segunda-feira, 8 de junho de 2015

É possível exigir respeito desrespeitando?


O falecido humorista Millôr Fernandes escreveu:

"Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim".

Essa ironia é uma boa definição do pensamento que se manifesta em grande parcela das discussões ideológicas no mundo, ontem e sempre. Sua estrutura também pode ser aplicada a termos como "liberdade", "intolerância" e "manifestar-se":

"Liberdade é quando eu me manifesto sobre você. Intolerância é quando você se manifesta sobre mim".

A imagem acima foi feita na "Parada do Orgulho Gay" realizada neste domingo em São Paulo e apresenta um manifestante fantasiado de Cristo crucificado, com os dizeres "Basta homofobia GLBT". 

Palavra de Vida: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária.” (Lc 10,41-42).


Quanto afeto na repetição deste nome: Marta, Marta. A casa de Betânia, a uns três quilômetros de Jerusalém, é um lugar onde Jesus costuma se deter para repousar com os seus discípulos. Lá fora, na cidade, Ele tem de enfrentar discussões, encontra oposição e rejeição, enquanto que aqui existe paz e acolhida.

Marta é empreendedora e ativa. É o que ela demonstra também por ocasião da morte de seu irmão Lázaro, quando entra num diálogo sério com Jesus, no qual o questiona com energia. É uma mulher forte, que mostra uma grande fé. Diante da pergunta: “Crês que eu sou a ressurreição e a vida?”, ela responde, sem hesitar: “Sim, Senhor, eu creio” (cf. Jo 11,25-27).

Também agora ela está atarefada na preparação de uma acolhida digna do Mestre e dos seus discípulos. Ela é a patroa, a dona de casa (como diz o próprio nome: Marta significa “patroa”) e, portanto, sente-se responsável. Provavelmente está preparando o jantar para o ilustre hóspede. Maria, sua irmã, deixou-a sozinha nas suas ocupações. Contrariamente aos hábitos orientais, em vez de permanecer na cozinha, fica escutando Jesus junto com os homens, sentada aos seus pés, exatamente como a perfeita discípula. Daí a intervenção um pouco ressentida de Marta: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!” (Lc 10,40). Eis então a resposta afetuosa e ao mesmo tempo firme de Jesus:

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária.”

Será que Jesus não estava satisfeito com o espírito empreendedor e o serviço generoso de Marta? Não lhe agradaria a acolhida concreta e não apreciaria de bom grado as iguarias que lhe estava preparando? Pouco depois desse episódio, nas parábolas, Jesus elogia administradores, empresários e empregados que sabem fazer render talentos e negociar os bens (cf. Lc 12,42; 19,12-26). Elogia até mesmo a esperteza deles (cf. Lc 16,1-8). Portanto, não podia deixar de alegrar-se ao ver uma mulher tão cheia de iniciativa e capaz de uma acolhida dinâmica e abundante.

O que Ele repreende é a ansiedade e a preocupação que ela põe no trabalho. Fica agitada, “sozinha com todo o serviço” (Lc 10,40), perdeu a calma. Não é mais ela quem orienta o trabalho, foi o trabalho que assumiu o comando e a tiranizou. Ela não está mais livre, tornou-se escrava da sua ocupação.

Não acontece também conosco de às vezes nos perdermos nas mil coisas a serem feitas? Somos atraídos e distraídos pela internet, pelo WhatsApp, pelos SMS inúteis. Mesmo quando se trata de compromissos sérios que nos prendem, eles podem nos fazer esquecer que devemos estar atentos aos outros, escutar as pessoas que estão perto de nós. O perigo é sobretudo perder de vista por que e para quem trabalhamos. É deixar que o trabalho e as outras ocupações se tornem fim a si mesmos.

Ou senão, somos tomados pela ansiedade e pela agitação diante de situações e problemas difíceis que dizem respeito à família, à economia, à carreira, à escola, ao futuro nosso ou dos filhos, até o ponto de esquecermos as palavras de Jesus: “Portanto, não vivais preocupados, dizendo: ‘Que vamos comer? Que vamos beber? Como nos vamos vestir?’ Os pagãos é que vivem procurando todas essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso” (Mt 6,31-32). Também nós merecemos a repreensão de Jesus:

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária.” 

A Eucaristia é escola de caridade e de solidariedade, diz Papa


ANGELUS
Praça São Pedro – Vaticano
Domingo, 07 de junho de 2015

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!        

