A Cidade de Salvador vive um momento de sofrimento
e dor, causados pelas enchentes dos últimos dias e pelos deslizamentos
ocorridos em vários bairros. Vendo o drama de pessoas, famílias e comunidades
inteiras, vem-me à lembrança a parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus a
um doutor da Lei. Diante da pergunta: “Quem é o meu próximo?”, Jesus lhe respondeu:
“Certo homem descia de Jerusalém para Jericó…” O resto, é conhecido: diante do
homem que, ferido, estava à beira do caminho, um habitante da cidade de Samaria
“chegou perto dele, viu, e moveu-se de compaixão”. O que se segue na parábola
também é conhecido: o Samaritano, depois dos curativos possíveis naquela
situação, colocou o ferido em seu animal e o levou para uma pensão, pagando ao
seu dono todo o tratamento (cf. Lc 10,25-37). Terminada a história, Jesus
perguntou ao que o interrogara: “Quem foi o próximo do homem que caiu nas mãos
dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com
ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu a mesma coisa”.
Vendo a cidade mobilizada em torno dos que tudo ou
muito perderam; testemunhando a dor de quem sofre a perda de um ente querido;
impactados por imagens que trazem para os nossos lares e, particularmente, para
os nossos corações o sofrimento de tantos irmãos, como não nos lembrarmos da
figura do Bom Samaritano? Descobrimos, sem muito esforço, que ele não é uma
pessoa: são muitas. São bombeiros e autoridades; são membros da Defesa Civil e
militares; são pessoas anônimas que se mostram incansáveis no atendimento ao
“próximo”.
Tenho certeza de que as autoridades se debruçarão
sobre as causas de tanto sofrimento, para eliminá-las; que a população se
conscientizará sobre a necessidade de impedir que construções sejam erguidas em
lugares inadequados; que todos cuidarão para que o lixo tenha melhor destino,
evitando-se, assim, que bueiros e esgotos facilmente fiquem entupidos. Mas
tenho certeza, também, de que jamais nos esqueceremos dos muitos “Bons
Samaritanos” que aqui moram e que constituem a maior riqueza desta cidade.
Conclamo a todos para que se multipliquem em nossa
cidade gestos de solidariedade: “Vai e faze tu a mesma coisa!”
Asseguro minha oração pelos que perderam a vida e
pelos parentes que choram a sua ausência. E, sobre toda a cidade, invoco as
bênçãos do Senhor.
Salvador, 28 de abril de 2015.
Dom
Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo
de São Salvador da Bahia
Primaz
do Brasil
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