quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Falta de educação na liturgia


Cada vez mais impressiona-me a falta de educação nas celebrações litúrgicas, de modo particular na Missa. Isto se faz presente para com o local sagrado, manifestado no modo de se vestir, por exemplo, e até mesmo de falar alto dentro de uma igreja, antes da celebração e no momento da celebração. São evidências de uma falta de catequese, mas também de um discernimento em favor de respeito para com o espaço onde pessoas e a comunidade se encontram com Deus. Hoje, o uso de celular durante a Missa aumentou o grau de desrespeito para com a celebração. A questão beira à falta de educação, do ponto de vista social. Já vi pessoas de todas as idades usando o celular dentro da igreja, durante alguma celebração, sem contar aqueles pais que deseducam seus filhos, contribuindo com o distanciamento do sagrado, permitindo que eles fiquem totalmente alheios à celebração, brincando com joguinhos no celular.

A educação de desligar, ou ao menos, colocar o celular no vibratório, é esquecida por muitos que participam de nossas celebrações. Outro dia, um padre me contava que durante a celebração do Batismo, o celular da madrinha tocou e ela atendeu, pedindo ao padre que tivesse um pouco de paciência porque precisava atender ao telefone. Um pai de uma noiva comentou comigo que um dos padrinhos de sua filha atendeu o celular no presbitério, durante a celebração e na frente de todos os convidados. Sei que muitos de nós já fomos molestados com gente atendendo celular perto de nós, durante a missa, ou saindo da igreja falando alto, respondendo a uma chamada, como se fossem os únicos dentro da igreja. 

ISIS: "Vocês não terão o meu ódio".


Antoine Leiris perdeu a esposa nos ataques terroristas da última sexta-feira, 13 de novembro, em Paris. Neste dia 16 de novembro, ele deu uma resposta avassaladora aos monstros – e a todos nós também, que, às vezes, achando-nos justos, alimentamos a nossa própria monstruosidade… Antoine postou em seu perfil no Facebook:

“Vocês não terão o meu ódio”

Na noite de sexta-feira, vocês acabaram com a vida de um ser excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho, mas vocês não terão o meu ódio. Eu não sei quem vocês são e não quero saber; vocês são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher terá sido uma ferida no seu coração.

Eu não vou dar a vocês o presente de odiá-los. Vocês o procuraram, mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que fez vocês serem quem são. Vocês querem que eu tenha medo, que eu olhe para os meus concidadãos com olhar desconfiado, que eu sacrifique a minha liberdade pela segurança. Vocês perderam. Nós vamos continuar jogando a nossa partida.

Eu a vi esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela, há mais de doze anos. É claro que estou devastado pela dor – concedo a vocês esta pequena vitória, mas ela será de curta duração. Eu sei que ela vai nos acompanhar todos os dias e que vamos nos reencontrar no paraíso das almas livres, ao qual vocês nunca terão acesso.

Nós agora somos dois, meu filho e eu, mas nós somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Eu não tenho mais tempo para dar a vocês; eu vou buscar o Melvil, que está acordando da sua sesta. Ele só tem 17 meses, vai comer a sua papinha como todos os dias, depois nós vamos brincar como todos os dias, e, durante toda a sua vida, este rapaz vai fazer a vocês a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca vão ter o ódio dele.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A desgraça do mundo moderno


“Não se deu conta ainda de que o mundo se libertou das trevas da ignorância, dos preconceitos, dos tabus, da tirania, do despotismo, graças ao iluminismo?”

Quantas e quantas vezes em meu combate, em discussões mais acaloradas, não ouvi uma sentença mais ou menos nestes termos: “Não se deu conta ainda de que o mundo se libertou das trevas da ignorância, dos preconceitos, dos tabus, da tirania, do despotismo, graças ao iluminismo?”

