terça-feira, 14 de julho de 2015

Entrevista com o Papa Francisco no voo de retorno a Roma


A costumeira conversa do papa com os jornalistas durante o voo de retorno a Roma, desta vez a partir da América Latina, durou cerca de uma hora. Foram muitas as perguntas. O papa respondeu às primeiras três perguntas em espanhol e as seguintes em italiano. E brincou que também poderiam ser feitas até em guarani, uma das línguas oficiais do Paraguai.

Aníbal Velásquez (ABC Color) – Santidade. Sou Aníbal Velázquez, do Paraguai. Nós lhe agradecemos porque elevou o Santuário de Caacupé como basílica. Mas, no Paraguai, as pessoas se perguntam: por que o Paraguai não tem cardeal? Qual é o pecado do Paraguai, para que não tenha cardeal? Ou, em todo o caso, ainda está longe de ter um cardeal?

Bem, não ter cardeal não é um pecado (risos). A maioria dos países do mundo não tem cardeais. A maioria. Ou seja, as nacionalidades dos cardeais, não me recordo quantas são, mas são uma minoria em relação com o todo o conjunto. É verdade, o Paraguai não teve nenhum cardeal até agora. Eu não saberia lhe dar a razão. Às vezes, para a escolha de cardeais, equilibram-se, leem-se, estudam-se os arquivos de cada um, vê-se a pessoa, o carisma, sobretudo do cardeal, que deveria ser o de aconselhar o papa e ajudar o papa no governo universal da Igreja. O cardeal, embora pertença a uma Igreja particular, é – e daí a palavra – incardinado na Igreja de Roma e tem que ter uma visão universal. Isso não quer dizer que no Paraguai não existem bispos que a tenham. Podem tê-la, mas, como sempre, é preciso escolher até um certo número – não se pode designar mais do que 120 cardeais eleitores – então, deve ser por isso. A Bolívia teve dois. O Uruguai teve dois – [Antonio María] Barbieri e o atual [Daniel Sturla]. Alguns países centro-americanos também não tiveram.

Mas não é nenhum pecado, e tudo depende das circunstâncias, das pessoas, do carisma para ser incardinado. E isso não quer dizer um menosprezo ou que os bispos paraguaios não têm valor. Há bispos paraguaios geniais. Eu me lembro dos dois Bogarín que fizeram história no Paraguai [Juan Sinforiano Bogarín (1863-1949) e Ramón Bogarín Argaña (1911-1976)]. Por que não foram cardeais? Bem, não foram. Não é uma ascensão, não é verdade? Eu me faço outra pergunta: o Paraguai merece ter um cardeal, se olharmos para a Igreja do Paraguai? Eu diria: mereceria ter dois, mas é pela outra razão, não tem nada a ver com os méritos. É uma Igreja viva, uma Igreja alegre, uma Igreja lutadora e com uma história gloriosa.

Priscila Quiroga (Cadena A) e Cecilia Dorado Nava (El Deber, Bolívia) – Vossa Santidade, por favor, interessa-nos conhecer o seu critério sobre se considera justo o anseio dos bolivianos de ter uma saída soberana para o mar, de voltar a ter uma saída soberana ao Oceano Pacífico. E, Santo Padre, no caso de o Chile e a Bolívia pedirem a sua mediação, o senhor aceitaria?

A questão da mediação é uma coisa muito delicada e seria como um último passo. Isto é, a Argentina viveu isso com o Chile e foi realmente para evitar uma guerra. Foi uma situação muito limite e muito bem conduzida por aqueles que a Santa Sé encarregou – por trás dos quais sempre estava São João Paulo II se interessando – e com a boa vontade dos dois países, qye disseram: "Tentemos se isso vai dar certo". E é curioso, houve um grupo, ao menos na Argentina, que nunca quis essa mediação, e, quando o presidente Alfonsín fez o plebiscito sobre se se aceitava a proposta de mediação, obviamente, a maioria do país disse que sim, mas houve um grupo que resistiu. Sempre quando se faz uma mediação, dificilmente todo o país estaria de acordo, mas é a última instância. Sempre há outras figuras diplomáticas que ajudam nesse caso, facilitadores etc.

Neste momento, eu tenho que ser muito respeitoso com isso, porque a Bolívia fez um recurso a um tribunal internacional. Então, se eu, neste momento, faço um comentário – eu sou chefe de um Estado –, poderia ser interpretado como intromissão ou uma pressão, ou algo assim. Tenho que ser muito respeitoso com a decisão tomada pelo povo boliviano que fez esse recurso. Eu também sei que houve instâncias anteriores de querer dialogar. Não tenho muita clareza. A pessoa que me disse algo desse estilo, que se estava perto de uma solução, foi nos tempos do presidente chileno Lagos, mas disse sem ter dados exatos. Foi um comentário que me foi feito pelo cardeal Errázuriz. Assim, eu não gostaria de dizer uma 'bobagem' [macana] sobre isso. 

