quinta-feira, 30 de abril de 2015

Brasileiro não tinha consciência de que seria executado


O brasileiro Rodrigo Gularte, executado na Indonésia por narcotráfico e que sofria de esquizofrenia, viveu os últimos momentos desorientado e sem ter consciência do que acontecia, afirmaram seu advogado e um padre que teve contato com o detento.

"Tinha uma mente delirante", disse à AFP o advogado Ricky Gunawan, "Quando anunciaram que a sentença de morte seria executada, ele disse 'Que sentença de morte? Não vou ser condenado à morte'".

Gularte, 42 anos, foi executado ao lado de outros seis indonésios na ilha de Nusakambangan, apesar dos pedidos clemência da família, que apresentou boletins médicos para demonstrar que ele era vítima de esquizofrenia.

"Não tenho certeza de que compreendeu em 100% que seria executado", disse o advogado.
Gunawan afirmou ainda que Gularte estava convencido de que a água da prisão de Nusakambangan estava envenenada. 

Quando o advogado perguntou quais eram seus últimos desejos, Gularte começou a rir. "Ele estava rindo e perguntou 'É como se fosse Aladin e tivesse três desejos?", recorda. "Quando tentávamos falar de coisas sérias, evitava a conversa e dizia coisas absurdas. Estava tranquilo, como se nada estivesse acontecendo", explicou Gunawan. 

Terremoto no Nepal: Bebê de quatro meses é resgatado vivo após 22 horas sob escombros


Sonit Awal, é um bebê de apenas quatro meses e se converteu em um símbolo de esperança em meio à destruição do terremoto de 7.9 graus de magnitude que arrasou regiões inteiras do Nepal no sábado 25 de abril. O bebê foi encontrado quase 24 horas depois do sismo sob os escombros de sua casa.

Os militares de uma equipe de resgate procuravam sobreviventes entre os escombros, quando escutaram um leve gemido de um bebê mas não acreditaram que poderiam encontrar alguém vivo entre as residências destruídas e se afastaram do lugar.

Quando regressaram ali, algumas horas depois, ouviram novamente os gemidos e decidiram escavar entre as ruínas da residência, então encontraram o bebê coberto de pó. 

O papa pede que os novos sacerdotes deem homilias que cheguem ao coração.


SANTA MISSA E ORDENAÇÕES PRESBITERIAIS

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
IV Domingo de Páscoa, 26 de Abril de 2015


Caríssimos Irmãos!

Estes nossos filhos foram chamados à Ordem do presbiterado. Seria bom se meditássemos um pouco sobre o ministério ao qual serão elevados na Igreja. Como bem sabeis, o Senhor Jesus é o único Sumo Sacerdote do Novo Testamento, mas nele também todo o santo povo de Deus foi constituído como povo sacerdotal. Todos nós! Não obstante, entre todos os seus discípulos, o Senhor Jesus quer escolher alguns de modo particular a fim de que, exercendo publicamente na Igreja em Seu nome o ofício presbiteral a favor de todos os homens, dessem continuidade à Sua missão pessoal de Mestre, Sacerdote e Pastor.

Com efeito, do mesmo modo como para isto Ele tinha sido enviado pelo Pai, assim também enviou por sua vez ao mundo primeiro os Apóstolos e sucessivamente os Bispos e os seus sucessores, aos quais foram por fim oferecidos como colaboradores os presbíteros que, unindo-se a eles no ministério sacerdotal, são chamados ao serviço do Povo de Deus.

Eles meditaram sobre esta sua vocação e agora vieram para receber a Ordem dos presbíteros. E o Bispo arrisca — arrisca! — escolhendo-os, assim como o Pai arriscou em relação a cada um de nós.

Efectivamente, eles serão configurados com Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, ou seja, serão consagrados como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento, e com este título, que no sacerdócio os une ao seu Bispo, serão pregadores do Evangelho, Pastores do Povo de Deus e presidirão aos gestos de culto, de maneira especial na celebração do sacrifício do Senhor. 