É preciso, pois, estudar e entender melhor o que foi o iluminismo e suas consequências. Há uma vasta e excelente literatura sobre o assunto. Todavia, nunca é demais tentar informar um público maior, não dado a leituras mais densas, um público que acaba sendo enganado pela propaganda ideológica subversiva que doura o iluminismo como se representasse um grande avanço da humanidade, uma descoberta libertadora do homem, que o tivesse tornado essencialmente melhor que o homem antigo, o homem histórico, ou ainda mais perfeito que o homem redimido e feito filho de Deus pelo batismo e membro do corpo místico de Cristo a Santa Igreja Católica.

A primeira coisa que cumpre dizer é que o iluminismo não representa absolutamente um período de desenvolvimento e aprofundamento da filosofia ou de um progresso do conhecimento humano em geral. Não houve disparate que não fosse sustentado pelos “filósofos das luzes”, como, por exemplo, a negação da causalidade por David de Hume, um dos precursores do iluminismo. Ele, contraditoriamente, queria descobrir a causa que levava o homem a confundir a sucessão constante entre dois fenômenos  com a relação de causa e efeito! E o pior é que tal absurdo lhe valeu a a admiração de outros autores que aumentaram e sofisticaram ainda mais os seus erros.

Acrescente-se ainda que os verdadeiros métodos científicos modernos não devem nada ao iluminismo. Bacon é anterior ao iluminismo e certamente ficaria horrorizado com o que alguns iluministas disseram sobre a ciência. E debocharia do otimismo pueril de muitos deles.

Outra acusação que se deve fazer contra o iluminismo é quanto ao seu endeusamento da razão. O hino iluminista à razão está longe de ser um reconhecimento reverente da capacidade da inteligência humana de conhecer a natureza humana e o mundo, adequar as coisas às necessidades do homem e promover, enfim, a ciência e a cultura. Pelo contrário, há no iluminismo uma tendência a rebaixar o homem à condição de irracional. É verdade que tal tendência  prevalece, sobretudo, em um Rousseau, justamente por isso classificado, sob certos aspectos, como um opositor do iluminismo.

Entretanto, é inegável que o fruto próprio do iluminismo tenha sido um amesquinhamento da razão humana considerada inepta para conhecer a realidade e reduzida a instrumento (por contraditório que pareça) de manipulação da realidade. O endeusamento da razão significa apenas um desprezo da fé, seja porque basta uma religião natural (o homem é bom e não precisa de uma religião redentora) seja porque o homem não pode sequer saber racionalmente se Deus existe. 

Brasil sofreu ontem o maior ataque terrorista da sua história. E anteontem também. E hoje também.


O maior atentado terrorista da história da França desde a II Guerra Mundial, terminada há mais de 70 anos, matou na última sexta-feira 13, em Paris, 129 pessoas. Com toda a razão, este fato monstruoso deixou o mundo boquiaberto, chocado e indignado.

Se mais 14 pessoas tivessem sido assassinadas, a tragédia histórica da França teria empatado com a normalidade cotidiana do Brasil, país “pacífico” que teve em 2014 a média de 143 assassinatos dolosos por dia.

REPETINDO: EM 2014, O BRASIL TEVE A MÉDIA DE 143 ASSASSINATOS DOLOSOS POR DIA.

Um assassinato doloso é aquele em que o homicida tem a intenção de matar. Ficam excluídos da estatística, portanto, os homicídios não intencionais, que elevariam os números já estratosféricos a níveis de ultraterrorismo épico.

Em números absolutos, o Brasil ostenta o título terrorista de maior quantidade de homicídios do planeta Terra. De cada 100 assassinatos que acontecem no mundo, cerca de 13 são cometidos no Brasil. Esta informação fica mais clara quando mencionamos junto com ela as seguintes palavras: Iraque, Síria, Nigéria, Palestina, Afeganistão, Paquistão, Congo, Sudão do Sul, Líbia, Egito. 

Portas das igrejas não sejam blindadas, diz Papa.


CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Com essa reflexão chegamos ao limiar do Jubileu, que está próximo. Diante de nós está a porta, mas não somente a Porta Santa, outra: a grande porta da Misericórdia de Deus – e essa é uma porta bela! – , que acolhe o nosso arrependimento oferecendo a graça do seu perdão. A porta é generosamente aberta, é preciso um pouco de coragem da nossa parte para cruzar o limiar. Cada um de nós tem dentro de si coisas que pesam. Todos somos pecadores! Aproveitemos esse momento que vem e cruzemos o limiar dessa misericórdia de Deus que nunca se cansa de perdoar, nunca se cansa de nos esperar! Ele nos olha, está sempre próximo a nós. Coragem! Entremos por essa porta!

Do Sínodo dos Bispos, que celebramos no mês de outubro passado, todas as famílias, e toda a Igreja, receberam um grande encorajamento para se encontrarem no limiar dessa porta aberta. A Igreja foi encorajada a abrir as suas portas, para sair com o Senhor ao encontro dos filhos e filhas em caminho, às vezes incertos, às vezes perdidos, nestes tempos difíceis. As famílias cristãs, em particular, foram encorajadas a abrir a porta ao Senhor que espera para entrar, levando sua benção e sua amizade. E se a porta da misericórdia de Deus está sempre aberta, também as portas das nossas igrejas, das nossas comunidades, das nossas paróquias, das nossas instituições, das nossas dioceses, devem estar abertas, para que assim todos possam sair e levar essa misericórdia de Deus. O Jubileu significa a grande porta da misericórdia de Deus, mas também as pequenas portas das nossas igrejas abertas para deixar o Senhor entrar – ou tantas vezes sair o Senhor – prisioneiro das nossas estruturas, do nosso egoísmo e de tantas coisas.

O Senhor nunca força a porta: também Ele pede permissão para entrar. O Livro do Apocalipse diz: “Eu estou à porta e bato. Se alguém escuta a minha voz e me abre a porta, eu virei a ele, cearei com ele e ele comigo” (3, 20). Imaginemos o Senhor que bate à porta do nosso coração! E na última grande visão deste Livro do Apocalipse, assim se profetiza da Cidade de Deus: “As suas portas não se fecharão nunca durante o dia”, o que significa para sempre, porque “não haverá mais noite” (21, 25). Há lugares no mundo em que não se fecham as portas com chave, ainda há. Mas há tantos onde as portas blindadas se tornaram normais. Não devemos nos render à ideia de dever aplicar esse sistema a toda a nossa vida, à vida da família, da cidade, da sociedade. E tão menos à vida da Igreja. Seria terrível! Uma Igreja inospitaleira, assim como uma família fechada em si mesma mortifica o Evangelho e seca o mundo. Nada de portas blindadas na Igreja, nada! Tudo aberto! 

Afinal, o que é que o Estado Islâmico realmente pretende?


Despertou furor um artigo publicado na atual edição da revista norte-americana The Atlantic: “What ISIS Really Wants” [“O que o Estado Islâmico realmente quer”], escrito por Graeme Wood. Enquanto as fantasias ocidentais reduzem o Estado Islâmico a um bando de psicopatas altamente descontentes, o autor vai mais a fundo e o descreve como uma força descomunal, alicerçada solidamente em uma mistura coesa de ideologia e fé.

De acordo com Wood:

1. O Estado Islâmico e a Al-Qaeda estão muito longe de ser a mesma coisa.

O Estado Islâmico já eclipsou a Al-Qaeda e considera seus líderes como apóstatas. É um grave erro ocidental o de não perceber a diferença entre esses dois grupos, particularmente no tocante à sua forma de interpretar o Alcorão.

2. O Estado Islâmico defende a estrita observância do Alcorão e se proclama responsável pelo cumprimento das suas profecias apocalípticas.

Os seguidores do grupo são muito bem doutrinados na fé e seguem a lei islâmica ao pé da letra, o que inclui a “obrigação” de praticar crucificações e amputações e de impor a escravidão.

3. O Estado Islâmico se considera um califado.

O grupo conseguiu cumprir o requisito de possuir um território próprio: depois de ocupar a área ao redor de Mosul, no Iraque, eles têm hoje um território tão grande quanto o do Reino Unido. Agora, os crentes são obrigados a observar todas as leis da sharia. Em tese, isto implica a imigração dos fiéis ao califado.