A pedido da Santa Sé, videntes de Medjugorje não darão mais testemunho e mensagens das supostas aparições de Nossa Senhora.


A vidente Marija Pavlovic Lunetti estava na cidade de Lisboa, em Portugal, para dar seu testemunho e ter a visão diária – que diz receber – de Nossa Senhora, mas foi impedida por orientação da Santa Sé, conforme informe o jornal Il Mattino.

Marija explicou ao público de 600 pessoas que  recebeu uma carta da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano que impede a ela e a todos os videntes de darem testemunho e dizerem que tem aparições de Nossa Senhora, de acordo com o site Medjugorje Brasil. 

Nulidade de casamento: novidades à vista


Durante o XXX Encontro da Sociedade Brasileira de Canonistas -SBC (Campinas, 6 a 11 de julho de 2015), o magnífico reitor da Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino, de Roma, proferiu uma palestra acerca das propostas de mudança do processo de nulidade do sacramento do matrimônio. Sua magnificência, pe. dr. Miroslav Adam, OP, é membro da comissão nomeada pelo papa Francisco para estudar as possíveis alterações da legislação canônica com vistas à maior celeridade e à simplificação do procedimento de nulidade matrimonial. O eminente canonista detalhou sete propostas, de conhecimento público, já entregues ao santo padre.   Ei-las:

1.ª) Derrogação da norma que determina o reexame obrigatório da sentença de nulidade de casamento (cânon 1682, § 1.º do CIC).  

Não será mais compulsória a chamada “dupla sentença conforme”, porquanto o veredicto de primeira instância, por si só, tornará possível um “novo” matrimônio. É óbvio que não se extinguiu o recurso de apelação, instituto de direito natural; o defensor do vínculo ou uma das partes poderá apelar da sentença que declarar a nulidade do casamento.

2.ª) Juiz monocrático.

Seguindo o esquema do direito estatal ou civil, a comissão de reforma propõe que a primeira instância seja composta por um único juiz, não um tribunal (“tribunal” = etimologicamente: três juízes). Este magistrado, de preferência um clérigo, apreciará o libelo e, após o trâmite processual regular, decidirá se o casamento em exame é nulo ou não.

3.ª) Possibilidade de um leigo [ou uma leiga] atuar como juiz monocrático.

Se se tratar de um fiel com formação canônica comprovada, isto é, que apresente ao bispo o diploma de doutorado (igual obrigação têm os clérigos), nada obsta que a primeira instância da justiça canônica, nos casos de nulidade matrimonial, seja ocupada por um leigo.

4.ª) Procedimento breve ou sumário.

Em algumas situações, em que o “fumus boni iuris” (fumo do bom direito) revelar a provável nulidade do sacramento, como, por exemplo, o exíguo tempo de convivência ou a gravidez que conduziu à convolação das núpcias, o juiz de primeiro grau, seguindo um rito mais simples, sempre com a intervenção do defensor do vínculo, declarará a nulidade do matrimônio, numa sentença que não terá mais que cinco páginas. 

Respostas sobre a obrigatoriedade da recitação da Liturgia das Horas


A celebração íntegra e quotidiana da Liturgia das Horas é, para os sacerdotes e diáconos a caminho do presbiterado, parte substancial de seu ministério eclesiástico.

Seria uma visão empobrecida olhar esta responsabilidade como o mero cumprimento de uma obrigação canônica, ainda que também o seja, e não teria presente que a ordenação sacramental confere ao diácono e ao presbítero um especial encargo de elevar ao Deus uno e trino o louvor pela Sua bondade, pela Sua soberana beleza e pelo desígnio misericordioso acerca da nossa salvação sobrenatural.

Juntamente com o louvor, os sacerdotes e diáconos apresentam à Divina Majestade a oração de intercessão afim de que se digne acudir às necessidades espirituais e temporais da Igreja e de toda a humanidade.

O “sacrifício de louvor” realiza-se, em primeiro lugar, na celebração da Santíssima Eucaristia. No entanto, prepara-se e prolonga-se na celebração da Liturgia das Horas (cf. IGLH, 12), cuja forma principal é a recitação comunitária, seja numa comunidade de clérigos ou de religiosos, sendo muito desejável a participação dos fiéis leigos.