A CNBB e a Reforma Política; o Papa e o Comunismo.


“Por alguma fissura a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus.” 
- Papa Paulo VI

AS CONTRADIÇÕES DA CNBB

Todos sabemos que a nova presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tomou posse na manhã da sexta-feira, dia 24 de abril de 2015, durante a sessão de encerramento da 53ª Assembleia Geral (AG) da entidade, iniciada no dia 15 do mesmo mês, em Aparecida (SP). Também tomaram posse os doze presidentes da Comissões Episcopais. Na ocasião, a CNBB publicou uma nota sobre o momento nacional, nela “os bispos falam da necessidade de se retomar o crescimento econômico sem trazer prejuízo à população, aos trabalhadores e, principalmente, aos mais pobres. Refere-se à lei que permite a terceirização do trabalho, em tramitação no Congresso Nacional, com tendência a restringir os direitos dos trabalhadores. Recordam que os povos indígenas até hoje não receberam reparação das injustiças que sofreram desde a colonização do Brasil (demarcação e homologação das terras, e o fim dos conflitos). Insiste que a redução da maioridade penal não é solução para a violência que grassa no Brasil. E defende uma Reforma Política que atinja as entranhas do sistema político brasileiro. Apartidária, a proposta da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, da qual a CNBB é signatária, se coloca nessa direção”. (Palavras de dom Pedro Luiz Stringhini, bispo de Mogi das Cruzes), disponíveis aqui.

Após as leituras das notas, os jornalistas puderam fazer perguntas ao eleito presidente e secretário geral da CNBB, dom Sérgio da Rocha, bispo da Arquidiocese de Brasília sobre as acusações de atitudes favoráveis ao partido do governo PT. Na ocasião, dom Sérgio respondeu:

“Nós deixamos muito claro que a CNBB, na sua história e no momento presente tem sempre se pautado por aquilo que é a Doutrina Social da Igreja. Nós temos sim o dever de nos pronunciar sobre as questões sociais e fazemos isso sempre na fidelidade a Cristo, iluminados pela palavra dele. A palavra da Igreja é profética, é de anúncio é de denúncia, sempre fundamentada na palavra de Deus. É a palavra de Deus que está sendo proclamada nas condições concretas do nosso tempo, do nosso país. De nossa parte, nós não temos adotado e não queremos adotar nenhuma posição que seja político-partidária. E no caso da Reforma Política, até mesmo existem outros projetos diversos daquele que a Coalizão, da qual a CNBB participa, está propondo. Então não é justo, às vezes as pessoas não estão muito atentas aos detalhes, às vezes vão misturando as coisas. Por exemplo, o fato da Igreja falar da reforma política, mostrar a importância da palavra política não quer dizer que esteja adotando uma posição que seja do governo que aí está ou então de um partido ou outro. Nós fazemos isso [falar da reforma política], com sentimento de corresponsabilidade e de responsabilidade na vida social. Eu deixo muito claro que se há equívocos, a gente respeita, até mesmo pessoas que possam ter uma postura mais crítica, mas, de nossa parte, aquilo que tem sido e que continuará a ser é uma postura de autonomia, de independência diante daquilo que é posição político-partidária. Lamentavelmente, às vezes, acaba-se confundindo as coisas dependendo daquilo que se fala”. Essa entrevista está disponível no site da CNBB.


No entanto, o que não faz sentido é que as palavras pronunciadas pela CNBB parecem não corresponder com a prática. Vejamos por que:

JOVEM É AGREDIDO NA PUC 
POR DEFENDER POSIÇÃO DA IGREJA

No dia 24 de abril de 2015, mesmo dia em que a nova presidência da CNBB foi empossada, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás, recebeu o secretário da CNBB, Daniel Seidel, que foi encarregado de fazer propaganda do projeto de reforma política que faz parte do projeto de poder comunista do PT. No encontro havia representantes de vários movimentos sociais defendidos por partidos comunistas como o PT e também uma pequena representação de um grupo de católicos que não se intimidaram em condenar tal ação acontecendo em um espaço que pertence à Igreja Católica, que condena todo e qualquer movimento ligado diretamente ao comunismo. Transcrevemos abaixo parte das falas e o desenrolar da discussão:

