segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Lutero tinha o mesmo canôn bíblico que seus seguidores protestantes?


É comum os protestantes acusarem a Igreja Católica de ter adicionado, no Concílio de  Trento em 1547, livros ao cânon bíblico (os 7 livros deuterocanônicos: Tobias, Judite, I e II Macabeus, Baruc, Eclesiástico e Sabedoria), e que eles, assim como Lutero, conservam os 66 livros que antes eram tidos com inspirados.

Bem , além do fato da Igreja primitiva usar abertamente e doutrinariamente 73 livros e o concílio de Trento não ter adicionado nada, apenas confirmado a fé secular da Igreja, os protestantes não sabem que Lutero não tinha nem mesmo os mesmos livros que eles tem como inspirados. Devido a isto neste artigo será mostrado que na realidade quem modificou a  Bíblia foi Lutero e não o concílio de Trento.

1 - CONCÍLIOS ANTERIORES A TRENTO

Para confirmar que o concílio de Trento não adicionou nada a Bíblia, serão vistos agora 2 concílios anteriores a ele, um 1100 antes e o outro 100 anos antes, para provar qual o cânon bíblico sempre aceito pela Igreja.

CONCÍLIO CARTAGO IV (ANO 419 D.C)

“Cânone 24 (Grego XXVII)

Nada seja lido na igreja ao exceto as escrituras canônicas.

Item,que, exceto as Escrituras Canônicas nada seja lido na igreja sob o nome de Escritura divina.Mas as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué filho de Nun, Os Juízes, Rute, os Reis quatro livros, As Crônicas 2 livros, Jó, o Saltério, os cinco livros de Salomão[1], os doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias[2], Ezequiel, Daniel, Tobias, Judite, Ester, Esdras dois livros, Macabeus dois  livros.

O Novo Testamento

Os Evangelhos quatro Livros, os Atos dos Apóstolos um livro, as quatorze epístolas de Paulo , as epístolas de Pedro, o Apóstolo, duas; As Epístolas de João, o apóstolo, três; a Epístola de Tiago, o Apóstolo, uma; A Epístola de Judas, o Apóstolo, uma; A Revelação de João, um livro.” (CATARGO, 419)

E também a mesma lista de 73 livros de Trento é repetida no Concílio de Florença, 100 anos antes: 

domingo, 23 de agosto de 2015

Comer sangue de animal é pecado?


"Quanto a qualquer homem da casa de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso meio, que comer qualquer espécie de sangue, eu certamente porei minha face contra a alma que comer o sangue, e deveras o deceparei dentre seu povo. Pois a alma da carne está no sangue, e eu mesmo o pus para vós sobre o altar para fazer expiação pelas vossas almas, porque é o sangue que faz expiação pela alma [nele]. Foi por isso que eu disse aos filhos de Israel: "Nenhuma alma vossa deve comer sangue e nenhum residente forasteiro que reside no vosso meio deve comer sangue.". Quanto a qualquer homem dos filhos de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso meio, que caçando apanhe um animal selvático ou uma ave que se possa comer, neste caso tem de derramar seu sangue e cobri-lo com pó. Pois a alma de todo tipo de carne é seu sangue pela alma nele. Por conseguinte, eu disse aos filhos de Israel: "Não deveis comer o sangue de qualquer tipo de carne, porque a alma de todo tipo de carne é seu sangue. Quem o comer será decepado [da vida]" (Levítico 17,10-14).

Gostaria muito de esclarecer a minha dúvida, pois qual seria a forma de interpretar, no qual ele mesmo afirma; que caçando apanhe um animal selvático ou uma ave que se possa comer, neste caso tem de derramar seu sangue e cobri-lo com pó. Então quer dizer que não podemos comer carne vermelha? - Karlo Felipe (Campina Grande – PB).

Prezado Karlo,
salve Maria!

Ao contrário dos 10 mandamentos, a antiga Lei Mosaica era uma lei preparatória para o povo judeu, com símbolos e prefigurações de Cristo e do Novo Testamento, cujo sacrifício por excelência seria o próprio Filho de Deus. Com a Encarnação, Morte e Ressurreição de Cristo, não seria mais necessário o símbolo, pois o próprio Cristo já cumprira tudo o que era esperado e prefigurado. Os Mandamentos são a Lei Eterna para o homem e não serão jamais abolidos.