Todavia, a Liturgia das Horas, chamada também Ofício Divino ou Breviário, de nenhuma maneira carece de valor quando é recitada a sós ou de certa forma privadamente, já que, ainda neste caso, “estas orações ainda que se realizem de modo privado, não imploram coisas privadas” (Gilbertus de Holland, Sermo XXIII in Cant., em P.L. 184, 120).

Com efeito, mesmo em circunstâncias similares, estas orações não constituem um acto privado, mas fazem parte do culto público da Igreja, de tal modo que, ao recitá-las, o ministro sagrado cumpre com seu dever eclesial: o sacerdote ou o diácono que, na intimidade de um templo, de um oratório ou em sua própria casa, se entrega à celebração do Ofício Divino, realiza, ainda que não haja ninguém que o acompanhe, um acto eminentemente eclesial, em nome da Igreja e em favor de toda a Igreja, e inclusivamente da humanidade inteira. 

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Discurso do Papa aos jovens na Costanera


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI
(5-13 DE JULHO DE 2015)

ENCONTRO COM OS JOVENS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Margens do Rio Costanera, Assunção, Paraguai
Domingo, 12 de Julho de 2015


Discurso preparado pelo Santo Padre:

Queridos jovens!

Enche-me de alegria poder encontrar-me convosco, neste clima de festa. Poder ouvir os vossos testemunhos e partilhar o vosso entusiasmo e amor a Jesus.

Obrigado, D. Ricardo Valenzuela, responsável da pastoral juvenil, pelas suas palavras! Obrigado, Manuel e Liz, pela coragem de partilhardes as vossas vidas, oferecendo o vosso testemunho neste encontro. Não é fácil falar das nossas coisas pessoais, e menos ainda diante de tantas pessoas. E vós partilhastes o tesouro maior que tendes: as vossas vicissitudes, as vossas vidas e como Jesus, pouco a pouco, entrou nelas.

Para responder às vossas perguntas, gostaria de realçar algumas das coisas que partilhastes.

Manuel, falaste mais ou menos assim: «Hoje tenho desejos, de sobra, de servir os outros; tenho vontade de me vencer». Passaste por momentos muito difíceis, situações muito dolorosas, mas hoje tens grande desejo de servir, de sair, de partilhar a tua vida com os outros.

Liz não é nada fácil ser mãe dos próprios pais, sobretudo quando se é jovem, mas que grande sabedoria e maturidade encerram as tuas palavras, quando nos dizias: «Hoje jogo com ela, mudo-lhe as fraldas… Coisas todas, que hoje ofereço a Deus; e estou apenas compensando o que mãe fez por mim».

Vós, jovens paraguaios, sois corajosos de verdade.

Partilhastes também como conseguistes continuar; onde encontrastes forças. Na paróquia – dissestes ambos –, nos amigos da paróquia e nos retiros espirituais que lá se organizavam. Duas chaves muito importantes: os amigos e os retiros espirituais.

Os amigos. A amizade é um dos presentes maiores que uma pessoa, um jovem pode ter e pode oferecer. É verdade! Como é difícil viver sem amigos. Vede se esta não é uma das coisas mais belas que Jesus disse: «Chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15). Um dos maiores segredos do cristão radica-se no facto de ser amigo, amigo de Jesus. Quando uma pessoa ama alguém, permanece ao seu lado, cuida dele, ajuda-o, diz-lhe o que pensa, mas sem o deixar caído por terra. Assim faz Jesus connosco, nunca nos deixa caídos por terra. Os amigos apoiam-se, fazem-se companhia, protegem-se. Assim procede o Senhor conosco. Serve-nos de apoio. 

Angelus: Papa pede que a Igreja seja casa de todos


ANGELUS
Campo Grande de Ñu Guazú – Assunção/Paraguai
Domingo, 12 de julho de 2015


Agradeço ao Arcebispo de Assunção, Dom Edmundo Ponziano Valenzuela Mellid, as suas amáveis palavras.

No final desta celebração, voltamos com confiança o nosso olhar para a Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Ela é o presente de Jesus ao seu povo. Deu-no-La como mãe na hora da cruz e do sofrimento. É fruto da entrega de Cristo por nós. E, desde então, sempre esteve e estará com seus filhos, especialmente os mais humildes e necessitados.

Nossa Senhora entrou no tecido da história dos nossos povos com as suas gentes. Como em muitos outros países da América Latina, a fé dos paraguaios está impregnada de amor à Virgem. Acodem confiadamente à sua Mãe, abrem-Lhe o seu coração e confiam-Lhe as suas alegrias e penas, as suas esperanças e sofrimentos. A Virgem consola-os e, com a ternura do seu amor, acende neles a esperança. Não deixeis de invocar e confiar em Maria, Mãe de misericórdia para todos os seus filhos sem distinção. 