“Olhando para a conjuntura que estamos atravessando, cada vez, vou me convencendo mais de que talvez nós tínhamos que dar um passo a mais: em vez de discutirmos reforma, talvez começarmos a discutir REVOLUÇÃO. Não há caminho para fazer as mudanças necessárias, fazer nosso ajuste de contas por caminhos de reformas. Todas as reformas têm um limite, tem um limite para a gente avançar. No fundo, no fundo, o que nós queremos é uma superação do sistema”. (Trecho do discurso do representante do MST).

“Nós temos de tomar juízo, vergonha na cara, e nos dedicarmos a esta coleta de assinaturas.  Por que eu digo isto? Porque, na verdade, nós não estamos querendo só a reforma política. A reforma política vai dar margem para a reforma tributária, vai dar margem para outras reformas necessárias para repartir. Porque, até então, nesses 12 primeiros anos de governo popular no Brasil, nós tivemos avanços importantes acontecendo, mas só que nós chegamos ao limite, e hoje nós temos que distribuir a riqueza que a classe trabalhadora produz nesse nosso país. Agora, a gente só distribui a riqueza com reforma tributária. Não dá mais para frcar apenas com os importantíssimos programas sociais que existem: o povo quer mais, e quer avançar para uma economia mais igualitária. Agora, para isso, precisa reformar o sistema político brasileiro”. (Trecho do discurso de Daniel Seidel, secretário da CNBB).

Católico 1: Secretário Daniel, eu peço a palavra por um segundo. O Reitor da PUC não está aqui não? Ele não vai dar uma palestra, nem nada? Não? ...Não estava aqui? É porque o senhor está representando a CNBB, certo?

Secretário da CNBB: Eu vim pela coalizão da reforma política.

Católico 1: Existe algum grupo de igreja aqui? Da Igreja?

Secretário da CNBB: Pela CNBB, sou eu.

Católico 1: Sem ser a CNBB, do pessoal daqui de Goiânia mesmo.

Comunista 1: Não, não se inscreveram. Dos que estão ouvindo, tem alguma instituição ligada à Igreja?

(silêncio)

Católico 1: Porque eu queria entender uma coisa...

Secretário da CNBB: Mas eu posso dar sequencia, então?

Católico 1: Não, não, porque eu queria entender uma coisa: Como é que uma instituição católica permite uma bancada formada só de excomungados? Isso que eu queria entender. Inclusive o senhor que é representante da CNBB. Isso que eu queria entender. Aqui ó, Decreto Contra o Comunismo, 1949, assinado pelo Papa Pio XII: “Todo católico que apoia o movimento comunista está automaticamente excomungado”. Bancada de excomungados! Bancada de excomungados! Eu quero entender isso, eu quero entender como é que a CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil... Que educado o que? Vocês querem fazer revolução armada! Vocês querem fazer revolução armada, mas falam de educação. Se está pregando revolução armada, é porque quer matar as pessoas. Quer matar fazendeiro! Quer matar empresário! Pede vocês para sair. Eu estou na minha casa: Isso aqui existe em função da Igreja Católica, que já condenou todos esses movimentos, um por um. [...] Que agredi o que? Quem agride as pessoas são vocês. A manifestação contra o PT teve 2 milhões de pessoas, e não teve um caso de agressão. Só quem agride é o pessoal da CUT, é o pessoal do MST. São só vocês que agridem as pessoas na rua.

Comunista 1: Vamos terminar a exposição e você terá direito à fala, porque aqui é democrático. Agora, você tem que respeitar a democracia. Democracia exige ordem, ordem.

Católico 1: Não há democracia quando se prega revolução armada. Não há democracia no socialismo. Não vem inventar moda. Não, não vem inventar moda.

Católico 2: Isso aqui é uma instituição privada da Igreja Católica, que condena esses movimentos.