Adão, no paraíso terrestre, tinha a lei de não comer o fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Era um sacrifício para Deus, reconhecendo nEle o Senhor de tudo. Havia nisso o símbolo de que o Bem absoluto era impossível de ser conhecido pelo homem, pois o infinito não cabe no finito. Já o Mal é o pecado, que também não pode ser conhecido, pois vai contra a razão.

Ao pecar, com a expulsão do paraíso, foi necessário ao homem – agora tendente ao pecado - fazer sacrifícios de expiação. Nesses sacrifícios, animais eram imolados e o sangue, simbolo da vida destes, era reservado aos sacerdotes, para significar que a vida era um dom de Deus e pertencia somente a Ele, Senhor de tudo. 

sábado, 22 de agosto de 2015

Vocação laical, presença, compromisso e esperança a serviço do Reino


O quarto domingo de agosto focaliza a vocação laical, isto é dos cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade que tentam ser luz do mundo e sal da terra. Ao celebrarmos os cinqüenta anos do Concilio Vaticano II e o jubileu de prata da Encíclica“Chritifideleslaici”, de São João Paulo II, descobrimos com alegria os avanços do laicato em consciência, organização e a ação, bem como a valorização da raiz batismal de seu ser e missão.

Notamos no entanto uma concentração dos leigos e leigas em espiritualidades e serviços internos da Igreja, perdendo consistência na linha de atuação e inserção no mundo. De fato há espaços chamados de "novos areópagos " ou de " átrio dos gentios " onde se tomam as decisões e se forjam os critérios de valor e referência da cultura contemporânea, que mostram a falta e carência de leigos cristãos, nesses âmbitos.

No contexto da Reforma Política e na Pastoral da Cidadania onde se tece a articulação dinâmica da fée a política, ainda é escassa e pouco renovada a liderança de cristãos que possam construir a alternativa do poder-serviço e uma política inclusiva, transparente e equitativa para com os pobres. No campo da comunicação se visibilizam práticas por vezes fragmentadas e pietistas que desconexas com a realidade são manipuladas e não estimulam o compromisso transformador do leigo. Mas este entorno de dificuldades não é empecilho para alegrar-nos com um processo crescente de consciência verificado na construção, elaboração e discussão do Documento 107 (sobre a missão dos leigos e leigas), a preparação do Ano do Laicato, e a participação nos Encontros e Assembleias do Conselho Nacional de Leigos do Brasil como em junho deste ano no Centro Gianeta, São Paulo. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Por que o mundo LGBT passou a negar a existência da teoria do gênero?


O chamado “mundo LGBT” tem tido uma nova prioridade: negar a todo custo a existência da teoria de gênero.

Devemos reconhecer que, na verdade, eles nunca definiram as suas ideias como uma "teoria" propriamente dita, mas é legítimo usar esse termo porque o corpo de ideias que eles defendem pode ser enunciado a partir de duas convicções específicas.

A primeira declaração da teoria de gênero é que existiria uma sexualidade específica (ou "dado biológico") e um gênero distinto (ou "dado psicológico"). Ou seja: um ser humano pode ser masculino-homem ou feminino-mulher quando há coincidência entre o sexo biológico e o gênero; mas também poderia ser masculino-mulher ou feminino-homem, no caso em que o sexo biológico e o gênero não coincidem. Tudo isso é apresentado como "normal", palavra insistentemente presente na terminologia LGBT.

A segunda afirmação da teoria de gênero é que seria possível escolher de forma autônoma o gênero “preferido” (ou “sentido”), prescindindo do fato biológico. Teria sido a sociedade quem nos impôs os gêneros identificados à força com o dado biológico. A partir de agora, porém, deveríamos ficar cientes de que as crianças podem crescer “livres” desses “estereótipos” e ter a oportunidade de decidir “livremente” o seu gênero, mediante uma educação que não fizesse distinções entre meninos e meninas.

Estas afirmações fazem parte de uma teoria complexa que procura legitimar a “sexualidade mutável” ou “líquida” em nome de uma “autonomia sexual” que permita a cada um escolher a própria identidade sexual (com ou sem cirurgia de mudança de sexo).

Uma parcela relevante da ciência médica, no entanto, enxerga estas crenças como uma patologia mental, definindo o transexualismo como um "transtorno de identidade de gênero" no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais e explicando-o como "o desejo persistente das características físicas e dos papéis sociais que conotam o sexo biológico oposto". De acordo com o manual, portanto, existe apenas o sexo biológico; desejar ser diferente daquilo que naturalmente se é seria sintoma de um distúrbio mais profundo. 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

É possível trocar o nome de batismo?


