu Jesus, meu amor, meu tudo.

Paixão do Senhor: Quantos prisioneiros na mesma condição de Jesus!


CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR
ECCE HOMO!

Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 03 de abril de 2015

Acabamos de ouvir o relato do julgamento de Jesus perante Pilatos. Há nele um momento que nos pede uma atenção especial.

“Pilatos mandou então flagelar Jesus. Os soldados teceram de espinhos uma coroa, puseram-na sobre a sua cabeça e o cobriram com um manto de púrpura. Aproximavam-se dele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação. Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: Ecce homo! Eis o homem!” (Jo 19,1-5).

Entre as muitas pinturas que retratam o Ecce Homo, há uma que sempre me impressionou. É de Jan Mostaert, pintor flamengo do século XVI, e está na National Gallery de Londres. Tentarei descrevê-la. Ela nos ajudará a imprimir melhor na mente o episódio, já que o pintor transcreve fielmente, em cores, os dados do relato evangélico, especialmente do relato de Marcos (Mc 15,16-20).

Jesus tem na cabeça uma coroa de espinhos. Um feixe de arbustos espinhosos que estava no pátio, talvez para fazer fogo, deu aos soldados a ideia dessa cruel zombaria da sua realeza. Da cabeça de Jesus descem gotas de sangue. Sua boca está semiaberta, como que lutando para respirar. Sobre os ombros, sulcados pelos golpes recentes da flagelação, um manto pesado e desgastado, mais próximo da lata que da estopa. Ele tem os pulsos amarrados por uma corda grosseira; em uma das mãos, eles colocaram um pedaço de pau a fazer as vezes de cetro e, na outra, um feixe de varetas, símbolos que ridicularizavam a sua majestade. Jesus não pode mover sequer um dedo; é o homem reduzido à total impotência, o protótipo de todos os algemados da história. 

Por que não tem Missa na Sexta-feira Santa?


Para a Igreja Católica, a Sexta-feira Santa é um dia muito especial, marcado pelo silêncio. Este dia pertence ao Tríduo Pascal, em que a Igreja celebra e contempla a paixão e morte de Cristo, sendo este o único dia em que não se celebra a Eucaristia.

Durante a Sexta-feira Santa, contempla-se de modo especial Jesus Cristo crucificado. As regras litúrgicas orientam que neste dia e no seguinte (Sábado Santo) se venere o crucifixo com o gesto da genuflexão, ou seja, de joelhos.

Jesus, após sua prisão, foi interrogado, humilhado e torturado durante toda a noite. Até as três horas, os católicos acompanham este sofrimento como se estivesse acontecendo “agora”. Por isso, a Sexta-feira Santa é dia de jejum, abstinência e uma oportunidade de rever ações e objetivos de vida.

Em todas as Igrejas, fieis se reúnem junto aos sacerdotes para realizar a solene Ação Litúrgica da Paixão de Cristo, que deve ser celebrada depois do meio-dia e antes das 21h00.

Com algumas semelhanças na estrutura da Missa, mas sem a Oração Eucarística, a celebração da morte do Senhor consiste na leitura da Sagrada Escritura e as dez orações especiais para o bem do mundo; adoração da Santa Cruz; e Comunhão Eucarística. Presidida por um presbítero ou bispo, com os paramentos que usa para a missa, de cor vermelha, a celebração é o memorial da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Meditações da Via Sacra presidida hoje pelo Papa Francisco.


MEDITAÇÕES DA VIA SACRA
COM O PAPA FRANCISCO

Coliseu Romano
Sexta-feira Santa, 03 de Abril de 2015

“A cruz, ápice luminoso do amor de Deus que nos guarda.
Chamados, também nós, a sermos guardiões por amor”



INTRODUÇÃO

Estávamos no dia 19 de Março de 2013. O Papa Francisco tinha sido eleito poucos dias antes. Fez a homilia sobre São José, dizendo que fora o «guardião» de Maria e de Jesus e que o seu estilo era feito de discrição, humildade, silêncio, presença constante e fidelidade total.


Na Via-Sacra que estamos prestes a começar, haverá uma referência constante ao dom de sermos guardados pelo amor de Deus, nomeadamente por Jesus crucificado, e ao dever de, por nossa vez, sermos por amor guardiões da criação inteira, de todas as pessoas, especialmente da mais pobre, de nós mesmos e das nossas famílias, para fazer brilhar a estrela da esperança.


Queremos viver esta Via-Sacra numa profunda intimidade com Jesus. Vendo com atenção aquilo que está escrito nos Evangelhos, individuar-se-ão discretamente alguns sentimentos e pensamentos que poderiam ocupar a mente e o coração de Jesus naquelas horas de provação.


Ao mesmo tempo, deixar-nos-emos interpelar por algumas situações de vida que caracterizam – positiva ou negativamente – os nossos dias. Expressaremos assim uma ressonância, que traduz o nosso desejo de realizar algum passo de imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua paixão.
Oração

Ó Pai, que quisestes salvar os homens com a morte do vosso Filho na Cruz, concedei-nos que, tendo conhecido na terra o seu mistério de amor, sejamos suas testemunhas, por palavras e obras, junto de todos aqueles que nos fazeis encontrar na vida diária. Por Cristo Senhor Nosso. Amen.



I ESTAÇÃO

Jesus é condenado à morte

Intimidade, traição, condenação

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.

Do Evangelho segundo São Lucas


«Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós (…). Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós».

Do Evangelho segundo São Marcos


«Tomando novamente a palavra, Pilatos disse-lhes: “Então que quereis que faça daquele a quem chamais rei dos judeus?” Eles gritaram novamente: “Crucifica-o!” (…) Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado»


SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS

Acabei de celebrar a Páscoa com os meus discípulos. Tinha-o desejado ardentemente: a última Páscoa, antes da paixão, antes de voltar para Ti! Inesperadamente, porém, senti-me turbado. A um discípulo meu, o diabo meteu-lhe no coração a ideia de me trair. No jardim do Getsémani, veio ter comigo. Com um gesto que significa amor, saudou-me dizendo: «Salve, Mestre!». E deu-me um beijo. Que amargura, naquele momento! Durante a ceia, implorei-Te, Pai, que guardasses os meus discípulos no teu nome, para serem um só, como Nós o somos.

A NOSSA RESSONÂNCIA

Nós somos, ó Jesus, ainda mais frágeis na fé do que os primeiros discípulos. Corremos o risco de Vos trair, quando o vosso amor deveria levar-nos a crescer no amor por Vós. Precisamos de oração, vigilância, sinceridade e verdade. Assim a fé crescerá. E será robusta e jubilosa.

OREMOS

Guardados pela Eucaristia

«O vosso corpo e o vosso sangue, Senhor Jesus, nos guardem para a vida eterna».[8] Que este milagre se realize para os sacerdotes que presidem à Eucaristia e para todos nós, fiéis, que nos aproximamos do altar para receber-Vos a Vós, pão vivo descido do céu.

Todos:


Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.
Stabat Mater dolorosa
iuxta crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.