Católico 1: Existe um documento da Igreja que excomunga comunistas. Existe um documento da Igreja que excomunga todo mundo que tem parte com socialismo. [...]

Comunistas [gritando em coro]: FORA, FORA!!!

Católicos: EXCOMUNGADOS! EXCOMUNGADOS!!!
[...]

Católico 1: Sai você rapaz, eu to na Igreja, eu sou católico.

Católico 2: Vocês são excomungados e estão usando de uma desonestidade intelectual monumental: usando o espaço católico para pregar algo contra o catolicismo. [...]

Católico 3: Ei vai ficar olhando? Ei CNBB, vai ficar olhando?

Professora da PUC dirigindo-se ao Católico 1: [...] Moleque, desrespeitoso, eu quero que me agrida! Me agrida!

Católico 1: Não vou que eu não sou de esquerda. Quem agride é comunista. Quem agride é comunista.

Professora da PUC dirigindo-se ao Católico 1: Desrespeitoso, desrespeitoso, moleque! Desrespeitoso, saia daqui. Moleque! Eu sou professora daqui, eu sou professora daqui. [...] Saia daqui, moleque.

[...]

Católico 2: Ele foi agredido, ele foi agredido, ele não agrediu ninguém. Vocês não tem direito de usar o espaço católico...

Comunista 2: Eu sou católico.

Católico 2: Não, você não é católico. Você apoia isso aí, você não é católico.

Católico 4 [Dirigindo-se ao secretário da CNBB]: Você deveria ter vergonha, ó, vergonha disso aí, olha aqui: Decreto contra o Comunismo...  [...]

Comunista 2: O papa apoia a CNBB no Brasil...

Comunistas [gritando em coro]: Reforma política, deixa acontecer, eu quero ver o povo e as mulheres no poder!
[...]

Toda a confusão acima está disponibilizada em vídeo e vocês podem conferir logo abaixo:


A recompensa


É comum a qualquer ser humano, ao realizar uma obra de valor, ser lembrado e ser reconhecido pelos demais. Não são todos os que se dedicam a certas obras de valor no anonimato, não se importando com elogios ou recompensas. Essas são pessoas que descobriram o outro lado da medalha. Fazem tudo por amor e não por louvor.

E a sociedade tem seus critérios próprios para avaliar as pessoas e suas ações. Para a sociedade uma pessoa bem sucedida e importante seria aquela que tem dinheiro suficiente para realizar seus projetos e seus sonhos. Seria alguém cercado e admirado por amigos ricos e poderosos. Seria alguém invejado por seus talentos e posses. Seria alguém que diz e faz o que lhe apetecer, mesmo pisando sobre princípios morais e éticos. Seria alguém que expõe sua vaidade em tudo o que realiza.

Doutra parte existem os critérios de Deus. Deus não olha a fama, o poder, o dinheiro e o orgulho. Respeita tudo isso e continua concedendo graças para que chegue um dia a reconhecer e colocar tudo a serviço da vida e da dignidade do ser humano. E compreenda que a fartura material terá valor se colocada a serviço do Reino.

Para Deus tem valor quem souber amar a cada irmão e irmã como o próprio Deus ama. Tem valor quem se mostrar solidário com os pobres, com os desempregados, com os migrantes por serem vítimas da injustiça e da exploração.

Para Deus tem valor quem der assistência aos doentes e aos idosos, especialmente aqueles que sobrevivem com aposentadorias de miséria sem possibilidades de adquirir os remédios indispensáveis à sua saúde.