4. Os membros do Estado Islâmico acreditam que têm um papel a desempenhar no armagedom.

Para eles, está profetizado que haverá uma grande batalha contra “Roma” em Dabiq, na Síria; que eles conseguirão saquear Istambul; e que acontecerá um confronto final com um anti-Messias antes do retorno de Jesus, no final dos tempos.

5. O atual foco do Estado Islâmico é a ofensiva jihadista de expansão.

Uma vez estabelecido, o califado deve expandir-se para territórios não muçulmanos, conquistando novas terras pelo menos uma vez por ano. Suas táticas – decapitações, crucificações e escravização de mulheres e crianças – têm o objetivo de aterrorizar os inimigos e apressar o fim do conflito. 

O islamismo é a “religião da paz”?


Diferentemente de nossos colonizadores portugueses, o Brasil desconhece quase inteiramente a religião muçulmana, tendo seu provável primeiro grande contato com o islamismo no dia 11 de setembro de 2001, no ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York.

Confuso e imerso em uma cultura embebida em um forte discurso anti-americanista, o brasileiro se sentiu perdido com um ataque terrorista perpetrado por um grupo de profundíssima base religiosa como a al-Qaeda. Ao mesmo tempo, logo o islamismo foi apresentado como “a religião da paz”.

Um estudo para responder a esta complexa questão exige muitas leituras religiosas, históricas, filosóficas e teológicas, podendo no máximo ser proposto um rápido esboço.

É a única chance de conseguirmos alguma resposta inicial sem se calcar em clichês de superfície na internet, baseados em generalizações como “todas as religiões são iguais” e demais tentativas de equalização jogadas sem explicação, envolvendo quase sempre a Inquisição, a Bíblia ou Israel, sem nunca um estudo sobre o islamismo, o Corão ou mesmo as Escrituras e a história do cristianismo.


O maior estudioso das religiões no mundo, o romeno Mircea Eliade, em um dos livros mais importantes do século XX, O Sagrado e o Profano: A essência das religiões, explica como a experiência do “sagrado” é comum a todas as religiões e todos os povos, sendo um elemento da nossa mentalidade que não desaparece mesmo entre aqueles desligados de experiências religiosas.

O homem religioso, por exemplo, pensa no tempo de maneira específica. Enquanto o tempo histórico é uma sucessão numeralizável de “presentes”, o tempo sagrado possui tempos “fortes”, as datas festivas religiosas, e tempos de menor importância. O tempo também é razoavelmente cíclico, e uma data festiva, seja a Páscoa, o Ramadã ou o intichiuma totêmico dos australianos significa não apenas a lembrança posterior de um evento passado, mas a recorrência deste evento, sempre represente, sempre revivido, podendo purificar pecados e preparar os participantes para um novo ciclo. É o que Eliade chama de “Tornar-se periodicamente o contemporâneo dos deuses”.


O espaço também é sagrado, exigindo, por exemplo, dentro de uma igreja, um comportamento diferente daquele fora dela. Estes elementos permanecem em nossa visão secular e profana. Desde o espaço estelar, lar dos deuses, até o solo habitado pelos humanos, há uma terra sagrada, a “Consagração de um lugar”. Este lugar sagrado é o axis mundi, o eixo do mundo, que emana o Cosmos (o lugar da ordem) e repete a cosmogonia, a criação de todo o mundo.

Fora deste lugar há o caos, o espaço não ordenado. É o “leste do Éden”. É o reino incível, sem lei e sem ordem, inóspito (ou seja, sem proteção ao homem) e lar do indômito e da barbárie ou da lei da selva. As duas obras de Homero, a Ilíada e a Odisséia, tratam exatamente do contato com um povo de uma diferente civilização (os troianos, de uma região hoje provavelmente na Turquia, que muitas vezes são mais heróicos e valorosos do que os gregos) e, na segunda obra, do retorno de Odisseu pelo mundo inóspito, até os confins do Universo conhecido dos gregos de então.