Celebra-se hoje em muitos países, incluindo a Itália, a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, ou, de acordo com a expressão latina mais conhecida, a solenidade de Corpus Christi.

O Evangelho apresenta o relato da instituição da Eucaristia, realizada por Jesus durante a Última Ceia, no Cenáculo em Jerusalém. Na véspera de sua morte redentora na cruz, Ele realizou o que tinha predito: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é minha carne para a salvação do mundo... Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele"(Jo 6,51-56). Jesus toma o pão em suas mãos e diz: "Tomai, isto é o meu corpo" (Mc 14,22). Com este gesto e com estas palavras, Ele atribui ao pão uma função que não a de simples alimento físico, mas torna a sua Pessoa presente em meio à comunidade dos fiéis.

A Última Ceia representa o cume da vida de Cristo. Não apenas a antecipação do seu sacrifício, que será realizado na cruz, mas também a síntese de uma existência ofertada pela salvação de toda a humanidade. Portanto, não basta afirmar que Jesus está na Eucaristia, devemos perceber nela a presença de uma vida doada, e participar dela. Quando pegamos e comemos aquele Pão, nós nos associamos à vida de Jesus, entramos em comunhão com Ele, nos comprometemos em realizar a comunhão entre nós, a transformar a nossa vida em dom, especialmente aos mais pobres.

A festa de hoje evoca esta mensagem de solidariedade e nos encoraja a acolher o convite à conversão e ao serviço, ao amor e ao perdão. Encoraja-nos a imitarmos, com a vida, aquilo que celebramos na liturgia. Cristo, que nos nutre com as espécies consagradas do pão e do vinho, é o mesmo que vem ao nosso encontro todos os dias; Ele está no pobre que estende a mão, está no sofredor que implora ajuda, está no irmão que pede a nossa disponibilidade e espera o nosso acolhimento; está na criança que ainda não sabe nada sobre Jesus, da salvação, que não tem fé. Está em todo ser humano, inclusive no menor e indefeso.

A Eucaristia, fonte de amor para a vida da Igreja, é escola de caridade e de solidariedade. Quem se alimenta do Pão de Cristo não pode ficar indiferente perante aqueles que não têm o pão de cada dia. E hoje, como sabemos, é um problema crescente.

Que a festa de Corpus Christi inspire e alimente sempre mais, em cada um de nós, o desejo e o compromisso por uma sociedade acolhedora e solidária. Confiemos este desejo ao coração da Virgem Maria, Mulher eucarística. Que ela suscite em todos a alegria de participar da Santa Missa, especialmente aos domingos, e a coragem alegre de testemunhar a caridade infinita de Cristo. 

Papa deixa tarefa aos jovens de Sarajevo: trabalhar pela paz


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A SARAJEVO (BOSNIA-HERZEGÓVINA)

ENCONTRO COM OS JOVENS

Centro Diocesano Juvenil João Paulo II
Sábado, 6 de Junho de 2015


Estes vossos quatro companheiros vão fazer perguntas. Eu entregarei o discurso preparado a D. Semren, que vo-lo dará mais tarde. E agora respondo às vossas perguntas.

PERGUNTA: [tendo ouvido dizer que o Papa não vê televisão há 20 anos, um jovem pergunta a razão de ser desta escolha]

PAPA:

A minha resposta é assim: não posso responder, sem ver a pessoa...

É verdade! Uma noite, a meados dos anos 90, senti que [a televisão] não me fazia bem, alienava-me, condicionava-me... e decidi deixar de a ver.

Quando queria ver um filme bom, ia ao centro televisivo do arcebispado e via-o lá. Mas só aquele filme... A televisão, ao contrário, alienava-me e impelia-me para fora de mim; não me ajudava. Sem dúvida, sou da Idade da Pedra, sou antigo!