Para Deus tem valor quem, na simplicidade e na boa vontade, socorrer e confortar as pessoas ou famílias que passam por momentos difíceis, seja na parte financeira ou seja no que se refere à saúde. 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Arquidiocese de Salvador presta solidariedade às famílias desabrigadas



A Cidade de Salvador vive um momento de sofrimento e dor, causados pelas enchentes dos últimos dias e pelos deslizamentos ocorridos em vários bairros. Vendo o drama de pessoas, famílias e comunidades inteiras, vem-me à lembrança a parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus a um doutor da Lei. Diante da pergunta: “Quem é o meu próximo?”, Jesus lhe respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó…” O resto, é conhecido: diante do homem que, ferido, estava à beira do caminho, um habitante da cidade de Samaria “chegou perto dele, viu, e moveu-se de compaixão”. O que se segue na parábola também é conhecido: o Samaritano, depois dos curativos possíveis naquela situação, colocou o ferido em seu animal e o levou para uma pensão, pagando ao seu dono todo o tratamento (cf. Lc 10,25-37). Terminada a história, Jesus perguntou ao que o interrogara: “Quem foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu a mesma coisa”.

Vendo a cidade mobilizada em torno dos que tudo ou muito perderam; testemunhando a dor de quem sofre a perda de um ente querido; impactados por imagens que trazem para os nossos lares e, particularmente, para os nossos corações o sofrimento de tantos irmãos, como não nos lembrarmos da figura do Bom Samaritano? Descobrimos, sem muito esforço, que ele não é uma pessoa: são muitas. São bombeiros e autoridades; são membros da Defesa Civil e militares; são pessoas anônimas que se mostram incansáveis no atendimento ao “próximo”. 

Homilética: 5º Domingo da Páscoa - Ano B: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”.


No quinto Domingo da Páscoa, a Liturgia apresenta – nos a página do Evangelho de João na qual Jesus, falando aos discípulos na Última Ceia, os exorta a permanecer unidos a Ele como os ramos à Videira. Trata-se de uma parábola verdadeiramente significativa, porque expressa com grande eficiência que a vida cristã é Mistério de Comunhão com Jesus: “Quem permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5). O segredo da fecundidade espiritual é a união com Deus, união que se realiza sobretudo na Eucaristia, justamente chamada também “Comunhão”.

Meditar as Palavras de Jesus sobre a videira e os ramos significa refletir sobre a relação que nos une com ele em sua dimensão mais profunda: Eu sou a vidra; vós, os ramos. É uma relação até mais profunda que aquela que existe entre o pastor e seu rebanho que meditamos domingo passado. No evangelho de hoje, descobrimos onde se encontra “a força interior” da nossa religião (cf. 2Tm 3,5).

Pensemos na realidade natural que deu origem a esta imagem. O que há de mais intimamente unido do que a videira e seu ramo? O ramo é um fruto e um prolongamento da videira. Dele vem a linfa que o nutre, a umidade do solo e tudo o que depois se transforma em uva, sob o calor estival do sol; se não for alimentado pela videira, ela não pode produzir nada, mas nada absolutamente: nem um raminho, nem um grão de uva, nada. É a mesma imagem que São Paulo transmite com a comparação do corpo e dos membros: Cristo é a Cabeça de um corpo que é a Igreja, da qual cada cristão é um membro (cf. Rm 12,4s; 1Cor 12,12s). Também o membro, se está separado do resto do corpo, não pode fazer nada.

Onde está o fundamento desta relação, aplicada a nós homens? Não contraria nosso sentido de autonomia e de liberdade, isto é, nosso sentimento de ser um todo e não uma parte? Este fundamento tem uma base bem precisa que o apóstolo Paulo, com uma imagem tirada da agricultura, chama de enxerto. No batismo, nós éramos videiras selvagens, fomos inseridos e enxertados em Cristo (cf. Rm 11,16ss), tornamo-nos ramos da verdadeira vide. Tudo isto pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5). Entre o ramo e a parreira há em comum o Espírito Santo!

Qual é, portanto, nosso papel de ramos? João, como vimos, tem um verbo predileto para expressar esta unidade: “permanecer” (entende-se, unidos à videira que é Cristo): Permanecei em mim e eu permanecerei em vós […]; quem permanecer em mim […]. Permanecer unidos à videira e permanecer em Cristo Jesus significa, antes de tudo, não abandonar os compromissos assumidos no batismo; não ir para um país distante, como o filho pródigo, sabendo que se pode separar-se de Cristo com uma decisão de momento, entregando-se a uma vida de pecado consciente e procurado, mas também pouco a pouco, quase sem que se perceba, dia após dia, infidelidade atrás de infidelidade, omissão após omissão, uma incoerência depois de outra, deixando primeiro de comungar, depois de participar da Missa, depois de rezar, enfim, depois abandonando tudo.