Já passou pela minha mente a possibilidade de trocar meu nome. Tenho o nome da minha avó materna e, em vários momentos, já “reclamei” com a minha mãe por não ter colocado também o nome da minha bisavó. Foi então que surgiu a dúvida: é possível trocar de nome, já que o nome que temos desde que nascemos é o mesmo com o qual nos batizaram?

Sobre a pessoa física, no Código de Direito Canônico se diz o seguinte: “Pelo batismo, o homem é incorporado na Igreja de Cristo e nela constituído pessoa, com os deveres e direitos que, atendendo à sua condição, são próprios dos cristãos, na medida em que estes permanecem na comunhão eclesiástica e a não ser que obste uma sanção legitimamente infligida” (cânon 96).

Como se pode facilmente notar, a lei eclesial não deixa de considerar a pessoa física, nem supõe uma penalidade para quem quiser trocar ou corrigir o nome.

De fato, nem o nome nem sua possível mudança são mencionados nesse cânon, porque o que faz do indivíduo uma pessoa dentro da Igreja é o Batismo, e não o nome que se escolhe para recebê-lo.

Todo batizado é incorporado à Igreja em sua essência, não pelo seu nome. Ou seja, indiferentemente do fato de uma pessoa modificar ou não seu nome civilmente, isso não altera o selo recebido no Batismo, que, em dogmática, se chama “caráter”.

Sempre se pode trocar de nome sem que isso afete a realidade do batizado; é o caso dos papas e dos religiosos que recebem outro nome (de maneira voluntária), ao aceitar o cargo, receber a ordenação sacerdotal ou profissão de fé, ainda que, neste caso, a mudança de nome seja apenas simbólica: não há mudanças nem civilmente, nem em suas certidões de Batismo.

É por isso que não há razão alguma, do ponto de vista eclesial, que impeça a pessoa de trocar seu nome de batismo. 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Papa: o trabalho é sagrado e traz dignidade à família


CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 19 de agosto de 2015


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Depois de ter refletido sobre o valor da festa na vida da família, hoje nos concentramos sobre o elemento complementar, que é aquele do trabalho. Ambos fazem parte do desígnio criador de Deus, a festa e o trabalho.

O trabalho, diz-se comumente, é necessário para manter a família, para crescerem os filhos, para assegurar aos próprios entes queridos uma vida digna. De uma pessoa séria, honesta, a coisa mais bela que se pode dizer é: “É um trabalhador”, é justamente uma pessoa que trabalha, é uma pessoa que, na comunidade, não vive às custas dos outros. Há tantos argentinos hoje, eu vi, e direi como dizemos nós: “Não vivem com a barriga pra cima”.

E, de fato, o trabalho, em suas mil formas, a partir daquela caseira, cuida também do bem comum. E onde se aprende esse estilo de vida trabalhador? Antes de tudo se aprende em família. A família educa ao trabalho com o exemplo dos pais: o pai e a mãe que trabalham pelo bem da família e da sociedade.

No Evangelho, a Sagrada Família de Nazaré aparece como uma família de trabalhadores, e o próprio Jesus é chamado de “filho do carpinteiro” (Mt 13, 55), ou até mesmo de “o carpinteiro” (Mc 6, 3). E São Paulo não deixa de avisar aos cristãos: “Quem não quer trabalhar, não coma” (2 Ts 3, 10). É uma boa receita para emagrecer, não trabalha, não come! O apóstolo se refere explicitamente ao falso espiritualismo de alguns que, de fato, vivem às custas dos seus irmãos e irmãs “sem fazer nada” (2 Ts 3, 11). O empenho do trabalho e a vida do espírito, na concepção cristã, não estão em contraste entre si. É importante entender bem isso! Oração e trabalho podem e devem estar juntos em harmonia, como ensina São Bento. A falta de trabalho danifica também o espírito, como a falta de oração danifica também a atividade prática. 

Quarta Aparição de Nossa Senhora nos Valinhos a 19 de agosto de 1917


Lúcia, Francisco e Jacinta, pastorinhos de Fátima, regressados de Vila Nova de Ourém, depois de o Administrador do conselho os ter levado, no próprio dia 13 de agosto de 1917, tiveram a quarta aparição de Nossa Senhora.

