MENSAGEM
Mensagem
do Papa Francisco ao presidente do Fórum Econômico Mundial
por
ocasião do encontro anual em Davos
Quarta-feira,
20 de janeiro de 2016
Ao Professor Klaus Schwab
Presidente executivo do Fórum Econômico Mundial
Antes de mais nada, quero agradecer-lhe pelo gentil
convite a dirigir uma palavra à reunião anual do Fórum Económico Mundial, que
terá lugar em Davos-Klosters, no final de Janeiro, sobre o tema «Mastering the
Fourth Industrial Revolution – Dominar a quarta revolução industrial». Formulo
votos cordiais pelo bom sucesso do encontro, que visa incentivar uma contínua
responsabilidade social e ambiental através dum diálogo construtivo com
responsáveis de governo, da actividade empresarial e da sociedade civil, e
também com representantes ilustres dos sectores político, financeiro e
cultural.
A aparição da chamada «quarta revolução industrial»
foi acompanhada pela crescente percepção da inevitabilidade duma redução
drástica do número de postos de trabalho. Os últimos estudos, realizados pela
Organização Internacional do Trabalho, indicam que o desemprego afecta,
actualmente, centenas de milhões de pessoas. O financiamento e tecnologização
das economias nacionais e da global produziram profundas mudanças no campo do
trabalho. A diminuição de oportunidades para um emprego vantajoso e digno,
aliada a uma redução da cobertura da previdência social, estão a causar um
aumento preocupante da desigualdade e da pobreza em vários países. Claramente
surge a necessidade de criar novos modelos empresariais que, enquanto promovem
o desenvolvimento de tecnologias avançadas, sejam capazes também de utilizá-las
para criar trabalho digno para todos, manter e consolidar os direitos sociais e
proteger o meio ambiente. O homem deve guiar o progresso tecnológico, sem se
deixar dominar por ele!
Mais uma vez faço apelo a todos vós: «Não esqueçais
os pobres!» Este é o principal desafio que, como líderes no mundo dos negócios,
tendes diante de vós. «Quem tem os meios para levar uma vida decente, em vez de
estar preocupado com os privilégios, deve procurar ajudar os mais pobres a
terem, também eles, acesso a condições de vida respeitosas da dignidade humana,
nomeadamente através do desenvolvimento do seu potencial humano, cultural,
económico e social» (Discurso à classe dirigente e ao Corpo Diplomático,
Bangui, 29 de Novembro de 2015).
Não devemos permitir jamais que «a cultura do
bem-estar nos anestesie» e torne «incapazes de nos compadecer ao ouvir os
clamores alheios», de modo que «já não choramos à vista do drama dos outros,
nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade
de outrem, que não nos incumbe» (Evangelii gaudium, 54).
Chorar à vista do drama dos outros não significa
apenas compartilhar os seus sofrimentos, mas também e sobretudo dar-se conta de
que as nossas acções são causa de injustiça e desigualdade. Por isso, «abramos
os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e
irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu
grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para
que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu
grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que
frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo» (Bula de
proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, Misericordiae vultus,
15).
Quando nos damos conta disto, tornamo-nos mais
plenamente humanos, uma vez que a responsabilidade pelos nossos irmãos e irmãs
é uma parte essencial da nossa humanidade comum. Não tenhais medo de abrir a
mente e o coração aos pobres. Desta forma, dareis livre curso aos vossos
talentos económicos e técnicos e descobrireis a felicidade duma vida plena, que
o consumismo, de por si, não pode oferecer.