Compreendo que o tempo mudou! Agora vivemos no tempo da imagem. E isto é muito importante. Mas, no tempo da imagem, deve-se fazer como no tempo dos livros: escolher as coisas que me fazem bem! Daqui seguem-se duas coisas. Primeira: a responsabilidade que têm os centros televisivos de produzir programas que façam bem, que promovam os valores, que construam a sociedade, que nos façam crescer, e não nos degradem; e ainda, produzam programas capazes de nos ajudar para que os valores, os verdadeiros valores, se tornem mais fortes e nos preparem para a vida. Esta é a responsabilidade dos centros televisivos. Segunda coisa: saber escolher os programas, e esta é uma responsabilidade nossa. Se vejo que um programa não me faz bem, destrói-me os valores, torna-me vulgar, resvalando mesmo na obscenidade, devo mudar de canal. Como se fazia na minha Idade da Pedra: quando um livro era bom, tu lia-lo; quando um livro te fazia mal, jogava-lo fora. Mas há ainda um terceiro ponto: a fantasia nociva, aquela fantasia que mata a alma. Se tu, que és jovem, vives preso ao computador e te tornas escravo do computador, perdes a liberdade! E, se procuras no computador programas porcos, perdes a dignidade!

Ver a televisão, usar o computador, mas para as coisas belas, as coisas grandes, as coisas que nos fazem crescer. Isto é bom! Obrigado! 

Na Bósnia, Papa encoraja líderes religiosos na busca pela paz


Viagem do Papa Francisco a Sarajevo
Bósnia Herzegovina

DISCURSO

Encontro ecumênico e inter-religioso 
no Centro Internacional Franciscano
Sábado, 6 de junho de 2015

Senhor Cardeal,
Ilustres Autoridades religiosas,
Queridos amigos!

Sinto-me feliz por participar neste encontro, que reúne os representantes das confissões religiosas presentes na Bósnia-Herzegovina. Dirijo uma cordial saudação a cada um de vós e às vossas comunidades e agradeço, em particular, as amáveis palavras de boas-vindas e as reflexões que foram propostas.

O encontro de hoje é sinal dum desejo comum de fraternidade e de paz; testemunha uma amizade que tendes vindo a construir ao longo dos anos e que já viveis na convivência diária e na colaboração. O facto de nos encontrarmos aqui já é uma «mensagem» daquele diálogo que todos procuramos e para o qual trabalhamos.

Gostaria especialmente de recordar, como fruto deste desejo de encontro e reconciliação, a instituição em 1997 do Conselho local para o Diálogo Inter-religioso, que reúne muçulmanos, cristãos e judeus. Alegro-me pela obra que o Conselho está a fazer com a promoção de diversas actividades de diálogo, a coordenação de iniciativas comuns e o confronto com as Autoridades estatais. O vosso trabalho é muito valioso nesta região e, de modo particular, aqui em Sarajevo, encruzilhada de povos e culturas, onde a diversidade, se por um lado constitui um grande recurso que permitiu o desenvolvimento social, cultural e espiritual desta região, por outro serviu de motivo para dilacerações dolorosas e guerras sangrentas.

Não é por acaso que o nascimento do Conselho para o Diálogo Inter-religioso e doutras apreciáveis iniciativas no campo inter-religioso e ecuménico tenha tido lugar no fim da guerra como uma resposta à exigência de reconciliação e perante a necessidade de reconstruir uma sociedade dilacerada pelo conflito. Na realidade o diálogo inter-religioso, aqui como em qualquer parte do mundo, é uma condição imprescindível para a paz e, por isso, é um dever para todos os crentes (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 250). 

Padre Luiz Augusto, o moralista desmoralizado?


Segundo o escritor Adaildes Alves Moreira, “honestidade prega justiça, uma pessoa completamente correta não tem que ser santa, tem que ser correta mesmo, conseguir algo com seus esforços.” Para muitos fiéis da Igreja Católica, o padre Luiz Augusto Ferreira é uma espécie de Madre Tereza do Cerrado. Suas obras de caridade, numa reconhecida defesa dos indigentes, assim como sua verve no púlpito com sermões de elevadíssimo cunho moral, justificam sua reputação.

Seria uma injustiça duvidar de seus propósitos qualificados. Mas é bom lembrar que o caldeirão do inferno, segundo a crença popular, está transbordando de pessoas com boas intenções.

Moralista extremado, ao ponto de criticar seus colegas de batina que adotam posições mais liberais, e se lançar numa cruzada contra a divulgação de casas noturnas que apresentam shows de nudez, o padre Luiz sempre deu ares de pairar acima das águas que afligem a babel de pecadores.

domingo, 7 de junho de 2015

Religiosos mundanos são uma caricatura, não servem, diz Papa


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A SARAJEVO (BOSNIA-HERZEGÓVINA)

ENCONTRO COM OS SACERDOTES, RELIGIOSAS, RELIGIOSOS
E SEMINARISTAS NA CATEDRAL

Sábado, 6 de Junho de 2015


Eu tinha preparado um discurso para vós, mas depois de ouvir os testemunhos deste Sacerdote, deste Religioso, desta Religiosa, sinto necessidade de vos falar espontaneamente.