Um dos exemplos mais conhecidos e didáticos desta divisão espacial é a Yggdrasil nórdica, a árvore que é o eixo do Universo e da qual a Terra, Miðgarðr (Midgård), é um dos nove mundos. Outro dos mundos, Ásgarðr (Åsgard), é habitado pelos deuses. O palácio dos deuses em Åsgard, Valhöll (Valhalla) é separado do restante do mundo por uma muralha construída pelo cavalo Svaðilfari, o “viajante azarado”. Svaðilfari “percorre a fronteira entre o mundo dos gigantes e o dos deuses, entre o espaço controlado e o não controlado” (Johnni Langer, Dicionário de Mitologia Nórdica: símbolos, mitos e ritos, p. 96, grifos nossos).

Esta cisão radical, comungada pelo pensamento religioso universal, foi uma das inspirações mitológicas de George R. R. Martin para construir o mundo de sua série Game of Thrones: o mundo das violentas sete civilizações de Westeros é separado do extremo norte por uma muralha análoga à dos deuses nórdicos, e para além da muralha não há reino, não há leis, não há ordem, apenas o caos: o “povo livre”, espécie nômade de bárbaros anarquistas, vive sem proteção (sem ordem) enfrentando gigantes, provações naturais e os perigosos invernos intermináveis que podem trazer os Outros (White Walkers), zumbis impiedosos que só não atacam as civilizações de Westeros por ainda estarem separados delas pela muralha.

É a partir desta diferenciação temporal e espacial que devemos entender todas as religiões, incluindo, claro, o islamismo. Na mentalidade maometana, antes do advento do profeta, o mundo vivia em jahiliyyah, ou seja, ignorância. Quando Maomé chega à península arábica marca-se uma nova temporalidade, uma sacralidade do tempo para o muçulmano: é quando o mundo, em sua visão, teria seu primeiro vestígio de verdade, sendo tudo o que vem anterior a Maomé apenas presságios.

Por isto os profetas abraâmicos são considerados “profetas” não mais em relação ao mundo, à realidade ou à salvação, mas tão somente à chegada de Maomé, que deve ser obedecido ao invés dos “ignorantes” anteriores.

Qualquer pessoa que não sabia disto tudo, portanto, estava vivendo em jahiliyyah até este momento.

Celebração litúrgica não é palco!


Outro dia, numa conversa com leigos, um deles comentou um fato que eu não sei definir se inquietante ou preocupante. Talvez o segundo adjetivo qualifique melhor aquela história ou, quem sabe, unindo os dois tenhamos um resultado mais realista do fato. Eram leigos de diversas comunidades e cada um deles dizia ter conhecimento de fatos semelhantes, o que faz aumentar a inquietação. 

Aconteceu com uma banda musical que exercia o ministério da música numa comunidade. Tocavam mal e alto. Um dia, o padre os chamou e, com muita caridade, fez ver que o trabalho deles era importante, mas do jeito que estava sendo feito, sem se prepararem devidamente, nunca ensaiando as canções e escolhendo músicas em cima da hora dificultava o caminho que a Pastoral Litúrgica da comunidade estava fazendo. Eles protestaram e queriam bater boca com o padre. Educado e acostumado a conversar, o padre os ouviu e pediu que repensassem seu modo de agir, porque a Liturgia merece o melhor.

Como a tática do bate boca não funcionou, porque o padre lhes mostrou, com dados inquestionáveis, que eles não estavam bem neste serviço litúrgico, eles apelaram e desafiaram o padre: “ou a gente toca do jeito que a gente quer ou ninguém mais toca nesta Missa”. O padre ponderou que não é assim que funciona a coisa e fez ver que eles não eram os donos da missa. A proposta era outra: exercer o ministério da música como a Pastoral Litúrgica da comunidade estabelecera para todos os ministérios. Depois daquela conversa, o pessoal da banda disse que não queria mais saber da Igreja e da comunidade e foram embora, alguns, inclusive, foram para uma Igreja evangélica, concluiu o leigo.