1.                 Data da aparição

Desde o ano de 1917, têm sido apresentadas várias datas desta aparição. O interrogatório de 21 de agosto, do Padre Manuel Marques Ferreira, pároco de Fátima, esclarece: “Disse Lúcia que viu Nossa Senhora, no domingo a seguir ao dia 13”1, isto é, a 19 de agosto. O Padre António dos Santos Alves, pároco das Cortes, Leiria, interrogou as videntes Lúcia e Jacinta, quando estiveram na Reixida, da mesma freguesia, entre 14 e 27 de setembro de 1917, e datou, num primeiro depoimento2, a aparição no dia 18 de agosto; num segundo depoimento, corrigiu: “no domingo imediato ao dia 13 de agosto”3. No primeiro interrogatório do Dr. Manuel Nunes Formigão, a 27 de setembro de 1917, Lúcia respondeu: ŦNesse mês [de agosto], vi-a só alguns dias depois [de 13 de agosto], a dezanove”4. Leonor de Avelar e Silva Constâncio, que assistiu ao interrogatório do Dr. Formigão, em 19 de outubro de 1917, refere: ŦSoubemos depois que as crianças […] diziam ter sido no dia 19 [de agosto], favorecidas com nova apariçãoŧ5. Maria da Conceição Stokler Parente, de Alcobaça, em carta de 16 de outubro de 1917, publicada em ŦA Ordemŧ, a 27 do mesmo mês, diz: ŦNo dia 19 [de agosto], apareceu Nossa Senhora às ditas crianças, noutro lugarŧ6. No dia 2 de  novembro, o Dr. Formigão interrogou a Lúcia, a Jacinta e o João Marto: ŦQue disse ela no domingo seguinte [ao dia 13 de agosto], quando te apareceu no sítio dos Valinhos?ŧ7

No estudo psicológico sobre os videntes, o mesmo Dr. Formigão afirma: ŦA 19 de agosto, no sítio dos Valinhos, a Senhora aparece-lhes improvisamente [sic]ŧ8. Maria Augusta Saraiva Vieira de Campos, em A Minha peregrinação a Fátima, publicado nos finais de novembro de 1917, diz a mesma coisa: ŦNo domingo imediato, 19 de agosto, a criança pediu à Senhora que a não deixasse ficar por mentirosa, no dia 13 de outubroŧ9. O ŦBoletim Popularŧ, de Matosinhos, publicou, em dezembro de 1917, um artigo sobre os acontecimentos de Fátima, em que se afirma: ŦNo dia 19 [de agosto], apareceu Nossa Senhora às ditas crianças, em outro lugarŧ10. A 6 de agosto de 1918, data final do processo paroquial de Fátima, o pároco repete o que tinha escrito em 1917: ŦNo dia dezenove, que fora domingo, andava a pastorear as ovelhas, no sítio chamado Valinhosŧ11 O Dr. Formigão, no opúsculo, Os episódios maravilhosos de Fátima, com imprimatur a 16 de junho de 192112, e em Os acontecimentos de Fátima, de 18 de março de 1923, continua a datar a aparição a 19 de agosto13. A partir de 1922, Lúcia parece inclinar-se para outro dia, no seu escrito do Vilar, Porto: ŦAssim se passaram três dias [em Vila Nova de Ourém]. […] Então vieram-nos pôr em casa do Senhor Prior. Chegando a nossa casa, fomos logo pastar as ovelhas para um sítio chamado Valinho. […] Chegando a Jacinta, deu um relâmpago e apareceu a Senhora em cima duma carrasqueira14 Quando Lúcia foi ouvida, no Porto, em 8 de julho de 1924, pela Comissão Canónica Diocesana, no depoimento que foi redigido em terceira pessoa, diz-se: [No dia 13, o administrador] Ŧinterrogou-as na administração; depois, levou-as para casa dele […]. Que no dia seguinte [dia 14], uma senhora de idade as interrogou sobre o segredo […]. Levaram-nos para casa do administrador e lá ficaram aquela noite no mesmo quarto. No dia seguinte [dia 15], foram à administração, interrogatórios de manhã e de tarde; à noite desse dia, ficaram lá e, no outro dia [dia 16], pelas 10 horas, de novo à administração, mandou-os sentar no carro e, no dia 15[sic], foram para casa, com o administrador, a casa do prior, deixando- -os na varanda. O povo fez muitas perguntas. Quando chegaram a casa, receberam ordem de ir para os Valinhos e ali, nesse mesmo dia, se deu a aparição, também sobre uma carrasqueiraŧ15. Nesta versão, acrescenta--se mais um dia ou dois. 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Primeiro embate do sínodo dos Bispos: A lei natural