Eles contaram-nos vida, contaram-nos experiências, contaram-nos muitas coisas feias e belas. Entrego o discurso – que é belo – ao Cardeal Arcebispo.

Os testemunhos falavam por si. E esta é a memória do vosso povo! Um povo que esquece a sua memória não tem futuro. Esta é a memória dos vossos pais e mães na fé: aqui falaram apenas três pessoas, mas por detrás delas existem muitos e muitas que sofreram as mesmas coisas.

Queridas irmãs, queridos irmãos, não tendes direito de esquecer a vossa história. Não para vos vingardes, mas para fazerdes a paz. Não para olhar [estes testemunhos] como uma coisa estranha, mas para amar como eles amaram. No vosso sangue, na vossa vocação, há a vocação, há o sangue destes três mártires. E há o sangue e há a vocação de tantas religiosas, tantos padres, tantos seminaristas. O autor da Carta aos Hebreus diz-nos: «Por favor, não esqueçais os vossos antepassados, aqueles que vos transmitiram a fé. Estes [aponta para as testemunhas] transmitiram-vos a fé; estes transmitiram-vos como se vive a fé. O próprio Paulo diz-nos: «Não vos esqueçais de Jesus Cristo», o primeiro Mártir. E estes seguiram os passos de Jesus.

Guardar a memória, para fazer paz. Algumas palavras ficaram-me no coração. Uma, repetida: «Perdoo». Um homem, uma mulher que se consagra ao serviço do Senhor e não sabe perdoar, não serve. Perdoar a um amigo, com o qual tinhas litigado, e te disse um palavrão, ou a uma religiosa que tem ciúmes de ti, não é muito difícil. Mas perdoar a quem te bate, a quem te tortura, a quem te espezinha, a quem ameaça matar-te com a carabina, isto é difícil. E eles fizeram-no, e eles pregam para que se faça!

Outra palavra que me ficou é a dos 120 dias no campo de concentração. Quantas vezes o espírito do mundo nos faz esquecer estes nossos antepassados, os sofrimentos dos nossos antepassados! Esta contagem não foi feita por dias, mas por minutos, porque cada minuto, cada hora é uma tortura. Viver todos amontoados, sujos, sem comida, nem água, esteja calor ou frio, e isto por tanto tempo! E nós, que nos queixamos quando temos um dente que nos dói, ou que queremos ter a televisão no nosso quarto com tantas comodidades, e que criticamos a superiora ou o superior quando a refeição é menos boa... Não esqueçais, por favor, os testemunhos dos vossos antepassados. Pensai quanto sofreram estas pessoas; pensai naqueles seis litros de sangue que recebeu o padre – o primeiro que falou – para sobreviver. E levai uma vida digna da Cruz de Jesus Cristo.

Irmãs, sacerdotes, bispos, seminaristas mundanos são uma caricatura, não servem. Não têm a memória dos mártires. Perderam a memória de Jesus Cristo crucificado, a nossa única glória.

Outra coisa que me vem à mente é aquele miliciano que deu a pêra à irmã; e aquela mulher muçulmana, que agora vive na América, mas então trouxe-lhes de comer... Todos somos irmãos. Mesmo aquele homem cruel pensou... (não sei que coisa pensou!), mas sentiu o Espírito Santo no seu coração e talvez tenha pensado na sua mãe e disse: «Toma esta pêra e não digas nada». E aquela mulher muçulmana passava por cima das diferenças religiosas: amava. Acreditava em Deus e fazia o bem.

Procurai o bem de todos. Todos têm a possibilidade, a semente do bem. Todos somos filhos de Deus.

Felizes de vós que tendes tão perto estas testemunhas! Não as esqueçais, por favor. Que a vossa vida cresça com esta memória. Penso naquele sacerdote a quem morreu o pai quando ele ainda era criança, depois morreu-lhe a mãe, em seguida a irmã… e ficou sozinho. Mas ele era fruto de um amor, dum amor matrimonial. Pensai naquela irmã mártir: também ela era filha duma família. E pensai também no franciscano, com duas irmãs franciscanas; e vem-me à mente aquilo que disse o Cardeal Arcebispo: Que sucede ao jardim da vida, isto é, à família? Sucede uma coisa ruim: não floresce. Rezai pelas famílias, para que floresçam em muitos filhos e haja também tantas vocações.

