Viagem
Apostólica do Papa Francisco ao México
Discurso
no Encontro com o mundo do trabalho na Ciudad Juárez
Queridos irmãos e irmãs!
Quis encontrar-me convosco nesta terra de Juárez,
devido à relação especial que esta cidade tem com o mundo do trabalho.
Agradeço-vos não só a saudação de boas-vindas e os vossos testemunhos que
revelaram as ânsias, as alegrias e as esperanças que sentis na vossa vida, mas
gostaria também de vos agradecer esta oportunidade de intercâmbio e reflexão.
Tudo o que pudermos fazer para dialogar, para nos encontrar, para procurar
melhores alternativas e oportunidades já é uma conquista que merece apreço e
destaque. Obviamente não é suficiente, mas hoje não podemos permitir-nos o luxo
de cortar qualquer possibilidade de encontro, discussão, confronto, pesquisa.
Esta é a única maneira que temos de poder construir o amanhã: ir tecendo
relações duradouras, capazes de gerar a estrutura necessária para, pouco a
pouco, se reconstruir os vínculos sociais consumidos pela falta do mínimo de
respeito requerido para uma sadia convivência. Obrigado e que esta instância
sirva para construir futuro, seja uma oportunidade boa para forjar o México que
o seu povo e os seus filhos merecem.
Quereria debruçar-me sobre este último aspecto.
Hoje encontram-se aqui várias organizações de trabalhadores e representantes de
câmaras e associações empresariais. À primeira vista, poderiam considerar-se
antagonistas, mas une-os uma responsabilidade comum: procurar criar
oportunidades de trabalho digno e verdadeiramente útil para a sociedade e
sobretudo para os jovens desta terra. Um dos maiores flagelos a que estão
expostos os vossos jovens é a falta de oportunidades de instrução e trabalho
sustentável e rentável, que lhes permitam lançar-se na vida; isso gera em
muitos casos situações de pobreza. E esta pobreza torna-se o terreno favorável
para cair na espiral do narcotráfico e da violência. Um luxo que ninguém se
pode conceder é deixar só e abandonado o presente e o futuro do México.
Infelizmente, o tempo em que vivemos impôs o
paradigma da utilidade económica como princípio das relações pessoais. A
mentalidade dominante pretende a maior quantidade possível de lucro, a todo o
custo e imediatamente. Não só provoca a perda da dimensão ética das empresas,
mas esquece também que o melhor investimento que se pode fazer é investir no
povo, nas pessoas, nas suas famílias. O melhor investimento é criar
oportunidades. A mentalidade dominante coloca o fluxo de pessoas ao serviço do
fluxo de capitais, provocando em muitos casos a exploração dos trabalhadores,
como se fossem objectos que se usam e jogam fora (cf. Enc. Laudato si’, 123).
Deus pedirá contas aos esclavagistas dos nossos dias, e nós devemos fazer todo
o possível para que estas situações não ocorram mais. O fluxo do capital não
pode determinar o fluxo e a vida das pessoas.
Sucede, não raramente, que a Doutrina Social da
Igreja veja as suas propostas colocadas em questão com estas palavras: «Estes
pretendem que sejamos organizações de beneficência ou que transformemos as
nossas empresas em instituições filantrópicas». Mas a única pretensão que tem a
Doutrina Social da Igreja é velar pela integridade das pessoas e das estruturas
sociais. Sempre que esta integridade, por várias razões, é ameaçada ou reduzida
a bem de consumo, a Doutrina Social da Igreja há-de ser uma voz profética que
nos ajudará a todos a não nos perdermos no mar sedutor da ambição. Sempre que a
integridade duma pessoa é violada, de certa forma a sociedade inteira começa a
deteriorar-se. E isto não é contra ninguém, mas a favor de todos. Cada sector
tem a obrigação de preocupar-se pelo bem de todos; estamos todos no mesmo
barco. Todos devemos lutar para que o trabalho seja uma instância de
humanização e de futuro; seja um espaço para construir sociedade e cidadania.
Esta atitude não só cria uma melhoria imediata, mas, a longo prazo, tornar-se-á
uma cultura capaz de promover espaços dignos para todos. Esta cultura, nascida
muitas vezes de tensões, vai gerando um novo estilo de relações, um novo tipo
de nação.