O próximo Sínodo dos Bispos foi precedido por um alvoroço da mídia que lhe atribui um significado histórico maior do que o seu âmbito eclesiológico de mera assembléia consultiva da Igreja. Alguns lamentam pela guerra teológica que o Sínodo anuncia, mas a história de todos os encontros episcopais (este é o significado etimológico do termo e do seu sinônimo “concílio”) sempre foi marcada por conflitos teológicos e debates ásperos sobre erros e divisões que ameaçavam a comunidade cristã desde o seu início.

Hoje a questão da comunhão para divorciados é só mais uma vertente de uma discussão que abrange conceitos doutrinários muito mais complexos, como o da natureza humana e da lei natural. Esse debate parece refletir na esfera antropológica, as especulações trinitárias e cristológicas que abalaram a Igreja durante o Concílio de Nicéia (325) e da Calcedônia (451). Naquela época se discutia para determinar a natureza da Santíssima Trindade, que é um só Deus em três Pessoas, e para definir em Jesus Cristo a Pessoa do Verbo, que subsiste em duas naturezas, a divina e a humana. A adoção por parte do Concílio de Nicéia, do termo grego homoousios, que em latim foi traduzido como consubstantialis e, logo após com o Concílio de Calcedônia, com as palavras “da mesma natureza” da substância divina, para afirmar a perfeita igualdade entre o Verbo e o Pai, marcou uma data memorável na história do Cristianismo e encerrou uma era de perplexidade, confusão, e drama de consciência semelhante àquela em que estamos inseridos. Naqueles anos, a igreja estava dividida entre a “direita” de Santo Atanásio e a “esquerda” dos seguidores de Ário (a definição é do historiador dos Concílios Karl Joseph von HEFELE). Entre os dois polos oscilava o terceiro partido dos semi-arianos, divididos em várias facções. Ao homoousios de Nicéia, que significa “da mesma substância” foi contraposto o termo homoiousios que significa “de substância semelhante”. Não se tratava de uma mera questão de terminologia. A diferença entre essas duas palavras, aparentemente insignificante, esconde um abismo: de uma parte a identidade com Deus, e da outra, uma certa analogia ou semelhança, o que faz de Jesus Cristo um simples homem.

A melhor reconstrução histórica deste período é a do cardeal John Henry Newman, em seu livro “Os arianos do IV século”(tr. Ele. Jaca Book, Milano 1981), um estudo aprofundado, que destaca a responsabilidade do clero e a coragem do “povo” na manutenção da fé ortodoxa. O diácono Atanásio, campeão da ortodoxia, ao ser eleito bispo, foi forçado por bem cinco vezes a abandonar sua diocese para percorrer o caminho do exílio. No ano 357 o Papa Libério excomungou Atanásio e dois anos mais tarde, os Concílios de Rimini e Selêucia, que constituíam uma espécie de grande concílio ecumênico representando o Ocidente e o Oriente, abandonaram o termo “consubstancial” de Nicéia e estabeleceram um equivocado meio-termo entre Santo Atanásio e os Arianos. Foi então que São Jerônimo cunhou a frase segundo a qual  “o mundo gemeu e percebeu com espanto que tinha se tornado Ariano”.

Atanásio e os defensores da fé ortodoxa foram acusados de ficarem presos a questões de palavras e de serem encrenqueiros e intolerantes. As mesmas acusações que agora são dirigidas àqueles que dentro e fora dos debates sinodais levantam uma voz de intransigente firmeza na defesa do ensinamento perene da Igreja sobre o matrimônio cristão, como é o caso dos cinco cardeais (Burke, Brandmüller, Caffara De Paolis e Müller) os quais, depois de terem se manifestado individualmente, reuniram suas ações em defesa da família em um livro que se tornou um manifesto, “Permanecer na verdade de Cristo: o casamento e a Comunhão na Igreja Católica”, que acaba de ser publicado pelas Edições Cantagalli Siena. A mesma editora Cantagalli foi responsável pela publicação de mais um texto fundamental, “Divorciados recasados. A práxis da Igreja primitiva” do jesuíta Henri CROUZEL.