E, finalmente, quereria dizer-vos que esta foi uma história de crueldade. Também hoje, nesta guerra mundial, vemos muitas, muitas, muitas crueldades. Fazei sempre o oposto da crueldade: tende atitudes de ternura, de fraternidade, de perdão. E levai a Cruz de Jesus Cristo. É assim que a Igreja, a santa Mãe Igreja, vos quer: pequenos, pequenos mártires, tendo diante dos olhos estes pequenos mártires, pequenas testemunhas da Cruz de Jesus.

Que o Senhor vos abençoe! E, por favor, rezai por mim. Obrigado! 

Homilia do Papa Francisco em Sarajevo, na Bósnia


Visita do Papa Francisco a Sarajevo
Bósnia-Herzegovina

HOMILIA

Santa Missa no Estádio Koševo
Sábado, 6 de junho de 2015

Amados irmãos e irmãs!

Nas leituras bíblicas que ouvimos, ressoou várias vezes a palavra «paz». Palavra profética por excelência! Paz é o sonho de Deus, é o projeto de Deus para a humanidade, para a história, com toda a criação. E é um projeto que encontra sempre oposição por parte do homem e por parte do maligno. Também no nosso tempo, a aspiração pela paz e o compromisso de a construir colidem com o facto dos numerosos conflitos armados existentes no mundo. É uma espécie de terceira guerra mundial travada “aos pedaços”; e, no contexto da comunicação global, sente-se um clima de guerra.

Há quem queira deliberadamente criar e fomentar este clima, de modo particular aqueles que procuram o conflito entre culturas e civilizações diferentes e também quantos, para vender armas, especulam sobre as guerras. Mas a guerra significa crianças, mulheres e idosos nos campos de refugiados; significa deslocamentos forçados; significa casas, estradas, fábricas destruídas; significa sobretudo tantas vidas destroçadas. Bem o sabeis vós, que experimentastes isto mesmo precisamente aqui: quanto sofrimento, quanta destruição, quanta tribulação, quanta dor! Hoje, amados irmãos e irmãs, desta cidade ergue-se mais uma vez o grito do povo de Deus e de todos os homens e mulheres de boa vontade: Nunca mais a guerra!

Dentro deste clima de guerra salienta-se, como um raio de sol que atravessa as nuvens, a palavra de Jesus no Evangelho: “Felizes os pacificadores” (Mt 5, 9). Trata-se dum apelo sempre atual, que vale para cada geração. Jesus não diz “Felizes os pregadores de paz”: todos são capazes de a proclamar, até de maneira hipócrita ou mesmo enganadora. Não. Ele diz: “Felizes os pacificadores”, isto é, aqueles que a fazem. Fazer a paz é um trabalho artesanal: requer paixão, paciência, experiência, tenacidade. Felizes são aqueles que semeiam paz com as suas ações diárias, com atitudes e gestos de serviço, de fraternidade, de diálogo, de misericórdia… Estes sim, “serão chamados filhos de Deus”, porque Deus semeia paz, sempre, por todo o lado; na plenitude dos tempos, semeou no mundo o seu Filho, para que tivéssemos a paz! Fazer a paz é um trabalho que se deve realizar todos os dias, passo a passo, sem nunca nos cansarmos.

E como se faz, como se constrói a paz? Recordou-no-lo, de forma essencial, o profeta Isaías: «A paz será obra da justiça» (32, 17). A frase «opus iustitiae pax» – segundo a versão da «Vulgata» – tornou-se um lema célebre, profeticamente adotado pelo próprio Papa Pio XII. A paz é obra da justiça. Também aqui falamos, não duma justiça declamada, teorizada, planificada, mas da justiça praticada, vivida. E o Novo Testamento ensina-nos que o pleno cumprimento da justiça é amar o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22, 39; Rom 13, 9).

Quando, ajudados pela graça de Deus, seguimos este mandamento, como mudam as coisas! Porque mudamos nós! Aquela pessoa, aquele povo que eu via como inimigo, na realidade tem o meu próprio rosto, o meu próprio coração, a minha própria alma. Temos o mesmo Pai nos Céus. Então a verdadeira justiça é fazer àquela pessoa, àquele povo, o mesmo que eu queria que fosse feito a mim, ao meu povo (cf. Mt 7, 12).