Santa
Missa na Praça da Revolução “Calixto García Iñíguez”
21
de setembro de 2015
Celebramos a festa do apóstolo e evangelista
Mateus. Celebramos a história duma conversão. Ele próprio nos conta, no seu
Evangelho, como foi o encontro que marcou a sua vida, introduzindo-nos numa
«troca de olhares» que pode transformar a história.
Um dia, como outro qualquer, estava ele sentado à
mesa da cobrança de impostos, quando Jesus passou e o viu, aproximou-Se e
disse-lhe: «Segue-me». E ele, levantando-se, seguiu-O.
Jesus olhou para ele. Que força de amor teve o
olhar de Jesus para mover assim Mateus! Que força deviam ter aqueles olhos para
o levantar! Sabemos que Mateus era um publicano, ou seja, cobrava os impostos
dos judeus para os entregar aos romanos. Os publicanos eram malvistos e até
considerados pecadores, pelo que viviam separados e eram desprezados pelos
outros. Com eles, não se podia comer, falar nem rezar. Eram considerados pelo
povo como traidores: tiravam da sua gente para dar aos outros. Os publicanos
pertenciam a esta categoria social.
Diversamente, Jesus parou, não passou ao largo
acelerando o passo, olhou-o sem pressa, com calma. Olhou-o com olhos de
misericórdia; olhou-o como ninguém o fizera antes. E este olhar abriu o seu
coração, fê-lo livre, curou-o, deu-lhe uma esperança, uma nova vida, como a
Zaqueu, a Bartimeu, a Maria Madalena, a Pedro e também a cada um de nós. Ainda
que não ousemos levantar os olhos para o Senhor, Ele é o primeiro a olhar-nos.
É a nossa história pessoal; tal como muitos outros, cada um de nós pode dizer:
eu também sou um pecador, sobre quem Jesus pousou o seu olhar. Convido-vos a
fazerdes, em vossas casas ou na igreja, um tempo de silêncio recordando, com
gratidão e alegria, as circunstâncias, o momento em que o olhar misericordioso
de Deus pousou sobre a nossa vida.
O seu amor precede-nos, o seu olhar antecipa-se à
nossa necessidade. Jesus sabe ver para além das aparências, para além do
pecado, do fracasso ou da nossa indignidade. Sabe ver para além da categoria
social a que possamos pertencer. Para além de tudo isso, Ele vê a dignidade de
filho, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no fundo da nossa alma.
Veio precisamente à procura de todos aqueles que se sentem indignos de Deus,
indignos dos outros. Deixemo-nos olhar por Jesus, deixemos que o seu olhar
percorra as nossas veredas, deixemos que o seu olhar nos devolva a alegria, a
esperança.