Homilia em Campo Grande de Ñu Guazú, em Assunção


Homilia
Santa Missa em Campo Grande de Ñu Guazú, em Assunção, Paraguai
Domingo, 12 de julho de 2015

«O Senhor dar-nos-á chuva e dará fruto a nossa terra»: assim diz o Salmo. Com isto, somos convidados a celebrar a misteriosa comunhão entre Deus e o seu Povo, entre Deus e nós. A chuva é sinal da sua presença, na terra trabalhada pelas nossas mãos. Uma comunhão que sempre dá fruto, que sempre dá vida. Esta confiança brota da fé, de saber que contamos com a sua graça que sempre transformará e regará a nossa terra.

Uma confiança que se aprende, que se educa. Uma confiança que se vai gerando no seio duma comunidade, na vida duma família. Uma confiança que se transforma em testemunho no rosto de tantos que nos encorajam a seguir Jesus, a ser discípulos d’Aquele que nunca desilude. O discípulo sente-se convidado a confiar, sente-se convidado por Jesus a ser amigo, a compartilhar a sua sorte, a partilhar a sua vida. «A vós, não vos chamo servos, chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que sabia do meu Pai». Os discípulos são aqueles que aprendem a viver na confiança da amizade.

O Evangelho fala-nos deste discipulado. Apresenta-nos a cédula de identidade do cristão; a sua carta de apresentação, a sua credencial.

Jesus chama os seus discípulos e envia-os, dando-lhes regras claras e precisas. Desafia-os a um conjunto de atitudes, comportamentos que devem ter. Sucede, e não raras vezes, que nos poderão parecer atitudes exageradas ou absurdas; seria mais fácil lê-las simbolica ou «espiritualmente». Mas Jesus é muito preciso, muito claro. Não lhes diz: fazei de conta, ou fazei o que puderdes.

Recordemo-las juntos: «Não leveis nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem alforje, nem dinheiro (…) Permanecei na casa onde vos derem alojamento». Parece uma coisa impossível.

Poderíamos concentrar-nos em palavras como «pão», «dinheiro», «alforje», «cajado», sandálias», «túnica». E seria lícito. Mas parece-me que há aqui uma palavra-chave, que poderia passar despercebida. Uma palavra central na espiritualidade cristã, na experiência do discipulado: hospitalidade. Como bom mestre, Jesus envia-os a viver a hospitalidade. Diz-lhes: «Permanecei na casa onde vos derem alojamento». Envia-os a aprender uma das características fundamentais da comunidade crente. Poderíamos dizer que é cristão aquele que aprendeu a hospedar, a alojar. 

Discurso na visita à população de Bañado Norte, no Paraguai


Discurso
Visita do Papa à população de Bañado Norte, no Paraguai
Domingo, 12 de julho de 2015

Queridos amigos!

Com grande alegria, vejo cumprir-se esta manhã o meu desejo de visitar-vos. Não poderia visitar o Paraguai, sem estar convosco, sem estar na vossa terra.

Encontramo-nos aqui na paróquia denominada Sagrada Família e confesso-vos que, ao longo do caminho, tudo me fazia recordar a Sagrada Família. Ver os vossos rostos, os vossos filhos, os vossos avós. Ouvir as vossas histórias e tudo o que fizestes para estar aqui, a luta que travais para ter uma vida digna, um teto. Tudo o que fazeis para superar a inclemência do tempo, as inundações destas últimas semanas, faz-me recordar a família humilde de Belém. Uma luta que não vos roubou o sorriso, a alegria, a esperança. Uma peleja que não vos impediu a solidariedade, antes, pelo contrário, estimulou-a e fê-la crescer.

Quero me deter na presença de José e Maria em Belém. Eles tiveram de deixar a sua terra, os seus parentes, os seus amigos. Tiveram de deixar o que lhes pertencia e deslocar-se a outra terra; uma terra onde não conheciam ninguém, onde não tinham casa, nem família. Foi então que aquele jovem casal teve Jesus; em tal contexto, aquele jovem casal deu-nos de presente Jesus. Estavam sozinhos, numa terra estranha, os três. De repente, começaram a aparecer pastores; pessoas como eles, que tiveram de deixar o que possuíam a fim de obter melhores oportunidades familiares. Viviam sujeitos a inclemências de vários tipo, nomeadamente as do tempo.