Após o triste caso de Paolo Gabriele, o
mordomo de Bento XVI que vazou documentos confidenciais do papa em 2012, volta
ao Vaticano o espectro de mais uma venda de notícias privadas à imprensa.
"No âmbito de investigações
criminais realizadas pela Gendarmaria do Vaticano ao longo de vários meses
sobre a subtração e divulgação de notícias e documentos confidenciais, foram
chamadas duas pessoas, nestes sábado e domingo, para interrogatório com base
nas provas recolhidas", anunciou na manhã desta segunda-feira o padre
Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.
As duas pessoas em questão são o
monsenhor espanhol Lucio Angel Vallejo Balda, secretário da Prefeitura para
Assuntos Econômicos, e Francesca Chaouqui, italiana de pai marroquino liberada
por cooperar com as investigações.
Ambos eram membros da Cosea, sigla em
italiano da comissão de estudos e organização das estruturas econômicas e
administrativa da Santa Sé estabelecida pelo papa Francisco em julho de 2013 e
dissolvida após a realização das suas tarefas. Em seu lugar, foram criadas duas
novas organizações para centralizar e aumentar a transparência da gestão
econômica e financeira da Santa Sé: a Secretaria de Economia, liderada pelo
cardeal Pell, e o Conselho de Economia. O pe. Vallejo Balda era secretário da
Cosea e Francesca era a única mulher da comissão, uma nomeação tinha criado
alguma polêmica na época.
Se as acusações forem confirmadas,
tanto o monsenhor quanto a lobista correm o risco de acabar atrás das grades. A
divulgação de documentos confidenciais é um delito nos termos da Lei nº IX do
Estado da Cidade do Vaticano, artigo 10 (116 bis), de 13 de julho de 2013, que
trata de alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal. "Quem
se apossa ilegitimamente ou revela informações ou documentos de divulgação
proibida é punido com a reclusão de seis meses a dois anos ou com multa de mil
a cinco mil euros", diz a norma. "Se a conduta tem por objeto
informações ou documentos relativos aos interesses fundamentais ou às relações
diplomáticas da Santa Sé ou do Estado, aplica-se a pena de reclusão de quatro a
oito anos".
A nota do padre Lombardi também cita
dois livros anunciados para esta quinta-feira, 5 de novembro:
"Avarizia" (“Avareza”), de Emiliano Fittipaldi, jornalista do diário
L'Espresso, e "Via Crucis", de Gianluigi Nuzzi, autor também do livro
"Sua Santidade", que recolhia os documentos secretos fornecidos por
Paolo Gabriele. "Deve ficar claro que, mais uma vez, como no passado, [os
livros] são fruto de uma grave traição da confiança do papa", disse o porta-voz
do Vaticano.