Permanecer em Cristo significa também algo de positivo, isto é, permanecer em “seu amor” (Jo 15,19). Primeiro no amor que ele tem por nós, mais do que o amor nosso por ele; significa, por isso, permitir que ele nos ame, que nos passe sua “linfa”, que é seu Espírito, evitando colocar entre nós e ele os obstáculos da autossuficiência, da indiferença e do pecado.

Jesus insiste sobre a urgência de permanecer nele fazendo-nos entrever as consequências fatais da separação dele. O ramo que não permanece unido à videira seca, não frutifica, é cortado e lançado ao fogo; não serve mesmo para nada, porque a madeira da parreira –diferentemente de outras madeiras que, cortadas, servem para tantas finalidades, é uma madeira inútil para qualquer fim a não ser o de produzir uva (cf. Ez 15,1ss). Alguém pode ter uma vida muito rigorosa externamente, estar cheio de saúde, de ideias, produzir energia, negócios, gerar filhos e ser, aos olhos de Deus, madeira árida, material pronto para ser queimado, apenas encerrada estação da vindima.

Permanecer em Cristo, portanto, significa permanecer em seu amor, em sua lei; por vezes significa permanecer na cruz, “perseverar com ele na prova” (cf. Lc 22,28). Mas não “permanecer,” somente ficando no estado infantil do batismo, quando o ramo tinha apenas brotado ou tinha sido enxertado; mas antes “crescer” em relação à Cabeça (cf. Ef 4,15), tornar-se adultos e maduros na fé, isto é, produzir frutos de boas obras.

Nesta luz, devemos esforçar-nos para ver não apenas nossos sofrimentos individuais – lutos, doenças, angústias que afligem a cada um de nós ou a nossa família – mas também o grande e universal sofrimento que oprime nossa sociedade e o mundo inteiro, inclusive o mais misterioso de todos, que fere os inocentes. 

Cada um de nós é um ramo, que só vive se fizer crescer cada dia na oração, na participação nos Sacramentos e na caridade a sua união com o Senhor. E quem ama Jesus, videira verdadeira, produz frutos de fé para uma abundante vida espiritual. Supliquemos à Mãe de Deus, a fim de permanecermos solidamente enxertados em Jesus, e para que  cada uma das nossas obras tenha n’Ele o seu início e o seu cumprimento.

Papa na Audiência: Por que muitos jovens não querem se casar?


PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 29 de Abril de 2015

Locutor:

Desde o tempo das Bodas de Caná, para as quais foi convidado Jesus, muita coisa mudou. Devemos interrogar-nos seriamente sobre as razões que levam tantos jovens a optar por não se casarem. Preferem a convivência e, habitualmente, de responsabilidade limitada… Por que não se casam? As dificuldades não são apenas de carácter económico, nem se ficam a dever – como querem alguns – à emancipação da mulher. Na realidade, quase todos os homens e mulheres sonham com uma segurança afectiva estável, um matrimónio sólido e uma família feliz. A família aparece no topo das preferências dos jovens, mas, com medo de falir, muitos descartam-na; e este medo de falir é talvez o maior obstáculo para aceitarem a palavra de Cristo, que promete a sua graça à união conjugal e à família. Em Caná, Jesus não só participou nas Bodas, mas salvou a festa com o milagre do vinho. Queridos irmãos e irmãs, não tenhais medo de convidar Jesus para as vossas Bodas. Quando se casam «no Senhor», os cristãos são transformados num sinal eficaz e duradouro do amor de Deus: o matrimônio é uma festa que se renova nas sucessivas estações da vida dos esposos. O testemunho mais persuasivo da bênção do matrimónio cristão é a vida boa dos esposos cristãos e da família. Não há modo melhor para manifestar a beleza deste sacramento.